Resumen Latinoamericano - Entrevista a Jorge Armando Gómez, coordenador da área de Trabalho Regional do Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomeu de Las Casas
Ainda
que o governo mexicano afirme que no país se combate a violência
paramilitar, um passeio pelo estado de Chiapas mostra o contrário. Esses
grupos financiados, armados e treinados com dinheiro do Executivo com a
manutenção de instrutores do Exército, ainda estão em atividades. Se
bem que a sua presença é mais disfarçada e esporádica que na década de
90, mas continuam armados e ameaçando as comunidades indígenas com o
pretexto de barrar o “avanço Zapatista”.
Sobram
provas das atividades dos paramilitares: assassinatos; massacres como
ocorreu no povoado de Acteal em 1997; os roubos das colheitas e do gado é
um tema comum na conversa quando se percorre as comunidades. Todos os
habitantes sabem que estão aí, esperando novamente uma ordem para
desenterrar as armas e cometer toda a classe de delitos. Quem vive nas
comunidades estão conscientes que as diferentes instâncias
governamentais mantém uma cumplicidade de muitos anos com o
"paramilitarismo".
Entrevistado pelo Resumen Latinoamericano, Jorge Armando Gómez, coordenador da área do Trabalho Regional do Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomeu de Las Casas (Frayba,
sigla em espanhol) falou sobre a atualidade em Chiapas, a presença
paramilitar – agora disfarçada em "organizações civis" – a cumplicidade
dos governos com esses grupos, e o rumo que a maioria da classe política
busca para o México: A "colombinização"do país através do Plano Mérida.
Conhecido internacionalmente, a Frayba leva a cabo um trabalho sistemático desde 1998 coletando informações e denunciando os crimes, tanto de paramilitares como do Exército. Quem lê algum dos seus informes anuais (www.frayba.org.mx), encontrará com uma situação crítica em Chiapas, onde a criminalização das manifestações estão na ordem do dia, enquanto as comunidades indígenas resistem há anos toda classe de abusos. - Qual é a atual situação em Chiapas com respeito ao paramilitarismo, sobretudo, em relação com as comunidades indígenas?
Para falar dos grupos
paramilitares temos que ver os antecedentes. Esses se criaram como uma
experiência da Secretaria de Defesa Nacional para certas regiões de
Chiapas, onde – segundo documentos – o Exército identificava para onde
ia a expansão da influência zapatista. Na zona que diretamente estava
identificada como zapatista, foi aplicada a militarização. Eles
cometeram milhares de crimes que violam os Direitos Humanos:
desaparições, violações, além de muitos despejos.
Isso
começou em 1995, sobretudo, na zona norte do Estado (Chiapas), nos
municípios de Tila, Sabanilla, Salto de Agua e até a parte dos Altos de
Chiapas. A ponta do iceberg culminou no massacre de Acteal em 1997. Como
isso é uma estratégia criada a partir da Secretária de Defesa Nacional
ela vai se modificando, então se o EZLN (Exército Zapatista de
Libertação Nacional) foi caminhando mais por uma via civil e pacífica,
tiveram que modificar a estratégia. Logo, todos os grupos paramilitares
começaram a se esconder nas organizações civis, no entanto, ainda
existem como também nunca foram desarmados, assim eles se tornaram quase
"institucionais". Ao que agora se dedicam a ameaçar as comunidades, as
organizações e principalmente as brases civis do EZLN.
-Esses grupos paramilitares tiveram treinamento direto do Exército mexicano?
-Nós documentamos que eles tinham fortes vínculos com o comandante de toda a região que vai de Tuxtla (capital de Chiapas) até Tabasco. Foram eles quem forneceram ensinamentos, as armas e o dinheiro. Para isso utilizaram os recursos dos programas federais e estaduais, então é todo um desenho de funcionários que operam nesta lógica. Também os prefeitos atuaram nesta lógica.
-Uma das
justificativas da existência do paramilitarismo, por parte do discurso
oficial, foi o suposto conflito entre as próprias comunidades indígenas.
Tanto os paramilitares como o governo apresentam outras razões para
justificar a violência que está sendo levada a diante?
Essa é a razão que buscam ocultar o conflito. Esses grupos atuam movidos por funcionários do governo, sempre terminamos documentando quem são os funcionários e de onde vem as linhas de mando para ameaçar. O que melhor se argumenta é que são conflitos comunitários e, desta forma, o Estado nega que são eles que estão por trás desta estratégia. É o que nós chamamos de "estratégia integral de contra insurgência", que é a militarização do Estado, a criação dos grupos paramilitares para semear o terror, como também toda a ação das políticas de cooptação e divisão das comunidades.
-Qual a quantidade dos grupos paramilitares que a Frayba pode registrar nestes últimos anos?
Houve mudanças, mas temos informes da Frayba no qual foram documentados todos os grupos. Um dos mais fortes era o Movimento Indígena Revolucionário Antizapatista (MIRA), que se formava na parte de "Las Cabanas" na zona onde está mais militarizado. Outros grupos são os " Los Chinchulines" na zona de Chilón, e os " Máscaras Rojas" (Máscaras Vermelhas) que se identificam na zona dos Altos de Chiapas. Mas, houve mudanças nesta estratégia e esses grupos foram sendo "institucionalizados"
O que mais
aconteceu, e que nós fomos monitorando nos últimos três ou quatro anos,
foi que esses grupos se uniram, formaram alianças territoriais e tem a
mesma lógica de expansão e ocupação que os militares. Há uma organização
chamada Organização para a Defesa dos Direitos Indígenas e Camponeses
(OPDDIC, sigla em espanhol), que se fundiu com a "MIRA" e "Los
Chinchulines", então a OPDDIC cresceu muito na zona de "Las Cabanas" e
chega até a zona norte de Chilón. Outra organização é Paz e Justiça, que
são todos paramilitares mas sempre foi uma "organização civil", que no
interior tinha um grupo paramilitar. Paz e Justiça ainda existe e tem
sua sede na cidade de Palenque. Por outro lado, a parte mais radical
deste grupo se dividiu e foi para a zona norte.
-Como vocês analisam o fato de que o paramilitarismo recruta gente das próprias comunidades indígenas?
Esse é um
dos grandes desafios que temos. É lamentável porque esta é a parte
psicológica da estratégia de contra insurgência: semear o terror e a
divisão nas comunidade. O bonito, o maravilho, a grande riqueza e o
aporte histórico que tem os povos indígenas deram ao nosso país e a
América Latina foi o sentido comunitário da vida, da luta e da
esperança. O governo busca destruir o coração do tecido comunitário para
encher de medo e ódio. Esse é um crime contra a humanidade. Então o que
está acontecendo? As comunidades estão divididas, cheias de ódios e
rancores, medos presentes nesses povoados, medo de se organizar; a
palavra "organização", em algumas partes que foram mais atingidos pelos
paramilitares, gera medo. Mas temos que ir recuperando o sentido da
esperança que eles quebraram. Isso é o mais forte, ver como o governo
destrói o sentido da esperança que é destruir o sentido final da
humanidade. Mas os povos vem resistindo mais de quinhentos anos a muitas
guerras dolorosas, as estratégias de extermínios, então é um capítulo
mais e nós temos a esperança que vamos seguir. O aporte histórico dos
povos indígenas foi conseguir seguir apesar de tudo isso.
-A
Freyba teve algum registro de que os paramilitares foram treinados
diretamente, ou tiveram algum contato com a Central de Inteligência
estado-unidense (CIA, sigla em inglês) ou com o Exército
norte-americano?
Os grupos paramilitares
não, pois a CIA dava assessoria diretamente aos militares mexicanos,
logo, os militares já operam a estratégia. Não temos registros de que
eles tenham entrado nos povoados, mas, a partir de 1994, o México
começou a enviar a todos os seu altos militares a Escola de Guerra da
América. Aí se formaram todos os altos militares que depois estiveram em
Chiapas. Sim, sabemos da presença dos agentes da CIA no México. O ano
passado, a organização que desclassifica os arquivos de segurança
nacional dos Estados Unidos, revelou um documento que eram cabais aos
seus enviados no México. Esta é uma clara demonstração de que ele
estiveram presentes aqui, além de toda assessoria e educação em contra
insurgência dos militares mexicanos que foi dada pelo Exército dos
Estados Unidos.
-Como a Freyba vê o futuro da presença paramilitar e militar em Chiapas?
Nós estamos vendo que o
México está indo no caminho da Colômbia, isto é, está se
"colombinizando". Os políticos são cada vez mais cínicos ao se referir
que temos que ir por esse rumo. Nós previmos isso quando começaram a
monitorar como se estivesse dando tudo certo. Cada vez está mais claro e
os políticos são bastante cínicos até o ponto de dizer que temos que
aplicar o Plano Colômbia, como agora está o Plano Mérida (que é uma
coisa parecida). Isso está crescendo, o que aconteceu em Chiapas está
acontecendo em todo o país, e vemos que está ficando cada vez mais duro,
Isso está acontecendo porque o sistema político mexicano está quebrado,
debilitado, deslegitimado e cada vez há mais conflitos sociais por
todas as partes. Com um governo, representante do Estado, tão debilitado
não está ficando outra alternativa, a não ser aplicar a força.
Isso ficou
nítido na mudança de presidente quando o Vicente Foz deu lugar ao Felipe
Calderón. Calderón entrou com uma aliança com os militares, deram muito
dinheiro para eles, isso ficou claro nos pressupostos. Chegou assim a
militarizar as polícias, retirou os soldados do Exército para enviá-los a
Polícia Federal, que é a encarregada de fazer a repressão, por exemplo,
como ocorreu em Atenco e em Oaxaca. Este foi o único recurso que sobrou
ao governo, isto é, bater na população, e ao seguir batendo eles
acreditam que estão fortalecendo sua legitimidade. Ao contrário, estão
se deslegitimando ainda mais. Logo, temos dois cenários: o que está
pasmado e com medo, e o que está se organizando e lutando.
Nós
alimentamos uma grande esperança, pois é a experiência e o aprendizado
que, como Frayba, temos dos povos indígenas em Chiapas. Diante de tanta
dor e sofrimento sempre está a esperança, que é o último que se perde.
Neste cenários vemos, mas com muita esperança, porque também exite
muitos movimentos sociais no México. Invisíveis aos grandes veículos de
informação, mas seguem existindo, ao passo que existe muita comunicação
feita "desde abajo". E "desde abajo"(desde de baixo) vamos construindo e
sabemos que há muitos companheiros e companheiras, organizações e
coletivos, famílias, comunidades... e por aí vamos caminhar.
Fonte: Rebelión
Traduzido para o Diário Liberdade por Paulo Gustavo Roman
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Paramilitares em Chiapas: uma estratégia da Secretaria de Defesa mexicana
"Cuba passa por “mudanças relevantes”, diz escritor Leonardo Padura, crítico do regime
“Um segundo, por favor, Leonardo acaba de entrar em
casa”. Silêncio, vozes ao fundo e um chiado no telefone. A voz de
Leonardo Padura Fuentes surge doce e logo de início ele já pede
desculpas pela falha na ligação: “É época de muita chuva aqui em Havana,
teremos alguns problemas na linha”. Padura é cubano, nasceu em 1955,
trabalhou quinze anos como jornalista e depois de 1995 conseguiu dedicar
mais tempo à literatura.
A entrevista completa encontra-se no sitio OperaMundi
“Considero-me um sujeito feliz, consigo sobreviver da literatura, que é o que gosto, ainda faço alguns artigos como jornalista, mas é pouca coisa”, declara o escritor. Seus romances, protagonizados pelo detetive cubano Mario Conde, renderam-lhe diversos prêmios locais e no exterior, entre eles, duas vezes o Prêmio Internacional Dashiell Hammett de melhor romance policial em língua espanhola.
“Considero-me um sujeito feliz, consigo sobreviver da literatura, que é o que gosto, ainda faço alguns artigos como jornalista, mas é pouca coisa”, declara o escritor. Seus romances, protagonizados pelo detetive cubano Mario Conde, renderam-lhe diversos prêmios locais e no exterior, entre eles, duas vezes o Prêmio Internacional Dashiell Hammett de melhor romance policial em língua espanhola.
Opera Mundi
Padura: Cuba seguiu variante “tropical” do stalinismo, de “baixa intensidade”
“Esse reconhecimento é uma honra para qualquer escritor, aqui em
Cuba principalmente”, afirma Padura. “O país vem crescendo culturalmente
nos últimos anos, politicamente também, apesar da situação econômica
delicada, mas é um momento promissor para a arte e literatura.”
O criador de Mário Conde não esconde sua satisfação com as notícias recentes sobre a libertação de dissidentes. “Acredito que é um passo muito importante e benéfico para Cuba, e muito provavelmente outros virão”, ressalta. “O mais interessante é que são mudanças relevantes, mas que não alteram o sistema cubano. O país precisa disso.”.
Padura é um crítico do governo comunista. Suas opiniões sobre os problemas econômicos e políticos do cotidiano são o tempero dos livros que escreve. Não se alinha, porém, com os grupos de oposição. “Precisamos de reformas que destravem a economia e a burocracia”, ressalta. “Não se trata de andar para trás ou jogar fora as conquistas.”
O escritor lamenta que a revolução cubana tenha copiado, em muitos aspectos, o modelo soviético, com excessiva centralização do Estado. Mas registra que seu país seguiu uma variante “tropical” do stalinismo, de “baixa intensidade”. “Não somos uma sociedade reprimida, mas controlada”, analisa. “Há forças vivas e criativas capazes de impulsionar mudanças sem destruição.”
Padura destaca que, com o colapso do socialismo no leste europeu, nos anos noventa, Cuba passou a viver uma primavera cultural. Proibições e limites para a atividade artísticas caíram, segundo o escritor. “Claro que as dificuldades econômicas afetaram a produção de livros e filmes, por exemplo. Mas passamos a viver um clima de liberdade e tolerância”, ressalta.
Todos os seus livros foram publicados, sem restrição ou censura. Também tem o direito de viajar irrestritamente ao exterior. “Meu passaporte, como os dos meus colegas, tem visto de saída válido por dois anos”, afirma. “Vou para onde quiser, ninguém mais me pergunta ou controla.”
Gênese
Foi nesse novo ambiente que nasceu a literatura de Padura Fuentes. O escritor lidera a renovação do gênero policial cubano e se destacou principalmente com a tetralogia As quatro estações, composta de Paisagem de outono (ainda não traduzido no Brasil), Passado perfeito, As máscaras e Ventos de Quaresma, livros editados no Brasil pela Companhia das Letras.
O personagem central, Mario Conde, é policial que vive em Cuba e passa por várias situações que o aproximam de seu inventor. “Mario Conde é meu velho companheiro, tem a minha idade e estudou nos mesmos lugares que eu. A diferença é a profissão. Aliás, como está nos livros, ele gostaria de ser escritor”, diverte-se.
Mario Conde é um anti-herói, não resiste a uma mulher bonita e não vive sem seu rum, a aguardante dos cubanos. “Seu método não é científico, mas baseado em sua inteligência, em suas fobias, em suas manias, em seus erros, que o levam a comandar uma investigação mais pelo olfato que pelos fatos, mais pelo instinto que pela certeza oferecida pelos laboratórios criminais”, orgulha-se de sua criação.
Além dos traços de personalidade, Padura não esconde que utiliza Mario Conde para expressar questionamentos próprios sobre o país em que vive. “Se fosse explicar a uma pessoa que nunca ouviu falar de Cuba, seria uma das maiores dificuldades, precisaria de muitas páginas. Cuba é um país complexo, difícil de explicar para quem vive fora e até para quem vive dentro”.
Padura chama seus livros de “falsos policiais”, porque são um pretexto, um meio para chegar a um fim que não é a descoberta do assassino. Nos livros existem muitas outras perguntas, e quase todas se referem a uma Cuba atual. “Uso o romance policial como um veículo de indagação social.”
Leia também:
Opinião: Cuba é uma ditadura?
Obama erra ao continuar política de Bush na América Latina
O caso dos Cinco Cubanos: a justiça americana como arma política
Guantánamo já consumiu US$ 500 milhões desde atentados do 11/9, diz jornal
Além do gênero policial, o escritor estreou recentemente no romance histórico. O homem que amava os cachorros, livro publicado em 2009 na Espanha, aguardado para setembro nas livrarias cubanas e ainda sem previsão de edição no Brasil, reconta a história dos últimos anos de Leon Trotsky, até seu assassinato.
A obra parte do encontro de Ivan, um jovem cubano, com um espanhol que passeava seus cachorros, em 1977. Esse homem misterioso, doente e abandonado, aos pouco vai entregando sua identidade: Ramón Mercader, o assassino de Trotsky, que passou vinte anos preso no México antes de imigrar para a União Soviética e refugiar-se na ilha caribenha em meados dos anos setenta. Depois de sua morte, em 1978, o corpo foi levado secretamente para Moscou com o nome de Ramón Ivanovich Lopez.
Padura, no momento, dedica-se a um novo romance, o sétimo protagonizado por Mario Conde, que mistura três espaços temporais: a Holanda no século xvii, cenário de uma história que envolve a figura e a obra de Rembrandt; Cuba do período entreguerras e Cuba atual.
Uma família judia é o fio condutor, da qual é membro o personagem central do romance, refugiado político. Um assassinato ocorrido nos anos trinta permeia a narrativa, levando o detetive Mario Conde a reabrir o arquivo do crime nos tempos atuais. “O país mudou muito no século xx, e isso é uma das questões que quero explorar”, conta Padura. “O conceito de liberdade está por trás da trama.”
Assim que terminar este romance, o escritor cubano pretende vir ao Brasil. “Nunca visitei o país, me encantaria conhecê-lo”, declara. “Aliás, posso eu fazer uma pergunta? Quem ganha as eleições presidenciais em outubro?”
O criador de Mário Conde não esconde sua satisfação com as notícias recentes sobre a libertação de dissidentes. “Acredito que é um passo muito importante e benéfico para Cuba, e muito provavelmente outros virão”, ressalta. “O mais interessante é que são mudanças relevantes, mas que não alteram o sistema cubano. O país precisa disso.”.
Padura é um crítico do governo comunista. Suas opiniões sobre os problemas econômicos e políticos do cotidiano são o tempero dos livros que escreve. Não se alinha, porém, com os grupos de oposição. “Precisamos de reformas que destravem a economia e a burocracia”, ressalta. “Não se trata de andar para trás ou jogar fora as conquistas.”
O escritor lamenta que a revolução cubana tenha copiado, em muitos aspectos, o modelo soviético, com excessiva centralização do Estado. Mas registra que seu país seguiu uma variante “tropical” do stalinismo, de “baixa intensidade”. “Não somos uma sociedade reprimida, mas controlada”, analisa. “Há forças vivas e criativas capazes de impulsionar mudanças sem destruição.”
Padura destaca que, com o colapso do socialismo no leste europeu, nos anos noventa, Cuba passou a viver uma primavera cultural. Proibições e limites para a atividade artísticas caíram, segundo o escritor. “Claro que as dificuldades econômicas afetaram a produção de livros e filmes, por exemplo. Mas passamos a viver um clima de liberdade e tolerância”, ressalta.
Todos os seus livros foram publicados, sem restrição ou censura. Também tem o direito de viajar irrestritamente ao exterior. “Meu passaporte, como os dos meus colegas, tem visto de saída válido por dois anos”, afirma. “Vou para onde quiser, ninguém mais me pergunta ou controla.”
Gênese
Foi nesse novo ambiente que nasceu a literatura de Padura Fuentes. O escritor lidera a renovação do gênero policial cubano e se destacou principalmente com a tetralogia As quatro estações, composta de Paisagem de outono (ainda não traduzido no Brasil), Passado perfeito, As máscaras e Ventos de Quaresma, livros editados no Brasil pela Companhia das Letras.
O personagem central, Mario Conde, é policial que vive em Cuba e passa por várias situações que o aproximam de seu inventor. “Mario Conde é meu velho companheiro, tem a minha idade e estudou nos mesmos lugares que eu. A diferença é a profissão. Aliás, como está nos livros, ele gostaria de ser escritor”, diverte-se.
Mario Conde é um anti-herói, não resiste a uma mulher bonita e não vive sem seu rum, a aguardante dos cubanos. “Seu método não é científico, mas baseado em sua inteligência, em suas fobias, em suas manias, em seus erros, que o levam a comandar uma investigação mais pelo olfato que pelos fatos, mais pelo instinto que pela certeza oferecida pelos laboratórios criminais”, orgulha-se de sua criação.
Além dos traços de personalidade, Padura não esconde que utiliza Mario Conde para expressar questionamentos próprios sobre o país em que vive. “Se fosse explicar a uma pessoa que nunca ouviu falar de Cuba, seria uma das maiores dificuldades, precisaria de muitas páginas. Cuba é um país complexo, difícil de explicar para quem vive fora e até para quem vive dentro”.
Padura chama seus livros de “falsos policiais”, porque são um pretexto, um meio para chegar a um fim que não é a descoberta do assassino. Nos livros existem muitas outras perguntas, e quase todas se referem a uma Cuba atual. “Uso o romance policial como um veículo de indagação social.”
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Além do gênero policial, o escritor estreou recentemente no romance histórico. O homem que amava os cachorros, livro publicado em 2009 na Espanha, aguardado para setembro nas livrarias cubanas e ainda sem previsão de edição no Brasil, reconta a história dos últimos anos de Leon Trotsky, até seu assassinato.
A obra parte do encontro de Ivan, um jovem cubano, com um espanhol que passeava seus cachorros, em 1977. Esse homem misterioso, doente e abandonado, aos pouco vai entregando sua identidade: Ramón Mercader, o assassino de Trotsky, que passou vinte anos preso no México antes de imigrar para a União Soviética e refugiar-se na ilha caribenha em meados dos anos setenta. Depois de sua morte, em 1978, o corpo foi levado secretamente para Moscou com o nome de Ramón Ivanovich Lopez.
Padura, no momento, dedica-se a um novo romance, o sétimo protagonizado por Mario Conde, que mistura três espaços temporais: a Holanda no século xvii, cenário de uma história que envolve a figura e a obra de Rembrandt; Cuba do período entreguerras e Cuba atual.
Uma família judia é o fio condutor, da qual é membro o personagem central do romance, refugiado político. Um assassinato ocorrido nos anos trinta permeia a narrativa, levando o detetive Mario Conde a reabrir o arquivo do crime nos tempos atuais. “O país mudou muito no século xx, e isso é uma das questões que quero explorar”, conta Padura. “O conceito de liberdade está por trás da trama.”
Assim que terminar este romance, o escritor cubano pretende vir ao Brasil. “Nunca visitei o país, me encantaria conhecê-lo”, declara. “Aliás, posso eu fazer uma pergunta? Quem ganha as eleições presidenciais em outubro?”
Pedofilia e assassinato em massa
Os Estados
Unidos estão indignados. Em menos de duas semanas vieram a público
documentos secretos, alias altamente secretos, acusando os militares do
país de pedofilia e de assassinatos em massa de civis.
Que o digam as populações do Iraque, Paquistão, Afeganistão e por que não, Palestina.
O governo quer saber quem foi ou foram os responsáveis.
E a mídia repercute.
Bobagem.
Claro que o governo mostra indignação.
E claro que todos sabemos que os documentos secretos foram divulgados pelo próprio governo.
Essa é
uma das formas que Obama encontrou para deixar de ser refém das
empresas privadas que hoje controlam todo o serviço de informação do
país.
Se vai dar certo, ou não, o tempo dirá.
Obama sabe que ele pode ser a próxima vítima.
Não
porque seja muito diferente dos Bush( há sim uma pequena diferença), mas
porque, ao contrario de seus antecessores, ele se recusa a dar carta
branca aos criminosos que dizem defender os Estados Unidos.
Pedofilia e assassinato em massa.
É a democracia Ocidental e Cristã em sua plenitude.
Frase mágica que os Estados Unidos sempre utilizaram para ocupar e saquear países.
Inclusive nas maltratadas Américas.
Nós, mais velhos, nem precisamos recorrer à História.
Todos conhecemos o sabor da Democracia Ocidental e Cristã.
Era a época do prendo e arrebento.
Ditaduras eram semeadas em nome da Democracia Ocidental e Cristã.
E com apoio da mídia.
Lembram?
Quando o cheiro de cavalo era preferível ao do povo.
Esse povo estúpido que não sabe votar, que prefere iletrados a doutores.
Ah, esses doutores que já esgotaram seu estoque de sais e de rapés.
Que não podem ver um macacão que se arrepiam todos.
Mas a História é implacável e caminha sempre para a frente.
O Império treme.
Já dizia alguém que ele não passava de um tigre de papel.
E essa previsão está se confirmando.
E acreditem, seus dentes atômicos serão a sua ruína.
Já era mais do que hora.
Os oprimidos e explorados agradecem.
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