Agora, se me pedissem para definir o Pinback numa única palavra, eu diria VIRULÊNCIA. O potencial de aderência mental instantânea, a vírus-musicalidade, de uma canção do Pinback é qualquer coisa de impressionante. O gancho sonoro presente aqui, fosse uma Alien do filme clássico, seria certamente um face-hugger, ou melhor, um brain-hugger, dadas as circunstâncias. Cada partícula de som é uma pequenina agulha pronta para "acumpulturar" teu córtex e até despertar prováveis bons sentimentos, o que não passa de figuração, já que quase sempre as letras são miseravelmente tristes ou enfadonhas ou distantes.
E no caso de chegar um mané e me pedir para descrever o Pinback de forma mais concreta, diria tratar-se de uma banda de San Diego, cujo núcleo central é composto por dois sujeitos talentosíssimos, Rob Crow e Amistead Smith IV, que se empenham em compor canções intimistas com instrumentação convencional e eventuais pequenas doses de eletrônica. Só pra contextualizar, diria também que seu álbum anterior, Blue Screen Life, de 2002, é não menos que brilhante, até melhor que este novo.
Summer in Abaddon é um reflexo distorcido de melancolia visto num espelho quebrado. Simboliza o desperdício de tempo e vitalidade experimentado pela dupla de compositores através de uma carga de tédio concentrada e de incontáveis obstáculos enfrentados em seu atribulado cotidiano. Estive pensando que se mal-estar e sentimentos controversos fazem o Pinback escrever música assim, estipulo que quero mais é que eles se fodam mesmo, e continuem compondo.
O álbum, o Verão no Inferno, é angústia para a banda e satisfação pra quem ouve. Um apanhado de 10 canções que revelam ser micro-universos de pena, angústia, ironia, desespero. Ouvir o disco inteiro é como se submeter a um tipo de cromoterapia em preto-e-branco, uma controversa experiência entre neurose e equilíbrio. Veja "Non-Photo Blue", por exemplo: uma eternidade de convenções pop subvertidas, esmerilhadas e reunidas no que aparentemente é apenas uma canção pop. Ou antipop. Ou o que seja. Já "Syracuse" é estranheza a ponto de sugerir que o Pinback nunca ouviu nada a não ser suas próprias vozes interiores antes de chegar a esse disco, pirou, e pariu um casulo de melancolia com qualquer coisa que lembre um certo orientalismo. E se "Sender" ou "The Yellow Ones" não redimirem seus malditos pecados, bem, então você está com problemas perceptíveis até por leigos.
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Renato Mazzini