Estados Unidos lideram corrida armamentista no planeta
Os gastos militares dos EUA chegaram a 528,7 bilhões de dólares em 2006, valor que representa 46% do conjunto de todos os gastos militares no mundo. Chances de redução desses gastos são mínimas, diz instituto sueco, que prevê novos conflitos em função da escassez de gás e petróleo.
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior
Os gastos militares mundiais aumentaram 37% nos últimos 10 anos, chegando a 1,2 trilhão de dólares. Os Estados Unidos seguem liderando a corrida armamentista no planeta. Os gastos militares dos EUA chegaram a 528,7 bilhões de dólares em 2006, valor que representa 46% do conjunto de todos os gastos militares no mundo. Os dados são do relatório anual do Instituto Internacional para as Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI), divulgado nesta segunda-feira (11).
Segundo o relatório do instituto, o aumento dos gastos militares nos EUA deve-se principalmente às políticas relacionadas à “guerra mundial contra o terrorismo”. A dimensão dos gastos militares norte-americanos fica mais clara quando eles são comparados com os outros países que lideram o ranking: Inglaterra, França, China e Japão, cada um com gastos militares entre 4 e 5% do total global, em 2006.
As vendas de armas também aumentaram no mundo. Segundo o SIPRI, elas cresceram 3% em 2005, com as empresas norte-americanas e européias liderando esse mercado. Neste ano, essas empresas venderam cerca de 290 bilhões de dólares em armas, valor que representa 92% do comércio global nessa área.
Conforme a avaliação do instituto, as chances de uma redução rápida dos gastos militares mundiais são mínimas, uma vez que “o país do mundo que mais gasta no setor militar está em guerra”. O relatório observa que a política do governo dos EUA, após os atentados de 11 de setembro de 2001, provocou o aumento da demanda por parte do Ministério da Defesa (em função das guerras no Afeganistão e no Iraque) e também o aumento das exportações de armas. Em relação aos números registrados em 2005, os gastos militares no mundo aumentaram 3,5% em 2006.
Ásia Central tem maior aumento de gastos
No ano passado, o leste europeu foi a região que apresentou maior aumento de gastos com armamentos (12%). Nos últimos dez anos, a Ásia Central registrou o maior aumento (73%). Azerbaijão e Bielorússia tiveram os maiores aumentos de gastos militares em 2006, com 82% e 56%, respectivamente. A Rússia, quarto país na Europa atrás da Inglaterra, França e Alemanha, também vem aumentando seus gastos. Em 2005, esses gastos aumentaram 19% e, em 2006, 12%.
Ainda na Ásia, a China superou o Japão e passou a ocupar o quarto lugar global do ranking de gastos com armamentos, totalizando cerca de US$ 50 bilhões, contra US$ 43,7 do Japão. No Oriente Médio, os países que lideram a corrida armamentista são aliados dos Estados Unidos, o que motivou uma observação crítica por parte do Instituto Internacional para as Pesquisas sobre a Paz:
“Enquanto a mídia dedica grande parte de sua atenção às compras de armas feitas pelo Irã, a maior parte delas junto à Rússia, as transferências de armas feitas pelos Estados Unidos e pela União Européia a países como Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos são significativamente maiores”, afirmou o instituto, principal monitor do comércio de armas hoje no mundo.
Gastos crescem desde 2002
Os gastos mundiais com armamentos vêm crescendo de forma contínua desde 2002. Estados Unidos e Rússia seguem sendo os principais vendedores de armamentos no mundo enquanto China e Índia figuram como os maiores compradores. Os cinco países que comandam o Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Inglaterra) possuíam juntos, no início de 2007, mais de 26 mil ogivas nucleares, o suficiente para destruir o mundo várias vezes. Apesar do número de ogivas estar em queda, esses cinco países estão trabalhando para renovar seus arsenais nucleares, advertiu ainda o instituto.
O relatório sobre o ano de 2006 confirma a tendência verificada no ano anterior pelo mesmo instituto. Em 2005, os gastos dos EUA no Iraque e no Afeganistão ajudaram a aumentar as despesas militares no mundo em 3,5 por cento, alcançando 1,12 trilhão de dólares. Naquele ano, os EUA eram responsáveis por 48% dos gastos mundiais em armamentos, seguidos à distância por Inglaterra, França, Japão e China, que investiam de 4 a 5% cada um.
Esses cinco países totalizavam, portanto, em 2005, 68% dos gastos mundiais com armas, ficando os restantes 32% para a soma de todos os demais países do mundo. Naquele mesmo ano, os gastos com armas representaram cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto Mundial, uma média de despesas de 173 dólares per capita. A situação atual dos conflitos no Iraque, no Afeganistão e no Oriente Médio não autoriza previsões otimistas sobre o futuro.
Novos conflitos no horizonte
Segundo a análise do SIPRI, a escassez de petróleo e gás em um futuro próximo está alimentando a gestação de novos conflitos militares no mundo. E esse risco não se restringe ao Oriente Médio. O relatório anual do instituto afirma:
“Apesar de a maioria dos Estados considerarem hoje o início de um conflito armado como uma medida extrema, é provável que recursos energéticos provoquem conflitos internos, particularmente na África. A importância estratégica de regiões ricas em reservas de petróleo e gás vai certamente aumentar. Não somente no Oriente Médio, mas África, Ásia Central, América do Sul e sudoeste da Ásia serão potencialmente zonas de conflito nas próximas décadas". As preocupações também são crescentes, acrescenta o relatório do instituto, por acontecimentos externos como os ataques terroristas contra a infra-estrutura energética e fenômenos climáticos. Em resumo, não parece ser nada bom o que vem por aí.