A
cooperação armamentista entre os países é antiga e movimentou, em dez
anos, US$ 10 bilhões. De maneira paradoxal, a aproximação com Israel deu
à Índia uma alavanca em sua política no Oriente Médio: os Estados da
região aprenderam a levar em consideração os interesses indianos
|
por Isabelle Saint-Mézard no Le Monde |
Índia e Israel nasceram com um ano de intervalo, a primeira em 1947 e o
segundo em 1948, sobre os escombros do Império Britânico, ao fim de um
violento processo de divisão. Apesar de ambos experimentarem, desde o
início, conflitos internos complexos, marcados por recorrentes
enfrentamentos armados, isso não foi suficiente para criar afinidades
entre os dois países. Muito pelo contrário.
A partir dos anos 1920, os chefes do movimento nacionalista indiano
uniram-se aos árabes da Palestina contra o imperialismo britânico,
opondo-se à vontade sionista de criar um Estado judeu. A Índia votou
contra o plano de partilha da Palestina na Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 29 de novembro de 1947, e só reconheceu Israel em 1950. Até
os anos 1980, ela continuou compondo um bloco com os países árabes na
defesa do direito dos palestinos a um Estado soberano.
Essa postura, claro, era cheia de segundas intenções. A Índia
preocupava-se com um possível alinhamento do mundo muçulmano às
reivindicações paquistanesas sobre a Caxemira. Havia também o imperativo
da segurança energética: Nova Délhi dependia dos países do Oriente
Médio para seu abastecimento de petróleo. Além disso, para atenuar o
grave desequilíbrio de sua balança de pagamentos no fim dos anos 1980 e
na virada da década de 19901, contava com o dinheiro enviado por seus
numerosos cidadãos que trabalhavam nos países do Golfo.
No entanto, com o passar das décadas, o fosso entre Índia e Israel
reduziu-se. Desde os anos 1960, os dois países estabeleceram contatos
secretos no campo militar e de informação. Israel mostrou-se disposto a
ajudar o exército indiano em seus conflitos com a China (em 1962) e
depois com o Paquistão (em 1965 e 1971). Em 1978, o então ministro de
Defesa do país, Moshe Dayan, chegou a fazer uma visita secreta ao
governo indiano para evocar uma eventual cooperação. Finalmente, em
1992, Nova Délhi estabeleceu laços diplomáticos formais com Tel Aviv.
Essa decisão foi facilitada por um contexto internacional marcado pelo
fim da Guerra Fria e pela conferência de Madrid, em outubro de 1991,
sobre o Oriente Médio, que deixava entrever perspectivas de paz. Mas
decorria também de uma decepção da Índia diante dos ínfimos resultados
de sua política externa: não apenas Nova Délhi não neutralizou a
influência do Paquistão junto aos países árabes, mas viu inúmeras vezes a
Organização da Conferência Islâmica (OCI) adotar resoluções que
condenavam suas posições sobre a Caxemira.
Embora tenha sido o Partido do Congresso, de centro-esquerda, que
primeiro estabeleceu relações diplomáticas com Israel, foram os
extremistas hindus do Bharatiya Janata Party (BJP) que, no poder entre
1998 e 2004, levaram ao máximo a parceria e deram um novo significado a
ela. Desconfiado e até mesmo hostil em relação ao mundo muçulmano, o BJP
não teve pudores em declarar abertamente sua simpatia por Tel Aviv. O
contexto do pós 11 de setembro reforçou ainda mais esse novo laço, pois o
governo de coalizão do BJP começou a promover a ideia de um “front das
democracias liberais” face à ameaça do terrorismo islâmico.
Antiterrorismo
Essa visão política desembocou no sonho de um triângulo estratégico
entre Israel, Índia e Estados Unidos2, ideia enunciada pela primeira vez
no dia 8 de maio de 2003 por Brajesh Mishra, então conselheiro nacional
de segurança indiano, no jantar de gala anual do American Jewish
Committee (Comitê Judaico Americano): “Nosso tema principal aqui é
lembrar coletivamente o horror do terrorismo e celebrar a aliança das
sociedades livres engajadas no combate contra essa calamidade. Estados
Unidos, Índia e Israel foram os principais alvos do terrorismo. Eles
devem enfrentar em conjunto essa mesma monstruosa aparição que é o
terrorismo dos tempos modernos3.” Em seguida, ocorreram discussões entre
representantes dos três governos, sobretudo a respeito das questões de
defesa e antiterrorismo.
Em 2004, o retorno do Partido do Congresso à frente de um governo de
coalizão atenuou essa dimensão ideológica. Mas, no fundo, a relação
israelo-indiana não foi substancialmente afetada. Pelo contrário, os
laços diversificaram-se e nasceram colaborações nos setores da
agricultura, turismo, ciências e tecnologias. Embora continuem
largamente tributárias da indústria do diamante (quase 50% do volume
total das importações e exportações entre os dois países em 2008)4, as
trocas comerciais passaram de US$ 200 milhões em 1992 para US$ 4 bilhões
em 2008. Mas a defesa permanece o centro da cooperação.
A sobrevivência da indústria armamentícia israelense depende de suas
exportações. Até o fim dos anos 1990, elas eram realizadas
majoritariamente em direção à China. Mas o veto dos Estados Unidos à
transferência de tecnologias sensíveis a Pequim forçou Tel Aviv a
voltar-se para outros mercados, entre os quais a Índia. Essa
reorientação mostrou-se lucrativa, pois se deu num momento em que o
crescimento econômico finalmente permitia que Nova Délhi financiasse
suas necessidades (consideráveis) em matéria de defesa. A Índia, por sua
vez, procurava novos fornecedores, pois os russos só conseguiam suprir
parcialmente o vazio deixado pelo desaparecimento da União Soviética.
Por fim, os Estados Unidos também aproximaram-se da Índia, facilitando
as transferências de tecnologia. Os radares israelenses Phalcon,
desenvolvidos pela indústria de defesa de Israel para a força aérea
indiana5, são um bom exemplo disso. Depois de ter proibido a venda à
China em 2000, Washington autorizou que ela fosse realizada para a
Índia. Nova Délhi tirou dessa experiência uma conclusão clara: a
aproximação com Tel Aviv permitiria-lhe o acesso às tecnologias de ponta
que os Estados Unidos recusavam-se tanto a exportar.
Assim, em uma década, Tel Aviv conseguiu impor-se entre os principais
fornecedores de armamento à Índia, que se tornou seu primeiro mercado de
exportação. O volume dos contratos assinados ao longo dos dez últimos
anos é estimado em algo próximo a US$ 10 bilhões6. Flexibilidade e
reatividade foram os grandes trunfos de Israel. Flexibilidade porque o
país teve de se adaptar às particularidades das forças armadas indianas,
cujos equipamentos são, em sua maioria, de origem russo-soviética – daí
os polpudos contratos para a modernização de tanques, porta-aviões,
helicópteros e aviões de combate russo – todos equipados com material
eletrônico israelense. Reatividade, com o abastecimento de emergência do
exército indiano em munição, durante o enfrentamento com o Paquistão na
Caxemira, em 1999, a chamada “crise de Kargil7”.
Cooperação
A cooperação industrial concentrou-se em dois setores de ponta: de um
lado, radares de vigilância e drones; de outro, sistemas de mísseis. No
que concerne aos primeiros, um contrato no valor de US$ 1,1 bilhão foi
fechado em 2004 para a venda de três Phalcon. Já em relação aos mísseis
Barak, a cooperação teve início em 2001, com um contrato de US$ 270
milhões para a venda de um sistema de defesa antinavio. Os negócios
deram um passo decisivo em janeiro de 2006, quando os dois países
decidiram codesenvolver uma nova geração do míssil. Um ano depois, eles
anunciaram um projeto de acordo no valor de US$ 2,5 bilhões para o
codesenvolvimento de um sistema de combate antiaéreo baseado no Barak,
mas dessa vez destinado à força aérea e ao exército em terra.
As imagens de satélite são outro ponto de troca entre as nações. Em
janeiro de 2008, a Índia lançou, por conta de Israel, um satélite de
espionagem de última geração, capaz de fornecer informações sobre as
instalações estratégicas iranianas. E, por sua própria conta, em abril
de 2009 lançou outro, adquirido emergencialmente após os atentados de
Mumbai, que, em novembro de 2008, fizeram 170 mortos e revelaram graves
lacunas em matéria de vigilância do território. O país também comprou
radares israelenses, por um valor de US$ 600 milhões, com o objetivo de
reforçar seu dispositivo de alerta ao longo da costa ocidental.
Não há dúvida de que Israel está em posição privilegiada para
acompanhar a Índia em seu esforço de aperfeiçoamento do dispositivo de
segurança do território e, de maneira mais geral, para aprofundar uma
cooperação já estreita em matéria de contraterrorismo. Os israelenses
ajudaram na construção de uma barreira ao longo da linha de controle com
o Paquistão, forneceram diversos sistemas de vigilância para impedir a
infiltração de militantes islâmicos. Mas, acima de tudo, os israelenses
estão entre os raríssimos intervenientes externos a fazerem-se presentes
no teatro de operações da Caxemira.
Hoje Nova Délhi, assim como o conjunto da comunidade internacional,
apoia a criação de um Estado palestino independente. Mas, ao longo das
sucessivas crises entre Israel e seus vizinhos, sua diplomacia aprendeu a
navegar de acordo com a maré. A abordagem indiana consiste em dissociar
a relação bilateral dos vaivéns da situação no Oriente Médio – em
outras palavras, proteger prioritariamente a cooperação com Israel,
evitando voltar as costas aos países árabes. Daí as declarações oficiais
cheias de nuances, condenando primeiro uma, depois outra,
ponderadamente, tanto a cegueira dos ataques terroristas contra Israel
quanto a brutalidade das “represálias”. A diplomacia indiana, aliás,
tomou gosto por adotar uma posicão dúbia já que, embora se aproximando
de Israel, o país também estabeleceu laços com o Irã no início dos anos
2000. Assim, antes da visita de Ariel Sharon, em setembro de 2003, Nova
Délhi recebera, em janeiro do mesmo ano, o presidente Mohammed Khatami.
De maneira um pouco paradoxal, a aproximação com Israel deu à Índia uma
nova alavanca em sua política no Oriente Médio: os Estados da região
aprenderam a considerar melhor os interesses indianos.
As tensões da Índia no Oriente Médio trazem muitas lições. Em um nível
diplomático, elas são resultado de uma polarização previsível entre os
defensores da postura tradicional, pró-árabe, e os partidários da
parceria com Israel. Mas, de modo mais sutil, revelam também uma tensão
interior, entre a necessidade de lidar com uma minoria de 160 milhões de
indivíduos, que faz da Índia o terceiro Estado muçulmano no mundo, e
uma fascinação inconfessa pelos métodos expeditivos de Israel. Métodos
que alguns em Délhi estariam bem tentados a experimentar contra as
esferas de influência terroristas baseadas no Paquistão.
Isabelle Saint-Mézard
é especialista em questões estratégicas na Ásia Meridional e professora
do Instituto de Estudos Políticos de Paris e do Instituto Nacional de
Línguas e Civilizações Orientais (Inalco), coautora de Dictionnaire de
l’Inde Contemporaine, Armand Collin, outubro 2010.
1 Em junho de 1991, a crise da balança de pagamento indiana, devida principalmente ao fim das transferências de dinheiro dos trabalhadores emigrados para os países do Golfo, levou os dirigentes da Índia a lançar, em comum acordo com o FMI, um grande programa de ajuste estrutural da economia. 2 Louise Tillin, “US-Israel-India: Strategic Axis?”, BBC News, Londres, 9 de setembro de 2003. 3 Discurso disponível no site do AJC: www.ajc.org. 4 Ver a seção Comércio Bilateral do site da embaixada da Índia em Tel-Aviv: www.indembassy.co.il 5 O primeiro radar foi transferido na primavera de 2009 para ser adaptado a aviões Iliuchin renovados pela Rússia. Nova Délhi poderia, dentro em pouco, encomendar três novos AWACS por uma soma mirabolante. 6 Siddharth Srivastava, “Israel rushes to India’s defense”, AsiaTime Online, 2 de abril de 2009. 7 Ler Ignacio Ramonet, “La menace Pakistan”, Le Monde Diplomatique, novembro de 1999. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Índia e Israel, uma parceria confidencial
Rede de Twiteiros independentes e socialistas da Venezuela
Danio Torrealba, explica como o grupo de "Tuiteros Socialistas" nasce
com a idéa de unificar a voz dos twiteros no que se chama a
"Guerra de quarta geração", para dar uma resposta coordenada frente aos diferentes ataques que sofre a Revolução Bolivariana com o
desconhecimento dos seus feitos.O vídeo é da teleSUR...
"Fracasso da Convenção do Clima prejudicará humanidade"
Por Alfredo Acedo
Da Minga Informativa de Movimentos Sociais
A 16ª Conferência da Convenção Marco da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16) já é vista como um fracasso, que afetará o futuro da humanidade porque se está fortalecendo a idéia das transnacionais lucrarem com a crise climática, disse Alberto Gómez, da coordenação internacional da Via Campesina.
Nos últimos documentos de discussão, foram eliminadas as propostas do
Acordo dos Povos assinado em Cochabamba (Bolívia) e a balança se
inclinou em favor do mercado de carbono e do REDD (Redução de Emissões
por Desmatamento e Degradação), mecanismo através do qual avança a
privatização mundial de matas, selvas e territórios, explicou
“Já podemos dizer que no processo de negociações rumo a Cancún foram
impostos os interesses das transnacionais e virá uma forte impulso para
um esquema financeiro que obriga os países a entrar em um ajuste
climático mercantilista”.
“Nós não concordamos com as falsas soluções, como o mercado de
carbono, porque longe de contribuir com a redução das emissões de gases
de efeito estufa, gerará cedo ou tarde um sistema especulativo que
poderia provocar outra crise financeira global”.
Por isso, as mobilizações da Via Campesina pretendem denunciar a
irresponsabilidade da maioria dos governos que optaram por favorecer o
grande capital em detrimento do interesse de suas nações e da
humanidade, disse Gómez.
“As caravanas internacionais que começaram no domingo 28 buscam
desmascarar o governo mexicano, mostrando a devastação ambiental e
social em todo o território nacional provocada por políticas públicas
contrárias ao interesse da maioria do povo”.
“Nas atividades que desenvolveremos no acampamento que a Via
Campesina instalará em Cancún a partir de 2 de dezembro, vamos denunciar
estes atos e convocaremos todos a se manifestarem para obrigar que a
Conferência adote medidas efetivas contra a crise do clima, como as
defendidas pelo Acordo dos Povos”.
“Nós afirmamos que as camponesas e os camponeses são necessários e
úteis para a humanidade. Nosso papel é produzir alimentos e o fazemos de
maneira sustentável, esfriando o planeta. E se contássemos com um
modelo de produção, distribuição e consumo diferente poderíamos acabar
com a fome e contribuir com o combate ao aquecimento da atmosfera”.
“A soberania alimentar —concluiu Gómez— é a alternativa da Via
Campesina frente ao capitalismo que agora quer privatizar até o ar que
respiramos”.
Wikileaks: O maior vazamento da história, o embaraço de Hillary com o Cablegate e a cumplicidade da imprensa dos EUA
Idelber Avelar em seu blog
Liberais e conservadores brasileiros, chegou a hora. Depois do 11 de setembro diplomático desencadeado neste fim de semana pelo mais impactante vazamento da
história moderna-- 250.000 comunicações, a maioria secretas, entre o
Departamento de Estado e embaixadas estadunidenses ao redor do mundo--, e
do completo sufocamento do tema na TV dos EUA, não resta fiapo de
credibilidade à ideia da imprensa 'mais livre do mundo', com que tantos
brasileiros à direita do espectro político se referem aos conglomerados
de mídia norte-americanos. Para quem se lembra da extrema docilidade com
que as mídias eletrônica e escrita dos EUA replicaram a patacoada das
armas de destruição em massa do Iraque em 2003, esta foi a cereja do
bolo. Não importa o partido que esteja no poder (Democratas ou
Republicanos), quando se trata dos interesses imperiais estadunidenses,
não sobrevive na mídia gringa um farrapo de compromisso com a verdade ou
com a pluralidade de pontos de vista. Ponto final. Podemos passar para o
próximo assunto? Grato. Continuemos.
Como já tratamos amplamente aqui, os poderosos usam dois pesos e duas medidas nos casos de “vazamento”, “grampo” ou qualquer obtenção de informação que ocorre naquela zona cinza entre o legal e o ilegal. Conforme a conveniência, enfocam-se na forma ou no conteúdo. Assim aconteceu com os dossiês dos aloprados petistas sobre a corrupção realmente existente no Ministério da Saúde de José Serra, do suposto, miraculoso e etéreo grampo sobre Gilmar Mendes e Demóstenes, e da quebra de sigilo da filha de Serra (cuja forma só importava até o momento em que apurou-se que foi tucano mesmo). Inacreditavelmente, aqui nos EUA, tanto o governo como o parlamento só reagiram à montanha de revelações do Wikileaks com ameaças pesadas contra Julian Assange e equipe. Sarah Palin, sem perder a chance de usar o episódio eleitoralmente contra Obama, sugeriu que os EUA "cacem Assange como a Bin Laden". Sobre o conteúdo dos documentos, nem um pio. Para isso, contaram com a sempre dócil imprensa norte-americana que, no pronunciamento de hoje de Hillary Clinton, não fez sequer uma única pergunta que tratasse do conteúdo das revelações.
E revelaram-se coisas para todos os gostos. Os EUA disseram à Eslovênia que lhe conseguiriam uma reunião com Obama caso os eslovenos aceitassem receber prisioneiros de Guantánamo, o que demonstra o tamanho da batata quente em que se transformou o campo de concentração paralegal [pdf] instalado por George W. Bush. Na Alemanha, os EUA ficaram em saia justa. Os vazamentos mostram tentativa de espionagem gringa sobre o Democratas Livres (liberais de centro-direita, uma espécie de DEM desagripinizado) e comentários feitos nos telegramas da embaixada se referem ao Chanceler alemão como “vaidoso e incompetente”. Hillary quis bisbilhotar o histórico de saúde mental da Presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner. Revelou-se que Israel fez lobby incessante, permanente por um (na certa irresponsável e catastrófico) ataque americano ao Irã, embora nem só de lobby sionista viva o interesse bélico anti-persa: também o rei saudita, confirmam os documentos do Wikileaks, fez pressão pelo ataque. Aliás, não são só os EUA que ficam mal na fita com esses cabos. Os governos árabes, com sua tradicional combinação de subserviência ante Israel e obscurantismo e truculência ante suas próprias populações, também receberam algumas boas lambadas com os vazamentos.
Até agora, as duas revelações sobre as quais valeria a pena um exame mais detido, pelo menos do ponto de vista brasileiro, são duas bombas: a primeira, a de que o estado espião e desrespeitoso da lei internacional, que se consolidou com Bush, foi mantido com o Departamento de Estado de Hillary sob Obama. A segunda é de que até os EUA sabiam que o golpe em Honduras, com o qual pelo menos setores de sua diplomacia colaboraram, era uma monstruosa ilegalidade.
Confirmando a primeira bomba, há um espantoso telegrama em que se detalham planos para espionar o Secretário-Geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, que de forma alguma pode ser descrito como alguém hostil aos interesses americanos. Os planos de espionagem incluíam até mesmo o cartão de crédito de Ki-Moon. A ordem veio diretamente do Departamento de Estado de Hillary que, obviamente, em seu pronunciamento de hoje, nada disse sobre o assunto. Nada lhe foi perguntado tampouco.
Sobre a segunda bomba, Cynara Menezes já disse tudo. Durante meses, bizantinos debates sobre a constituição hondurenha serviram para mascarar o fato cabal de que o golpe que depôs Zelaya não tinha um farrapo de apoio na lei internacional ou mesmo na bizarra legalidade estabelecida pela constituição hondurenha. Ancorados principalmente numa retórica da Guerra Fria herdada da mesma diplomacia estadunidense agora desmascarada, os direitecas brasileiros recorreram aos sofismas de sempre para justificar o golpe. Agora, ficou claro: alô, Revista Veja, nem os gringos acreditavam na mentirada.
Sobre o Brasil, até agora, há pouco, a não ser o já conhecido dado de que os EUA tentaram nos impor uma lei antiterrorismo, da qual o governo Lula-Dilma (o cabo faz explícita referência à atuação dela) conseguiu se safar. De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo.
As bombas vão se sucedendo com rapidez só comparável à desfaçatez com que a mídia dos EUA as ignora. O Wikileaks repassou seus vazamentos a cinco veículos de mídia: Le Monde, Der Spiegel, El País, Guardian e New York Times. Destes, a cobertura mais tímida e manipuladora, sem dúvida, é a deste último, totalmente focado na punição a Assange e na “legalidade” de seus atos, com pouca coisa sobre o conteúdo embaraçoso para os EUA. Uma manchete no lugar de destaque do site, na noite desta segunda-feira, dizia: “"Vazamentos mostram o mundo se perguntando sobre a Coreia do Norte". Haja óleo de peroba.
PS: Como grande destaque desta segunda-feira, o Presidente equatoriano Rafael Correa ofereceu guarida a Julian Assange, “sem perguntar nada”, para que ele “apresente suas informações não só na internet mas em outros fóruns públicos”. Realmente a Sociedade Interamericana de Imprensa deve ter razão: a “liberdade de imprensa” está ameaçada nos regimes “populistas” latino-americanos. É nos EUA que ela vai bem.
Como já tratamos amplamente aqui, os poderosos usam dois pesos e duas medidas nos casos de “vazamento”, “grampo” ou qualquer obtenção de informação que ocorre naquela zona cinza entre o legal e o ilegal. Conforme a conveniência, enfocam-se na forma ou no conteúdo. Assim aconteceu com os dossiês dos aloprados petistas sobre a corrupção realmente existente no Ministério da Saúde de José Serra, do suposto, miraculoso e etéreo grampo sobre Gilmar Mendes e Demóstenes, e da quebra de sigilo da filha de Serra (cuja forma só importava até o momento em que apurou-se que foi tucano mesmo). Inacreditavelmente, aqui nos EUA, tanto o governo como o parlamento só reagiram à montanha de revelações do Wikileaks com ameaças pesadas contra Julian Assange e equipe. Sarah Palin, sem perder a chance de usar o episódio eleitoralmente contra Obama, sugeriu que os EUA "cacem Assange como a Bin Laden". Sobre o conteúdo dos documentos, nem um pio. Para isso, contaram com a sempre dócil imprensa norte-americana que, no pronunciamento de hoje de Hillary Clinton, não fez sequer uma única pergunta que tratasse do conteúdo das revelações.
E revelaram-se coisas para todos os gostos. Os EUA disseram à Eslovênia que lhe conseguiriam uma reunião com Obama caso os eslovenos aceitassem receber prisioneiros de Guantánamo, o que demonstra o tamanho da batata quente em que se transformou o campo de concentração paralegal [pdf] instalado por George W. Bush. Na Alemanha, os EUA ficaram em saia justa. Os vazamentos mostram tentativa de espionagem gringa sobre o Democratas Livres (liberais de centro-direita, uma espécie de DEM desagripinizado) e comentários feitos nos telegramas da embaixada se referem ao Chanceler alemão como “vaidoso e incompetente”. Hillary quis bisbilhotar o histórico de saúde mental da Presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner. Revelou-se que Israel fez lobby incessante, permanente por um (na certa irresponsável e catastrófico) ataque americano ao Irã, embora nem só de lobby sionista viva o interesse bélico anti-persa: também o rei saudita, confirmam os documentos do Wikileaks, fez pressão pelo ataque. Aliás, não são só os EUA que ficam mal na fita com esses cabos. Os governos árabes, com sua tradicional combinação de subserviência ante Israel e obscurantismo e truculência ante suas próprias populações, também receberam algumas boas lambadas com os vazamentos.
Até agora, as duas revelações sobre as quais valeria a pena um exame mais detido, pelo menos do ponto de vista brasileiro, são duas bombas: a primeira, a de que o estado espião e desrespeitoso da lei internacional, que se consolidou com Bush, foi mantido com o Departamento de Estado de Hillary sob Obama. A segunda é de que até os EUA sabiam que o golpe em Honduras, com o qual pelo menos setores de sua diplomacia colaboraram, era uma monstruosa ilegalidade.
Confirmando a primeira bomba, há um espantoso telegrama em que se detalham planos para espionar o Secretário-Geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, que de forma alguma pode ser descrito como alguém hostil aos interesses americanos. Os planos de espionagem incluíam até mesmo o cartão de crédito de Ki-Moon. A ordem veio diretamente do Departamento de Estado de Hillary que, obviamente, em seu pronunciamento de hoje, nada disse sobre o assunto. Nada lhe foi perguntado tampouco.
Sobre a segunda bomba, Cynara Menezes já disse tudo. Durante meses, bizantinos debates sobre a constituição hondurenha serviram para mascarar o fato cabal de que o golpe que depôs Zelaya não tinha um farrapo de apoio na lei internacional ou mesmo na bizarra legalidade estabelecida pela constituição hondurenha. Ancorados principalmente numa retórica da Guerra Fria herdada da mesma diplomacia estadunidense agora desmascarada, os direitecas brasileiros recorreram aos sofismas de sempre para justificar o golpe. Agora, ficou claro: alô, Revista Veja, nem os gringos acreditavam na mentirada.
Sobre o Brasil, até agora, há pouco, a não ser o já conhecido dado de que os EUA tentaram nos impor uma lei antiterrorismo, da qual o governo Lula-Dilma (o cabo faz explícita referência à atuação dela) conseguiu se safar. De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo.
As bombas vão se sucedendo com rapidez só comparável à desfaçatez com que a mídia dos EUA as ignora. O Wikileaks repassou seus vazamentos a cinco veículos de mídia: Le Monde, Der Spiegel, El País, Guardian e New York Times. Destes, a cobertura mais tímida e manipuladora, sem dúvida, é a deste último, totalmente focado na punição a Assange e na “legalidade” de seus atos, com pouca coisa sobre o conteúdo embaraçoso para os EUA. Uma manchete no lugar de destaque do site, na noite desta segunda-feira, dizia: “"Vazamentos mostram o mundo se perguntando sobre a Coreia do Norte". Haja óleo de peroba.
PS: Como grande destaque desta segunda-feira, o Presidente equatoriano Rafael Correa ofereceu guarida a Julian Assange, “sem perguntar nada”, para que ele “apresente suas informações não só na internet mas em outros fóruns públicos”. Realmente a Sociedade Interamericana de Imprensa deve ter razão: a “liberdade de imprensa” está ameaçada nos regimes “populistas” latino-americanos. É nos EUA que ela vai bem.
Cuba, estrela cintilante
Gilvander Moreira no Correio da Cidadania | |
Tive a alegria e a responsabilidade de visitar Cuba durante nove dias,
em dezembro de 2006. Ao voltar da Ilha, escrevi o texto "Cuba: os
desafios de um grande povo ‘ilhado’" (cf. www.gilvander.org.br/C001.htm).
Hoje, dia 15 de novembro de 2010, estou divulgando um novo artigo sobre
Cuba, com informações que são fruto de estudo, do que vi e ouvi em Cuba
e também do que ouvi de estudantes brasileiros, membros da Via
Campesina, que estão estudando em território cubano.
Ouço com interesse pessoas que vão a Cuba e procuro me informar o que se
passa com o povo cubano, ciente de que não podemos aceitar ingenuamente
a criminalização do governo cubano e do socialismo em Cuba feita pela
mídia: TV Globo e Cia. Mas a história absolverá os criminalizados
injustamente. Fidel Castro será um deles. A mídia, geralmente, desfila
um rosário de preconceitos acerca do regime político cubano e da
história da Revolução cubana.
Falar de Cuba, do povo cubano, do socialismo e dos grandes líderes
revolucionários, tais como Fidel Castro, Che Guevara e Camilo
Cienfuegos, exige muita responsabilidade de quem se arrisca, porque,
para quem conhece Cuba, convive um pouco com o povo cubano e estuda a
história da revolução cubana, é impossível não aprender e não reconhecer
o histórico de indignação, a força e a luta por parte dos
revolucionários e o grande sentimento de amor por Cuba e por seu povo
por parte desses. E se torna impossível não respeitar e admirar o povo
cubano e sua história.
Cuba é uma ilha de 110.000 km², 20% do estado de Minas Gerais, estreita e
comprida, assemelhando-se a um jacaré. Com 11 milhões de habitantes é
uma ilha encantada por sua beleza natural e encantadora pelo seu povo.
Cristóvão Colombo, ao chegar a Cuba, em 1492, já afirmara: "Esta é a
terra mais bela que olhos humanos viram".
Desde o início Cuba teve um histórico de luta do povo contra a opressão
do imperialismo desde muitos tempos, com lutadores como o grande
revolucionário José Marti na luta pela Independência. Cuba foi
inicialmente uma colônia espanhola. Em 1898 foi invadida militarmente
pelos Estados Unidos. A partir de então, cresceram os negócios dos
norte-americanos na ilha.
Em dezembro de 1898 Cuba converte-se em uma nova colônia dos Estados
Unidos através de um "tratado de paz" absurdo realizado pela Espanha e
pelos Estados Unidos onde excluíam os cubanos. Em 1902 surge a
"República" e junto dela um documento "Ementa plate" que dava total
direito aos Estados Unidos de intervirem em Cuba politicamente e
militarmente, de todas as formas.
O destino de Cuba foi profundamente marcado pela influência
norte-americana tanto no plano político, mediante o apoio a partidos ou
grupos, quanto no econômico. A beleza caribenha e a localização
estratégica atraíram também para o local o lazer e a orgia dos ianques.
Também uma chaga que gera um grande incômodo: uma base militar dos
Estados Unidos em território cubano, a de Guantánamo. Essa base militar
resultou das negociações para a retirada das tropas americanas na
independência.
Anos e anos se passam e Cuba fica a mercê do poder dos EUA, mas o povo
sempre se organizou e lutou contra o seu poder econômico. Em 1933
aconteceu o Golpe de Estado de Fulgêncio Batista, com seu governo
ditador repressor do povo Cubano.
O revolucionário Fidel castro, diferente do que a mídia burguesa
alardeia, surge em um momento histórico carregado de luta e de sonhos
por uma pátria livre. E, principalmente, não sozinho, e sim junto com o
povo que lutava com mínimas condições objetivas e subjetivas, o que era
possível na época, e de forma popular. O processo revolucionário foi uma
construção coletiva.
Só existiu o triunfo da Revolução porque o povo estava junto,
participando. Fidel, com indignação, coerência e amor por seu país,
junto com o povo cubano, nunca desistiu de Cuba e continuou o projeto de
libertação iniciado por José Marti. Um grupo de revolucionários
realizou no dia 26 de julho de 1953 um assalto ao Quartel Moncada,
situado na Província de Santiago de Cuba - na época era a segunda maior
força militar de Cuba - como estratégia para conseguir armas e iniciar a
Revolução. Houve um erro tático e foram derrotados pelos soldados do
ditador Fulgêncio Batista.
Neste contexto, muitos revolucionários foram assassinados, presos e
torturados. Fidel Castro foi torturado e, quando estava preso,
pronunciou a seguinte frase: "Condenar-me não importa. A história me
absolverá". Fidel, ao ver companheiros e companheiras sendo assassinados
e torturados injustamente, se humanizou ainda mais; a indignação
palpitou mais em seu peito e o desejo pela Revolução cubana se
fortaleceu muito mais como seu projeto de vida. No momento em que estava
preso, Fidel estudou muito, inclusive ‘O Capital’, de Marx. Produziu o
documento "A História me absolverá", documento esse que o mesmo usou
para se defender em seu julgamento e que mais tarde, com o triunfo,
virou plano de governo da Revolução Cubana. Fidel, ao ser solto, foi
exilado para o México, mas não desistiu do seu povo. No México, começou a
organizar pessoas que tinham a revolução como projeto de vida, e
começaram a se preparar para regressarem a Cuba e começarem o processo
da revolução.
Segundo a História, quando se reuniram para subir a Sierra Maestra,
tinham somente quatro armas e disseram: "estamos prontos para iniciarmos
a Revolução". Estavam encharcados de coragem, mas com pouca comida. Em
um dos combates que durou vinte dias, o exército rebelde comeu somente
nove vezes. Esta informação está escrita no livro de Che Guevara
"Passagem da Guerra revolucionária". Com pouca estrutura, mas com muita
vontade e muita convicção do que buscavam, o grupo de guerrilheiras e
guerrilheiros do exército rebelde na Sierra Maestra iniciou um marco da
história que culminou no triunfo da Revolução Cubana e na libertação do
povo cubano. Fidel Castro é um dos comandantes que lutou junto com seus
companheiros e venceu.
Em toda a história da Revolução cubana está presente o compromisso, a
coerência, o amor e a força dos revolucionários. Não se pode negar essa
história e o povo cubano sabe da sua história, respeita e a vive todos
os dias. Não podemos aceitar ingenuamente a criminalização do governo
cubano e do socialismo por parte da mídia de turistas da sociedade
capitalista, que não aceitam a liberdade do povo cubano de viverem o
socialismo. O povo cubano ama a Revolução, reconhece os limites
materiais hoje existentes em Cuba, mas quer continuar a viver no
socialismo. "Capitalismo, jamais!", dizem todos.
A Revolução pensa cada detalhe para as pessoas, que vai desde as
questões mais complexas de como manter a produção de alimentos no país,
como sobreviver com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos,
até o sagrado direito de tomar um sorvete gostoso por um preço acessível
a todos na Sorveteria Popular Copélia, no centro de Havana. Essa
Sorveteria Copélia foi um projeto da guerrilheira Haidee Santa Maria,
que adorava sorvete. Na Sierra Maestra tinham pouca comida, mas Haidee
almejava que com a Revolução todos os cubanos teriam o direito ao prazer
de tomar sorvete. Hoje, em todos os municípios de Cuba existe uma
sorveteria popular para os cidadãos.
A Revolução mudou a vida das pessoas, fez reforma agrária, erradicou o
analfabetismo, distribuiu as riquezas etc. Após viver 15 anos no
capitalismo antes da revolução, o camponês Sr. Vicente Guillen Granado
disse: "Na época do capitalismo em Cuba, eu não era gente; eu era um
miserável. Hoje, no socialismo, sou gente; tenho dignidade e um governo
que zela por mim e por meu povo. Nunca mais quero ter a experiência de
viver no capitalismo". Os cubanos sabem a diferença entre viver em uma
sociedade socialista e viver numa sociedade capitalista. Como o próprio
Sr. Vicente disse: "O socialismo em Cuba nunca vai acabar, porque o povo
cubano não quer, porque aqui quem tem o poder é o povo e o que
prevalece é a vontade do proletariado".
Então, diferentemente do que a mídia trombeteia, os cubanos são felizes
com o socialismo e sabem da importância da Revolução. Sabem que o poder
está nas mãos do povo. E o socialismo em Cuba ainda existe e está firme
não porque uma pessoa governa, e sim porque o povo governa.
Antes de emitir qualquer opinião sobre Cuba é importante entender a
história do povo cubano e da Revolução, e acredito ser relevante ter em
mente alguns aspectos fundamentais: o primeiro, a localização
estratégica da Ilha, que fica a apenas 150 milhas do maior império da
atualidade. Esta é a distância que separa Cuba do estado da Flórida nos
Estados Unidos. O segundo aspecto é o fato de o país ter sofrido, e
continuar sofrendo, ao longo de sua história, permanentes tentativas de
invasão, exatamente em vista de sua posição estratégica na entrada do
golfo do México. E terceiro, o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba é
injusto e covarde, pois dificulta a vida de todos os cubanos. Mas o povo
cubano sabe que não é o bloqueio que vai destruir o socialismo, e já
mostraram isso para o mundo e para o imperialismo. Pelo contrário, viver
com o bloqueio cada dia mais unifica as pessoas, fortalece a
solidariedade entre o povo. Os cubanos sabem que mesmo com as
dificuldades que o bloqueio proporciona, não existe nenhum cubano
analfabeto, as pessoas têm acesso à comida, à educação, à medicina, à
cultura, ao esporte etc.
Na chegada a Havana, capital de Cuba, já é possível sentir a diferença
de se estar em um Estado socialista. Do aeroporto José Marti ao centro
da capital há um percurso de aproximadamente 30 quilômetros. Neste
trajeto somos presenteados com uma delicada e bem cuidada paisagem, onde
não há sequer uma propaganda comercial. Nas ruas de Havana, ocorre o
mesmo, nenhum outdoor que estimule o consumo. Só podem ser vistas, e
poucas, as propagandas do regime socialista. Lembro-me de algumas:
"Neste momento mais de 2 milhões de crianças estão passando fome nas
ruas do mundo, nenhuma delas é cubana"; "Pela vida. Não ao bloqueio
econômico dos Estados Unidos"; "Che Guevara, teu exemplo é uma luz na
nossa marcha socialista"; "Em Cuba, 100% das crianças estão na escola". É
obrigatório estudar. Se uma criança é pega na rua em horário de aula, a
polícia leva a criança em casa e os pais têm que ir à delegacia dar
satisfação. A Educação não é responsabilidade somente dos pais, mas
também do Estado. Por lei todos têm que estudar. Não se vêem crianças
nas ruas sozinhas, sem os pais, pedindo esmola, vendendo balas, se
prostituindo.
Em Cuba, na Escola Latino-Americana de Ciências Médicas - ELAM –, criada
em 1999, milhares de jovens latino-americanos já se formaram em
Medicina. O Estado cubano custeia tudo: além dos professores e da
manutenção da universidade, oferece hospedagem, alimentação, livros,
cadernos e ainda dá uma ajuda de custo mensal. Os livros usados são
devolvidos ao final de cada ano para que outros estudantes possam
estudar neles. É interessante registrar: enquanto nos Estados Unidos
gastam-se 350 mil dólares para formar um médico, em Cuba 120 mil dólares
são suficientes.
Há milhares de estudantes estrangeiros em Cuba, na graduação e na
pós-graduação. Só do Brasil são mais de mil jovens, mais de 200 dos
quais enviados pelo MST para medicina e outros cursos. Dezenas, já
formados.
Após a Revolução em 1959, muitos cubanos - latifundiários, banqueiros e
empresários - migraram para os EUA por discordar do regime, e são, ainda
nos dias atuais, manipulados e financiados pelo governo estadunidense
com o intuito de derrubar o regime socialista de Cuba. Hoje, incluindo
os descendentes, há mais de um milhão de cubanos que vivem naquele país.
A grande maioria colabora efetivamente para a economia cubana enviando
mensalmente dólares para os parentes que moram na ilha. Uma minoria,
conhecida como a máfia cubana de Miami, que perdeu dinheiro e poder após
a Revolução de 1959, conspira o tempo inteiro contra a política
socialista. Essa pressão de uma minoria cubana interessa à política
imperialista dos Estados Unidos, que usa de tais artifícios para isolar o
último país de resistência socialista existente no planeta.
Basta ver que quando um estrangeiro chega clandestinamente aos Estados
Unidos é imediatamente mandado de volta ao seu país. Os cubanos são a
exceção. Para incentivar a saída de Cuba, o governo dos Estados Unidos
acolhe como cidadãos os cubanos que chegam ao seu território. Ou seja,
os únicos estrangeiros que têm visto de permanência incondicional nos
Estados Unidos são os originários de Cuba.
O bloqueio dos Estados Unidos a Cuba consiste na proibição do comércio
dos produtos cubanos nos Estados Unidos e a venda de qualquer produto
norte-americano a Cuba. Além, é claro, da proibição do uso de tecnologia
desenvolvida nos Estados Unidos. Não existe relação diplomática e
comercial entre os dois países. Isso gera enormes dificuldades à
economia cubana devido ao custo do transporte, que é acrescido a todos
os produtos que vêm de países bem mais distantes, como os países
europeus, o Canadá ou China. Cuba tem de pagar sobretaxas para importar
produtos norte-americanos de outros países.
Deste modo, a única forma de o governo cubano sobreviver ao bloqueio é
usar de muita criatividade. Mas ocorre um verdadeiro milagre: Cuba conta
irrestritamente com o apoio de um povo educado (mais de 34% dos cubanos
têm, no mínimo, um curso universitário) e que conhece muito bem a sua
história. O governo cubano é tão fiel ao seu povo e facilita em tudo a
vida de todos. Eis um exemplo: muitos produtos vendidos em Cuba e no
Brasil têm o mesmo preço em Cuba e no Brasil, porém Cuba compra os
mesmos produtos muito mais caros do que o Brasil por causa do Bloqueio.
Se empresas que atuam no Brasil compram por um preço muito mais barato,
poderiam vender para os consumidores por um preço menor. Logo, o povo
brasileiro é mais explorado. Em Cuba, o povo não é explorado. Outro
exemplo muito importante é na alimentação. Um camponês vende um ovo de
galinha a 2,00 pesos para o Estado e o Estado vende o mesmo ovo nas
tendas estatais para as pessoas por 0,20 centavos. O camponês vende 1
litro de leite para o Estado a 2,5 pesos e o Estado vende nas tendas a
0,20 centavos. Isso é incrível. Um país que sofre com o bloqueio
consegue garantir qualidade de vida para os camponeses que vivem no
campo, valorizando o seu produto, com venda garantida dos alimentos para
o Estado, incentivando a agricultura na produção de alimentos e
repassando os alimentos a baixo custo para a população. Essa é uma
estratégia para superar os malefícios do bloqueio.
Dessa forma os camponeses se motivam a continuar no campo e produzirem
alimentos. E o mais importante: alimentos saudáveis sem uso de
agrotóxicos. Cuba vem trabalhando e mostrando na prática que é possível
produzir alimentos agroecológicos de forma sustentável. Diferentemente
do Brasil, que a cada dia fortalece o agronegócio, a concentração da
terra, a intensificação dos monocultivos transforma o país num grande
lixão das transnacionais, com uso abusivo de agrotóxicos, poluindo os
alimentos da população, o solo e as águas. Não é por acaso que o Brasil é
o maior consumidor de agrotóxicos do mundo: 713 milhões de litros por
ano, 3,5 quilos para cada pessoa, em média.
Na conjuntura atual, Cuba tem como estratégia principal garantir a
soberania alimentar, dependendo o mínimo de alimentos importados. Cuba
hoje exporta café, açúcar, tabaco, cacau e outros produtos. E importa em
grande quantidade, por exemplo, arroz e leite em pó. Em cima da frase
dita pelo comandante Fidel de que "o dever patriótico número um do
campesinato cubano é produzir para o povo", está sendo feita uma
campanha nacional, traçando linhas políticas de incentivo à agricultura
para a produção de alimentos. Com a elaboração da lei 259 - "Entrega de
terras em usufruto", de 11 de julho de 2008, segundo a qual o Estado
repassa terras que estão ociosas para as pessoas que querem trabalhar na
agricultura com o compromisso de produzirem alimentos. Desde o
surgimento desta lei, mais de 100 mil famílias já voltaram ao campo para
a produção de alimentos. O que mostra que a produção só vem aumentando.
E o governo supervaloriza o preço dos alimentos. O que garante a
permanência dos agricultores no campo.
O Estado, através da ANAP (Associação Nacional de Agricultores
Pequenos), presente em todas as Províncias de Cuba, garante a compra de
80% da produção dos camponeses, ficando 20% para consumo da família
produtora. E o camponês que quiser vende seus 20% nas feiras, na beira
das estradas ou em casa. Para se ter idéia, as pessoas que mais têm
poder de ingresso de dinheiro em Cuba são os camponeses. Onde já se viu
isso em um país capitalista! É lindo ver a alegria e a satisfação dos
camponeses na lida com a terra. Eles têm convicção da sua importância
para o país. Orgulham-se de ser camponeses. A meta do governo cubano é
não precisar importar nenhum alimento. Há planejamento da produção de
alimentos. A demanda é distribuída por região. São informados aos
camponeses os alimentos de que o Estado precisa. Os agricultores plantam
levando em consideração a demanda da região e do país. Por exemplo, se
em uma determinada região há potencial para a produção de milho, arroz e
feijão, com certeza essa região potencializa suas forças na produção de
tais alimentos, e assim vai se fazendo o planejamento e garantindo uma
agricultura diversificada, cumprindo as metas. Os camponeses têm a
tarefa de produzir. O transporte e a comercialização são por conta do
Estado. Os caminhões do Estado buscam a produção nas propriedades. Os
camponeses têm assistência técnica garantida pelo Estado. Cuba, somente
em 2009, formou mais de cinco mil agrônomos. Todos os meios de produção
são garantidos, como ferramentas, sementes etc.
O presidente Raul Castro convocou toda a juventude para vir ao campo
contribuir na produção de alimentos. É uma realidade bonita de se ver.
Jovens que até trancam suas matrículas na Universidade para prestar
ajuda ao Estado, ao seu país; professores universitários que prestam
trabalho solidário no campo na produção de alimentos. Em Cuba existe uma
solidariedade que contagia as pessoas, o que é um processo de
humanização muito grande. Todos os cubanos, desde as crianças até os
idosos, sabem do problema que é o bloqueio dos EUA, existe uma
consciência fantástica por parte das pessoas. E todos contribuem como
podem.
Em Havana, vê-se um grande número de pessoas pegando carona e muitos
motoristas oferecendo carona, especialmente nos horários de pico. Cerca
de 80% dos automóveis são estatais e são orientados a dar carona. Os
carros particulares, que são poucos, também cultivam a prática de dar
carona. É muito difícil ver uma pessoa sozinha em um automóvel.
Normalmente andam duas, três ou quatro pessoas no mesmo automóvel,
inclusive nos táxis. Dar e receber carona é um valor socialista e faz
parte da cultura, é o normal. Muita gente vai trabalhar e volta sem ter
que pagar pelo transporte. Não existe o menor receio de violência como
seria de se esperar no Brasil. Além de ser também uma forma bastante
inteligente de economizar energia. O petróleo é muito oneroso para o
governo cubano. Assim, o povo cubano vai driblando o bloqueio
norte-americano.
Faz bem considerar o que nos diz Haroldo Brasil, no artigo "Flashes de Cuba" (Jornal Estado de Minas, 31/05/2010):
"Quem buscar conhecer por dentro como vive o povo cubano, sua
geografia e sua cultura, ao ir a Cuba, deve se hospedar em casas de
família. Lá existe, com a autorização do governo, uma rede de casas de
família, divididas em pequenos apartamentos, que podem ser alugados a
visitantes, preservando uma área para uso próprio. Há sempre a opção de
café da manhã e jantar, que são cobrados à parte. É possível assim um
melhor conhecimento da intimidade das famílias, através do papo
agradável e aberto que foi possível manter com os moradores locais. A
exceção acontece em Varadero, praia no norte da ilha, que só recebe
turistas, em hotéis, com uso de mão-de-obra cubana.
Quem vai a Cuba vê com os próprios olhos um sistema educacional de
ótima qualidade em todos os níveis, saúde pública para todos os
cidadãos, nível de renda equalizado, segurança pública total, sem
policiamento ostensivo, com criminalidade próxima de zero e sem o
clássico problema das drogas de nossas sociedades capitalistas. Além
disso, o cuidado com o meio ambiente transparece em todos os locais que
visitamos. No que diz respeito à educação das crianças e adolescentes,
há escolas em quase todos os quarteirões das cidades em tempo integral,
com espaço para brincadeiras e esportes. A constituição de Cuba é
enfática: ‘O único privilégio que admitimos nesse país é com relação ao
tratamento que daremos às nossas crianças’.
O bloqueio norte-americano causa muitos danos ao povo cubano.
Carência de matérias primas essenciais como papel, tintas, peças
sobressalentes para veículos etc. Quem volta de Cuba para o Brasil, no
avião, que faz conexão no Panamá, sente um grande contraste quando se
observam os brasileiros vindos de Aruba, Cancun, Miami, Nova Iorque,
carregando imensas malas com quinquilharias inúteis e despejando um papo
furado sobre suas inúteis aventuras consumistas".
Conhecer Cuba e poder conviver com o povo cubano é um verdadeiro
processo de humanização, é entender que precisamos de muito pouco para
ser felizes. E que é possível viver em uma sociedade onde a
competitividade e a acumulação de bens não são o mais importante; a vida
das pessoas está acima de qualquer coisa. Em Cuba o ser das pessoas é
mais importante do que o ter.
Os cubanos sabem o que é o socialismo, o quanto foi difícil conquistá-lo
e que é este regime que querem que permaneça em Cuba. Também sabem o
quanto o governo faz por eles e com eles. Cuba incomoda os capitalistas,
pois, mesmo pequena como Davi, nos dá exemplo de que, ainda que
sofrendo todo tipo de pressão, segue firme vencendo todos os obstáculos.
Os imperialistas já sabem que não conseguirão destruir o socialismo de
Cuba, porque Cuba, junto com Fidel, com seu povo, não é governada por
uma ditadura, mas sim pelo poder popular. Se existe alguma ditadura em
Cuba é a ditadura do proletariado, dos trabalhadores, da classe
trabalhadora, do povo. Assim, Cuba, como uma estrela cintilante, resiste
sendo exemplo de que uma sociedade livre é possível. Ser livre é
difícil, mas possível, nos ensina o povo cubano.
Gilvander Moreira é frei e padre carmelita; mestre em Exegese
Bíblica; professor de Teologia Bíblica; assessor da CPT – Comissão
Pastoral da Terra, de CEBs – Comunidades Eclesiais de Base , do SAB –
Serviço de Animação Bíblica e da Via Campesina; E-mail:
gilvander@igrejadocarmo.com.brEste endereço de e-mail está
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Página na Web e Twitter: http://www.gilvander.org.br/ – www.twitter.com/gilvanderluis
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Regulando a mídia...
Os donos da mídia estão nervosos
por Laurindo Lalo Leal Filho, na Carta Maior *
O blogueiro Renato Rovai contou durante o curso anual do Núcleo
Piratininga de Comunicação, realizado semana passada no Rio, que a Veja
andou atrás dele querendo saber como foi feita a articulação para que o
presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes
pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.
A essa informação somam-se as matérias dos jornalões e de algumas
emissoras de TV sobre a coletiva, sempre distorcidas, tentando
ridicularizar entrevistado e entrevistadores.
O SBT chegou a realizar uma edição cuidadosa daquele encontro
destacando as questões menos relevantes da conversa para culminar com
um encerramento digno de se tornar exemplo de mau jornalismo.
Ao ressaltar o problema da inexistência de leis no Brasil que
garantam o direito de resposta, tratado na entrevista, o jornal do SBT
fechou a matéria dizendo que qualquer um que se sinta prejudicado pela
mídia tem amplos caminhos legais para contestação (em outras
palavras). Com o que nem o ministro Ayres Brito, do Supremo, ídolo da
grande mídia, concorda.
Jornalões e televisões ficaram nervosos ao perceberem que eles não
são mais o único canal existente de contato entre os governantes e a
sociedade.
Às conquistas do governo Lula soma-se mais essa, importante e pouco
percebida. E é ela que permite entender melhor o apoio inédito dado ao
atual governo e, também, a vitória da candidata Dilma Roussef.
Lula, como presidente da República, teve a percepção nítida de que
se fosse contar apenas com a mídia tradicional para se dirigir à
sociedade estaria perdido. A experiência de muitos anos de contato com
esses meios, como líder sindical e depois político, deu a ele a
possibilidade de entendê-los com muita clareza.
Essa percepção é que explica o contato pessoal, quase diário, do
presidente com públicos das mais diferentes camadas sociais,
dispensando intermediários.
Colunistas o criticavam dizendo que ele deveria viajar menos e dar
mais expediente no palácio. Mas ele sabia muito bem o que estava
fazendo. Se não fizesse dessa forma corria o risco de não chegar ao fim
do mandato.
Mas uma coisa era o presidente ter consciência de sua alta
capacidade de comunicador e outra, quase heróica, era não ter preguiça
de colocá-la em prática a toda hora em qualquer canto do pais e mesmo
do mundo.
Confesso que me preocupei com sua saúde em alguns momentos do
mandato. Especialmente naquela semana em que ele saía do sul do país,
participava de evento no Recife e de lá rumava para a Suíça. Não me
surpreendi quando a pressão arterial subiu, afinal não era para menos.
Mas foi essa disposição para o trabalho que virou o jogo.
Um trabalho que poderia ter sido mais ameno se houvesse uma mídia
menos partidarizada e mais diversificada. Sem ela o presidente foi para
o sacrifício.
Pesquisadores nas áreas de história e comunicação já tem um
excelente campo de estudos daqui para frente. Comparar, por exemplo, a
cobertura jornalística do governo Lula com suas realizações. O
descompasso será enorme.
As inúmeras conquistas alcançadas ficariam escondidas se o
presidente não fosse às ruas, às praças, às conferências setoriais de
nível nacional, aos congressos e reuniões de trabalhadores para contar
de viva voz e cara-a-cara o que o seu governo vinha fazendo. A NBR,
televisão do governo federal, tem tudo gravado. É um excelente acervo
para futuras pesquisas.
Curioso lembrar as várias teses publicadas sobre a sociedade
mediatizada, onde se tenta demonstrar como os meios de comunicação
estabelecem os limites do espaço público e fazem a intermediação entre
governos e sociedade.
Pois não é que o governo Lula rompeu até mesmo com essas teorias.
Passou por cima dos meios, transmitiu diretamente suas mensagens e
deixou nervosos os empresários da comunicação e os seus fiéis
funcionários, abalados com a perda do monopólio da transmissão de
mensagens.
Está dada, ao final deste governo, mais uma lição. Governos
populares não podem ficar sujeitos ao filtro ideológico da mídia para
se relacionarem com a sociedade.
Mas também não pode depender apenas de comunicadores excepcionais
como é caso do presidente Lula. Se outros surgirem ótimo. Mas uma
sociedade democrática não pode ficar contando com o acaso.
Daí a importância dos blogueiros, dos jornais regionais, das
emissoras comunitárias e de uma futura legislação da mídia que garanta
espaços para vozes divergentes do pensamento único atual.
* Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista,
é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV
sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus
Editorial).
campanha sobre racismo nas escolas será “puxão de orelha” na sociedade, diz secretária
Em um Mundo de Diferenças, Enxergue a Igualdade. Esse é o tema de campanha
lançada hoje (29) pelo Ministério da Educação (MEC) e a Unicef para
alertar sobre o impacto do racismo nas escolas e promover iniciativas
para a redução das desigualdades.
Dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que
das 530 mil crianças entre 7 e 14 anos fora da escola, 330 mil são
negras. O índice representa 62% do total. Para a subsecretária de
Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, a
iniciativa é um “puxão de orelha na sociedade em geral e nos
responsáveis pelas políticas públicas para o setor”, porque chama a
atenção para a criminalização da adolescência negra no país.
A campanha tem como fundamento as dez maneiras
de contribuir para uma infância sem racismo. Entre elas, o incentivo ao
comportamento respeitoso e à denúncia, além da lembrança de que racismo
é crime inafiançável. “Educação é mais do que aprender a ler, escrever e
contar. É aprender a viver junto, a não se intimidar diante da opressão
e encontrar na vida forças para enfrentar resistências”, afirmou o
secretário de Educação Continuada do MEC, André Lázaro.
A campanha terá dois filmes, de 27 segundos e de 30 segundos, veiculados na televisão e na internet. Foi criado também um blog,
no endereço www.infanciasemracismo.org.br. Na página, o internauta vai
poder contar também histórias de sucesso ou de discriminações que tenha
sofrido ou presenciado. O blog ficará no ar durante um ano, tempo de duração da campanha.Priscilla Mazenotti, da Agência Brasil
O discurso de Evo
Por Fidel Castro Ruz
Há momentos na história que precisam
de um discurso, embora seja tão breve como o "Alia
jacta est" de Julio César quando atravessou o
Rubicão. Era necessário atravessá-lo nesse dia,
justamente quando os ministros da Defesa dos Estados
soberanos do hemisfério ocidental estavam reunidos
na cidade de Santa Cruz, onde os ianques têm
estimulado o separatismo e a desintegração da
Bolívia.
Era segunda-feira 21, e as agências
de notícias dedicavam-se a divulgar e fazer
comentários sobre a reunião da OTAN em Lisboa, onde
essa instituição belicosa, em linguagem arrogante e
grosseira, proclamou seu direito de intervir em
qualquer país do mundo onde seus interesses se
sentissem ameaçados.
Ignorava-se por completo a sorte de
milhares de milhões de pessoas, e as verdadeiras
causas da pobreza e do sofrimento da maioria dos
habitantes do planeta.
O cinismo da OTAN merecia uma
resposta, e ela veio na voz de um indígena aimara da
Bolívia, no coração da América do Sul, onde uma
civilização mais humana floresceu antes que a
conquista, o colonialismo, o desenvolvimento
capitalista e o imperialismo impusessem o domínio da
força bruta, baseada no poder das armas e das
tecnologias mais desenvolvidas.
Evo Morales, presidente desse país,
eleito pela imensa maioria de seu povo, com
argumentos, dados e fatos incontestáveis, talvez sem
conhecer ainda o infame documento da OTAN, deu
resposta à política que o governo dos Estados Unidos
pratica historicamente com os povos da América
Latina e do Caribe.
A política da força expressa através
de guerras, crimes, violações da constituição e das
leis; treinamentos de oficiais dos institutos
armados para participar em conspirações, golpes de
Estado, crimes políticos que foram usados para
derrubar governos progressistas e instalar regimes
de força aos quais oferecem sistematicamente apoio
político, militar e da mídia.
Jamais um discurso foi tão
oportuno.
Usando muitas vezes as formas
expressivas de sua língua aimara, disse verdades que
passarão à história.
Tentarei fazer uma apertada síntese,
usando suas próprias frases e palavras,
Muito obrigado.
"Apraz-me imenso receber em Santa
Cruz de la Sierra os ministros e ministras da Defesa
da América, Santa Cruz, terra de Ignácio Warnes, de
Juan José Manuel Vaca, homens rebeldes de 1810 que
lutaram e morreram a favor da independência da nossa
querida Bolívia".
"Homens como Andrés Ibáñez,
Atahualipa Tumpa, irmãos indígenas que durante a
república lutaram por sua autonomia e pela igualdade
dos povos em nossa terra".
"Bem-vindos a Bolívia, terra de
Túpac Katarí, terra de Bartolina Sisa, de Simón
Bolívar e de tantos homens que lutaram durante 200
anos pela independência da Bolívia e de muitos
países na América".
"A América Latina [...] vive nos
últimos anos profundas transformações democráticas
buscando a igualdade e a dignidade dos povos..."
"... seguindo os passos de Antonio
José de Sucre, de Simón Bolívar, de vários líderes
indígenas, mestiços, crioulos que viveram há 200
anos."
"Há exatamente uma semana,
celebramos o bicentenário do Exército da Bolívia,
que em 14 de novembro de 1810 indígenas, mestiços,
crioulos se organizaram militarmente para combater
contra a dominação espanhola..."
"Nos últimos tempos a América Latina
retoma essa decisão de se libertar, como uma segunda
libertação não só social nem cultural, mas também
econômica e financeira, dos povos da América
Latina".
"... esta 9ª Conferência de
ministros da Defesa visa o debate sobre gênero e
multiculturalidade nas Forças Armadas, democracia,
paz e segurança das Américas, desastres naturais,
ajuda humanitária e o papel das Forças Armadas,
temário acertado, temário bem colocado para debater
a esperança dos povos, não só da América Latina, mas
também do mundo."
"Em 1985 [...] só tinham direito a
serem eleitos ou eleger autoridades, aqueles que
tinham dinheiro, que tinham profissão e os que
falavam espanhol ou o castelhano".
"Menos de 10% da população boliviana
podia, por conseguinte, participar das eleições ou
ser eleita como autoridade, e mais de 90% não tinha
direito [...] tiveram lugar diferentes processos
[...] algumas reformas, mas no ano 2009, com a
participação pela primeira vez do povo boliviano,
uma nova Constituição do Estado Plurinacional foi
aprovada pelo povo boliviano."
"... nesta nova Constituição,
logicamente os setores mais marginalizados [...] não
tinham direito a serem eleitos nem a eleger às
autoridades do Estado, da República da Bolívia.
"Tiveram que passar mais de 180 anos
para fazer profundas transformações e incorporar
estes setores marginalizados historicamente na
Bolívia, e confio em não estar errado, mas acho que
é o único país, não só na América, mas também no
mundo com 50% de mulheres ministras e 50% de
homens.
"É lógico que, com respeito às
normas da Constituição [...] sinto que é mais
importante a decisão política que deve ser tomada
para incorporar os setores mais abandonados; é
depois da aprovação da Constituição pelo povo
boliviano em 2009, que os mais marginalizados, os
mais desprezados, os considerados animais, que era o
movimento indígena, têm sua representação na
Assembléia Legislativa Plurinacional e também nas
assembléias departamentais".
"Algo importante, para os movimentos
indígenas que não têm muita população foram criadas
circunscrições especiais para que estejam presentes
os irmãos indígenas do planalto, do vale, do leste
da Bolívia".
"As circunstâncias uninominais
também permitem que os irmãos indígenas estejam
representados na Assembléia Legislativa
Plurinacional..."
"Desta forma, permitimos a presença
desses irmãos indígenas que estavam abandonados,
condenados ao extermínio."
"... isso não existia antes..."
"... quando eu era muito jovem, como
líder sindical, às vezes me opus às Forças Armadas e
depois, quando assumo a presidência percebo que uma
boa parte das Forças Armadas provêm das comunidades
camponesas, principalmente do vale ..."
"Quero dizer-lhes queridos
ministros, ministras, que nunca houve participação
como agora, anteriormente apenas a cor da pele
determinava o nível hierárquico da sociedade, agora
um indígena, um líder sindical, um intelectual, um
profissional, um líder empresarial, um militar, um
general, qualquer pessoa pode ser eleita presidente,
democraticamente, antes não existia essa
possibilidade, de mudar a Bolívia e nossa
Constituição.
"Quando esta Conferência enfoca
apenas a democracia, a segurança e a paz, rever a
história, revisar as normas para mim é muito
interessante, é bom revisar, não só revisar por
revisar, mas fazer qualquer coisa a favor da
democracia na América Latina, da segurança, da paz
na América ou no mundo.
"Se falamos da democracia no
passado, na Bolívia apenas existia uma democracia
pactuada, não existia um partido que pudesse ganhar
com mais de 50% dos votos como expressa a
Constituição Política do Estado Plurinacional..."
" ... na Bolívia, até 2005, desde
1952, na década dos anos 50, só existiam democracias
pactuadas, os partidos ganhavam com 20%, 30% ..."
"Um Partido que ocupasse o terceiro
lugar podia ser presidente, dependia dos pactos e da
distribuição dos ministérios, este tipo de pactos
era justamente organizado pelo embaixador dos
Estados Unidos; nossos compatriotas, irmãs, irmãos,
bolivianas e bolivianos, devem lembrar, por exemplo,
o ano 2002, quando ninguém ganhava com mais de 50%,
o partido com mais votos conseguiu 21% dos votos, e
aí estava o embaixador dos Estados Unidos, Manuel
Rocha, juntando, unindo os partidos neoliberais para
que pudessem governar, e esses governos não duraram,
não agüentaram.
"Felizmente, graças à consciência do
povo boliviano vamos vencendo esta classe de
democracias, agora não temos uma democracia
pactuada, e sim uma democracia legítima a partir do
sentimento do povo boliviano que acompanha um
pensamento, um sentimento que vem do sofrimento dos
povos sob um programa de governo."
"... um programa de dignificação dos
bolivianos, um programa que busca a igualdade dos
bolivianos, das bolivianas, um programa que recupera
seus recursos naturais, um programa que permite que
os serviços básicos sejam um direito humano .."
"... quando alguns de nossos
adversários, como vocês em cada país têm sua
oposição, nos dizem, um governo totalitário, governo
autoritário, governo ditador, que culpa eu tenho, se
este programa de governo proposto por um partido tem
mais de dois terços nas diferentes estruturas do
Estado Plurinacional?, só não consegui ganhar na
prefeitura da cidade de Santa Cruz.
"Respeitamos nosso prefeito, nos
ganharam, mas cumprimento o senhor prefeito pelas
ações que realizou na semana passada para combater o
ágio, a especulação [...] parabéns, meu respeito,
senhor prefeito..."
"E alguns nos dizem que temos
pensamento único, não há pensamento único algum,
apenas um programa elaborado pelos diferentes
setores sociais à frente dos movimentos sociais
originários e operários consegue esse apoio para
mudar a Bolívia.
"Mas que enfrentamos no caminho se
falamos de democracia, conspiração, golpe de Estado,
tentativas de golpes de Estado em 2008 [...]
quem era o organizador de este golpe de Estado, o
ex-embaixador dos Estados Unidos.
"Estava revendo sobre história [...]
sobre o golpe de Estado de 1964 quando o presidente
era o tenente-coronel Gualberto Villarroel, que
disse como presidente: ‘não sou inimigo dos ricos,
mas sou mais amigo dos pobres’, este militar
patriota foi o primeiro presidente que convocou um
congresso indígena".
"Outro presidente, Germán Bush, que
disse: ‘não cheguei à presidência para servir aos
capitalistas’, um militar.
"O primeiro presidente que
nacionalizou os recursos naturais, também foi um
militar, David Toro, refiro-me ao ano 1937 ou 38
[...] porém este militar foi assassinado no Palácio,
em 1946."
" ... nesse então a ofensiva
concentrou-se no Palácio Quemado que foi atacado
pela rua Illimani, pela esquina Bolívar, pela rua
Comércio, pela polícia e pela parte de atrás do
edifício de La Salle e do edifício Kersul onde fica
o consulado dos Estados Unidos."
" ... ao observar o fogo que
provinha do edifício Kersul, do consulado
norte-americano, contra este militar patriota que
garantiu o primeiro congresso indígena, do consulado
dos Estados Unidos, metralhando, disparando para
acabar com a vida de um militar, aí estão os
documentos que revisamos.
"... a história se repete, eu tive
que enfrentar que um embaixador organizara,
planificara acabar antidemocraticamente com meu
mandato, e eu sinto que isso se repete em todo o
mundo".
"Mas um companheiro, um compatriota
nosso, vítima de tantos golpes militares, me disse,
‘Evo, temos que cuidar-nos da embaixada dos Estados
Unidos, sempre houve golpes de Estado em toda a
América Latina’ e me disse, ‘só não há golpes de
Estado nos Estados Unidos porque não existe uma
embaixada dos Estados Unidos, realmente compreendi
que na história não escutei a respeito de golpes de
Estado.
"... os países que suportamos
tentativas de golpes de Estado, em 2002 na
Venezuela; em 2008 na Bolívia; em 2009 em Honduras,
em 2010 no Equador, temos que reconhecer
compatriotas latino-americanos ou da América, que os
Estados Unidos venceram em Honduras, conseguiram
consolidar o golpe de Estado, o império
norte-americano ganhou, mas também os povos da
América na Venezuela, na Bolívia, no Equador,
vencemos [...] o que será no futuro, veremos o
futuro."
"... esta avaliação interna deve ser
um debate profundo dos ministros da Defesa para
garantir democracias [...] meus antepassados,
meu povo têm sido permanentemente vítima de golpes
de Estado, golpes sangrentos, não porque assim o
queriam os militares, as Forças Armadas, mas sim por
decisões políticas internas e externas para acabar
com os governos revolucionários, com os governos que
surgem do povo, essa é a história da América
Latina."
"... temos direito a decidir quais a
formas para garantir a democracia em cada país, mas
sem golpes, nem tentativas de golpes".
"Gostaríamos que esta conferência de
ministras e ministros de Defesa possa garantir uma
democracia verdadeira dos povos, respeitando as
nossas diferenças em cada região, em cada setor".
"Mas também quando falamos de paz,
eu pergunto, como pode existir a paz com a presença
de bases militares, e também posso falar com certo
conhecimento porque eu fui vítima dessas bases
militares dos Estados Unidos, sob o pretexto da luta
contra o narcotráfico".
"Quando eu era soldado, soldado sem
patente, das Forças Armadas em 1978, os oficiais,
suboficiais me ensinaram a defender a Pátria, as
Forças Armadas têm que defender a Pátria, as Forças
Armadas não podem permitir que outro militar
estrangeiro uniformizado e armado permaneça na
Bolívia".
" ... como dirigente tenho sido
testemunha de que não somente a DEA uniformizada e
armada conduzia as Forças Armadas, nem conduzia a
Polícia Nacional, mas também com sua metralhadora,
sob pretexto de lutar contra o tráfico de
narcóticos, combatia os movimentos sociais,
perseguia com seus teco-tecos as marchas de Santa
Cruz, de Cochabamba, de Oruro, e não nos podiam
encontrar nem com seus teco-tecos, e diziam que eram
marchas fantasmas, nada disso, eram milhares os
companheiros procurando a reivindicação, a dignidade
e a soberania de nossos povos."
"... convencido de que se os povos
lutamos por nossa dignidade, por nossa soberania,
isso não pode ser feito nem com bases militares nem
com intervenções militares; todos nós, por pequenos
que sejamos, países chamados subdesenvolvidos, em
vias de desenvolvimento, temos dignidade, temos
soberania; além disso quando era membro do
Parlamento, tentaram que aprovasse a imunidade para
os funcionários da embaixada dos Estados Unidos.
"O que é a imunidade?, que os
funcionários da embaixada dos Estados Unidos,
incluída a DEA norte-americana, se cometem algum
delito não sejam julgados com as leis bolivianas,
isso era uma carta aberta para matar, para ferir,
mesmo como fizeram em minha região."
"... a paz é a filha legítima da
igualdade, da dignidade que é a justiça social, sem
dignidade, sem igualdade, sem justiça social será
impossível garantir a paz, porque há povos que se
rebelam porque existe a injustiça."
"... escutando falar nosso
secretário geral das Nações Unidas sobre as
doutrinas, as doutrinas que conhecemos na Bolívia,
doutrinas anticomunistas com golpes de Estado para
intervir militarmente os centros mineiros, porque os
movimentos sociais, os centros mineiros eram grandes
revolucionários para transformar a Bolívia".
"Na década de 50 e 60, acusavam-nos
de comunistas, de vermelhos, aos dirigentes
sindicais do setor mineiro, para nos encerrar nos
cárceres, para nos condenar ao exílio, para nos
processar até sermos massacrados, essa época passou,
agora não nos podem acusar de vermelhos nem de
comunistas, todos temos direito a pensar diferente.
Se para um país, se para uma região
a solução é o comunismo, muito bem; se para outro é
o socialismo, muito bem; se para outro é o
capitalismo, muito bem; isso é decisão democrática
de qualquer país.
"Mas quando ganhamos essa luta, que
já não podem justificar com uma doutrina
anticomunista para fazer calar os povos, para mudar
de presidentes, para mudar governos, então aparece a
outra doutrina, a guerra contra a droga".
"Logicamente é nossa obrigação
combater as drogas [...] a Bolívia não é a cultura
das drogas, a Bolívia não é a cultura da cocaína,
mas de onde vem a cocaína?, do mercado dos países
desenvolvidos, isso não é responsabilidade do
governo nacional, mas é obrigado combatê-la" .
"... por trás da luta contra o
tráfico de drogas não podem existir interesses
geopolíticos, que sob pretexto de lutar contra o
narcotráfico demonizam os movimentos sociais,
criminalizam os movimentos sociais, confundem a
folha de coca com a cocaína, confundem o produtor da
folha de coca com o narcotraficante, ou o consumo
legal da folha de coca com o narco dependente".
"Por que não combateram a coca
antes, no século passado, se a coca provocava dano,
os europeus foram os primeiros proprietários de
terras que exploraram a folha de coca, com certeza
não se desviava a cocaína.
"Os governos dos Estados Unidos
entregava uma certidão de reconhecimento aos
melhores produtores de folha de coca, para que?,
para que esse produtor de folha de coca pudesse
manter, atender a folha de coca, e aos mineiros que
exploravam o estanho também fazia um reconhecimento,
e dessa forma puder levar o estanho para os Estados
Unidos".
"... o mundo sabe, vocês sabem, a
chamada guerra contra a droga fracassou, essas
políticas têm que mudar, logicamente, qual seria a
nova política? como por exemplo, acabar com o
segredo bancário, esse grande narcotraficante, o
peixe grande do narcotráfico, anda com sua mochila
carregada de dinheiro, também sua mala, viajando de
avião, não circula nos bancos; por que não acabar
com o segredo bancário para dessa forma acabar
também com o narcotráfico, para controlar esse
traficante de narcóticos".
"Por que não cada país defende a
entrada de qualquer droga a seu território?, com
essa tecnologia, fazendo uso de radares, eu sinto
que existe capacidade para controlar, e não podemos
controlar, e só sob pretexto da luta contra o
narcotráfico impor políticas de controle e
sobretudo, encaminhados a como recuperar os recursos
naturais para as transnacionais."
"... o ex-embaixador dos Estados
Unidos, Manuel Rocha disse: Não votem em Evo
Morales, Evo Morales é o Bin Laden andino e os
cocaleiros os talibanes".
"Quer dizer, caros ministros,
ministras da Defesa, segundo este tipo de doutrinas,
vocês estão neste momento reunidos como o Bin Laden
andino e meus companheiros, os movimentos sociais,
são os talibanes, semehantes acusações, às vezes
tergiversações."
"... agora quando tampouco podem
sustentar essas teses e doutrinas anticomunistas,
anti-terroristas, existe outra nova doutrina que há
dias ouvimos, e quero aproveitar esta oportunidade
para informar a povo através dos meios de
comunicação".
"No dia 17 deste mês, uma reunião da
qual participaram alguns latino-americanos e alguns
congressistas norte-americanos, realizada nos
Estados Unidos, tinha como lema: perigo dos Andes,
ameaças à democracia, aos direitos humanos e à
segurança interamericana".
"... a congressista Ileana
Ros-Lehtinen disse: nos últimos anos temos observado
com preocupação os esforços de vários presidentes na
região, como Hugo Chávez, na Venezuela, Evo Morales,
na Bolívia, Daniel Ortega, na Nicarágua, Rafael
Correa, no Equador, para consolidar seu poder custe
o que custar. Os membros da aliança ALBA com Chávez
como líder, um após o outro, manipulam o sistema
democrático de seus países para servir a seus
próprios objetivos autocráticos.
"É a oportunidade para dizer a essa
congressista que não ganhamos como nos Estados
Unidos com uma diferença de 1%, 2%; aqui ganhamos
com mais de 50, ou mais de 60%, e em algumas regiões
com mais de 80%, essa é a verdadeira democracia".
"O que diz a agenda sobre Daniel
Ortega, mas a agenda cocaleira impulsada por Evo
Morales, é uma nascente aliança com o Irã e a
Rússia, a respeito do caso de Rafael Correia, as
duvidosas reformas constitucionais com postulados
anti-americanos.
"... a Bolívia sob minha direção
terá acordos, alianças com todo o mundo, ninguém
pode me proibir, temos direito, somos a cultura do
diálogo."
"... sem sócios democráticos
estáveis não pode haver segurança regional, também
procuram segurança regional para os Estados Unidos,
tal como agora mais do que nunca é o momento em que
os Estados Unidos apóiem seus inimigos ou debilitem
seus inimigos, agora é o momento em que a
Organização dos Estados Americanos absolva seu
legado de dupla moral e que finalmente faça com que
todos os estados membros cumpram os princípios e
obrigações fundamentais da carta democrática
interamericana, bom, haverá que revisar a carta
interamericana".
"O segundo congressista (fala de
Connie Mack, e explica suas idéias com as palavras
seguintes), tenho sua intervenção, mas para ganhar
tempo vou tentar resumir, quero falar sobre algumas
observações dos últimos seis anos como membro deste
Congresso, eu vi francamente as duas administrações:
o governo republicano e o governo democrata.
"Nessa linha acho que está a idéia
de ambas as administrações a respeito de Hugo
Chávez, que não intervenhamos, que nos sentemos e o
deixemos explodir em si próprio, e o outro
pensamento é que talvez Hugo Chávez esteja doido, e
ele disse, eu não acredito em nenhuma dessas noções,
não acho que Hugo Chávez esteja doido, e não acho
que deixá-lo explodir em si próprio funcionará. Hugo
Chávez é uma ameaça para a liberdade e para a
democracia na América Latina e ao redor do mundo."
"isto é o que mais me preocupa,
confio em que quando viremos maioria no próximo
Congresso, como presidente do subcomitê, façamos
justamente isso, nos encarregaremos de Chávez,
derrotá-lo politicamente ou fisicamente."
A seguir Evo expressa:
"Eu diria que este congressista
Connie Mack já é um assassino confesso ou um
conspirador confesso do irmão presidente da
Venezuela, Hugo Chávez" .
"Se acontecer alguma coisa com a
vida de Hugo Chávez, o único responsável será este
congressista norte-americano, ele o diz publicamente
e aparece escrito nos meios de comunicação e em sua
intervenção."
"Companheiro, irmão,
secretário-geral da OEA, você tem que expulsar a
Venezuela, o Equador e a Bolívia e também a
Nicarágua, e aplicar sanções, o que significa isso?,
seguramente um bloqueio econômico como a Cuba."
"Acho que a isso se referem as
sanções, então como podemos alguns países da América
garantir a segurança, a paz, quando estas são as
expressões de alguns congressistas, de alguns
latino-americanos".
"Estava revisando qual o motivo, por
que Cuba foi expulsa em 1962, por ser leninista,
marxista, e comunista. Agora a nova doutrina é uma
doutrina anti-ALBA, como esses países organizamos,
cumprimentamos Fidel, cumprimentamos Chávez, e
outros presidentes, por construírem um instrumento
como a ALBA, um instrumento de integração, de
solidariedade, solidariedade sem condicionamentos,
como compartilhar em vez de competir, como praticar
políticas de complementaridade e não de
competitividade.
"... dentro dessa competitividade
somente grupos pequenos beneficiar-se-ão e não as
maiorias que esperam de seus presidentes".
"Dentro de estas políticas de
competitividade e não de complementaridade nem o
capitalismo já é uma solução para o capitalismo,
essa é a crise financeira.
"... a nova doutrina como antes
vinham as doutrinas da escola de Panamá, o comando
sul treinava nossos militares, fecharam isso graças
às lutas dos povos e agora já não existe a escola
das Américas, o que é que há?, operações conjuntas
mediante forças especiais."
"...admiro alguns oficiais das
Forças Armadas da Bolívia que informaram em detalhe
sobre esses treinamentos que realizam todos os anos
de maneira rotativa nos diferentes países da
América, para que?, para ensinar-lhes como acabar
com esses países revolucionários, países que fazem
profundas transformações democráticas, treinamentos
inclusive para ensaiar ou ensinar os
franco-atiradores como matar os líderes.
"... com muita indignação vi algumas
imagens dessas operações conjuntas mediante forças
especiais que vão passando de um povo para o outro.
É lógico que a Bolívia já não participa e jamais
participará enquanto eu continue na presidência
neste tipo de operações conjuntas para continuar
atentando contra a democracia".
"... para o movimento indígena [...]
este planeta ou a Pachamama pode existir sem o ser
humano, mas o ser humano não pode viver sem o
planeta, sem a Pachamama."
"... o capitalismo não é a
propriedade privada, porque às vezes tentam
confundir e nos dizem que o presidente Evo questiona
o capitalismo, que vai tirar nossas casas, nossos
carros; não, a propriedade privada está garantida."
"... a nova Constituição garante uma
economia plural, e essa economia plural garante a
propriedade privada, é garantida a propriedade
comunal, estatal, de todos os setores sociais, mas
quando falamos de capitalismo estamos falando deste
desenvolvimento irracional, irresponsável,
ilimitado."
"Nossos companheiros já não
encontram água na Amazônia, quando começamos a
perfurar em alguma região encontramos a água cada
vez mais profunda e em poucas quantidades, e quando
não garantimos água por causa da seca, justamente
produto do aquecimento global, essa família fica
abandonada a sua sorte, são milhares, milhões no
mundo, são imigrantes climáticos".
"Isso não vamos resolver com a
participação das Forças Armadas, não o poderemos
resolver com a participação dos ministros da
Defesa, nem com a cooperação, esse é um tema estrutural de caráter mundial."
Defesa, nem com a cooperação, esse é um tema estrutural de caráter mundial."
"... gostaríamos de resolver aqui a
médio e longo prazo; a melhor solução para acabar
com os desastres, ou acabar com os desastres
naturais é acabando com o capitalismo, modificando
essas políticas de exagerada industrialização".
"Logicamente, todos os países
queremos industrializarmos, industrializarmos para a
vida, para o ser humano e não uma industrialização
para acabar com a vida, com os seres humanos,
existem doutrinas que proclamam e promovem a guerra,
existem povos ou Estados que vivem da guerra, isso
tem que acabar, e para acabar com isso temos que
eliminar as grandes indústrias de armamentos que
acabam com a vida."
"... eu sei que muitos ministros
trazem a mensagem de seus presidentes, de seus
governos, de seus povos, mas sejamos responsáveis
pela vida, e ser responsável pela vida significa ser
responsável pelo planeta ou pela Pachamama, pela Mãe
Terra, e ser responsável pela Mãe Terra, pelo
planeta ou pela Pachamama é respeitar os direitos da
Mãe Terra."
"... tomara que a América possa
encabeçar através de vocês ministras e ministros da
Defesa a garantia do direito da Mãe Terra para
garantir os direitos humanos, a vida, a humanidade,
não somente para a América, mas também para todo o
mundo, sinto que temos uma enorme responsabilidade
nesta conjuntura".
"Quero saudar a participação de
nossas Forças Armadas, e também ser sincero com
vocês, eu tinha muito medo, temor, nos anos 2005 e
2006 quando assumi a presidência, de se as Forças
Armadas me acompanhariam ou não neste processo."
"... as Forças Armadas participando
de trabalhos sociais, das mudanças estruturais,
recuperando as minas, apoiando as políticas de
recuperação dos recursos naturais, essas Forças
Armadas agora são queridas pelo povo boliviano."
"... o povo sente que tem umas
Forças Armadas para o povo, agora felizmente temos
duas estruturas importantes no Estado Plurinacional,
os movimentos sociais que defendem seus recursos
naturais e as Forças Armadas que também defendem
seus recursos naturais, e se voltamos ao ano 1810,
claro as Forças Armadas nasceram defendendo seus
recursos naturais, a identidade, a soberania de
nossos povos, só em alguns tempos fizeram mal uso de
nossas Forças Armadas, não por culpa dos
comandantes, mas sim por interesses oligárquicos ou
alheios aos povos, que evidentemente nos fizeram
muito dano."
"... com as imposições de políticas
do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial,
privatizações, desnacionalização das empresas
públicas."
"... dos lucros só [...]
ficava 18% para os bolivianos e 82% para as empresas
multinacionais.
"Em1o de maio de 2006 mediante
decreto supremo, primeiro decidimos o controle do
Estado de nossos recursos naturais, segundo, se
convencidos de que aquele que investe tem direito a
recuperar seu investimento e tem direito a ter
lucros, dizemos que agora com 18% eles podem obter
lucros e recuperar seu investimento, assim os
técnicos mo demonstraram, e a partir de 1º de maio
de 2006, 82% passou para os bolivianos e 18% para as
empresas que investem, essa é a nacionalização,
respeitando seu investimento."
Evo conclui seu discurso aportando
dados incontestáveis sobre os resultados econômicos
atingidos pela revolução.
"Antes o produto interno bruto era
de US$9 bilhões, em 2005; agora em 2010, é de US$18,5
bilhões".
"... com o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional a receita média por pessoa
era de mil dólatres ao ano [...] em nosso
governo 1. 9000 dólares."
"... em 2005, a Bolívia era o
penúltimo país em reservas internacionais, agora
conseguimos melhorar, em reservas
internacionais tinha US$1,7 bilhão, neste ano temos
US$ 9,3 bilhões..."
"... quando os governos dependiam
dos Estados Unidos nem sequer podíamos erradicar o
analfabetismo, graças à cooperação incondicional de
Cuba especialmente, bem como da Venezuela, há dois
anos atrás declaramos a Bolívia território livre de
analfabetismo, depois de quase 200 anos".
"Em troca dessa cooperação Cuba não
pede nada, isso é solidariedade, isso é compartilhar
o pouco que temos e não compartilhar o que nos
sobra, isso aprendi com o companheiro Fidel a quem
admiro muitíssimo."
Por pura modéstia Evo não falou dos
avanços obtidos pelo povo boliviano no setor da
saúde. Somente na oftalmologia, por volta de 500 mil
bolivianos foram operados da visão, os serviços da
saúde chegam a todos os bolivianos e por volta de 5
000 especialistas em Medicina Geral Integral se
estão formando e em breve receberão seu título. Esse
irmão país latino-americano tem razões demais para
se sentir orgulhoso.
Evo conclui:
"... sem o Fundo Monetário
Internacional, isto é, que não imponham políticas
econômicas de privatizações, de leilões, podemos
melhorar ainda no democrático, se não dependemos dos
Estados Unidos podemos melhorar nossa democracia na
América Latina, este é o resultado de cinco anos de
meu desempenho como presidente."
"Logicamente, com isso não digo que
a Bolívia não precisa de cooperação, Bolívia ainda
precisa de créditos internacionais, de cooperação
internacional, agradeço aos países da Europa que
cooperam, aos da América Latina, que oferecem
facilidade de créditos porque estamos em um processo
de profundas transformações..."
"... que os povos tenham direito a
decidir por si próprios sobre sua democracia, sobre
sua segurança, mas enquanto tenhamos atitudes de
intervencionistas com qualquer pretexto [...]
certamente vai demorar a libertação dos povos, porém
mais cedo ou mais tarde, como estamos vendo, os
povos vão continuar rebelando-se".
"É por isso que estou convencido da
rebelião à revolução, da revolução à descolonização..."
Após o discurso de Evo, apenas 48
horas depois, caiu como um relâmpago o discurso de
Chávez. As luzes da rebelião iluminavam os céus da
Nossa América.
Fidel Castro Ruz
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