segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mercado de Carbono não é alternativa contra o aquecimento global






Dimitri Silveira


O principal resultado do Pro­tocolo de Kyoto foi a criação do chamado “Crédito de Car­bono”. A comercialização dos créditos de carbono faz parte do chamado “Meca­nismo de Desenvolvi­mento Limpo” (MDL). Países e empresas que não conseguem reduzir suas emissões podem comprar a “não emissão” de países subdesenvolvidos para que continuem poluindo.

O mercado de carbono movimentou em 2005 algo em torno de 25 bilhões de reais, mas isso não significa dizer que houve redução nas emis­sões de gases estufa, pelo contrário, as emissões só aumentaram desde o período em que o protocolo de Kyoto foi estabelecido.

Lucro como objetivo

A lógica que está por trás do mercado de carbono trata o aquecimento global como um problema que pode ser resolvido por transações financeiras. É sabido que o mercado financeiro possui seus próprios interesses e mecanismos de funcionamento, e que tem a lucratividade como objetivo final.

Em 2005 a União Européia divulgou números que mostravam que dos 25 estados-membros, 21 emitiram 44.1 milhões de toneladas a menos de dióxido de carbono. Aparente­mente isso parece uma boa notícia, mas diversos participantes da Comissão Européia (funciona como o "governo" da UE) disseram que muitos governos podem ter superestimado as reais emissões de suas indústrias quando estabeleceram suas metas de redução.

Alguns especialistas afirmam ainda que as indústrias enganaram os governos quando entregaram seus relatórios de emissões superestimados, pois viam aí a possibilidade de ganhar muito dinheiro comercializando os créditos de carbono, sem que para isso te­nham realmente trabalhado para reduzir as emissões. Os créditos de carbono criados pelo capitalismo nada mais é do que transformar em lucro um problema que pode atingir milhões de pessoas.

Nova matriz energética

Quando se pensa em combater o aquecimento global e em defender o meio ambiente deve-se entender que é necessário substituir a matriz energética que move o mundo atualmente. Isso significa que a produção de energia no planeta não pode mais ser baseada no petróleo, no carvão mineral e em outros tipos de combustíveis fósseis.

Há outras possibilidades de geração de energia que envolve fontes alternativas, como a energia solar, que poderia ser utilizada em larga escala caso oferecesse lucros tão grandes quanto a utilização do petróleo. Mas isso está longe de acontecer, afinal de contas, o sol ainda é gratuito para todo mundo.

A guerra por petróleo iniciada no Iraque mostra que os capitalistas não estão nada interessados em resolver o problema do aquecimento global e, se depender deles, as reservas de petróleo do planeta serão exploradas até sua última gota, ainda que isso signifique passar mais longas décadas despejando toneladas de gases estufa na atmosfera.



Roy Hargrove's Crisol - Habana (1997)

http://i306.photobucket.com/albums/nn266/photoapo/Covers/RH_Habana_front.jpg

Roy Hargrove's Crisol - Habana (1997)



Faixas:
1. O My Seh Yeh (Frank Lacy) 9:59
2. Una Mas (Kenny Dorham) 8:06
3. Dream Traveler (Roy Hargrove) 5:23
4. Nusia's Poem (Gary Bartz) 6:20
5. Mr. Bruce (Chucho Valdez) 5:30
6. Ballad for the Children (Roy Hargrove) 4:52
7. The Mountaings (Roy Hargrove) 8:07
8. Afrodisia (Kenny Dorham) 4:46
9. Mambo for Roy (Chucho Valdez) 11:01
10. O My Seh Yeh (reprise) (Frank Lacy) 6:23

Personagens:
Roy Hargrove (Trumpet and Flugelhorn)
Chucho Valdes (Piano)
David Sanchez (Tenor and Soprano Saxes)
Frank Lacy (Trombone)
Horacio Hernandez (Drums)
Jose Luis Quintana (Timbales)
Miguel Diaz (Congas)
John Benitez (Double Bass)
Gary Bartz (Alto and Soprano Saxes)
Russell Malone (Guitar)

Download abaixo:

http://www.filefactory.com/file/b27edc/


O foguete Lula e a reforma agrária


Laerte Braga

A sensação que o governo Lula causa é a de um foguete que foi lançado ao espaço e do alto não enxerga a Terra. Yuri Gagarin quando voltou do primeiro passeio espacial dado por um homem em volta da Terra disse duas frases que ficaram registradas em toda a mídia do mundo.



“A Terra é azul”. “Olhei para todos os lados e não vi Deus”.



Sobre o ser azul nada demais. Sobre não ter visto “Deus” a revelação da dúvida. Foi significativo ter dito isso em tom de desapontamento por um major do exército soviético.



Nesses rapapés de banqueiros e agências internacionais que classificam países para orientar o capital onde ir buscar segurança (nem sempre isso quer dizer progresso no sentido de bem comum a todos, mas privilégio de elites), o presidente dá sinais que da estratosfera não enxerga sequer o azul do planeta (o verde não existe mais a rigor) e não encontrou Deus, ou quiçá um anjo de guarda para mostrar-lhe a importância de determinados compromissos não cumpridos.



Os riscos que esse viés neoliberal populista, a outra ponta da corda, representa para o futuro. Isso partindo da lógica cristalina que o futuro é o que se constrói no presente.



O governo Lula deixou de lado a reforma agrária. Desde o primeiro mandato as pernas estão escancaradas para os grandes latifúndios, as grandes internacionais do agronegócio e o empresariado FIESP/DASLU. Continuam a ser os principais acionistas do Estado essa instituição ainda privatizada.



O camponês brasileiro, o sem terra, virou hoje o “terrorista” preferido da mídia dominada e controlada pelos donos.



Na hora da “assembléia geral” o latifúndio chama o resto da turma e o grupo fecha as portas à reforma agrária.



A reação de latifundiários catarinenses a vistorias e eventuais desapropriações de terras improdutivas busca o exemplo de latifundiários gaúchos que ancoraram na inércia do governo Lula, nesse foguete que sobe em disparada em todas as pesquisas e dá a sensação de acrobacias aeroespaciais no delírio da aprovação que está perto ou supera os dois terços. Ainda não viu que o rabo do foguete está amarrado num obelisco lá no interior do Rio Grande, onde d. Yeda rouba gloriosa e charmosa.



Os noticiários dos telejornais no dia dois de maio mostraram uma sede do INCRA (INSTITUTO DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA) em Belo Horizonte “destruída” por trabalhadores rurais sem terra. O rótulo de baderneiros, de “terroristas”, de inimigos públicos do bem comum, como se os pistoleiros de Ermírio de Moraes e sua ARACRUZ, ou da “supranacional” VALE fossem justiceiros assim que nem Bat Masterson.



O grupo de trabalhadores que estava na sede do Instituto recebeu a solidariedade de deputados, personalidades várias e antes de deixar o local chamou dois funcionários do INCRA para uma vistoria onde ambos comprovaram que nenhum dano foi causado, ou nada foi retirado.



Nas tevês, além da acusação do roubo de computadores, destruição de móveis, algumas garrafas de cachaça. O trabalhador tem que ser mostrado como cachaceiro. Faz parte do projeto, do modelo vendido a milhões de Homer Simpson que ficam estatelados olhando ou para Alexandre Garcias, ou para Carla Vilhena, na ausência do casal Bonner (o “general” está junto com o outro general, o Heleno de Tróia, comandando a guerra contra a Venezuela e os índios em Roraima.



A política agrária do governo planta a fome em grandes plantações para lembrar o que seria um vaticínio de Geraldo Vandré, em 1968, em “Pra não dizer que não falei das flores”. Planta transgênicos e vai colher desertos. E fome.



Ou a Roça de Cana e seus habitantes os bagaços.



Há quarenta e oito anos atrás, dois de maio de 1960, Caryl Chessman foi executado na câmara de gás na prisão de San Quentin, nos Estados Unidos. Passou cerca de quinze anos na cela da morte, como eram conhecidas as celas de condenados à pena capital lutando pelo direito à vida.



Escreveu um livro que virou bestseller mundial. “Cela da morte, 2455.”



Chessman foi o bandido da luz vermelha original. Pra quem não sabe na cela escreveu a letra de “unchained melody” e vendeu seus direitos para poder pagar advogados. Veio a ser a canção de “Ghost” anos depois. A primeira gravação foi feita por Roy Hamilton.



Lula nem idéia faz do que seja isso. Virou um avantesma de si próprio, perdido na ilusão das agências internacionais de classificação de risco e nem percebeu o despeito de Miriam Leitão, ou seja, não percebeu que continua na cozinha com todos os tapetes estendidos ao capital. É o contrário do outro que nasceu na sala e tinha o pé, só o pé, na cozinha. “Mulatinho” como chegou a dizer.



Toda a pirotecnia de Lula para encher a boca e proclamar grãos e mais grãos transgênicos não enxerga lá da ionosfera que a terra, essa com letra minúscula, é que nos deu e dá vida.



Prefere as plantações criminosas de Eike Batista (e os 17% de sangue indígena de seus filhos), ou de Ermírio de Moraes, da VALE, de todo o conjunto de bancos e sonegadores FIESP/DASLU (um bilhão de reais). O diabo vai ser o dia que o foguete embicar e despencar. Onde vai cair não sei.



Só sei que Grande Otelo (Sebastião Prata) e Oscarito já morreram e não tem como filmar mais “O homem do Sputinik”. Remaker? De um modo geral são sem charme. Mera farsa da história original.



Eu se fosse o Lula colocava aquele equipamento de astronauta e dava uma chegada no rabo da nave para ver ser a marca é Caramuru. Se não for está lascado, dá xabu (ch?).

Brasil: seguro para quem?






Fernando Silva

Em uma operação do mercado financeiro recebida com grande alvoroço e apoio pelo governo e a grande mídia, o Brasil foi recentemente promovido a condição de país "seguro para investimentos".

A condição atestada pela agência Standard & Poor's provocou recordes de valorização na Bolsa de Valores de São Paulo no dia 30 de abril (teve a maior alta em um dia desde outubro de 2002), declarações oficiais do governo comprometendo-se em transformar o Brasil em lugar cada vez mais "seguro" e estável, promessas e notícias de novos investimentos que farão do Brasil uma potência nos próximos anos e por aí vai.

A nova "promoção" do Brasil teve um componente que lembrou muito as operações artificiais de valorização, típicas do mercado financeiro.

Artificial porque, em um momento de crise internacional, com o preço do petróleo ameaçando jogar ainda mais "combustível" na explosão inflacionária dos alimentos no mundo, pode fazer pouco sentido tamanha euforia nos papéis cotados na Bolsa de Valores de São Paulo se a "nota" concedida pela Standard & Poor's colocou o Brasil no mesmo patamar de estabilidade, por exemplo, do Cazaquistão.

Mas o pior da história é que existe razão de ser para tamanha alegria do grande capital. Notem a coincidência. No mesmo dia do anúncio desta "promoção" era noticiado que o governo conseguiu um novo recorde trimestral no superávit primário: R$ 43,032 bilhões, mais do que suficientes para pagar os R$ 39,998 bilhões apenas de juros da dívida pública no primeiro trimestre deste ano.

Deste ponto de vista, o capital financeiro não tem o que se queixar do Brasil, nem do governo Lula, que cumpriu a palavra de garantir a remuneração aos "investidores", conforme documentos revelados pelo jornal Valor Econômico em 08/05/2008, sobre os bastidores da aproximação do governo brasileiro com o governo Bush desde a época da eleição de 2002.

Bom para o Capital, ruim para os trabalhadores

A realidade é que, para garantir a remuneração do capital financeiro à custa de recursos do próprio orçamento, o povo recebe em troca a epidemia de dengue. Afinal, o importante é reservar R$ 43 bilhões em três meses ao invés de tomar as medidas e investimentos na saúde, tanto emergenciais quanto estruturais, que permitissem debelar a epidemia e extinguir a dengue no país.

A segurança para o grande capital é diretamente proporcional à insegurança para os trabalhadores e as classes médias diante da explosão do preço dos alimentos, que já fez a inflação ultrapassar 5% ao ano (março de 2007 a março de 2008). E isso em uma economia onde não existe qualquer mecanismo previsto de proteção salarial diante da corrosão inevitável, que, aliás, já começa a pulverizar os poucos ganhos que milhares de trabalhadores conseguiram a duras penas em negociações e dissídios no ano passado.

Para o grande capital ter muita segurança e lucros garantidos devido às altas taxas de juros praticadas, o povo vai passar a conviver com a incerteza diante da perspectiva de endividamento no crédito ou até inadimplência, especialmente para as camadas da classe trabalhadora amarradas ao crédito consignado em folha de pagamento.

É na esteira desta estúpida euforia que o governo federal, com o aval das centrais sindicais que o apóiam, volta a sinalizar com uma "negociação" na legislação trabalhista, com o objetivo de desonerar a folha de pagamentos para baratear, com a retirada de direitos, ainda mais a mão-de-obra no país. Afinal, é preciso aproveitar o momento de "promoção" do país para atrair ainda mais capitais e investimentos para a produção e infra-estrutura.

Ilusão entreguista da pior espécie, pois o grande capital não parece acreditar nos factóides da Standard & Poor´s e trata de aumentar as remessas de lucros para fora do país (apenas em março, US$ 4,345 bilhões).

Conclusão: se isto aqui for seguro, só mesmo para o grande capital, especialmente o financeiro. Para os trabalhadores, o cenário será cada vez mais inseguro. Ficará colocada a eles e aos movimentos sociais a necessidade de se começar a construir uma pauta de reivindicações diante deste cenário.

A luta contra o aumento do preço dos alimentos; a defesa de mecanismos de reposição geral de perdas do poder aquisitivo, provocadas por esse novo surto inflacionário; a defesa da redução da jornada de trabalho para gerar emprego, mas sem redução dos salários e sem a retirada de direitos sociais e trabalhistas; a denúncia do pagamento e remuneração ao capital financeiro pela via da dívida pública. São todas questões que tendem a ser cada vez mais concretas para os trabalhadores e o povo diante do desastre social para o qual que caminha o país sob a batuta do capital financeiro e a euforia cega e servil do governo Lula.

Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.