terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Chimamanda Adichie: O perigo da história única

Um momento de reflexão profunda sobre nossa visão a respeito dos outros e de suas histórias. Uma aula, em 15 minutos, de inclusão, respeito, comiseração e ternura pelo ser humano. Para ver com legendas em portugues, de Portugal clique aqui

Mais uma vez o PiG do Brasil mostra a cara...suja...

Oligarquias contra Chávez


Mário Augusto Jakobskind, no Direto da Redação
 
 
A mídia conservadora brasileira e latino-americana está fazendo o possível e o impossível para que a previsão da revista Newsweek se confirme. A publicação estadunidense, deixando de lado a função jornalística, somou-se ao desejo de grande parte da oligarquia das Américas de que o governo Hugo Chávez seja derrubado e previu a eclosão de um golpe militar no país sul-americano.
 
A TV Globo não fez por menos e convocou um “consultor político”, um tal de Alexandre Barros, para criticar o “silêncio do governo brasileiro” em relação aos acontecimentos na Venezuela e ao final deixou claro que “o regime deveria ser derrubado”. E os editores ainda têm coragem de afirmar que fazem jornalismo imparcial.
 
A gritaria da mídia conservadora, acompanhada de uma nota do Departamento de Estado norte-americano de “preocupação com os acontecimentos na Venezuela”, deveu-se à suspensão temporária de seis emissoras de TV a cabo, uma delas a RCTV.
 
A manipulação da informação começou com a edição do noticiário que dizia que Chávez fechou os canais de televisão que se recusaram a transmitir os pronunciamentos do presidente venezuelano. Trata-se de uma meia verdade, as emissoras foram suspensas temporariamente até que demonstrassem que estavam seguindo a legislação midiática aprovada pelo Congresso. Nada ilegal, portanto, como o noticiário induz. Em poucos dias, cinco dos canais a cabo, a TV Chile, a American Network, a Ritmoson, a Sport Plus e a Momentum entregaram a documentação exigida pela Comissão Nacional de Telecomunicações comprovando que são canais internacionais, o que permite restabelecer as transmissões. Se a RCTV a cabo não fizer o mesmo continuará suspensa.
 
A oposição, que em setembro vai disputar os votos para a eleição parlamentar, colocou nas ruas para protestar estudantes de algumas escolas particulares. Fazem barulho, porque as suas manifestações contam com todo o apoio de um setor da mídia conservadora que considera Chávez o diabo.
 
Os jornais e as agências de notícias não informaram que no dia 21 de janeiro último o presidente da Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela, a FEDECÁMARAS, Noel Álvarez declarou em uma entrevista na RCTV que a “solução militar” é a única para a saída de Chávez. E isso com o acompanhamento entusiasmado do jornalista Miguel Ángel Rodriguez que o entrevistava.
 
No atual momento, a revolução bolivariana aprofunda o projeto socialista, ou seja, caminha para a mudança do modo de produção, o que não é admitido em hipótese alguma pelo conservadorismo dos mais diversos rincões das Américas. Os jornais brasileiros escrevem diariamente editoriais sugerindo a derrubada de Chávez e um posicionamento do governo Lula no esquema golpista capitaneado pelo Departamento de Estado norte-americano.
 
Mas, ao mesmo tempo em que ocorriam esses fatos, no Haiti a Sociedade Interamericana de Imprensa, a SIP, ignorava a denúncia da Federação de Jornalistas Latino-Americanos (FELAP) sobre o “atropelo contra o trabalho jornalístico no Haiti por parte das forças de ocupação estadunidenses”. A nota de protesto, não divulgada no Brasil, é assinada pelo presidente da entidade, jornalista Juan Carlos Camaño. Ele coloca questões importantes em pauta. Uma delas, o estabelecimento de limitações no trabalho jornalístico que levam a ocultar o real procedimento dos efetivos enviados pelo Pentágono e Casa Branca, que chegam a uns 15 mil soldados. Como se os haitianos precisassem mais de militares norte-americanos do que de médicos.
 
No mais, as forças conservadoras latino-americanas ganharam um aliado de peso: o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, a maior fortuna do país, que trará com ele figuras de proa do regime ditatorial que imperou no Chile de setembro de 1973 a 1989. Piñera se elegeu porque a Concertación se esgotou. No plano econômico tudo continuará como manteve a aliança de centro esquerda durante 20 anos, com o acréscimo da privatização, desejo já anunciado por Piñera, de parte da estatal de cobre, mas no plano externo, o dono da Lan Chile e controlador do Colo-Colo, o clube de futebol mais popular do país, vai se somar ao bloco de direita latino-americana pró-EUA encabeçado por Álvaro Uribe.
 
Piñera já deu uma pequena mostra do que vem por aí em matéria de política externa chilena ao criticar gratuitamente Hugo Chávez em sua primeira entrevista depois de eleito. Ele veio reforçar a campanha do conservadorismo latino-americano contra a opção socialista que leva adiante o governo da República Bolivariana de Venezuela. É por aí que toca a banda das oligarquias furiosas com as mudanças que estão a ocorrer no continente latino-americano.

Bolivia rumo ao socialismo...

Alvaro Garcia Linera: "A Bolívia será socialista e libertária"

 Emir Sader na Carta Maior

(Entrevista para o jornal italiano Rifondazione Comunista, feita por Angela Nocioni)

- Você disse, na cerimônia de posse que o horizonte estatal será o socialismo. O quer isso quer dizer?

Linera: Que toda a sociedade política tende a se diluir na sociedade civil. Isto está começando a acontecer na Bolívia. Há uma ampliação da base da tomada de decisões que tem a ver com o país que se estão socializando. É um processo gradual e complexo, mas que está em andamento. É a idéia gramsciana do Estado integral: nós a estamos realizando. O horizonte socialista não é um tema que se decide por decreto. Na Bolívia, a questão da modernidade estatal está sendo assumida pelas classes populares e indígenas. Não era um caminho ineludível, mas avança nessa direção. Por causa da natureza social deste bloco dirigente, que pede redistribuição e igualdade, as decisões estão se socializando. O que é o socialismo, senão isto? É um processo de radicalização da democracia. Não estou falando de um método de produção pos-capitalista, estou falando de uma estrutura política que se funde permanentemente com a sociedade civil.

- Como pensa evitar que tudo isso desemboque em um capitalismo de Estado, em que reina a burocracia?

Linera: Através do exercício da hegemonia. Ao socialismo chegaremos por uma vida democrática. A própria realidade está mostrando que as classes populares e indígenas não querem suprimir o setor empresarial. Aqui se fazem acordos práticos em torno das necessidades das classes populares, promovendo por essa via a hegemonia. O exercício da hegemonia é a chave para não cair nem no capitalismo de Estado burocratizado, Nem o totalitarismo, porque se baseia na capacidade guiar material e moralmente setores sociais não populares.

Quem tentou de outra forma a expropriação da empresa, deu lugar a degenerações burocráticas. Aqui estamos incorporando os setores empresariais, golpeando evidentemente os interesses dos latifundiários e dos grandes investidores externos, mas com os outros setores estamos conseguindo. O socialismo não é um novo modo de produção, mas um regime estatal e uma modalidade de redistribuição da riqueza. Não queremos estatizar. A economia boliviana é feita de uma estrutura comunitária produtiva e de investimentos produtivos privados, muitos até estrangeiros.

- Como pensa incorporar ao seu projeto a extrema direita, que é maioria em Santa Cruz? Ela também faz parte da Bolívia, lhe odeia e não está lhe oferecendo um ramo de rosas.

Linera: O Estado já controla o núcleo econômico dessa região, mesmo que essas elites não querem admiti-lo ainda. Santa Cruz tinha três grandes fontes de poder econômico: a renda da terra vinculada a brasileiros, a peruanos, a coreanos, para produzir, o conjunto dos serviços da atividade petrolífera e o comércio. O Estado retomou o controle da terra e a redistribuiu. Foi alterada a estrutura da propriedade da terra em Santa Cruz. O Estado interveio junto aos pequenos produtores camponeses e tem, por exemplo, uma presença agora na cadeia produtiva da soja que vai para a exportação e o transporte. Quando chegamos controlávamos 0% da cadeia produtiva, agora 35%.

- Você está dizendo que a hegemonia passa por aí?

Linera: É um primeiro passo. A hegemonia não é uma questão só de palavras. É preciso a base material para realizá-la. O Estado entrou na produção dos hidrocarburetos. Está modificando a estrutura do poder econômico, em aliança com os pequenos produtores. No âmbito político- ideológico é a ascensão extraordinária del MAS, que passou de 25% a 41%. Em quatro anos o MAS dobrou o número de eleitores. Claro, ainda falta muito. Mas o controle dos latifundiários sobre a terra, terminou. Está em processo de construção gradual um novo bloco no poder. Alguns segmentos dos setores anteriormente dominantes começam a aderir a este núcleo. A hegemonia não é irreversível. Mas estes dados mostram uma expansão, um avanço de um novo bloco no poder, mesmo no Oriente do país. Por isso Santa Cruz não contradiz o que estou lhe dizendo, mas um exemplo de como se está construindo a hegemonia.

- Você considera realmente que seja possível construir a igualdade sem afetar a liberdade individual? Como crê que vocês podem ter sucesso onde todos fracassaram?

Linera: É difícil. Mas a forte base comunitária camponesa deste processo ajuda, funciona com autoregulação interna. Nós aprendemos a arte de tecer da cultura indígena. A hegemonia não é uma garantia, mas um elemento importante para limitar tentações e riscos. Até agora fizemos sem impor expropriações, absorvendo tudo pelo caminho. É um império em decadência que tem problemas gravíssimos em outros lugares e um ambiente continental em transição, com políticas de superação do modelo neoliberal.

- Você vê concretamente políticas posneoliberais na América Latina?

Linera: Sim.

- Onde? Quais?

Linera: Não há um único modelo posneoliberal. Mas há um processo de desmantelamento do neoliberalismo em desenvolvimento, de modo disperso, com modalidades diversas no continente. Este modelo econômico na América Latina se impôs com três modalidades: conversão dos bens público em bens privados, anulação dos direitos sociais e conversão do aparato produtivo baseado nas exigências do mercado externo.

- E não continua da mesma maneira?

Linera: Em parte sim e em parte não. Quando no Brasil, na Venezuela, no Equador se realiza um incremento das políticas sociais com recursos públicos, não se liquida o neoliberalismo, mas se desfere um golpe na sua característica principal que é a redução ao mínimo da proteção do bem estar coletivo. Antes a regra era a anulação dos direitos dos trabalhadores e dos benefícios coletivos da cidadania, se deixava apenas algumas proteções na educação e alguma coisa na previdência dos setores privilegiados das indústrias mais importantes. Agora não se predica mais esse modelo.

- Tomemos a Venezuela. Lá está em desenvolvimento um processo de redistribuição da riqueza. Alguns se preocupam de produzir mais riqueza e depois distribuí-la melhor? As classes populares, na sua opinião, são de fato titules de um novo poder? Tem um presidente que se dirige a eles, quando fala, mas se vê uma verdadeira distribuição do poder? Há uma distribuição da riqueza, mas isto também a direita saber fazer, não?

Linera: A minha resposta será necessariamente geral. Há processos mais e menos avançados. A Bolívia me parece uma vanguarda, mas é um fato importante que em nenhuma parte do continente, salvo em algumas universidades ligadas a grandes empresas, ninguém reivindica mais o modelo neoliberal como horizonte. Claro que esse modelo continuará a existir por muito tempo, mas o apetite social de gera outro é evidente. Serão necessárias décadas. Este modelo começou nos anos 70 com Pinochet e triunfou nos anos 90. É preciso dar tempo aos processos históricos. É preciso ser generoso com a história.

- Você não tem medo dos efeitos sobre a Bolívia, de um eventual retorno de governos de direita nos países vizinhos?

Linera: Marx falava de ondas revolucionárias. E tinha razão. Os processos profundos, não apenas os políticos, mesmos os privados, não são nunca ascendentes. Avançam por ondas. Não vejo com dramaticidade a possibilidade que em dois ou três países se dê um passo atrás. A história se move em ciclos longos, não curtos. É preciso não ter uma visão contemplativa em relação aos processos históricos. Buscaremos um tipo de convivência fraternal entre Estados. Acho que no Chile a vitória da direita era previsível, mas eu sou muito otimista sobre a continuação do Partido dos Trabalhadores no governo do Brasil, na Argentina é muito mais complicado, no Peru no entanto é possível um avanço dos setores progressistas. O problema é na Argentina, ali o futuro é imprevisível.

- Mudaram as relações entre os EUA e a Bolívia com o governo Obama?

Linera: Na atitude e na linguagem, são melhores. Nos fatos concretos, não. Eles continuam a pensar que os valores deles são os únicos e são universais.

Você acha realmente que a direita do Oriente se deixará absorver? Não tem medo de um atentado?

Linera: É um risco grande. Não têm mais a força política para tentar uma secessão. O magnicidio é considerado por alguns setores como a única solução.

Tradução: Emir Sader

O OUTRO Luiz....

A história de um outro Luiz, também filho do Brasil


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Olhos que vivenciaram a tortura psicológica e física. Olhos que sofreram com o abuso sexual, preconceito e a miséria. Olhos que sentiram fome. Olhos que ainda têm fome. Fome de uma sociedade mais justa e solidária. Este olhar sonhador pertence ao jovem Luiz Roberto Lima, 35 anos, estudante de jornalismo e coordenador do Diretório Acadêmico de Comunicação da PUC-Campinas. Luiz foi um dos quatro selecionados para o concurso mundial de fotografia “Humanizando o Desenvolvimento”, promovido pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que selecionou 50 imagens de 27 países.
Participaram do concurso fotógrafos profissionais e membros da sociedade civil. O conteúdo enviado foi avaliado por representantes do IPC-IG, do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV) e um fotógrafo profissional. Os olhos que já presenciaram o pior das mazelas sociais, hoje, registram por meio da lente fotográfica a realidade, rumo à construção de um mundo melhor. Militante de direitos humanos, Luiz explicou que o objetivo da foto, feita em 2009 em uma oficina de meio ambiente no distrito de Sousas, em Campinas, foi mostrar exemplos de superação social.
Já no 3º ano de jornalismo na PUC, Luiz é bolsista do Prouni e carrega uma história de luta e sobrevivência. Abandonado pela mãe na maternidade, ele cresceu em um orfanato, onde sofreu todos os tipos de violência possíveis. “Tinha muitos afazeres domésticos, como cuidar dos menores. Passava a noite inteira acordado, pois se os bebês chorassem, eu apanhava muito. Qualquer travessura era motivo para ficarmos sem comida. Muitas vezes, cheguei a comer pasta de dente, mesmo com uma dispensa enorme cheia de comida que, inclusive, chegava a estragar, mas eles não nos deixavam comer”, contou.
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Foto do jovem Luiz Roberto Lima premiada pela Onu.

Entre espancamentos, assédio moral e fome, Luiz não foi imune ao preconceito, já que é negro. “O fato de ser negro pesava muito. Eu pedia a Deus para ser branco e assim ser adotado para libertar-me daquela situação. Apanhava feito um condenado, por motivos banais. Nós não podíamos contar para visitas, pois as surras eram piores”, relatou Luiz lembrando que seu apelido era “Negrinho do Pastoreio” e, por este motivo, simplesmente pelo fato de ser negro, recebia surras homéricas, assim como outros companheiros negros.
Além de negar comida e espancá-lo, as pessoas responsáveis pela instituição que o acolheu também surravam os bebês, segundo Luiz. “Quando as crianças de berço choravam muito, as tias pressionavam a cabecinha delas contra o berço. Na hora do banho, batiam muito. As crianças viviam marcadas. Lembro-me de um menino negro, chamado Jorginho, ele tinha um ano e meio aproximadamente. Ele chorava muito e quanto mais chorava, mais apanhava. O menino, coitado, só queria ficar no meu colo. Ele me via e chorava. Às vezes, a tia me fazia passar a noite inteira com ele no colo e não podia dormir”, declarou.
Mesmo com inúmeras doações à instituição, as crianças e os jovens não recebiam nada. De acordo com Luiz, sua principal memória do Natal era quando uma fábrica de brinquedos fazia uma imensa doação e as crianças nunca chegavam a ver os tais presentes. “Num determinado Natal aprontamos alguma coisa. Era comum no final de ano, algumas famílias nos levarem para suas casas, mas neste ano, devido a alguma travessura, passamos todos nós lá, com fome, vendo a caseira comemorando com a família e todos muito bem arrumados”, denunciou.
E o Luiz cresceu
Aos 11 anos, Luiz foi transferido para uma instituição para adolescentes. O menino sonhava que poderia viver melhor, pelo menos com mais tranquilidade e sem surras, mas não foi bem esse quadro que ele encontrou. “Diálogo era o da porrada. Era como se fosse um quartel, com as regras mais arcaicas que podiam existir, baseada na submissão e violência. Tinha um cara que cuidava da gente, chamado Benê, negro também. Ele era o mais violento batia com murros e pontapés. Era um ambiente de medo, revolta. Parecia um caldeirão com todos os ingredientes presentes, prontos pra explodir”, ele contou.
Mesmo com o corpo dolorido de violência e a alma castigada pela injustiça, Luiz alimenta um sonho: o de conhecer sua mãe. “Desde criança olho para as mulheres negras que encontro imaginando como seria minha mãe e, assim, meu olhar foi envelhecendo com as dificuldades para encontrar minha verdadeira família, mas a esperança ainda persiste em mim”.
Aos 16 anos, ainda sem perspectiva de adoção, Luiz pediu emancipação e foi morar em uma pensão. No entanto, pouco tempo depois, ele perdeu o emprego e foi morar na rua. “Aí que realmente eu vi o que era sofrer. Descobri que a violência, o abuso sexual sofrido na primeira instituição não chegavam perto do que era a rua – nua e crua”, revelou.
De acordo com levantamento feito pelo Ministério de Desenvolvimento Social, há uma predominância masculina (82%) entre as pessoas em situação de rua. A maior parte, 53%, situa-se na faixa etária de 25 a 44 anos. Nesta população, 30% se declararam negros, índice bem acima da média nacional, que é de 6,2%. Já o percentual dos que se consideram brancos é de 29,5% (esse índice é de 54% entre o conjunto dos brasileiros) . “Conheci alguns “menores de rua” e comecei a acompanhá-los. Tentei furtar pra comer, mas não dava certo, eu não conseguia, diferenciava- me, dos demais. Alguns dos meninos e homens de ruas mais velhos, diziam que a rua não era pra mim. Na verdade, a rua não é pra ninguém”, alertou Luiz.
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“O preconceito marcou a história de Luiz, também filho do Brasil”.

Depois de passar três anos em situação de rua, Luiz começou a viver com a solidariedade das pessoas que lhe ofereciam abrigo, comida e ajuda. Começava a construir uma nova vida e, desta vez com o apoio de amigos e companheiros.
Outro fato que revelou o preconceito aconteceu em um shopping center de São Paulo. “Comecei a trabalhar e já podia comprar minhas roupas de marca, que é o sonho de jovens da periferia. Fui com um amigo comprar o tão sonhado tênis. Mas como paguei à vista o vendedor, achou que eu era bandido e avisou o setor de segurança. Fui algemado pelo segurança em uma cadeira e comecei a levar tapa na cara, com um revólver apontado pra minha cara. O interessante é que meu amigo, branco, não apanhou. Eu gritava e o segurança pegou dois fios ligado na tomada e passou a dar choque, querendo saber do resto do dinheiro, querendo saber de que quadrilha eu era”, disse Luiz lembrando que todos os seus documentos estavam certos e não havia qualquer indício para que o acusassem. “As ameaças eram cruéis, a ponto de ele dizer que ia me penetrar com cabo de vassoura. Para minha sorte, chegou um chefe de segurança do turno da noite, e perguntou o que estava acontecendo, o segurança relatou e eu relatei”. Foi nesse momento que o rapaz foi liberado.
Após este episódio traumático, Luiz resolveu entrar em um supletivo e em um cursinho, momento em que passou no Curso de Ciências da Educação da UERJ, logo depois transferiu para Ciências Sociais. “O cursinho foi fundamental na minha trajetória, pois ele era alternativo, então me deu uma base socialista, de esquerda. Lá aprendi música, teatro, poesia, arte e esperança. Esperança para uma nova vida”. Sem dinheiro, ele resolveu arriscar e iniciou sua faculdade. Inicialmente, conquistou uma bolsa-auxílio, mas o governo da época (Garotinho) cortou o benefício e Luiz teve de abandonar no 3º ano e retornar à Campinas. “Procurei um emprego na cidade e fui trabalhar num call center. Fiquei um ano sem estudar e depois entrei na Puc para fazer Direito pelo Prouni. Fiz um ano e mudei para o Jornalismo”.
E foi como estudante de jornalismo que Luiz transformou seu olhar estético e crítico em visão de mundo. “Acredito que a revolução se faz no cotidiano. A construção de um mundo melhor, de um Brasil mais justo e mais igualitário se faz todos os dias e o jornalismo tem um papel fundamental na consolidação da democracia”, concluiu Luiz que caminha pelas esquinas de Campinas com máquinas fotográficas emprestadas, com passos pesados da vida, mas braços prontos para a construção de um mundo melhor.

A Palestina resiste.....

Boicote a Israel ganha ímpeto

por Johh Pilger
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A farsa da cimeira sobre a alteração climática em Copenhaga confirmou uma guerra mundial travada pelos ricos contra a maior parte da humanidade. Também pôs em relevo uma resistência que cresce como talvez nunca antes se viu: um internacionalismo ligando a justiça para o planeta terra com os direitos humanos universais, e a justiça criminal para os que invadem e espoliam com impunidade. E as boas notícias provêm da Palestina.

A resistência palestina ao roubo do seu país atingiu um momento crítico em 2001 quando Israel foi classificado como um estado de apartheid numa conferência das Nações Unidas sobre o racismo em Durban, África do Sul. Para Nelson Mandela, a justiça para os palestinos é "a maior questão moral da nossa época". O movimento Palestinian Civil Society Call for Boycott, Disinvestment and Sanctions (BDS), foi fundado a 9 de Julho de 2005, voltando a reunir de forma impressionante o grande movimento não-violento que varreu o mundo e levou ao desmoronamento do apartheid africano. "Durante décadas de ocupação e expropriação", escreveu Mustafa Barghouti, uma voz inteligente da política palestina, "90 por cento da luta palestina tem sido não-violenta… Uma nova geração de líderes palestinos [fala agora] ao mundo exactamente como o fez Martin Luther King. O mesmo mundo que rejeita qualquer uso de violência por parte dos palestinos, mesmo em nítida auto-defesa, não pode certamente recusar a não-violência utilizada por homens como King e Gandhi".

Nos Estados Unidos e na Europa, sindicatos, associações académicas e igrejas importantes ressuscitaram as estratégias e tácticas que foram usadas contra o apartheid sul-africano. Numa resolução adoptada por 431 votos contra 62, a Igreja Presbiteriana dos EUA aprovou "um processo de desinvestimento selectivo faseado em corporações multinacionais que mantêm negócios com Israel". Isto vem na sequência da opinião do Tribunal Internacional de Justiça de que o muro de Israel e as suas colónias "colonizadoras" eram ilegais. Uma declaração semelhante feita pelo tribunal em 1971, denunciando a ocupação da Namíbia pela África do Sul, desencadeou o boicote internacional.

Tal como a campanha da África do Sul, a questão da lei é fundamental. A nenhum estado é permitido desprezar o direito internacional tão deliberadamente como Israel. A resolução de 1990 do Conselho de Segurança da ONU exigindo que Saddam Hussein saísse do Kuwait foi a mesma, quase palavra por palavra, do que a que exigiu que Israel saísse da Cisjordânia. Os Estados Unidos e os seus aliados atacaram e expulsaram o Iraque, ao passo que Israel tem sido recompensado repetidamente. A 11 de Dezembro, o presidente Obama anunciou uma "ajuda" a Israel de 2,75 mil milhões de dólares, um primeiro pagamento dos 30 mil milhões de dólares que os contribuintes americanos irão oferecer durante esta década a partir da sua apertada economia.

A hipocrisia é agora bem compreendida nos EUA, onde campanhas de boicote dos consumidores se estão a tornar um lugar comum. A campanha de "beleza roubada" dirige-se contra os produtos de beleza Ahava que são feitos em "colonatos" ilegais da Cisjordânia, forçando a empresa a desistir da sua sensacionalista celebridade "embaixadora", Kristin Davis, estrela de 'O Sexo e a Cidade'. Na Grã-Bretanha, a Sainsbury's e a Tesco estão a ser pressionadas para identificar produtos de "colonatos", cuja venda transgride a cláusula dos direitos humanos no acordo de comércio da União Europeia com Israel.

Na Austrália, um consórcio que inclui a companhia francesa Veolia perdeu a sua proposta de mil milhões de dólares, para uma instalação de dessalinização, na sequência de uma campanha denunciando o plano da Veolia para construir uma via-férrea ligeira ligando Jerusalém aos "colonatos". Na Noruega, o governo retirou o seu apoio à Elbit, uma companhia israelense de alta tecnologia, que ajudou a construir o muro na Palestina. Este é o primeiro boicote oficial feito por um país ocidental. "Não queremos financiar empresas que contribuem de forma tão directa para violações do direito humanitário internacional", disse o ministro das finanças norueguês.

Em 2005, a Associação de Professores Universitários na Grã-Bretanha (AUT) aprovou o boicote a instituições académicas israelenses cúmplices da opressão dos palestinos. A campanha AUT foi forçada a recuar quando o lobby de Israel desencadeou uma avalanche de difamações e acusações de anti-semitismo. O escritor e activista palestino Omar Baghouti chamou-lhe "terrorismo intelectual": uma perversão da moral e da lógica que afirma que ser contra o racismo para com os palestinos é ser anti-semita. Mas o ataque israelense a Gaza a 27 de Dezembro de 2008 alterou quase tudo. Formou-se a primeira Campanha americana para um Boicote Académico e Cultural de Israel , com Desmond Tutu na sua assembleia consultiva. Na conferência de 2009, o Conselho de Sindicatos da Grã-Bretanha aprovou um boicote de consumidores. O "tabu Israel" acabou.

A complementar tudo isto observa-se a rápida evolução da lei criminal internacional desde o caso Pinochet em 1999, quando o antigo ditador chileno foi colocado sob prisão domiciliar na Grã-Bretanha. Os instigadores da guerra israelenses enfrentam agora um processo semelhante em países que têm leis de "jurisdição universal". Na Grã-Bretanha, a Lei das Convenções de Genebra de 1957 foi reforçada pelo relatório da ONU sobre Gaza, do juiz Richard Goldstone, que em Dezembro obrigou um magistrado de Londres a emitir um mandato de prisão para Tzini Livni, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, acusado de crimes contra a humanidade. Em Setembro, apenas a imunidade diplomática artificial salvou Ehud Barak, o ministro da Defesa israelense durante o ataque a Gaza, de ser preso pela Scotland Yard.

Há precisamente um ano, foram assassinadas pelos israelenses em Gaza 1400 pessoas indefesas. A 29 de Dezembro, Mohamed Jassier tornou-se o 367º residente de Gaza a morrer, porque as pessoas que precisam de tratamento médico para salvarem a vida não têm autorização de sair. Não podemos esquecer isto quando observarmos a BBC a "equilibrar" este sofrimento com os protestos mistificadores dos opressores.

Existe neste momento uma dinâmica clara. Para assinalar o primeiro aniversário da atrocidade de Gaza, uma grande caravana humanitária de 42 países – muçulmanos, judeus, cristãos, ateus, velhos e novos, sindicalistas, escritores, artistas, músicos e os que encabeçam comboios de alimentos e medicamentos – convergiu para o Egipto e, apesar de a ditadura do Cairo, subornada pelos americanos, ter impedido a maior parte de prosseguir para Gaza, as pessoas daquela prisão aberta ficaram a saber que não estão sós, e as crianças escalaram os muros e hastearam a bandeira palestina. E isto é só o começo.

O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=563 . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Mais de 50 entidades manifestam apoio ao MST de Santa Catarina

Créditos: Revista Pobres & Nojentas


Mais de 50 entidades sindicais, representantes de universidades, professores, partidos políticos, deputados e juristas participaram, na tarde desta sexta-feira (29), do ato de apoio ao MST de Santa Catarina. A atividade condenou a prisão arbitrária do coordenador do MST de SC, Altair Lavratti, do militante Rui Fernando da Silva Júnior, e da líder comunitária Marlene Borges. Lavratti foi algemado e preso em Imbituba, quando participava de uma reunião com catadores de material reciclado, num galpão, na noite de quinta-feira. Marlene e Rui foram presos na manhã de sexta-feira, depois de se apresentarem voluntariamente. Rui também foi algemado.

As acusações envolvem esbulho possessório (tomada violenta de um bem), formação de quadrilha e incitação à violência, e segundo a PM, foram “preventivas”, ou seja, para evitar que os supostos crimes fossem cometidos. As investigações começaram em dezembro, no entanto, há mais de 10 anos o MST participa de encontros com a comunidade local, informando as famílias sobre seus direitos.

A área de 200 ha, principal motivação das ações, pertence ao Governo Federal e foi cedida ao Governo do Estado para formação de uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE) em 1996, no entanto, desde então está abandonada. “O objetivo das reuniões era informar as pessoas sobre seus direitos e mostrar que o MST está solidário às lutas das famílias exploradas também nas cidades”, explicou o coordenador do MST, Lucídio Ravanello. O problema, segundo a comunidade local, é a privatização dos espaços, sem chance para que as famílias possam utilizar-se de uma área que é pública.

Denúncias descabidas

Uma das acusações que causou revolta ao MST é a denúncia, por parte da PM, de que pessoas estariam recebendo dinheiro para participar de mobilizações na região de Imbituba. “Isso nunca ocorreu. É um absurdo gigantesco que não tem qualquer cabimento. Respeitamos a vontade da comunidade local e é só. Gostaríamos de saber de onde a polícia tirou esse tipo de calúnia”, afirmou Ravanello, que desafiou a PM a apresentar provas de que esse tipo de ação ocorreu.

Prisões arbitrárias e ilegais

Juristas presentes ao ato destacaram as prisões como arbitrárias e ilegais, pela utilização de escutas consideradas criminosas pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pelo uso indiscriminado de algemas, além do conflito de competências em razão da investigação realizada por uma polícia cuja atividade é amplamente questionada dentro do próprio sistema de segurança – a P2, serviço de inteligência da Polícia Militar de SC. “Acredito que esse é o momento de começarmos aqui uma discussão muito mais ampla, sobre as razões e motivações desses casos de criminalização que se repetem em diversos estados”, afirmou o doutor em direitos humanos e desenvolvimento, advogado Prudente José Silveira Mello, também conselheiro do Comitê de Anistia do Ministério da Justiça.

Em 6 de agosto de 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA divulgou sentença condenando o Brasil pelo uso de interceptações telefônicas ilegais, em 1999, contra associações de trabalhadores rurais ligadas ao MST no Paraná. O Estado brasileiro foi considerado culpado pela instalação dos grampos, pela divulgação ilegal das gravações e pela impunidade dos responsáveis.

Prudente ainda destaca que Altair Lavratti não teve respeitado o direito de contatar um familiar ou qualquer conhecido, para informar sobre sua prisão. Autoridades locais, advogados e representantes do MST somente conseguiram localizar Lavratti às 8h da manhã da sexta-feira, quase 10 horas depois da prisão. “Ele foi isolado de forma ilegal. Ninguém o encontrava em qualquer local e as autoridades não informavam sobre onde ele poderia estar”, disse.

Em nota, o movimento em SC destaca que “a prisão de homens e mulheres ligados ao MST, além de líderes comunitários, quando realizavam uma reunião com integrantes da comunidade, em Imbituba, demonstra uma faceta controversa do Estado, do poder policial e de uma parcela do judiciário. Estas pessoas foram detidas mesmo sem cometer qualquer crime, apenas pelo fato de trabalharem junto às famílias no esclarecimento de seus direitos enquanto cidadãos e cidadãs.”

Outra questão controversa do episódio é a participação do Ministério Público nas investigações. Foi o MP quem solicitou à justiça a quebra do sigilo telefônico de integrantes do MST, e também quem organizou, junto da PM, a prisão preventiva dos representantes do movimento. “O MST, como já ocorreu com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é vítima de uma ação orquestrada que utiliza como artifício a prisão “preventiva” por “suspeita de invasão”. Para a polícia e para o poder judiciário, pelo que se entende a partir desta ação, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e, sendo assim, são passíveis de interrupção e prisão”, destaca o movimento na nota divulgada na manhã de sexta-feira.

Durante o ato, os representantes de mais de 50 entidades assinaram uma moção de apoio ao MST, e de repúdio à ação da Polícia Militar e do Judiciário.

Discografia Pink Floyd ( CDrip 1967 a 2004 )

Créditos: Filmeja
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Biografia :
Pink Floyd foi uma banda de rock inglesa do século XX famosa pelas suas composições de rock clássico harmónico, pelo seu estilo progressivo e pelos espectáculos ao vivo extremamente elaborados. A origem do nome "Pink Floyd" deve-se à admiração do fundador Syd Barrett pela arte dos músicos Pink Anderson e Floyd Council, do blues.

É um dos grupos mais influentes na história do rock, além de um dos mais bem sucedidos, tendo vendido aproximadamente 300 milhões de cópias de seus álbuns.[1][2] A produção The Dark Side of the Moon manteve-se no Top 100 Billboard de vendas durante mais de uma década e continua a ser um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos.

Liderada pelo lendário cantor e compositor Syd Barrett, o grupo tinha um modesto sucesso na segunda metade da década de 1960 produzindo rock psicodélico. Mas o comportamento errático de Barrett forçou seus colegas de banda a afastá-lo e substituí-lo pelo guitarrista e cantor David Gilmour.

Com a saída de cena de Barrett, o baixista e vocalista Roger Waters gradualmente tornou-se o líder e principal compositor do Pink Floyd. Esta fase foi marcada pela produção de álbuns conceituais como The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e The Wall (1979) --- álbuns que obtiveram êxito mundial, foram aclamados pela crítica especializada e figuraram em listas dos mais vendidos e populares em vários países.

Mas após o álbum, The Final Cut, (1983), o grupo separou-se. Em 1985, Waters declarou que o Pink Floyd estava extinto, mas os demais membros - agora liderados por Gilmour, mais o tecladista Rick Wright e o baterista Nick Mason -, após briga judicial, retomaram a banda com o nome oficial e seguiram gravando e se apresentando - com grande sucesso comercial e, finalmente, fecharam um acordo com Waters.

Em 2 de julho de 2005 e pela primeira vez em 24 anos, a formação mais clássica do Pink Floyd voltou a tocar, para a sua maior platéia, no concerto Live 8, em Londres, Reino Unido. Em 15 de Setembro de 2008, o tecladista Richard Wright morreu, pondo um fim no sonho de um possível retorno dos Pink Floyd.

Em entrevista concedida ao jornal italiano La Repubblica no dia 3 de fevereiro de 2006, Gilmour indicava o fim do Pink Floyd, declarando que o célebre grupo não produzirá qualquer novo material, tampouco voltará a se reunir novamente. Ainda assim, a possibilidade de se fazer uma apresentação similar ao Live 8 não foi descartada tanto por Gilmour ou Mason.

Integrantes da banda :

David Gilmour
Nick Mason
Roger Waters
Richard Wright
Syd Barrett
Bob Klose


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Contra a pena de morte e nossa falta de tolerância


Uma pesquisa da CNT/Sensus aponta que entre os meses de janeiro de 2001 e 2010, aumentou a quantidade de brasileiros favoráveis à legalização do aborto. Mas também cresceu o número dos que defendem a pena de morte. Na última década, subiu de 39,4% para 41,2% a taxa dos que defendem a pena capital e de 17,7% a 22,7% dos que defendem o aborto.
Em abril de 2007, uma pesquisa Datafolha apontou que 55% dos brasileiros defendiam a adoção da pena de morte, 57% eram contra a eutanásia (o direito do paciente terminal de pôr fim à sua própria vida), 65% defendiam que a lei do aborto não fosse ampliada para além dos casos de estupro e risco para a mãe, 49% rejeitavam a união civil homossexual (ou seja, a maioria, uma vez que 42% eram a favor) e 52% eram contrários à adoção de filhos por casais do mesmo sexo.
Basicamente a pesquisa CNT/Sensus difere daquela realizada pelo Datafolha na questão da pena de morte, em que a primeira aponta que os contrário à sua adoção são maioria enquanto que, na outra, eles chegavam a 55%. Contudo, há um preocupante viés de alta dos favoráveis a lei de talião e o seu olho por olho, dente por dente.
Como já disse aqui anteriormente, se essas pesquisas fossem um gabarito, eu já teria sido reprovado retumbantemente como brasileiro, uma vez que minhas posições pessoais são opostas àquelas representadas pela pesquisa Datafolha. Em uma hipotética avaliação de segunda época que também incluísse a redução da maioridade penal, a prisão perpétua, a manutenção do uso de drogas como crime (que só atrasa a solução do problema), seria reprovado novamente.
Dizem que falta informação e por isso temos uma sociedade que pensa de forma tão conservadora. Mas informação não basta, caso contrário os mais escolarizados teriam um comportamento mais aberto aos direitos sociais e humanos do que aponta a pesquisa. Deve-se saber como trabalhar com essa informação que recebemos, refletir sobre ela. Entramos aqui na questão da consciência social, que não se aprende nos bancos de escola, mas no trato com a sociedade.
O contato com o “outro”, e com suas diferenças, contribui para fomentar essa consciência. Não através do filtro dos jornais e das lentes de TVs, mas pelo diálogo direto. Só dessa forma poderemos entender as razões desse outro. E se, mesmo assim, não concordarmos com sua posição, podemos, ao menos, ser tolerantes. E aceitar que as pessoas têm direito à própria vida e ao próprio corpo e que não é com uma sociedade ditatorial e sumária que se resolverão os problemas.
Infelizmente, o que vimos nas posições vociferadas contra o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é que o desafio é imenso. Ele perpassa todas as camadas econômicas e sociais e encontra inimigos mesmo em pessoas que dizem ter rodado o mundo – mas que, pelo visto, nada de útil aprenderam por lá.