quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Educação no RS: um caso de (des)respeito

Fernanda Melchionna - SUL21


O Rio Grande do Sul tanto no Ensino Médio quanto no Fundamental encontra-se abaixo da média nacional no que diz respeito à apreensão de conhecimentos básicos em Matemática e Português, particularmente nas séries finais, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011. Estes dados não podem ser descontextualizados da situação dramática que passam as escolas: na qual 60% não possuem Serviço de Orientação Educacional, muitas sequer contam com profissionais para bibliotecas ou laboratórios, sem contar o vergonhoso salário dos professores da rede estadual, que, para atingir uma remuneração razoável, tem que dar 60 horas de aula semanais. Imagine a sobrecarga de trabalho para os trabalhadores em educação em salas superlotadas e sem condições de utilização de vários recursos didáticos que deveriam ser básicos no processo educativo, tais como biblioteca, ginásio esportivo, data-show e às vezes, até giz.
O discurso sobre a educação aparece como prioridade na agenda eleitoral, passadas as eleições, viram apenas palavras ao vento. Durante o Governo Yeda, foram vários ataques à educação: “escolas de lata”, descumprimento dos 35% destinados pela Constituição Federal para a área, o pedido de Inconstitucionalidade da Lei do Piso Nacional do Magistério.
Apesar da promessa de Tarso Genro do cumprimento da Lei do Piso (feita no Congresso do CPERS realizado em 2010, no qual os candidatos ao governo do Estado postulavam suas propostas), o atual governo não garantiu o Piso do Magistério e ainda deu seguimento à Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) para tentar barrar a aplicação da Lei. Felizmente, o STF indeferiu o pedido e esta conquista da categoria segue vigente, ainda que o governo siga sem cumprir sua promessa. Enquanto isso, o salário dos educadores gaúchos é vergonhoso, e, para piorar, em agosto foi reeditada a “enturmação”, medida do governo Yeda que aumenta o número das turmas sem garantir as condições para isso.
Agora, o que deveria ser uma vitória, a realização de concurso público para suprir a falta de professores parece ter virado um pesadelo: dos 70 mil inscritos, apenas 5224 conseguiram passar. Em novembro, começaram a nomear os concursados: longas filas e ausência de critérios para a escolha das escolas configuraram mais um capítulo da histórica falta de respeito com os educadores do RS.
Feita as escolhas, os professores concursados chegaram às escolas faltando um mês para o término do ano letivo, a maioria das direções não foram comunicadas que estavam recebendo novos colegas, os professores contratados despedidos às vésperas do Natal, estudantes nervosos por perder seus professores queridos e todos preocupados com seu futuro: concursados, desrespeitados; contratados, sem perspectiva; estudantes; apreensivos com o final do ano letivo; diretores; pegos de surpresa. Como, no final do ano letivo, garantir que os novos professores façam avaliações de estudantes, sem o mínimo de convívio e acompanhamento do processo educativo? Sem contar o drama dos contratados, que pagam a conta pela irresponsabilidade dos sucessivos governos.
Até quando a educação será tratada assim em nosso Estado? Esta é a pergunta que os gaúchos estão se fazendo. Certamente a resposta não virá da Secretaria de Educação sem que haja muita mobilização por parte de todas e todos os afetados. O caos está instaurado nas escolas estaduais, prejudicando a educação de milhares de jovens, justamente no final do ano em que muitos fizeram a prova do ENEM e estão se preparando para prestar vestibular.
É hora de inaugurar um grande movimento gaúcho em defesa da educação pública e de seus trabalhadores, afinal os verdadeiros culpados pelo caos instaurado nas escolas estão sentados em seus gabinetes, bem longe da realidade da sala de aula. Talvez assim aprendam uma das lições mais básica que a escola pode ensinar, o respeito.
Fernanda Melchionna é vereadora em Porto Alegre pelo PSOL

A reeleição de Barack Obama

 

 
OS EDITORES DE ODIÁRIO.INFO


A reeleição de Barack Obama não surpreende. O suspense em torno do suposto empate com Mitt Romney foi criado artificialmente para influenciar os indecisos.
Mas a campanha de Obama, cinzenta, não se desenvolveu na atmosfera triunfalista da anterior. O presidente não cumpriu as promessas sintetizadas no slogan «sim, nós podemos!», que em 2008 entusiasmou milhões de compatriotas que acreditaram numa «mudança».
O País continua mergulhado numa crise profunda. A dívida pública interna aumentou para um nível astronómico. A dívida externa é a maior do mundo. O défice da balança comercial é colossal. Os EUA são hoje um estado parasita que consome muito mais do que produz e mantém a hegemonia mundial em consequência do seu enorme poderio militar. A política financeira de Obama, concebida para favorecer as grandes transnacionais e a banca, contribuiu para agravar o desemprego e manteve na miséria dezenas de milhões de famílias.
Romney com o seu programa assustou os negros, os latinos e um amplo sector da pequena burguesia branca. No início, o seu discurso era tão reaccionário que o modificou, deslocando-se da direita cavernícola para o centro.
Nos debates televisivos que encerraram o grande circo milionário da campanha eleitoral ele e Obama coincidiram praticamente nas questões fundamentais.
Os media ditos de referência apresentaram a politica internacional do presidente como o grande êxito do seu mandato. Romney não a criticou. Essa coincidência dos candidatos é por si só reveladora do nível de alienação do eleitorado da grande república.
É difícil encontrar precedente na História dos EUA para uma politica externa que tenha configurado para a humanidade uma ameaça comparável à desenvolvida por Barack Obama.
No Iraque, vandalizado pela ocupação militar, permanecem milhares de oficiais e dezenas de milhares de mercenários e a violência é um flagelo endémico. No Afeganistão, a guerra está perdida, a maior parte do país encontra-se sob controlo das forças que combatem a ocupação dos EUA e da NATO, e o governo fantoche de Karzai é odiado pelo povo.
A utilização dos aviões sem piloto, os drones, substituiu progressivamente os bombardeamentos da força aérea tradicional. O presidente Obama elogiou repetidamente durante a campanha o recurso a essa nova modalidade criminosa de guerra. É ele pessoalmente quem selecciona os «inimigos» a abater em listas elaboradas pela CIA, submetidas à sua aprovação. Mas nesses bombardeamentos «cirúrgicos» a aldeias do Paquistão milhares de camponeses, como reconhece o próprio New York Times, têm sido mortos.
Durante a campanha, Obama evitou o envolvimento dos EUA em novas guerras de agressão. Mas, reeleito, a sua estratégia belicista de dominação mundial vai ser retomada. O ataque à Síria será o próximo objectivo. A decisão será americana, muito embora Washington incumba dessa tarefa a Turquia e provavelmente a França e a Grã-Bretanha.
Resolvida «a questão síria», os EUA, em parceria com Israel, intensificarão a campanha mundial que visa a destruição do seu grande «inimigo» na Região, o único grande estado islâmico que não se submete à sua estratégia imperial: o Irão.
A actual politica para a América Latina, que através de golpes de estado atípicos em Honduras e Paraguai afastou presidentes incómodos, terá continuidade. Washington sofreu uma derrota importante com a reeleição de Hugo Chavez, mas a guerra não declarada contra a Revolução Venezuelana vai prosseguir.
A prioridade na estratégia belicista da nova Administração será contudo a China. Obama foi transparente quando anunciou que dois terços do poder aeronaval dos EUA vão ser concentrados na Ásia Oriental. É por ora imprevisível o estilo que assumirá a politica anti-chinesa (e anti-o russa) de Barack Obama. Mas pode-se antecipar que a maioria republicana da Câmara de Representantes apoiará uma intensificação da política belicista da Casa Branca.
Cabe perguntar: como foi possível atribuir a tal homem o Prémio Nobel da Paz?
O segundo mandato de Obama será para a humanidade tão negativo ou mais do que o primeiro.