terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Contra a pena de morte e nossa falta de tolerância


Uma pesquisa da CNT/Sensus aponta que entre os meses de janeiro de 2001 e 2010, aumentou a quantidade de brasileiros favoráveis à legalização do aborto. Mas também cresceu o número dos que defendem a pena de morte. Na última década, subiu de 39,4% para 41,2% a taxa dos que defendem a pena capital e de 17,7% a 22,7% dos que defendem o aborto.
Em abril de 2007, uma pesquisa Datafolha apontou que 55% dos brasileiros defendiam a adoção da pena de morte, 57% eram contra a eutanásia (o direito do paciente terminal de pôr fim à sua própria vida), 65% defendiam que a lei do aborto não fosse ampliada para além dos casos de estupro e risco para a mãe, 49% rejeitavam a união civil homossexual (ou seja, a maioria, uma vez que 42% eram a favor) e 52% eram contrários à adoção de filhos por casais do mesmo sexo.
Basicamente a pesquisa CNT/Sensus difere daquela realizada pelo Datafolha na questão da pena de morte, em que a primeira aponta que os contrário à sua adoção são maioria enquanto que, na outra, eles chegavam a 55%. Contudo, há um preocupante viés de alta dos favoráveis a lei de talião e o seu olho por olho, dente por dente.
Como já disse aqui anteriormente, se essas pesquisas fossem um gabarito, eu já teria sido reprovado retumbantemente como brasileiro, uma vez que minhas posições pessoais são opostas àquelas representadas pela pesquisa Datafolha. Em uma hipotética avaliação de segunda época que também incluísse a redução da maioridade penal, a prisão perpétua, a manutenção do uso de drogas como crime (que só atrasa a solução do problema), seria reprovado novamente.
Dizem que falta informação e por isso temos uma sociedade que pensa de forma tão conservadora. Mas informação não basta, caso contrário os mais escolarizados teriam um comportamento mais aberto aos direitos sociais e humanos do que aponta a pesquisa. Deve-se saber como trabalhar com essa informação que recebemos, refletir sobre ela. Entramos aqui na questão da consciência social, que não se aprende nos bancos de escola, mas no trato com a sociedade.
O contato com o “outro”, e com suas diferenças, contribui para fomentar essa consciência. Não através do filtro dos jornais e das lentes de TVs, mas pelo diálogo direto. Só dessa forma poderemos entender as razões desse outro. E se, mesmo assim, não concordarmos com sua posição, podemos, ao menos, ser tolerantes. E aceitar que as pessoas têm direito à própria vida e ao próprio corpo e que não é com uma sociedade ditatorial e sumária que se resolverão os problemas.
Infelizmente, o que vimos nas posições vociferadas contra o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é que o desafio é imenso. Ele perpassa todas as camadas econômicas e sociais e encontra inimigos mesmo em pessoas que dizem ter rodado o mundo – mas que, pelo visto, nada de útil aprenderam por lá.

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