sábado, 23 de maio de 2009

Azenha explica, de forma didática, aspectos da crise mundial...

Um problema de U$ 681 trilhões: Porque a crise financeira persiste e o dólar começa a derreter

por Luiz Carlos Azenha

Conheço gente que torce o nariz ao ouvir falar da crise financeira internacional. Gente que não entende nada de economia, nem do linguajar aparentemente complexo usado pelos comentaristas picaretas da mídia corporativa brasileira.

Em primeiro lugar é preciso considerar que "eles" usam um linguajar complicado com o objetivo de PARECER mais inteligentes, mais preparados ou melhor conectados do que você, caro leitor. Daí as constantes referências a "falei ontem com o ministro fulano" ou "estive hoje com o executivo sicrano". É tudo uma tentativa de fazer com que você ouça tudo calado e aceite sem questionar.

Eles são AUTORIDADE. Você, um mané qualquer que está diante do altar (a tela da TV ou o jornal). Quando eles pontificam no jornal, na TV, no rádio, nunca deixam claro que estão expressando apenas um ponto-de-vista, nem revelam que esse ponto-de-vista resulta de uma visão de mundo muito particular. Em geral nossos comentaristas econômicos são neoliberais de carteirinha tanto quanto os patrões e refletem a visão de que tudo o que é relacionado ao estado é uma droga e tudo o que é ligado à iniciativa privada é maravilhoso. A não ser que o estado seja o estado de José Serra: esse, sim, é O estado, que pode cometer um erro ou outro no varejo, mas em geral SÓ ACERTA.

É por isso que admiro o Mike Whitney, do site estadunidense Counterpunch. Com ele não tem BS, o popular bullshit. Ele corta o papo furado dos analistas econômicos e enfia a faca direto no coração dos assuntos que pretende abordar. Ele não esconde sua posição no espectro político. É um cara de esquerda. E a Miriam Leitão? É de direita? É liberal? É patronal?

Na análise que reproduzo abaixo, o Whitney fala dos negócios que considera o veneno do mercado financeiro internacional, conhecidos como CDS, ou credit default swaps. Não se assuste com o nome. Grosseiramente, bem grosseiramente, é a mesma coisa que o "vale" emitido pela vendinha da dona Maria quando falta troco, só que com um nome pomposo e com a "garantia" das melhores firmas dos Estados Unidos. Leia o artigo do Whitney, com tradução do Viomundo e algumas explicações minhas (do Azenha) entre colchetes:

May 22-24, 2009
Credit Default Swaps
O veneno do sistema

por MIKE WHITNEY
, no Counterpunch

Em pouco mais de uma década, os negócios com os Credit Default Swaps (CDS) incharam em uma indústria multibilionária que mudou o caráter fundamental do sistema financeiro e aumentou o risco sistêmico em várias ordens de magnitude.

[Lembre-se, é como se a vendinha da esquina da sua casa, em vez de dar o troco, resolvesse emitir "vales" de forma adoidada para toda a clientela, com a garantia de que eles seriam honrados a qualquer momento, em troca de mercadoria]

Os CDS, que foram criados originalmente para reduzir o potencial de perdas com dívidas não honradas, se tornaram uma vaca leiteira para os grandes bancos, gerando mega-lucros. No caso da seguradora AIG, as perdas com as transações em CDS já custaram 150 bilhões de dólares ao povo americano e, ainda assim, não houve uma tentativa séria do Congresso de baní-los de uma vez por todas. Pior ainda, os CDS são a causa-raiz de um risco sistêmico que liga centenas de instituições financeiras, numa conexão letal.

[As vendinhas de outros bairros também decidiram emitir "vales", em vez de devolver o troco]

Os contratos de CDS não passam por um mercado centralizado, nem são regulamentados pelo governo. Isso significa que ninguém sabe se quem emite os CDS pode pagar o que promete ou não. É um esquema de pirâmide de primeira ordem. A AIG [a maior seguradora dos Estados Unidos] é um bom exemplo de companhia que explorou esse sistema e depois fugiu com alguns milhões em lucros. Ela vendeu muito mais CDS do que poderia cobrir e então -- quando a dívida começou a acumular até os olhos -- correu para o Fed [o Banco Central americano] em busca de um resgate multibilionário.

[Quando os clientes das vendinhas foram resgatar os vales, trocar os papéis por mercadoria, as vendinhas de sua cidade ficaram sem mercadoria. E correram em busca de ajuda do governo para poder honrar os compromissos]

O presidente do Banco Central, Ben Bernanke, mais tarde se disse furioso com o fiasco da AIG, mas isso não o impediu de jogar as perdas nas costas do público, colocando o contribuinte como garantidor das apostas ruins da AIG. Tenha em mente que a AIG estava vendendo papel com garantia de capital ZERO, uma atividade equivalente a falsificar dinheiro. Ainda assim, ninguém foi indiciado ou processado pelo caso. Fraudar clientes e empurrar a conta para o Zé da Silva é uma regra de Wall Street.

[O governo Lula -- não seria o governo Serra, certo? -- pegou o dinheiro que você paga em impostos, comprou mercadoria e despachou para as vendinhas para tapar o rombo. Mas nada fez para ACABAR COM A EMISSÃO DE VALES]

Os CDS formaram uma teia que cobre todos os cantos do sistema financeiro, juntando bancos e outras instituições financeiras de uma forma que, se um falir, outros vão junto. É isso o que significa o "muito grande para falir", um eufemismo que se refere ao emaranhado de negócios com esses papéis que se espalhou -- apesar do risco -- de forma que um punhado de banqueiros pode acumular lucros obscenos. Os CDS se tornaram a galinha dos ovos de ouro do cartel de bancos; uma locomotiva geradora de lucro sem risco que transfere riqueza pública para especuladores de alto risco. Não fosse pelos lucros turbinados nas transações com os derivativos (o CDS é um dos derivativos), muitos dos bancos já teriam falido.

[Com a garantia de que o governo vai ajudar sempre que houver problemas, os donos das vendinhas continuam a emitir vales em vez de dar o troco. Como os clientes APARENTEMENTE não perderam nada, eles continuam aceitando os vales. Mal sabem os clientes que, na verdade, é o dinheiro do imposto deles que está sustentando a emissão de vales]

Do dr. Ellen Brown:

"Os CDS são o derivativo mais comum. São apostas entre duas partes se uma companhia vai ou não honrar os seus títulos. Num negócio típico, o "comprador de proteção" lucra se a companhia não honrar seus compromissos dentro de um certo período de tempo, enquanto o "vendedor de proteção" recebe pagamentos periódicos por assumir o risco".

[É como se as vendinhas apostassem entre elas e com terceiros se serão ou não capazes de honrar os vales que emitiram. Mas, lembre-se, elas fazem isso certas de que, se der confusão, poderão contar com o resgate do dinheiro público]

"Em dezembro de 2007, o Banco de Compensação Internacional (conhecido pela sigla BIS, em inglês) estimou em 681 trilhões de dólares os negócios com derivativos -- dez vezes mais o PIB de todos os países do mundo combinados.

(fonte: "Credit Default Swaps: Evolving Financial Meltdown and Derivative Disaster Du Jour", Dr. Ellen Brown, globalresearch.ca)

Os números são de confundir a cabeça, mas são reais, assim como as perdas, que eventualmente serão empurradas para o contribuinte. Sobre isso há certeza.

O secretário do Tesouro Timothy Geithner recentemente pediu maior regulamentação, mas é apenas relações públicas. Geithner é um representante da indústria (bancária) cuja maior qualificação para o cargo foi sua lealdade aos banqueiros. Ele não tem qualquer intenção de aumentar a regulamentação ou apertar a supervisão. Toda a conversa sobre mudança é uma forma de dar satisfações ao público enquanto ele tenta sabotar as tentativas do Congresso de re-regulamentar o mercado de derivativos.

Nas próximas semanas, Geithner provavelmente vai anunciar uma série de "novos produtos" da reforma, acompanhados do tradicional discurso sobre mercados livres, inovação e da "necessidade de proteger o interesse público". É tudo farsa. Afortunadamente, o pobre Geithner é o pior vendedor do mundo, o que significa que cada palavra do que ele disser será analisada por uma legião de blogueiros tentando entender o que ele quis dizer exatamente. Vai ser difícil para ele jogar um cobertor sobre os olhos do público novamente.

[Nos Estados Unidos, ninguém leva mais a sério os comentaristas econômicos da TV ou dos jornais, com algumas exceções. A mídia do país já se deslocou completamente para a internet, pelo menos aquela que é levada a sério em Wall Street. Os blogs do Wall Street Journal, por exemplo, são frequentados por analistas de mercado que, usando pseudônimos, contam todos os podres dos bastidores e deixam nuas as "otoridades" do governo]

Os swaps [operações que envolvem os CDS] se originaram nos anos 80 como forma de as instituições financeiras se garantirem contra variações repentinas de preços ou flutuações das taxas de juros. Mas os derivativos tomaram um caminho diferente quando o Congresso aprovou o Ato de Modernização do Mercado Futuro de 2000, no governo Clinton.

A lei causou uma grande mudança na forma como os CDS eram usados. A indústria descobriu fórmulas para expandir a emissão de papéis através de complexos instrumentos apoiados em quantidades cada vez menores de capital. Tudo para maximizar os lucros com dinheiro emprestado. Os CDS eram o veículo perfeito; afinal, sem qualquer regulamentação, é impossível saber quem tem o dinheiro para cobrir os papéis. Além disso, apostar no valor de papéis para os quais você não corre risco de perda é divertido; é como fazer uma apólice de seguro da casa de um rival enquanto você espera que ela queime.

Ainda assim, limpar o sistema financeiro não significa acabar completamente com todos os CDS. Existe uma solução e ela não é complicada. É preciso uma estrita regulamentação e supervisão de todos os emissores de CDS para ter certeza de que todos estão suficientemente capitalizados; e é preciso ter uma plataforma central onde são feitos os negócios. Só isso. (Nota do Whitney: Não pode ser a Bolsa Intercontinental, ICE, que é muito conectada aos bancos)

[Ou seja, o governo deveria regulamentar a emissão de vales das vendinhas para ter certeza de que todas tem estoque ou capital para comprar estoque e, portanto, honrar os vales emitidos.]

Geithner está tentando torpedear a reforma nascente ao propor consertos que preservam o monopólio dos bancos na emissão de derivativos. É o carregador de água dos banqueiros. Agora podemos ver porque a indústria financeira é a maior contribuinte das campanhas políticas.

"Muito grande para falir" é um slogan de relações públicas, mas acima de tudo é um mito. Nenhuma instituição financeira é muito grande para sofrer intervenção do governo; para que o governo leiloe os seus bens desvalorizados, para que mude os gerentes e reestruture a dívida. Isso já foi feito uma vez e pode ser feito de novo sem danificar o sistema como um todo.

O problema real é como separar as instituições financeiras saudáveis das insolventes, agora que o sistema está amarrado em uma rede complexa de negócios. Os CDS formam a maior parte dessas transações, o que os torna a principal fonte de risco sistêmico. Para consertar o problema, os contratos atuais deveriam ser desfeitos ou vencer sem renovação, enquanto os novos contratos deveriam ser fechados através de uma central na qual os inspetores do governo tenham poder de decidir se os vendedores estão devidamente capitalizados ou não.

[É o governo, não o dono da vendinha, que deveria decidir se a vendinha pode ou não emitir novos vales. Parece óbvio, mas isso tiraria dos banqueiros todas as "facilidades" para ganhar dinheiro mole]

A solução do Fed -- de garantir todo o sistema financeiro para evitar um novo fiasco como o da Lehman Brothers -- não ataca o problema fundamental; só coloca mais pressão sobre o dólar, que já começa a ceder. A questão agora é se o Congresso vai tirar a cabeça da areia por um tempo suficientemente longo para fazer o trabalho em nome do povo, aprovando leis para re-regulamentar o sistema. Existe uma saída, mas ela requer ação, e rápida. Sem uma correção de rota, a perspectiva de um derretimento do mercado de derivativos aumenta a cada dia.

Mike Whitney mora no estado de Washington. Responde a e-mails no fergiewhitney@msn.com

Occupation 101: vozes da maioria silenciada...

É um documentário que aborda o conflito Israelo-Palestino dirigido por Sufyan Omeish e Abdallah Omeish, e narrado por Alison Weir, fundadora do If Americans Knew. O filme discute os eventos a partir do surgimento do movimento Sionista até a segunda Intifada, a limpeza étnica da Palestina, as relações entre Israel e Estados Unidos e as violações dos direitos humanos e abusos cometidos por colonos e soldados israelenses contra os Palestinos.


Um em cada quatro brasileiros tem preconceito contra pessoas LGBT

Um em cada quatro brasileiros tem preconceito contra pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneras (LGBT) e assume sua rejeição às identidades que compõem esta população, revelou a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, realizada pela Fundação Perseu Abramo em pareceria com a Fundação Rosa Luxemburgo Stiftung, e apresentada pelo sociólogo da USP Gustavo Venturi, no Rio de Janeiro, no último dia 15, durante lançamento da pesquisa na Academia de Polícia do Rio de Janeiro (ACADEPOL).

O estudo foi realizado entre os dias 7 e 22 de junho de 2008 em 150 municípios brasileiros. Foram feitas 2014 entrevistas domiciliares, com aplicação de questionários estruturados, somando 92 perguntas. A primeira delas buscou medir o grau de aversão ou intolerância a diversos grupos sociais, como gente que não acredita em Deus (42%), usuários de drogas (41%), garotos de programa (26%), transexuais (24%), travestis (22%), fanáticos religiosos (22%), ex-presidiários (21%), gente muito rica (20%), lésbicas (20%), gays (19%), pessoas com Aids (9%), judeus (11%), muçulmanos (10%) e índios (2%), entre outros.

A partir daí a pesquisa centrou-se no tema do preconceito contra LGBTs, a partir de conhecidas afirmações preconceituosas, formuladas para medir o grau de concordância ou discordância dos entrevistados:

84% concordaram que “Deus fez o homem e a mulher com sexos diferentes para que cumpram seu papel e tenham filhos

58% concordaram que “A homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus

38% concordaram que “Casais de gays ou de lésbicas não deveriam criar filhos

29% concordaram que “Quase sempre os homossexuais são promíscuos

29% concordaram que “A homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada

26% concordaram que “A homossexualidade é safadeza e falta de caráter

23% concordaram que a “Mulher que vira lésbica é porque não conheceu um homem de verdade

21% concordaram que “Os gays são os principais culpados pelo fato da Aids estar se espalhando pelo mundo” (neste último, embora 21% das pessoas entrevistadas tenham concordado plenamente, outros 12% concordaram em parte, o que alcança um índice de concordância de 33%. Há também um aumento em relação às outras perguntas se levado em conta os que afirmaram “concordar em parte”).

A pesquisa mediu ainda o grau de tolerância para a convivência com gays e lésbicas nas relações de trabalho e vizinhança, nas relações pessoais, com médicos e com professores.

Ao medir o grau de tolerância entre os pais, 72% afirmaram que não gostariam de ter um filho gay, mas procurariam aceitar, enquanto 7% afirmaram que o expulsariam de casa.

O estudo enfocou ainda o preconceito assumido versus o chamado preconceito velado. Embora entre 69% e 72% das pessoas entrevistadas tenham afirmado não ter preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, 26% admitiram preconceito contra o primeiro grupo, 27% contra o segundo e o terceiro e 29% contra os dois últimos.

Ao medir o índice de homofobia por sexo (um para cada 3 homens e uma para cada 5 mulheres), o estudo dá conta de que os homens são mais homofóbicos do que as mulheres.

Entre os LGBTs, foi perguntado como estes se sentem em relação a sua identidade sexual: 65% afirmaram se sentir à vontade, 26% orgulhosos. Perguntados se alguma vez já sofreram discriminação, 22% afirmaram já terem sido discriminados pelos pais, 27% na escola, 31% na família, 24% por amigos, 11% por policiais na rua, 9% por policiais na delegacia e 7% por professores.

Para o antropólogo Sergio Carrara (IMS/CLAM), a pesquisa pode ser lida como uma espécie de termômetro de como as cosias estão acontecendo no Brasil atual. “Os dados revelam a presença forte da homofobia, mas também revela uma sociedade mais tolerante. Podemos olhar esses dados com um pouco mais de otimismo”, analisou.

Leia mais sobre este tema:

- Orientação sexual em MS
- Entrevista: André Fischer fala da mídia e da comunidade gay