Fernanda Melchionna - SUL21
O Rio Grande do Sul tanto no Ensino Médio quanto no Fundamental
encontra-se abaixo da média nacional no que diz respeito à apreensão de
conhecimentos básicos em Matemática e Português, particularmente nas
séries finais, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) de 2011. Estes dados não podem ser descontextualizados da
situação dramática que passam as escolas: na qual 60% não possuem
Serviço de Orientação Educacional, muitas sequer contam com
profissionais para bibliotecas ou laboratórios, sem contar o vergonhoso
salário dos professores da rede estadual, que, para atingir uma
remuneração razoável, tem que dar 60 horas de aula semanais. Imagine a
sobrecarga de trabalho para os trabalhadores em educação em salas
superlotadas e sem condições de utilização de vários recursos didáticos
que deveriam ser básicos no processo educativo, tais como biblioteca,
ginásio esportivo, data-show e às vezes, até giz.
O discurso sobre a educação aparece como prioridade na agenda
eleitoral, passadas as eleições, viram apenas palavras ao vento. Durante
o Governo Yeda, foram vários ataques à educação: “escolas de lata”,
descumprimento dos 35% destinados pela Constituição Federal para a área,
o pedido de Inconstitucionalidade da Lei do Piso Nacional do
Magistério.
Apesar da promessa de Tarso Genro do cumprimento da Lei do Piso
(feita no Congresso do CPERS realizado em 2010, no qual os candidatos ao
governo do Estado postulavam suas propostas), o atual governo não
garantiu o Piso do Magistério e ainda deu seguimento à Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin) para tentar barrar a aplicação da Lei.
Felizmente, o STF indeferiu o pedido e esta conquista da categoria segue
vigente, ainda que o governo siga sem cumprir sua promessa. Enquanto
isso, o salário dos educadores gaúchos é vergonhoso, e, para piorar, em
agosto foi reeditada a “enturmação”, medida do governo Yeda que aumenta o
número das turmas sem garantir as condições para isso.
Agora, o que deveria ser uma vitória, a realização de concurso
público para suprir a falta de professores parece ter virado um
pesadelo: dos 70 mil inscritos, apenas 5224 conseguiram passar. Em
novembro, começaram a nomear os concursados: longas filas e ausência de
critérios para a escolha das escolas configuraram mais um capítulo da
histórica falta de respeito com os educadores do RS.
Feita as escolhas, os professores concursados chegaram às escolas
faltando um mês para o término do ano letivo, a maioria das direções não
foram comunicadas que estavam recebendo novos colegas, os professores
contratados despedidos às vésperas do Natal, estudantes nervosos por
perder seus professores queridos e todos preocupados com seu futuro:
concursados, desrespeitados; contratados, sem perspectiva; estudantes;
apreensivos com o final do ano letivo; diretores; pegos de surpresa.
Como, no final do ano letivo, garantir que os novos professores façam
avaliações de estudantes, sem o mínimo de convívio e acompanhamento do
processo educativo? Sem contar o drama dos contratados, que pagam a
conta pela irresponsabilidade dos sucessivos governos.
Até quando a educação será tratada assim em nosso Estado? Esta é a
pergunta que os gaúchos estão se fazendo. Certamente a resposta não virá
da Secretaria de Educação sem que haja muita mobilização por parte de
todas e todos os afetados. O caos está instaurado nas escolas estaduais,
prejudicando a educação de milhares de jovens, justamente no final do
ano em que muitos fizeram a prova do ENEM e estão se preparando para
prestar vestibular.
É hora de inaugurar um grande movimento gaúcho em defesa da educação
pública e de seus trabalhadores, afinal os verdadeiros culpados pelo
caos instaurado nas escolas estão sentados em seus gabinetes, bem longe
da realidade da sala de aula. Talvez assim aprendam uma das lições mais
básica que a escola pode ensinar, o respeito.
Fernanda Melchionna é vereadora em Porto Alegre pelo PSOL