sábado, 10 de janeiro de 2009

Brilhante texto sobre a midia de esgoto...

A BBC sem olhos, em Gaza



Muhammad Idrees Ahmad é militante da Spinwatch.org.
Seu blog está em www.Fanonite.org.


do blog do Azenha

Dia 29 de fevereiro do ano passado, a página da BBC na internet mostrou um dos assessores do ministro da Defesa, deputado Matan Vilnai, ameaçando Gaza de "um holocausto". Com manchete em que se lia "Israel ameaça Gaza de 'holocausto' ", a matéria passou por nove revisões nas 12 horas seguintes. Antes do fim do dia, a manchete dizia "Militantes pró-Gaza 'arriscam-se a sofrer um desastre' ". (Depois, a matéria continuou a ser modificada, acrescida de uma nota de desculpas). Um funcionário do governo de Israel que ameace alguém de "holocausto" pareceu inadmissível, até para quem, rotineiramente invoca o mesmo espectro para afastar qualquer crítica que apareça contra o comportamento criminoso do Estado de Israel. Mas a nova versão da manchete jogou toda a responsabilidade e a culpabilidade claramente sobre os "militantes pró-Gaza".

Poder-se-ia argumentar que a radical alteração que a BBC promoveu na história refletiria a sensibilidade da rede ao tipo de pressão pela qual é bem conhecida a bem azeitada máquina do lobby israelense. Mas, como se pode demonstrar com vários exemplos, essa história só é excepcional porque, na primeira versão, o fato foi corretamente noticiado – e divulgou-se informação correta que poderia arranhar a imagem de Israel. A BBC auto censurou-se. Mais uma vez, censura reflexa.

Para encontrar provas do jornalismo vicioso que a BBC pratica, basta recolher amostras do noticiário sobre a guerra em curso entre Israel e Palestina que se vê hoje na internet. Em momento de conflito declarado, a cobertura da BBC acompanha invariavelmente o ponto de vista de Israel. Mais do que em qualquer outro aspecto, vê-se isso nos aspectos semânticos e no enfoque da reportagem. Mais do que no viés quantitativo (aspecto que foi meticulosamente examinado pelo Glasgow University Media Group, em estudo intitulado "Más notícias de Israel"), é o viés qualitativo que, de fato, encobre a realidade da situação. Isso se faz, quase sempre, construindo-se uma falsa paridade, um falso equilíbrio, falsificando-se uma isenção jornalística que iguala tudo, o poder, as culpas, a legitimidade, também do jornalismo. No atual conflito, tudo se repete.

"Líder do Hamás morto em ataque aéreo" foi a manchete na página internet da BBC, na 5ª-feira. À parte a manchete que 'legaliza' uma morte, são 14 parágrafos e a necessária referência a quatro israelenses mortos, antes da informação de que "pelo menos mais nove pessoas morreram, entre as quais quatro membros da família do líder assassinado, no bombardeio contra sua casa, no campo de refugiados de Jabaliya."

De fato, houve 16 mortos, 11 dos quais crianças; 12 feridos, 5 dos quais, crianças; 10 casas foram destruídas e mais 12 ficaram abaladas e ainda podem desabar. De fato, foi um massacre, uma carnificina.

Se o Hamás bombardeasse e matasse 28 cidadãos israelenses, dos quais, 16 crianças... a cobertura seria diferente. Seria infindável. Seria o que foi a cobertura da BBC para a evacuação dos colonos israelenses ilegalmente instalados em Gaza, em 2005, em terra roubada. Mike Sergeant, da BBC, sentado em Jerusalém, não é homem de sentimentalismos. Então, não há civis mortos na Palestina. A tragédia da Palestina é uma massa de corpos sanguinolentos que Sergeant coroa com "é clara indicação de que os militares israelenses sabem onde estão escondidos os líderes do Hamás."

"Israel reage ao ataque do Hamás," foi a manchete obscena do dia seguinte, na primeira página. Com a palavra Hamás sempre antecedida de "terroristas do" ou "militantes do" e sempre sobre imagens de corpos mutilados e destroços, o leitor médio facilmente aceita que não pode haver nada pior do que o Hamás. "Deu na internet" que a quarta mais poderosa máquina de matar do mundo está enfrentando um exército muito maior, mais cruel, mais poderoso, chamado Hamás, na Palestina. Depois, a BBC informou que, dentre outros "alvos", Israel bombardeou uma mesquita e uma família que dormia em casa.

A manchete da BBC, no mesmo dia, horas mais tarde – "Gaza enfrenta 'emergência crítica' " – foi até melhor. No texto, cita-se Maxwell Gaylard, coordenador do auxílio humanitário da ONU na região, que fala da extensão da crise humanitária. Depois, o alerta da Oxfam: a situação piora dia a dia; não há água potável, combustível, comida; os hospitais estão sobrecarregados e os esgotos vazam nas calçadas.

Em seguida, vem "o outro lado": Israel declarou, informa a BBC, que "não faltam nem comida nem remédios". Não seria difícil verificar quem mente e quem diz a verdade. Mas a investigação, nesse caso, provavelmente, violaria "o reconhecido padrão de isenção da BBC."

Há outro motivo, mais mundano, pelo qual a BBC não investigou, mas está escondido na linha do artigo.

Israel, lemos ali, "recusa-se a permitir a entrada de jornalistas internacionais em Gaza" (incluídos na proibição, é claro, jornalistas da BBC). Qualquer boa ética jornalística obrigaria a informar, na primeira linha, que ninguém sabe o que está acontecendo em Gaza. Que o jornalismo mundial alimenta-se hoje dos folhetos de propaganda distribuídos pelo exército de Israel.

O ato final da chicana vem em forma de barra lateral, na qual se contabiliza o número de Qassam disparados pelos palestinenses, por dia do conflito. Inacreditável, mas em matéria jornalística que se oferece como análise das conseqüências do bloqueio e dos bombardeios feitos por Israel, não se contabilizam os mísseis e bombas de fragmentação e de fósforo e a artilharia pesada, de Israel, que chove sobre a Palestina.

A fonte da qual a BBC recolhe suas informações isentas é o Intelligence and Terrorism Information Center, de Israel. A BBC não noticia que se trata de um instituto "privado" (um think tank), órgão do cinturão militar de propaganda israelense que, de acordo com o The Washington Post, "é diretamente ligado às lideranças militares israelenses e mantém escritório no prédio do ministério da Defesa." Falas de palestinenses, por sua vez, jamais são confiáveis e sempre aparecem entre aspas... por mais que seja facílimo verificar se são fato, ou se são propaganda comprada.

As aspas são sinal muito útil para mostrar que ali pode haver alguma mentira, algum interesse ocultado, alguma opinião pela qual a BBC não se responsabiliza. É recurso útil, se for aplicado com critério. Na BBC, não é.

Para ficarmos só num exemplo: depois da guerra do Líbano, quando a Anistia Internacional acusou os dois lados, Israel e o Hizbóllah, de terem praticado crimes de guerra, a acusação feita a Israel apareceu, na página da BBC, entre aspas. A acusação feita ao Hizbóllah... foi publicada sem aspas.

Assim, com manipulação sutil – e também com manipulação nada sutil – da linguagem, a BBC está ocultando de seus leitores a horrenda realidade da Palestina ocupada.

No léxico da reportagem da BBC, os palestinenses "morrem"; os israelenses "são mortos" ("morrer" implica causas naturais; "ser morto" implica ser assassinado... pelo Hamás); os palestinenses "provocam"; os israelenses "respondem"; os palestinenses "alegam"; os israelenses "declaram".

Além disso, escolas, mesquitas, universidade e postos de policiamento de trânsito são órgãos da "infra-estrutura do terror do Hamás"; os "militantes" "enfrentam" aviões F-16s e helicópteros Apache. O "terrorismo" é item presente no DNA dos palestinenses; os israelenses "defendem-se" – sempre, todos os dias, fora das fronteiras de Israel.

Todos os debates, comecem onde começarem e sejam quais forem os fatores ou as circunstâncias, estão relacionados com a "segurança" de Israel – os palestinos não precisam de segurança. Se se fala do muro que cerca terra anexada na Cisjordânia, só se fala da "efetividade" da barreira (de segurança). Nos casos, muito raros, em que se ouça alguma voz palestinense articulada, o debate é introduzido por matéria pré-editada, que visa a pô-la na defensiva. Quando tudo falha, sempre há o excelente argumento "da isenção". Quando a BBC não consegue acomodar os fatos em imagens, então recorre aos recursos de linguagem.

E há os contextos: a violência praticada por Israel sempre é analisada em termos de "objetivos"; a violência palestinense é sempre "absurda". O leitor médio é manipulado. E a palavra "ocupação" praticamente jamais apareceu na cobertura feita pela BBC. Nas últimas 20 matérias publicadas sobre Gaza, na página Internet da BBC, não aparece nem uma vez. E, se "ocupação" apareceu alguma vez... a expressão "Resoluções da ONU", essa, jamais foi ouvida ou lida. Na televisão é ainda pior, e o ponto de vista de Israel predomina absolutamente.

Embora seja difícil saber quem escreve os boletins que a BBC distribui, há meios para conhecer o contexto de opinião editorial no qual os jornalistas trabalham, por exemplo, em artigo do The Observer assinado pelo editor da BBC para o Oriente Médio, Jeremy Bowen – homem cujas ralas competências analíticas só se comparam à sua ignorância em matéria de história. Atrelado ao cavalo de batalha da BBC – a "isenção" – que se intromete em cada linha, Bowen acrescenta ao clichê a omissão. Não se fala em ocupação.

Bowen foi convenientemente posto em Sderot – onde foram instalados todos os jornalistas de confiança do departamento de propaganda do exército de Israel, bem longe do alcance dos rojões do Hamás, para que possam informar sem risco (e portanto com simpatia) –, e faz o que o mandaram fazer. Pelo 'outro lado', não há correspondentes para contar o que se passa nas áreas sobre as quais chovem as bombas israelenses. "Mortos entre a população civil" é ruim, mas só na medida em que impliquem "muita publicidade negativa para Israel". A partir dessa constatação, ele então conclui que "em nome da isenção, deve-se dizer que [Israel] não acerta todos os alvos que gostaria de acertar. Acertasse, o número de mortos seria muito maior." Então, especula sobre os possíveis objetivos de Israel; mas, apesar da obsessão com "os dois lados", nada diz sobre possíveis objetivos do Hamás.

Numa conferência em Londres, em 2004, um jornalista da BBC que trabalhava nos Territórios Palestinenses Ocupados contou-me que, no que tenha a ver com Israel, os parâmetros editoriais são são estreitos, que os jornalistas acabam aprendendo a adaptar as matérias para não terem problema com os editores. Ao mesmo tempo, os editores também logo aprendem a não criar problemas para os chefes e gerentes que são funcionários públicos nomeados. Desde os dias de Lord Reith, fundador da BBC, que ensinou o establishment a "confiar [que a BBC] nunca seria realmente isenta" em matéria de política internacional, a empresa tem atuado praticamente como braço de propaganda do Estado (alguma independência que tenha algum dia tido evaporou no expurgo executado por Tony Blair, no início do Inquérito Hutton).

Ao contrário do que se lê na maioria dos jornais dos EUA, cujos jornalistas mais progressistas não se cansam de elogiar a BBC, em comparação com a mídia nos EUA, a cobertura que a BBC tem dado aos eventos do Oriente Médio é pífia.

Como observou um especialista em estudo de mídia, David Miller, durante a guerra do Iraque ouviram-se menos vozes de oposição à guerra na BBC do que nos jornais norte-americanos. Estudo do Frankfurter Allgemeine Zeitung descobriu que a BBC é a empresa jornalística menos tolerante à crítica, dentre todos os jornais analisados, em cinco países.

Exatamente quando o correspondente da BBC no Iraque festejava a queda de Bagdá em termos de "Blair está vingado", o correspondente em Washington foi muito mais cauteloso na exultação: "Não há dúvidas de que o ímpeto de levar o bem, de levar valores norte-americanos ao resto do mundo, especialmente hoje, como se vê, ao Oriente Médio, está intimamente ligado ao poderio militar dos EUA."

A parcialidade da BBC na cobertura do conflito Israel-Palestina é simples reflexo da íntima afinidade que há entre sucessivos governos ingleses e Israel. Tanto Blair quanto seu successor Gordon Brown foram membros do grupo "Labour Friends of Israel". O ministro das Relações Estrangeiras, David Miliband, tem parentes que são colonos em áreas da Cisjordânia. Os três maiores escândalos de corrupção nos últimos cinco anos envolveram líderes do partido New Labour e dinheiro de milionários judeus sionistas (todos membros da confraria "Labour Friends of Israel").

Se a BBC não é imparcial, muito mais parcial é o governo inglês; a BBC apenas reflete a parcialidade 'oficial'. Apesar das pressões do lobby israelense, o ombudsman da BBC ("Independent Panel") concluiu recentemente que a cobertura da luta dos palestinenses não foi "ampla e equilibrada" e que apresentou "quadro parcial e, nesse sentido, enviesado".

Contudo, embora seja imenso o abismo que separa o mundo paralelo em que a BBC vive e os fatos que a mídia independente tem testemunhado e relatado, John Pilger escreveu: "Apesar das vozes que, na BBC, operam para tornar idênticos o ocupante e o ocupado, o ladrão e a vítima, apesar da avalanche de e-mails de elogios enviados pelos fanáticos de Sion, apesar do esforço para ocultar o empenho do Estado de Israel para destruir a Palestina, a verdade é hoje muito mais visível do que jamais foi."

O artigo original,em inglês, pode ser lido em:

http://electronicintifada.net/v2/article10122.shtml

www.viomundo.com.br

De Israel, Gideon Levy convida: "Vamos pensar na outra metade de nossa humanidade"

Do blog do Azenha


Corneteiro, à contra-mão

Gideon Levy, no jornal israelense Haaretz, Telavive

http://www.haaretz.com/hasen/pages/ShArt.jhtml?itemNo=105391

Pode-se ir às fontes e citar Leo Tolstoy, por exemplo: "O patriotismo, na significação mais simples, mais clara e mais indubitável, nada é além de um meio para que os governantes obtenham o que ambicionam e alcancem seus desejos mais escusos; e para que os governados abdiquem da dignidade humana, da razão, da consciência e se auto-escravizem, sob o poder dos governantes. Os governantes sempre recomendam patriotismo aos governados. Patriotismo é escravidão."

E também: "Como se pode falar da racionalidade de homens que prometem qualquer coisa, inclusive matar, em assassinatos que os governos, isso é, alguns homens que chegam a algumas posições, comandarão?" Pode-se também recorrer a "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas". Mas há outra via: posso admitir que também sou patriota.

Poderia citar um e-mail que recebi de Mahmut Mahmutoglu, da Turquia: "Você é uma das mais belas vozes que vejo ou ouço, de Israel ... Hoje, depois de ler sua coluna, cheguei ter esperanças de paz e a crer que a humanidade prevalecerá." Porque há também Robert, que escreve de Israel, e que comentou a mesma coluna com uma frase: "Não sou médico, mas esse cara é doente." Ou o leitor George Radnay, um, dentre centenas, que escreveu de New York: "Exílio interno à moda russa. Deve ser instituído em Israel. Você e outros inimigos da raça humana devem ser exilados em Sderot. Sem poder fugir! Pregar o ódio, de bolso cheio e em poltrona estofada e com passaporte! Você deve ser preso em nome da decência e da paz."

A vasta maioria quer banir qualquer tipo de crítica, toda e qualquer manifestação de pensamento alternativo, de todos os sentimentos heréticos, sobretudo no que tenham a ver com essa guerra, a qual já estou cansado de amaldiçoar.

Nessa guerra, em todas as guerras, um espírito do mal desce sobre os homens. Um colunista pressuposto iluminado descreve a horrenda coluna de fumaça que sobe de Gaza como "pintura espetacular"; o ministro da Defesa diz que as centenas de funerais em Gaza são demonstração das "realizações" de Israel; uma manchete enorme, "Feridos em Gaza" refere-se só a soldados israelenses feridos e vergonhosamente ignora os milhares de feridos palestinenses, cujas feridas não podem ser medicadas nos superlotados hospitais de Gaza; comentaristas objeto de lavagem cerebral festejam o imaginário sucesso da incursão; soldados objeto de lavagem cerebral pulam de arma na mão, na orgia do próximo combate, para matar, matar, para destruir homens e mulheres em massa, e provavelmente, deus nos guarde, para destruir-se também, eles mesmos, chacinar famílias inteiras, mulheres e crianças; apavorantes imagens idênticas ao que se viu em Darfur, do hospital Shifa, mostram crianças agonizando pelo chão; e a resposta patriótica é urrar: "Hurrah! Bem-feito! Hurrah! Glória ao país que faz tudo isso, essa barbárie."

Chora, meu país amado; esse não é o meu patriotismo. Mas meu patriotismo, ainda assim, é supremo patriotismo.

De fato, a reação furiosa contra qualquer mínimo farrapo de crítica faz-me pensar que, talvez, alguns israelenses já saibam, no fundo de seus corações esterilizados, dessensibilizados, que algo terrível arde sob seus próprios pés, que uma vasta conflagração ameaça fazer explodir o grosso, denso, estupefaciente, paralisante, espesso, venenoso nevoeiro que os envolve.

Que talvez não sejamos tão certos, tão bons como nos repetem que seríamos, da manhã à noite, talvez algo de horrendo esteja acontecendo ante os nossos olhos arregaladamente fechados. Se os israelenses tivessem tanta certeza da correção de sua causa, não seriam tão violentamente intolerantes, contra tudo e todos que tentam defender outra causa, outro ponto de vista.

Esse é precisamente a hora para criticar; não há melhor hora do que essa. Essa é a hora das grandes perguntas, das perguntas radicais, das perguntas decisivas.

Não perguntemos apenas se esse ou aquele outro movimento da guerra é certo ou errado, nem nos preocupemos apenas com estarmos ou não avançando "conforme planejado". Temos também que perguntas se a própria idéia de nos ter posto nessa guerra é boa para os judeus, se é boa para Israel, e se o outro lado merece a desgraça que Israel lançou sobre ele.

Sim, até nas guerras – e sobretudo nas guerras – é preciso pensar também no outro lado. Saber que "crianças do sul" não significa apenas as crianças de Sderot, mas também as crianças de Beit Hanun, cujo destino é imensuravelmente mais amargo.

Nos encolher de vergonha e de culpa, à vista do Hospital Shifa não é traição: é sinal de que somos humanos. É sinal de que Israel conserva sua humanidade básica. É imperioso preocupar-se com o destino daquelas crianças, perguntar se é inevitável aquele sofrimento, se é justo, moral, legítimo. Perguntar se as coisas poderiam ter sido feitas de outro modo. Perguntar se não teria sido mais certo tentar outra linguagem, que não fosse a linguagem da violência, da força, que Israel invoca, sempre, rotineiramente, como a única linguagem que somos capazes de usar, a única que somos competentes para articular, como se nem soubéssemos que há outras.

É hora de perguntar sobre a atitude moral de Israel. A hora é agora, é precisamente agora, nenhum momento seria mais adequado; lançar dúvidas sobre essa horrenda guerra, perguntar se é útil, não fechar os olhos para o sangue e a dor do outro lado da fronteira, lá, do outro lado, na outra metade da nossa mesma humanidade.

O nosso tempo não pode ser tempo só de militarismo, só de uniformes e das fanfarras da guerra. O nosso tempo também é tempo de humanidade, de visão crítica, de compaixão. É tempo para uma imprensa que pensa, que critica, imprensa para seres humanos, não só tempo de imprensa insensível, cega, bestial. É tempo para uma imprensa que busque a verdade, não só e sempre um mesmo lado de propaganda e mentiras. Nosso tempo é precisamente o tempo de informar a opinião pública sobre os dois lados, sobre os dois lados da fronteira, por terrível que seja mostrar o outro lado das fronteiras de Israel, sem mentir, sem encobrir, sem varrer o horror (nosso horror) para baixo do tapete. Que os leitores façam o que queiram com a informação; que festejem ou que chorem sobre ela; mas que saibam o que está sendo feito em seu nome. Hoje, esse é o único papel que se pode esperar de jornalistas que tenham olhos na cara, cérebro no crânio e que, sobretudo, tenham alguma espécie de coração no peito.

Gente que use todos os seus sentidos em tempos difíceis, não é gente menos patriótica do que os que fechem os olhos, obscureçam os sentidos, deixem que lhes lavem o cérebro. Quem mais for patriota hoje, em Israel, tem de dizer: "Basta!"

Patriotismo? Quem sabe aferir quem mais ajuda e quem mais desgraça o Estado de Israel hoje? E unir-se ao coro dos cegos, dos imbecis? Mais ajuda ou mais desgraça Israel hoje? Ou, talvez, a melhor e maior contribuição que se possa oferecer à democracia e à imagem do Estado de Israel, hoje, seja levantar as questões, propor as perguntas mais duras, mais difíceis, hoje, precisamente nesses tempos? Será hora para silenciar, e esfrangalhar ainda mais a frágil democracia israelense, ou será hora de tentar salvá-la, de defender não só o direito de calar e concordar, mas, hoje, também o direito de gritar, discordando? O punhado de israelenses que lutam para salvar Israel serão, talvez, menos bons israelenses? Serão talvez menos preocupados com o destino do país, do que a maioria, que hoje já nada vê, se não for pela mira dos canhões?

E desde quando alguma maioria seria garantia de justiça? Faltam exemplos na história de Israel? Na história moderna, na história antiga, na história universal ou na história de Israel, de casos em que a maioria esteve mortalmente errada, e a minoria, certa?

Será que uma voz diferente, baixa, ocultada que seja, mas que ainda assim emerge de dentro dessa Israel escura da "maioria", não poderá lançar alguma luz sobre Israel, mais para salvar Israel aos olhos da comunidade internacional, do que para ofender Israel? Um assovio na escuridão sempre é um assovio, um sinal de vida, quando a escuridão que desceu sobre Israel nada é, se comparada à escuridão que Israel fez descer sobre Gaza.

A hora é hoje, para perguntar as perguntas que – ninguém duvide – serão perguntadas depois, então, é claro, desgraçadamente tarde demais. E quem é o traidor? Quem decidiu em nosso nome que fazer essa guerra seria patriotismo, ou quem diga que fazer essa guerra é trair Israel? Só seriam patriotas os militares, os nacionalistas, os chauvinistas que, sim, há em Israel? Só esses? Só eles? Terão alguma franquia proprietária, sobre o patriotismo? Ou, talvez, serão patriotas os judeus norte-americanos da extrema-direita? Aqueles que entram em delírio orgiástico cada vez que Israel põe-se a matar e destruir? Quem decide sobre patriotismo? Não será o caso de ver que o terrível dano que Israel está sofrendo, por causa dessa guerra, é, esse sim, a maior de todas as traições?

Já cobri outras guerras. No inverno de 1993, vi Sarajevo sitiada e vi lá o que nunca havia visto em Israel. Até que começou a guerra de Gaza. Nunca conseguirei esquecer uma velha, bósnia, escavando a terra com os dedos, à procura de alguma raiz para comer. Não esquecerei o pânico, nas ruas, para escapar dos tiros, a bomba que destruir o mercado, a música que vinha de um rádio velho, numa noite de nuvens pesadas, de dentro da escuridão, em plena cidade sitiada: "La ultima noche." A última noite. No verão passado cobri a guerra da Georgia, vi refugiados correndo, com seus miseráveis pertences, tentando encontrar algum abrigo, qualquer abrigo, os olhos duros, cheios de medo e de ódio. Naquelas duas guerras senti-me distante, afastado, dessensibilizado, como correspondente de guerra que vive de uma guerra para a outra, para outra. Naquelas guerras, não éramos cúmplices, nem eu era cúmplice, nem meus filhos eram cúmplices, nem os amigos dos meus filhos eram cúmplices de um crime.

Então, foi fácil, para mim, emocionalmente e relativamente fácil, naquele caso, cobrir a guerra, escrever sobre ela. Hoje e aqui, não. Hoje e aqui se trava a minha guerra, nossa guerra, guerra pela qual todos os israelenses somos responsáveis, e pela qual todos somos culpados.

Indispensável, inadiável, para todos os israelenses fazer ouvir a nossa voz, uma voz diferente, "alucinatória", talvez, para ouvidos dessensibilizados, insensíveis, voz que soa como "traição", de "ódio aos judeus". Uma voz diferente. Uma voz que diz "Não!" a essa guerra. É mais do que direito meu, direito nosso; é nosso absoluto dever em relação ao Estado ao qual estamos tão visceralmente ligados. Vai-se ver, somos nós, sou eu, o canalha patriota.

Vida Vegetariana...

Creche de Portugal adota o vegetarianismo como dieta e ensina crianças a cuidar de uma horta orgânica

www.vidavegetariana.com

Todo mundo sabe o quanto é importante adquirir hábitos saudáveis de alimentação desde a infância para se ter boa saúde ao longo da vida. Isso é o que acontece na cooperativa de ensino Vela Verde da cidade de Alfragide, em Portugal, em que o ovo-lacto-vegetarianismo é praticado.


Crianças entre 3 e 5 anos de idade aprendem a pôr a mesa, cuidar da horta orgânica da cooperativa e, as vezes, chegam a cozinhar.

"Consideramos que não há recursos alimentares suficientes no mundo para se comer tanta carne e tanto peixe. É bom que as crianças conheçam, desde pequenas, alternativas que sejam tão válidas em termos nutritivos", explica Lusa Margarida Zoccoli, mãe e uma das fundadoras da Vela Verde.

A creche da cooperativa, que funciona há 9 anos, surgiu com a dificuldade que os pais enfrentavam para encontrar uma instituição que tivesse uma filosofia de sustentabilidade.

Das 25 crianças que alí passam o dia, apenas uma é vegetariana. Mas segundo Lusa, elas passam a adaptar-se aos legumes, verduras e aceitam, sem problemas, a dieta vegetariana praticada. "Eu antigamente não gostava de couve, mas agora papo", conta João, de quatro anos, durante o almoço, em que até repetiu a salada.

Na Vela Verde, a carne e o peixe são substituídos por outras proteínas animais (ovos, leite e queijo), proteínas vegetais (tofu, seitan e soja) e proteínas que se encontram nas leguminosas (feijão, grão, lentilhas). Esta opção alimentar está também ligada a outros aspectos pedagógicos articulados, diz Lusa.

Ali, cada ano letivo "começa do zero". No jardim-de-infância as crianças já percebem que há coisas que é preciso ajudar a fazer, então marcam num mapa as tarefas de cada um, como pôr a mesa ou tratar da horta. "A aprendizagem das crianças é feita em contexto real. Por exemplo, não é vamos brincar na horta, mas sim vamos fazer uma horta", explica.

Dar continuidade em casa ao que se passa dentro da sala de aula é um dos objetivos da comunicação diária entre a escola e os pais, por e-mail, telefone ou através do sumário do dia que os meninos ajudam a escrever e é afixado na porta da sala.

A comunicação até passa pelo intercâmbio de receitas. "Temos percebido que muitas famílias estão a adotar um regime alimentar idêntico ao da escola. Ajudamos as pessoas a encontrarem alternativas que não sabem onde estão", conclui Lusa.

Jazz de Shirley Scott...

Shirley Scott - Lean on me

Lean on Me álbum da organista Shirley Scott lançado em 1972 pela Cadet Records, jazz suave e pirante ótima pedida para uma quarta primaveril quente.
O disco conta com a participação de vários jazzman's que contribuem muito para que uma sonzeira fina seja feita, destaco entre eles o baterista Idris Muhammad.

Drums - Idris Muhammad

Engineer - Steve Katz
Flute, Saxophone [Alto] - J. Daniel Turner
Guitar - Roland Prince
Organ - Shirley Scott
Saxophone [Tenor] - George Coleman


01. Lean on me
02. Royal love
03. Smile
04. Funky blues
05. By the time i get to Phoenix
06. How insensitive
07. You can't mess around with love
08. Carla's dance

...Bon Voyage!
ao som de Shirley Scott

causa palestina...

Irã pede apoio do Brasil em julgamento contra Israel


O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta sexta-feira (9) uma carta enviada por seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na qual lhe pede apoio para julgar Israel em uma corte internacional por "crimes de guerra" cometidos na Faixa de Gaza, informaram fontes oficiais.


O documento foi entregue pelo ministro iraniano de Assuntos Cooperativos, Mohammad Abbassi, ao assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, confirmaram porta-vozes da Presidência.

A carta também exige o cessar-fogo imediato em Gaza, a retirada do Exército israelense e a reabertura dos acessos à ajuda humanitária na região, explicou Abbassi em entrevista coletiva realizada na embaixada iraniana. O enviado iraniano disse que o "Holocausto real aconteceu hoje em Gaza", recolheu a Agência Brasil.

Abbassi foi também recebido pelo ministro de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que visitará Israel, a Autoridade Nacional Palestina, Síria e Jordânia entre os próximos domingo e terça-feira.

As autoridades brasileiras reafirmaram a Abbassi a posição do Governo sobre a necessidade de aumentar os esforços por um "cessar-fogo imediato" e pela facilitação da distribuição de ajuda humanitária entre as vítimas palestinas.

Em sua viagem ao Oriente Médio, Amorim se reunirá com representantes dos Governos da região para tentar intensificar suas gestões diplomáticas para encontrar uma saída pacífica às hostilidades.

O ministro ligou para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, para o da Liga Árabe, Amre Moussa, e para seus colegas de Estados Unidos, França, Egito, Turquia, Síria, Espanha e Suíça.

A iniciativa partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou duramente a Organização das Nações Unidas (ONU) por sua falta de "coragem" para resolver o conflito, o que, assegurou, se deve ao poder de veto dos EUA no Conselho de Segurança.

O Israel prosseguiu em sua ofensiva em Gaza após rejeitar o chamado do Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo na faixa, onde o número de mortos se aproxima de 800 ao cumprir-se hoje duas semanas de guerra.

Fonte: G1