terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cannonball Adderley with Bill Evans - Know What I Mean? (1962)

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Cannonball Adderley with Bill Evans - Know What I Mean? (1962)
MP3 / 320Kbps / Cover / RS.com: 119mb / 5% File Recovery


Músicos:
Cannonball Adderley, alto saxophone
Bill Evans, piano
Percy Heath, bass
Connie Kay, drums

Faixas:
1. Waltz For Debby (5:15)
2. Goodbye (6:15)
3. Who Cares? [Take 5] (5:57)
4. Who Cares? [Take 4] (5:55)
5. Venice (2:55)
6. Toy (5:09)
7. Elsa (5:52)
8. Nancy (With The Laughing Face) (4:08)
9. Know What I Mean? [Re-Take 7] (4:54)
10. Know What I Mean? [Take 12] (7:01)

Downloads abaixo:


Part 1
Part 2

Ai dos que crêem no Império

Ainda que muito breve, a guerra entre Geórgia e Rússia revelou algo chocante para o pensamento convencional. Menos de vinte anos após vencerem a Guerra Fria, os EUA já perderam a condição de poder mundial solitário. Na verdade, deixaram até mesmo de ser superpotência...

Immanuel Wallerstein


O mundo assistiu a uma mini-guerra no Cáucaso este mês. A retórica, embora apaixonada, foi muito irrelevante. A geopolítica é uma série gigantesca de jogos de xadrez a dois, nos quais os jogadores buscam vantagens de posição. Nestes jogos, é crucial saber as regras que permitem os movimentos. Cavalos não podem mover-se em diagonal.

De 1945 a 1989, o principal jogo de xadrez era jogado entre os Estados Unidos e a União Soviética. Era conhecido como Guerra Fria, e as regras básicas eram chamadas “Yalta”. A mais importante delas dizia respeito à linha que dividia a Europa em duas zonas de influência. Foi chamada por Winston Churchill de “Cortina de Ferro” e ia de Stettin a Trieste. A regra era: não importava quanto conflito fosse provocado na Europa pelos peões, eles não deveriam provocar uma guerra real entre os Estados Unidos e a União Soviética. E ao fim de cada episódio de conflito, as peças deveriam retornar para os postos de onde haviam saído. Esta regra foi observada meticulosamente até o colapso do comunismo em 1989, episódio marcado notoriamente pela destruição do muro de Berlim.

É perfeitamente claro, como todo o mundo observou na época, que as regras de Yalta foram revogadas em 1989, e que o jogo entre os Estados Unidos e a Rússia (a partir de 1991) mudou radicalmente. O maior problema desde então é que os Estados Unidos não compreenderam bem as novas regras. Eles proclamaram a si próprios — e foram proclamados por outros — a superpotência solitária. Em termos de regras de xadrez isto foi interpretado como se os estivessem livres para mover-se pelo tabuleiro da forma que bem entendessem. E, em particular, para trazer os antigos peões soviéticos para sua esfera de influência. Sob o governo Clinton, e de forma mais espetacular sob o de George Bush, os Estados Unidos foram levando o jogo dessa forma.

Havia um único problema: os Estados Unidos não eram a superpotência solitária; e sequer, uma super-potência. O fim da Guerra Fria fez com que deixassem de ser uma das duas superpotências, para se tornarem um Estado forte, em uma redistribuição verdadeiramente multilateral de poder real, no sistema inter-estatal. Muitos países grandes são agora capazes de jogar os seus próprios jogos de xadrez sem ter de pedir licença às duas super-potências de outrora. E eles começaram a fazer isso.

Derrotada a União Soviética, Clinton age para conquistar seus peões e ampliar a OTAN. Mas o grande delírio veio com Bush, que renegou acordos, invadiu o Iraque e quis controlar a Ásia Central

Duas grandes decisões geopolíticas foram tomadas nos anos de Clinton. Primeiro, os Estados Unidos forçaram bastante, e foram relativamente bem-sucedidos, para incorporar os antigos satélites soviéticos do Leste Europeu à OTAN. Tais países estavam ansiosos por este ingresso, ainda que os Estados-chave da Europa Ocidental — Alemanha e França — relutassem de algum modo. Percebiam que a manobra norte-americana também os transformava em alvo, ao limitar a liberdade de ação geopolítica que recém haviam adquirido.

A segunda decisão estratégica norte-americana era tornar-se parte ativa nos realinhamentos de fronteiras na antiga República Federal da Iugoslávia. Isto levou-os a sancionar — e reforçar, com suas tropas — a secessão de facto do Kosovo em relação à Sérvia.

Mesmo sob Yeltsin, a Rússia sentia-se descontente com estas duas iniciativas geopolíticas norte-americanas. No entanto, a desordem politica e econômica naqueles anos era tão grande que o máximo que podiam fazer era reclamar — deve-se dizer que de um modo um tanto débil...

George W. Bush e Vladimir Putin assumiram o poder mais ou menos simultaneamente. Bush decidiu levar adiante as táticas da potência solitária (em que os Estados Unidos decidem por si mesmos como mover suas peças) com muito mais audácia do que Clinton havia feito. Em 2001, recuou do tratado anti-mísseis assinado com a União Soviética, em 1972. Depois, anunciou que os Estados Unidos não se prontificariam a ratificar os novos tratados assinados por Clinton em 1996; o Tratado de supressão dos testes nucleares [Compreensive Test Ban], e as mudanças acordadas para o tratado de desarmamento nuclear SALT II. Para completar, comunicou que Washington manteria seu projeto de militarização do espaço, conhecido como "escudo anti-mísseis".

E, é claro, Bush invadiu o Iraque em 2003. Como parte deste envolvimento, os Estados Unidos vislumbraram e obtiveram direitos às bases militares e de sobrevôo nas repúblicas da Ásia Central — que anteriormente faziam parte da União Soviética. Além disso, promoveram a construção de óleodutos e gasodutos que procuravam tornar desnecessários os sistemas russos. E finalmente entraram em acordo com a Polônia e a República Tcheca para estabelecer pontos de defesa de mísseis, sob alegação de defesa contra o Irã. A Rússia, porém, os viu como voltados contra si.

Duas causas imediatas explicam a guerra. Diante da independência do Kosovo, a Rússia reivindicou direitos iguais. E, sem exército, Saakshvilli acreditou no conto do poder unilateral de Washington

Putin estava disposto a resistir com mais força que Yeltsin. Como jogador prudente, porém, ele se preocupou primeiro em fortalecer sua base, restabelecendo a autoridade central e revigorando o aparato militar russo. Neste período, as marés da economia mundial mudaram, e a Rússia tornou-se de repente um rica e poderosa controladora de reservas e linhas de abastecimento de petróleo e gás natural, dos quais os países ocidentais dependem fortemente.

O presidente russo começou começou a agir. Negociou acordos com. Manteve relações próximas com o Irã. Começou a pressionar os Estados Unidos para fora das bases militares na Asia Central. E se posicionou firmemente contra a extensão da OTAN em duas zonas estratégicas: Ucrânia e Geórgia.

O colapso da União Soviética deflagrou movimentos separatistas em diversas de suas antigas repúblicas, inclusive a Geórgia. Quando, em 1990, a Geórgia buscou acabar com o status de autonomia das zonas étnicas não-georgianas, estas imediatamente proclamaram-se Estados independentes. Não foram reconhecidos, mas a Rússia garantiu sua autonomia.

As causas imediatas para a mini-guerra destes dias têm dupla origem dupla. Em fevereiro, Kosovo institucionalizou sua autonomia de facto. Este movimento foi apoiado por e reconhecido pelos Estados Unidos e por boa parte dos países europeus. A Rússia alertou, na época, que a lógica deste movimento aplicava-se igualmente às secessões de facto nas antigas repúblicas soviéticas. Na Geórgia, a Rússia agiu imediatamente, pela primeira vez, reconhecendo a independência de jure da Ossétia do Sul, em resposta direta aos fstos em Kosovo, Em abril, os Estados Unidos propuseram, durante reunião da OTAN, que a Geórgia e a Ucrânia fossem recebidas, em um plano de adesão chamado Membership Action Plan. Alemanha, França, e o Reino Unido opuseram-se a isso, alegando que seria uma provocação à Rússia.

Neoliberal e fortemente pró-Washington, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, estava agora desesperado. Ele deu-se conta de que a reafirmação da autoridade georgiana na Ossétia do sul (e na Abkházia) poderia perder-se para sempre. Aproveitou-se de um momento em que a Rússia estava supostamente desatenta (Putin, agora primeiro-ministro nas Olimpíadas; o presidente Dmitri Medvedev de férias) para invadir a Ossétia do Sul. Seu exército fracassou completamente, como era de esperar. Mas Saakashvili imaginou que estivesse forçando a mão dos EUA (aliás, da Alemanha da França também).

Como nota irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas dos Estados Unidos na coalizão no Iraque, retirou todos os 2 mil soldados que ainda mantinha por lá

Ao invés disso, ele teve uma resposta imediata da força militar russa, que esmagou a pequena armada georgiana. De George W. Bush, obteve retórica. Mas afinal de contas, o que Bush poderia fazer? Os Estados Unidos não são uma super-potência. Suas forças armadas estão atoladas em duas guerras sem perspectivas no Oriente Médio. E, mais importante que tudo, eles precisam muito mais da Rússia do que o contrário. O ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, frisou, num artigo publicado pelo Financial Times, que a Rússia é um "parceiro do Ocidente no Oriente Médio, Irã e Coréia do Norte”.

A Rússia também controla, em essência, o abastecimento de gás da Europa Ocidental. Não por acaso, foi o presidente Sarkozy da França — e não Condolezza Rice — quem negociou a suspensão do conflito. No acordo firmado entre os dois países, a Geórgia faz duas concessões essenciais. Compromete-se em não mais utilizar a força contra a Ossétia do Sul, e aceita um documento que não faz nenhuma referência a sua integridade territorial.

A Rússia saiu, portanto, muito mais forte que antes. Saakashvili apostou tudo o que tinha e está agora geopoliticamente falido. Como nota irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas dos Estados Unidos na coalizão no Iraque, retirou todos os 2 mil soldados que ainda mantinha por lá. Estas tropas jogaram um papel importante nas áreas xiitas, e agora precisam ser substituídas por tropas norte-americanas, que terão que deixar outras áreas.

Quem joga o xadrez geopolítico precisa conhecer suas regras. Do contrário, corre o risco de ficar emparedado.

Evo organiza nova ofensiva para derrotar a direita boliviana


Convencidos de que é necessário fazer uma leitura correta dos resultados do referendo de 10 de agosto, o presidente Evo Morales e os movimentos sociais sabem que a direita ferida de morte precisa ser totalmente derrotada para que não se recupere.


Por Hugo Moldiz, para La Época



Duas semanas depois de ter conseguido a histórica vitória no referendo, com apoio de 68% de todo o país, Evo decidiu se apoiar mais na força do povo e em sua mobilização para enfrentar os planos desestabilizadores da ultra-direita. Assim, o governo vai em busca de ter uma nova Constituição, da reapropriação da autonomia e do estabelecimento de uma nova forma de distribuição dos recursos do Estado.


A determinação foi mais do que oportuna para responder a uma contra-ofensiva que a direita busca concretizar, depois de sua derrota na consulta popular, através de um plano de desestabilização que contém métodos violentos, econômicos e jurídicos que devem ser radicalizados a partir desta segunda-feira (25).


Sem partidos tradicionais, as classes dominantes, comandadas pelas burguesias agro-exportadoras, encontraram nos comitês cívicos e na mídia os instrumentos para resistir ao processo de mudanças e para golpear, nos planos político, físico e simbólico, o presidente Evo e seu projeto emancipador.


Os comitês cívicos de cinco estados da chamada "meia-lua" (Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e a cidade de Sucre) mudaram de tática: deixaram de lado as greves de fome, as paralisações de 24 horas e o bloqueio de estradas para executar um plano orientado a partir do domínio de instituições públicas, campos petroleiros e a suspensão do envio de carne e outros produtos para o ocidente boliviano.

A essas ações – até agora rechaçadas pela população – foram somados atos de violência realizados por grupos paramilitares, que nos últimos dias vitimaram dirigentes e militantes de movimentos sociais, além de policiais que cumpriam seu trabalho.


E é isso o que o governo deve parar. Os movimentos sociais exigiram no último sábado, na reunião que tiveram com o presidente Evo. Acordou-se que todas as forças políticas e sociais se unirão para aprofundar o processo de mudanças e derrotar a direita fascista que agoniza a cada dia.


Governo e movimentos sociais aprovaram a linha de avançar até a aprovação, a partir de um novo referendo, da nova Constituição Política do Estado e a recuperação da bandeira da autonomia que a direita utilizou muito bem em seus objetivos desestabilizadores.


A Constituição aprovada em dezembro passado pelo Assembléia Constituinte deixa para trás o Estado monocultural e reconhece o caráter plurinacional da formação social boliviana, amplia a democracia representativa com a incorporação de formas de democracia direta e comunitária, enfatiza o papel ativo do Estado na economia nacional, respeita a propriedade privada à medida que cumpra uma função econômico-social, proíbe a instalação de bases militares estrangeiras em território nacional e contém uma ampla quantidade de direitos sociais para crianças, jovens e anciãos como nunca antes ocorreu em 183 anos de história republicana.


O projeto de Constituição reconhece quatro tipos de autonomia: departamental (estadual), regional, indígena-camponês e municipal, características que deixam para trás a proposta elitista que quer apenas uma autonomia departamental.

O governo expressou seu desacordo com autonomia departamental a partir do critério de que esta reproduz o centralismo que tanto se critica, por burocratizar e impedir o acesso dos municípios e das comunidades indígenas aos recursos, além de lhes restringir a democracia.


Apoiados em sua vitória em 95 das 112 províncias do país, o governo e os movimentos sociais adotaram, além disso, a decisão de avançar até a eleição de conselheiros e subprefeitos em todo o país.

Nessa mesma linha, o governo e os movimentos sociais ratificaram no sábado que os recursos do Estado devem ser distribuídos com esses critérios, e que todos os níveis de governo devem aportar a sustentabilidade das medidas sociais postas em marcha em dois anos e meio de gestão, como a Renda Dignidade, que favorece a anciãos com o pagamento de 3.000 bolivianos ao ano.

Essa linha de trabalho, cujo mandato já se manifestou positivamente no referendo de 10 de agosto, se traduzirá em uma ofensiva em todos os cenários, desde os parlamentares até o social, e contará, sobretudo, com a unidade férrea que o presidente convocou para garantir a revolução boliviana.

Tradução: Fernando Damasceno,