segunda-feira, 12 de maio de 2008

O foguete Lula e a reforma agrária


Laerte Braga

A sensação que o governo Lula causa é a de um foguete que foi lançado ao espaço e do alto não enxerga a Terra. Yuri Gagarin quando voltou do primeiro passeio espacial dado por um homem em volta da Terra disse duas frases que ficaram registradas em toda a mídia do mundo.



“A Terra é azul”. “Olhei para todos os lados e não vi Deus”.



Sobre o ser azul nada demais. Sobre não ter visto “Deus” a revelação da dúvida. Foi significativo ter dito isso em tom de desapontamento por um major do exército soviético.



Nesses rapapés de banqueiros e agências internacionais que classificam países para orientar o capital onde ir buscar segurança (nem sempre isso quer dizer progresso no sentido de bem comum a todos, mas privilégio de elites), o presidente dá sinais que da estratosfera não enxerga sequer o azul do planeta (o verde não existe mais a rigor) e não encontrou Deus, ou quiçá um anjo de guarda para mostrar-lhe a importância de determinados compromissos não cumpridos.



Os riscos que esse viés neoliberal populista, a outra ponta da corda, representa para o futuro. Isso partindo da lógica cristalina que o futuro é o que se constrói no presente.



O governo Lula deixou de lado a reforma agrária. Desde o primeiro mandato as pernas estão escancaradas para os grandes latifúndios, as grandes internacionais do agronegócio e o empresariado FIESP/DASLU. Continuam a ser os principais acionistas do Estado essa instituição ainda privatizada.



O camponês brasileiro, o sem terra, virou hoje o “terrorista” preferido da mídia dominada e controlada pelos donos.



Na hora da “assembléia geral” o latifúndio chama o resto da turma e o grupo fecha as portas à reforma agrária.



A reação de latifundiários catarinenses a vistorias e eventuais desapropriações de terras improdutivas busca o exemplo de latifundiários gaúchos que ancoraram na inércia do governo Lula, nesse foguete que sobe em disparada em todas as pesquisas e dá a sensação de acrobacias aeroespaciais no delírio da aprovação que está perto ou supera os dois terços. Ainda não viu que o rabo do foguete está amarrado num obelisco lá no interior do Rio Grande, onde d. Yeda rouba gloriosa e charmosa.



Os noticiários dos telejornais no dia dois de maio mostraram uma sede do INCRA (INSTITUTO DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA) em Belo Horizonte “destruída” por trabalhadores rurais sem terra. O rótulo de baderneiros, de “terroristas”, de inimigos públicos do bem comum, como se os pistoleiros de Ermírio de Moraes e sua ARACRUZ, ou da “supranacional” VALE fossem justiceiros assim que nem Bat Masterson.



O grupo de trabalhadores que estava na sede do Instituto recebeu a solidariedade de deputados, personalidades várias e antes de deixar o local chamou dois funcionários do INCRA para uma vistoria onde ambos comprovaram que nenhum dano foi causado, ou nada foi retirado.



Nas tevês, além da acusação do roubo de computadores, destruição de móveis, algumas garrafas de cachaça. O trabalhador tem que ser mostrado como cachaceiro. Faz parte do projeto, do modelo vendido a milhões de Homer Simpson que ficam estatelados olhando ou para Alexandre Garcias, ou para Carla Vilhena, na ausência do casal Bonner (o “general” está junto com o outro general, o Heleno de Tróia, comandando a guerra contra a Venezuela e os índios em Roraima.



A política agrária do governo planta a fome em grandes plantações para lembrar o que seria um vaticínio de Geraldo Vandré, em 1968, em “Pra não dizer que não falei das flores”. Planta transgênicos e vai colher desertos. E fome.



Ou a Roça de Cana e seus habitantes os bagaços.



Há quarenta e oito anos atrás, dois de maio de 1960, Caryl Chessman foi executado na câmara de gás na prisão de San Quentin, nos Estados Unidos. Passou cerca de quinze anos na cela da morte, como eram conhecidas as celas de condenados à pena capital lutando pelo direito à vida.



Escreveu um livro que virou bestseller mundial. “Cela da morte, 2455.”



Chessman foi o bandido da luz vermelha original. Pra quem não sabe na cela escreveu a letra de “unchained melody” e vendeu seus direitos para poder pagar advogados. Veio a ser a canção de “Ghost” anos depois. A primeira gravação foi feita por Roy Hamilton.



Lula nem idéia faz do que seja isso. Virou um avantesma de si próprio, perdido na ilusão das agências internacionais de classificação de risco e nem percebeu o despeito de Miriam Leitão, ou seja, não percebeu que continua na cozinha com todos os tapetes estendidos ao capital. É o contrário do outro que nasceu na sala e tinha o pé, só o pé, na cozinha. “Mulatinho” como chegou a dizer.



Toda a pirotecnia de Lula para encher a boca e proclamar grãos e mais grãos transgênicos não enxerga lá da ionosfera que a terra, essa com letra minúscula, é que nos deu e dá vida.



Prefere as plantações criminosas de Eike Batista (e os 17% de sangue indígena de seus filhos), ou de Ermírio de Moraes, da VALE, de todo o conjunto de bancos e sonegadores FIESP/DASLU (um bilhão de reais). O diabo vai ser o dia que o foguete embicar e despencar. Onde vai cair não sei.



Só sei que Grande Otelo (Sebastião Prata) e Oscarito já morreram e não tem como filmar mais “O homem do Sputinik”. Remaker? De um modo geral são sem charme. Mera farsa da história original.



Eu se fosse o Lula colocava aquele equipamento de astronauta e dava uma chegada no rabo da nave para ver ser a marca é Caramuru. Se não for está lascado, dá xabu (ch?).

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