Falta muito pouco tempo para o dia da eleição presidencial mais
importante da história recente do Brasil. A contar desta segunda-feira,
serão 13 dias até que o povo possa dizer o que está pensando sobre o que
está vendo. Pois é: faltam menos de duas semanas. Tudo o que se disser
agora sobre o desfecho da campanha eleitoral poderá ser conferido em
breve, portanto.
Neste momento, fazer previsões pode ser um perigo para a própria
credibilidade, em que pese que as pesquisas induzem à crença de que
Dilma Rousseff deve vencer José Serra já no primeiro turno. Mas como
existe uma fábrica de escândalos contra a candidatura do PT que trabalha
em três turnos, de segunda a segunda, a grande especulação é sobre o
resultado desse massacre acusatório.
No fim de semana, Veja e Folha de São Paulo, os veículos mais
dedicados a produzir escândalos contra a principal adversária de Serra,
despejaram mais uma leva deles sobre a opinião pública. Nesta
segunda-feira, a Folha divulga mais acusações – e notem que escrevi no
plural.
Entre o colunismo serrista, para que o leitor tenha uma idéia de como
o clima de radicalização só faz aumentar basta dizer que um repórter da
Folha, de nome Fernando Canzian, ao comentar as críticas de Lula à
imprensa chama o presidente de “anão”. Foi em artigo publicado no UOL. Artigo que ainda diz que o presidente “já vai tarde”, aludindo ao fato de que seu mandato está terminando.
Em todos os meios de comunicação de massa, os ataques e acusações a
Dilma, ao PT e ao governo Lula devem estar dominando alguma coisa
próxima de 90% do noticiário. As acusações desse noticiário se confundem
com as que faz Serra tanto em seu programa na tevê e no rádio quanto em
cada oportunidade em que a mídia lhe dá voz – em debates, entrevistas
etc.
O Brasil chegará ao dia da eleição presidencial tendo discutido
apenas acusações a Dilma, ao seu grupo político e ao governo que
integrou até há pouco. Até agora, a única exceção de grande mídia que
propôs reflexão do eleitor sobre os rumos do país foi o programa da
candidata do PT no horário eleitoral gratuito, que irrompe no horário
dito “nobre” de rádios e tevês e, assim, tem enorme potencial de
audiência, por mais que essa audiência caia em períodos eleitorais.
Com essa diferença descomunal de espaço para cada candidato nas
grandes mídias, qualquer observador estrangeiro, se não conhecer a fundo
a realidade política do Brasil, dirá que Dilma não tem qualquer chance
de se eleger. A diferença de condições na disputa com seus dois
principais adversários, é enorme. Se já tivéssemos instituições mais
independentes do poder econômico, a Justiça eleitoral já teria tirado
várias tevês e rádios do ar como punição por fazerem campanha para um
lado. E isso inclui a Globo
Note-se que a candidata laranja de Serra, Marina Silva, posa de
“ética”, de “heróica” e de “petista convertida ao bem”; seu chefe posa
de “vítima” e de “ético”, simultaneamente. E os dois principais
adversários da petista recebem apoio velado, mas claramente visível, por
parte de colunistas, articulistas, editorialistas e até de
apresentadores de programas jornalísticos.
Contudo, para quem está vivendo esse processo por dentro, como o
eleitorado brasileiro, só sendo muito ingênuo para não notar que os
ataques a Dilma foram aumentando de acordo com o aumento de suas
intenções de voto.
Dessa maneira, para impedir que as pessoas enxerguem uma imagem sua
que vai se solidificando – sobretudo depois que Lula, campeão de
popularidade e de credibilidade, acusou parte da imprensa de ter se
convertido em partido político –, essa imprensa já começa a ter que se
explicar.
Mesmo assim, na parte da imprensa que reage com o fígado à crítica de
Lula à sua isenção, os insultos a ele proliferam. Alguns menos afoitos –
ou suicidas –, porém, ainda optam por afirmar que tratam os dois lados
da mesma forma, apesar do bombardeio ininterrupto que integram, e não
passam recibo fazendo ataques virulentos ao presidente.
Diante da lembrança que o PT levanta de que em véspera de eleição é
sempre assim contra seus candidatos, esses meios de comunicação
desmentem. Todavia, não se entende como esperam que as pessoas se
esqueçam das eleições anteriores ao serem lembradas delas pela campanha
petista.
Espontaneamente, possivelmente a maior parte não se lembraria de como
as coisas sempre foram em época de eleição, mas essa lembrança está
sendo resgatada e, assim, fatalmente encontrará eco no imaginário
popular. Simplesmente por ser verdadeira.
Até acredito que a tática funcionaria com aquele que vive no Brasil e
que não tenha tido a experiência de ser bombardeado por propaganda
anti-Lula em alguma eleição nos últimos vinte anos. Mas será que essa
pessoa existe?
Impressiona, ainda, como a coalizão tucano-midiática não consegue
aceitar um fato que pode ser comprovado com a mera análise dos arquivos
desses meios de comunicação. Todavia, vamos em frente que o ponto não é
este.
Mesmo tendo uma mísera fração do tempo e do espaço que a grande mídia
dedica a atacá-la e até a defender Serra e Marina, Dilma e sua campanha
têm a seu favor um claro entendimento da sociedade de que o país vai
bem.
Pergunta: quanto tempo é preciso para lembrar às pessoas de todas as
classes sociais e regiões do país que as suas vidas estão melhorando a
olhos vistos? Os cerca de trinta minutos diários de Dilma – divididos em
blocos – serão suficientes?
O que será mais forte, a propaganda oficial e extra-oficial
(imprensa) de Serra, que mostra só o que vai mal no país, ou a percepção
dos eleitores sobre como estão as suas vidas e de como estavam antes de
Lula? Poderá a propaganda fazer as pessoas esquecerem que melhoraram de
vida, e de quanto melhoraram?
Reportagem de uma revista semanal, se não me engano, versou sobre a
nova empregada doméstica, que, agora, muitas vezes chega a ter carro
zero quilômetro e a fazer faculdade.
Aliás, em São Paulo vai se tornando cada vez mais difícil conseguir
uma doméstica, aquela migrante nordestina ou mineira que morava na casa
da família e que trabalhava de segunda a segunda, dormindo em um quarto
minúsculo e sem janela depois de, às vezes, 15, 16 horas de trabalho. O
que se está conseguindo são diaristas, e elas cobram cada vez mais caro.
Na região em que vivo, considerada “nobre” (próxima à avenida
Paulista, em São Paulo), faxina de um apartamento de dois dormitórios
não sai por menos de 80 reais por umas seis horas de trabalho, quando
muito. Estamos falando de quase cinqüenta dólares. Se essa pessoa
trabalhar vinte dias por mês, ganhará quase 2 mil reais…
E o que é que a oposição oferece a essa empregada doméstica que,
supostamente, integraria o público mais ingênuo e que melhor poderia ser
manipulado com a ajuda prestimosa da imprensa? Vitimização de Serra,
denuncismo e, agora, promessas do tucano de aumento do salário mínimo e
dos benefícios dos aposentados – tudo acima do que o governo Lula tem
dado, é claro.
O aparato difamatório de Serra contra o PT tem uma dimensão
conhecida, porém. Collor, FHC, Serra e Geraldo Alckmin tiveram aparato
igual em 1989, 1994, 2002 e 2006. Mas funcionou só até 1994. De 2002
para frente, parou de funcionar. Em 2006, apesar de o país não estar nem
aos pés do que está hoje em termos de economia e de sua imagem
internacional, Lula venceu com folga, ainda que no 2º turno.
Surgem, assim, duas questões fundamentais:
1 – Por que uma estratégia que vem fracassando durante os últimos
oito anos continua sendo usada com tanto empenho por Serra e pelos meios
de comunicação que estão sempre do lado contrário ao do PT desde a
redemocratização de fato, em 1989?
2 – É possível esses meios de comunicação convencerem o eleitorado de
que são isentos apesar do bombardeio só sobre a candidata de um partido
que todos sabem que é seu eterno alvo, e de que nas outras campanhas
eleitorais esses meios não fizeram o mesmo que fazem agora?
Segundo o “tracking” diário contratado pelo portal IG e pela TV
Bandeirantes ao instituto Vox Populi, nem o caso Erenice Guerra, que não
sai um só minuto das manchetes, foi suficiente para abalar a vantagem
imensa de Dilma sobre Serra. Todavia, o bombardeio só faz aumentar.
Apesar de a imprensa serrista desdenhar do Vox Populi, sabe que o
instituto foi o que acertou mais, até agora. Além disso, ninguém imagina
que a Folha, que tem o Datafolha, e a Globo, que tem o Ibope, não sabem
o que está acontecendo. Contudo, ainda estão por sair pesquisas de
campo mais aprofundadas sobre o período em que explodiu o caso Erenice.
Entretanto, o histórico desse tipo de denúncia não favorece a crença
de que desta vez irá funcionar. Dilma, neste ano eleitoral, sofreu
várias outras campanhas. A oposição conseguiu até levá-la ao Congresso
para depor. Testemunhas com maior credibilidade do que aquele escroque
que o impagável Paulo Henrique Amorim apelidou de “Roubinei” acusaram a
petista frontalmente e, ainda assim, ela só fez crescer nas pesquisas.
A resposta à primeira questão lá de cima, portanto, é a de que o
atual bombardeio não visa uma eleição que cada vez mais parece definida.
Visa o governo Dilma Rousseff. E a resposta à segunda questão é a de
que, obviamente, não será possível convencer o eleitorado a votar em
Serra por ele supostamente ser o mocinho e Dilma, a bandida – e, talvez,
por razão nenhuma.
A campanha difamatória contra Dilma, portanto, julgo que servirá para
vários propósitos em um seu cada vez mais provável governo. Em minha
opinião, tudo será tentado. Desde o impeachment até um golpe “branco”,
ou seja, fundado em investigações ou inquéritos policiais que venham a
ser instalados com base nas acusações que se sucedem.
Pelo visto, haverá denúncias até no dia da posse de Dilma caso não
consigam impedi-la de tomar posse. Contudo, para sucesso desse novo
plano infalível da mídia serro-tucana, haverá que combinar com os
russos…