sábado, 15 de setembro de 2007

O império e a mentira

Fidel Castro Ruz


REAGAN foi o criador da Fundação Nacional Cubano-Americana, cujo sinistro papel no bloqueio e no terrorismo contra Cuba se conheceria anos depois quando o governo dos Estados Unidos revelou documentos secretos, embora ainda cheios de desavergonhados riscos. Se os tivéssemos conhecido antes, nossa conduta não mudaria.

Quando em 30 de março de 1981 chegou a Cuba a notícia que Reagan tinha sido vítima de um atentado, com disparos de arma de pequeno calibre lhe enviamos uma mensagem expressando-lhe nossa condena ao fato. Uma bala de chumbo calibre 22 alojou-se num de seus pulmões, provocando-lhe riscos e sofrimentos pessoais. A mensagem aparece na conversa que por instruções precisas teve o então Ministro das Relações Exteriores, Isidoro Malmierca, com Wayne Smith, Chefe da Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana.

A seguir parágrafos literais da conversa entre ambos:

“ISIDORO MALMIERCA: Convocamo-lo e recebemo-lo por encargo expresso do Presidente Fidel Castro. Ele me pediu que lhe explicasse, primeiramente, que soubemos pela informação que o senhor nos ofereceu através do diretor Joaquín Mas a respeito do atentado feito ao presidente Reagan. Por outro lado queremos também em nome do Presidente Fidel Castro, expressar-lhe quão grandemente lamentamos esse fato e nossa esperança, nossos votos porque o presidente Reagan possa se recuperar deste atentado no menor tempo possível.

“WAYNE SMITH: Muito obrigado.

“ISIDORO MALMIERCA: Recebemos informações a respeito do atendimento médico que recebe. Inicialmente o senhor também recebeu informação de que pareciam mais simples as conseqüências do atentado, mas parece que é ainda mais grave, que está sendo submetido a uma intervenção cirúrgica.

“WAYNE SMITH: Sim. Nós temos a impressão que já foi operado, contudo agora estão a dizer pela rádio que a operação recém começa, é possível que saia, digamos, daqui à uma hora. Quer dizer, uma operação de três horas não é nada simples e ainda mais num homem de 70 anos. Dizem que não há perigo. Eu interpreto isso como que o perigo não é imediato. Porém num homem de 70 anos uma operação de três horas é séria. Contudo dizem que sua situação não é grave, que é estável. Esperamos que tudo saia bem. Agradeço seus votos, interesse e a mensagem do Presidente Fidel Castro.

“ISIDORO MALMIERCA: Em Washington também o senhor Frechette se dirigiu à Seção de Interesses de Cuba e nos ofereceu dados sobre esta situação. Explicou que você recebeu informação a respeito disso. Bom, repito-lhe que o Presidente Fidel Castro encarregou-me pessoalmente de que conversasse com o senhor e lhe expressasse nossos votos de que o Presidente Reagan possa se recuperar rapidamente das conseqüências do atentado.

“WAYNE SMITH: Muito obrigado. Meu Deus! Que difícil é isto. O Presidente Kennedy foi assassinado em Dallas e segundo parece o responsável pelo atentado a Reagan é de Dallas. Agora mora em Colorado, mas é de Dallas. Sei lá o que...

“ISIDORO MALMIERCA: Eu li nuns cabogramas que nasceu perto de Denver, a 30 quilômetros de Denver.

“WAYNE SMITH: Sei lá. Um de meus cônsules aqui no Escritório me disse que ele ouviu pela radio que é um cara que estudou na mesma escola com ele. Nem sei, talvez durante alguns anos residiu em Dallas.

“ISIDORO MALMIERCA: Dizem que são três irmãos, filhos dum homem que se dedica aos negócios de petróleo.

“WAYNE SMITH: Seu pai, sim. Ele é um cara de 22 anos, que estudou na universidade de Yale, mas há pouco deixou os estudos. Talvez seja um ressentido, um jovem que fracassou e atuou por sentimento. Falando com toda franqueza, alegro-me de que seja um cara como ele e não, digamos, um porto-riquenho ou algo assim, que poderia provocar implicações políticas.

“ISIDORO MALMIERCA: As especulações sobre motivações políticas para fazer isso.

“WAYNE SMITH: Sim, isso permitiria inegavelmente estimular, alentar interpretações políticas. Um jovem branco, de Colorado, Texas; é muito difícil fazer interpretações políticas.

“ISIDORO MALMIERCA: Inclusive algumas informações da polícia dizem que é um homem que atuou sozinho, que não está ligado a nenhum grupo...

“WAYNE SMITH: Sim, deve ter sido um louco ou fã, aproximar-se tanto do Presidente... Bom, foi capturado rapidamente. Sacou sua pistola e atirou...

“ISIDORO MALMIERCA: Brady morreu?”

“WAYNE SMITH: Não.

“ISIDORO MALMIERCA: Diziam que ele tinha morrido.

“WAYNE SMITH: É verdade. Houve informações de que sim, que tinha morrido, mas ultimamente disseram que não, que está muito grave, mas ainda não morreu. Imagino que se fosse de calibre 45 sim era de morte, mas de calibre 22 tem certas possibilidades... contudo parece que recebeu a bala na cabeça, evidentemente na cabeça... Isso não é nada bom, não há muitas esperanças.

“ISIDORO MALMIERCA: Um balaço na cabeça, de qualquer calibre, é algo muito grave.

“WAYNE SMITH: Brady está muito grave. Poderia sobrevier, mas em estado vegetativo.

ISIDORO MALMIERCA: Lamento que nossa entrevista tenha sido provocada por um fato tão lamentável.

“WAYNE SMITH: Agradeço seus votos. Enviarei imediatamente um cabograma para informar meu governo de nossa conversa. Rogo-lhe transmita ao Presidente Fidel Castro meu agradecimento.

Não faço nenhum comentário. A versão de Malmierca, redigida imediatamente depois do encontro, fala por si própria. Wayne Smith é atualmente um firme lutador contra o bloqueio e as agressões a Cuba.

Porém aqui não acaba a história de nossa conduta para com o Presidente de um país que desde os dias de Einsenhower elaborou centenas de planos para me eliminar fisicamente.

Uma informação entregue de maneira muito confidencial no verão de 1984 a um oficial responsável pela segurança dos representantes cubanos na ONU alertava sobre um plano de atentado contra o presidente Ronald Reagan, que organizava um grupo de extrema direita em Carolina do Norte. Ao ter conhecimento dela, decidimos informar imediatamente as autoridades norte-americanas. Nosso oficial sugeriu entregá-la através de Robert C. Muller, chefe de segurança da missão dos Estados Unidos perante as Nações Unidas, com o qual tínhamos contacto para a proteção de delegações cubanas que visitavam o organismo internacional.

O atentado seria em data muito próxima aproveitando a vista de Reagan à Carolina do Norte, fazendo parte da campanha para sua reeleição no cargo.

A informação estava completa; oferecia os nomes dos envolvidos no plano; dia, hora e lugar onde teria lugar o magnicídio; tipo de armamento que possuíam os terroristas e lugar onde guardavam as armas; além disso, o lugar de reunião dos elementos que estavam planejando a ação e um breve resumo do conversaram nessa reunião.

A informação foi entregue no encontro com Muller em um edifício localizado na rua 37 e a Terceira Avenida, a dois quarteirões do edifício da missão cubana.

Ofereceram-lhe todos os detalhes conhecidos, garantindo que ficasse bem esclarecido o mais importante, quais os nomes dos envolvidos, lugar, hora e tipo de armamento que seria utilizado por eles.

No fim do intercâmbio, nosso oficial comunicou-lhe que recebeu instruções do governo de Cuba de fazê-lo com urgência, e que tinha sido selecionado por nós porque sabíamos que era um profissional nos problemas de segurança.

Muller leu o escrito por ele para se assegurar de que não havia alterado e que estavam todos os elementos importantes.

Interessou-se pela fonte, e disseram-lhe que era segura. Expressou que o serviço secreto precisaria de se entrevistar com os funcionários cubanos. Contestaram-lhe que não havia problema com isso.

Aproximadamente às quatro horas e meia da tarde desse dia, os agentes do Serviço Secreto reuniram-se com a representação cubana.

A entrevista teve lugar no apartamento 34-F, no andar 34 de um complexo de edifícios chamado Ruppert Towers, que se localiza na rua 92 entre Terceira e Segunda Avenida, na parte alta de Manhattan.

Os agentes eram dois homens jovens, brancos, com o cabelo bem curto, vestidos de terno. Seu objetivo era examinar principalmente o que Mulher lhes disse, pois traziam em suas mãos cópia do cabograma que ele lhes dera. Ao comprovar o conteúdo do cabograma foi-lhe garantido que não faltava nada.

Os agentes do Serviço Secreto queriam conhecer quem tinha oferecido a informação e como foi que a mesma chegou a nosso poder. Receberam a mesma resposta que Muller. Também se interessaram em saber se era possível ampliá-la, e lhe comunicamos que se chegava algo novo o receberiam de imediato.

Eles deixaram seu cartão de visita e pediram que ligássemos para eles diretamente se conhecíamos mais algum dado adicional, explicaram que não era preciso fazê-lo através de Muller.

Segunda-feira seguinte pudemos conhecer que o Bureau Federal de Investigações tinha capturado um grupo de pessoas na Califórnia do Norte as quais tinham várias acusações, nenhuma delas, logicamente, relacionadas com um atentado ao Presidente Reagan, quem viajou a esse Estado como parte programa da campanha de reeleição ao cargo de Presidente.

Antes que transcorreram quatro ou cinco dias da detenção, no fim dessa própria semana, Muller ligou para a Missão e convidou o funcionário cubano a almoçar, o que fizeram no restaurante para Delegados das Nações Unidas. O primeiro que fez foi pedir que trasladasse ao governo de Cuba o agradecimento do governo dos Estados Unidos pela informação oferecida, e informou que tinham operado contra o grupo de envolvidos. Um lutador antiterrorista cubano salvou a vida dum Presidente dos Estados Unidos!

Alguma imprensa norte-americana faz referência a um diário íntimo de mais de 700 páginas de apontamentos pessoais de Reagan, desde sua posse até a entrega do mando a Bush (pai), tentando fazer ver que seu governo não foi tão agressivo contra Cuba.

Contudo, segundo contam Robert McFarlane, nessa altura Vice-secretário de Estado subordinado a Alexander Haig, afirmou em suas memórias: “De todos os governos que tem lidado com Fidel Castro desde 1959, o de Reagan parecia o menos adequado para dialogar com o regime comunista de Cuba”.

Talvez Reagan experimentasse algum agradecimento tanto por nossa preocupação quando foi vítima do atentado, em 1981, quanto pelo aviso que lhe salvou a vida perante um perigo eminente, e agradeceu-o através de Robert C. Muller.

Reagan foi quem subscreveu com Cuba o primeiro acordo migratório, mas não podia escapar de seu entorno, porque outros ainda mais à direita do que ele o eliminavam fisicamente, mesmo como fizeram com Kennedy depois que conheceu o terrível risco de uma guerra termonuclear. Reagan, sem dúvida, mudou sua política com Cuba num ano eleitoral, não cumpriu o acordo assinado que fixou a entrega de até 20 mil vistos por ano para viagens seguras, ao outorgar menos de mil, e manteve a chamada Lei de Ajuste que tantas vidas cubanas tem custado.

Em 11 de setembro de 2001 no vizinho país teve lugar um verdadeiro caos. Durante muito tempo os aeroportos proibiram as aterrisagens. Um incalculável número de vôos com passageiros estava no ar. Eram as notícias que transmitiam os meios de difusão maciça em Nova York. Informava-se que milhares de vítimas em Nova York, entre elas o pessoal que trabalhava nas Torres Gêmeas, bombeiros e visitantes. Também se falou a respeito das pessoas que iam num avião de passageiros lançado contra o Pentágono. Oferecemos o envio de sangue segura procedente de doadores habituais se fosse necessário nalgum caso. A doação de sangue é uma tradição da Revolução cubana há muito tempo.

Coincidiu casualmente com o dia em que tínhamos convocado às seis horas das tarde quase 15 mil estudantes de nível superior e graduados universitários, porque íamos reinaugurar a escola “Salvador Allende”, onde 3.599 jovens começariam os estudos superiores para se prepararem com métodos novos e provados a fim de exercer como professores do ensino primário.

Hoje faz seis anos daquele doloroso episódio. Sabe-se atualmente que houve desinformação deliberada. Não me lembro de ter ouvido falar nesse dia de que nos sótãos dessas torres, em cujos andares superiores radicavam bancos de multinacionais junto a outros escritórios, estavam guardadas perto de 200 toneladas de barras de ouro. A ordem de disparar a morte contra todo aquele que tentara se aproximar do ouro. Os cálculos sobre estruturas de aço, impactos de avião, caixas negras encontradas e o que as mesmas revelavam não se ajustam aos critérios de matemáticos, sismólogos, especialistas em informação e especialistas em demolição, etc., etc.. O mais dramático é a informação de que possivelmente jamais possamos conhecer o que realmente aconteceu. Consta não obstante que várias pessoas que viajavam de New Jersey a São Francisco, conversaram com familiares quando já a nave aérea estava sob controle de indivíduos alheios a sua tripulação normal.

Fazendo a análise do impacto de aviões similares ao que se projetou contra as torres, caídos por acidente em cidades densamente povoadas, chegamos à conclusão que nenhum avião se estrelou sobre o Pentágono e que só um projétil pôde provocar o orifício geometricamente redondo que criou o suposto avião em dita instalação. Também não aparece algum passageiro que tivesse morrido ali. Ninguém no mundo tinha dúvidas sobre as noticias recebidas de um ataque ao edifício do Pentágono. Fomos enganados mesmo como os habitantes do resto do planeta.

Quando falei na Cidade Esportiva naquele 11 de setembro, entre outras considerações fiz referência à tragédia dos Estados Unidos. Para não incluir o discurso completo, tirei parágrafos textuais do mesmo:

[...] Não pensávamos suspender o ato, não podia ser suspenso, apesar da tensão internacional criada pelos acontecimentos. Imagino que muitos os conheçam; mas em essência consistiram em que, aproximadamente às 9h:00, um Boeing, dos grandes, colidiu diretamente contra um dos prédios da famosa torre de Nova Iorque, um dos mais altos do mundo, que tem duas edificações. Como é natural, começa os incêndios com todo o combustível que leva um desses aviões grandes; começam a acontecer cenas terríveis, e 18 minutos depois outro avião, também duma empresa aérea norte-americana, atacou e colidiu diretamente contra a outra parte da torre.

Ao mesmo tempo, uns minutos mais tarde, outro avião se estrela contra o Pentágono. Chegam notícias, em meio de certa confusão, de uma bomba frente ao Departamento de Estado e outros acontecimentos alarmantes, embora mencionei os mais importantes.

Evidentemente, o país tinha sido vítima de um ataque violento e surpreendente, inesperado, inusitado, uma coisa verdadeiramente insólita, que deu lugar a acontecimentos impressionantes, fundamentalmente quando ardiam as duas torres, e sobretudo, quando as duas desabaram, com seus 100 andares, sobre outras edificações vizinhas, e sabia-se que lá trabalhavam dezenas de milhares de pessoas em diversos escritórios que representam numerosas empresas de diversos países.

Era lógico que aquilo produzisse uma comoção nos Estados Unidos e no mundo, as bolsas de valores começaram a derrubar-se, e pela importância política, econômica, tecnológica e o poder dos Estados Unidos, hoje o mundo estava comovido com aqueles acontecimentos que foi necessário acompanhar durante o dia todo, ao mesmo tempo que da nossa parte se mantinha a atenção sobre as condições e as circunstâncias em que seria realizado este ato.

Portanto, há dois temas: a escola e seu importantíssimo curso, e a catástrofe de tipo político e humano que tinha acontecido, fundamentalmente em Nova Iorque.

[...] Hoje é um dia de tragédia para os Estados Unidos de América. Vocês sabem muito bem que aqui jamais se tem semeado ódio pelo povo norte-americano. Talvez, precisamente por sua cultura e por sua falta de complexos, ao sentir-se totalmente livre, com pátria e sem amo, Cuba seja o país onde se trate com mais respeito aos cidadãos americanos. Nunca predicamos nenhum gênero de ódios nacionais, nem coisas parecidas ao fanatismo, por isso somos tão fortes, porque nossa conduta a baseamos em princípios e em idéias, e tratamos com grande respeito —e eles percebem isso— a cada cidadão norte-americano que visita nosso país.

Além disso, não esquecemos o povo americano que pôs fim à guerra de Vietnã com sua enorme oposição àquela guerra genocida; não esquecemos o povo americano que, em número superior a 80% apoiou o regresso de Elián para nossa pátria (Aplausos); não esquecemos quanto idealismo, perturbado muitas vezes pelo engano, porque —como já dizemos muitas vezes— para conseguir que um americano apóie uma causa injusta, uma guerra injusta, primeiro há que o enganar e o método clássico utilizado na política internacional desse enorme país é o método de enganar primeiro, para depois contar com o apoio da população. Quando acontece ao contrário e seu povo descobre que alguma coisa é injusta por sua tradição de idealismo, opõe-se a aquilo que esteve apoiando, muitas vezes, causas muito injustas, convencidos de que o que estava apoiando era justo.

Por isso nós —que sabemos não o número exato, mas que assistimos cenas impressionantes de sofrimentos e possíveis vítimas— temos sentido dor profunda e tristeza pelo povo norte-americano, fiéis à linha que temos seguido sempre.

Não estamos louvando governos, nem pedindo perdões, nem favores, nem nos nossos peitos se albergam nem sequer um átomo de temor. A história da Revolução tem demonstrado qu± o capaz é de desafiar, qu± o capaz é de lutar, de resistir o que tenha que resistir, o que nos tornou um povo invencível. Esses são nossos princípios, uma Revolução baseada em idéias, na persuasão e não na força.

A nossa reação foi a que disse, e quisemos que nosso povo pudesse assistir as cenas e contemplasse a tragédia. Não hesitamos em expressar publicamente nosso sentimento. Aqui temos uma declaração que foi entregue à imprensa internacional por volta das 15h:00, redigida logo que foram conhecidos os fatos, enquanto nossa televisão estava engajada na divulgação dos acontecimentos. Seria comunicada ao nosso povo no noticiário da noite.

Adianto-me aqui alguns minutos para que conheçam a Declaração Oficial do Governo de Cuba, perante os fatos acontecidos nos Estados Unidos.

"O governo da República de Cuba recebeu com dor e tristeza as notícias sobre os ataques violentos e surpreendentes realizados hoje de manhã contra instalações civis e oficiais nas cidades de Nova Iorque e Washington, que provocaram numerosas vítimas.

"Não é possível esquecer que nosso povo tem sido vítima durante mais de 40 anos da tais ações promovidas desde o próprio território dos Estados Unidos.

"Tanto por razões históricas quanto por princípios éticos, o Governo de nosso país rejeita e condena com toda energia os ataques realizados contra as referidas instalações e exprime suas mais sinceras condolências ao povo americano pelas dolorosas e injustificáveis perdas de vidas humanas que provocaram os referidos ataques.

"Nesta hora amarga para o povo americano, nosso povo solidariza-se com o povo dos Estados Unidos e exprime sua total disposição de cooperar, na medida de suas modestas possibilidades, com as instituições sanitárias e com qualquer outra instituição de caráter médico ou humanitário desse país, no atendimento, cuidado e reabilitação das vítimas ocasionadas pelos fatos acontecidos na manhã de hoje".

Embora não se saiba se são 5 000, 10 000, 15 000. 20 000 as vítimas, sabe-se que só nos aviões que foram colididos contra as torres, ou contra o Pentágono, viajavam centenas de passageiros, e oferecemos o que podíamos se fizesse falta.

Esse é um país que tem um grande desenvolvimento científico, médico, recursos; mas há momentos em que pudesse fazer falta sangue de um grupo específico, plasma — ou qualquer outro produto que nós possamos doar o que faríamos gostosamente—, ou apoio médico, ou de pessoal paramédico, porque sabemos que muitos hospitais têm défice de determinados técnicos e profissionais. Resumindo, o que queríamos era expressar nossa atitude e nossa disposição com respeito a estes trágicos acontecimentos.

[...] Os seqüestros aéreos, método inventado contra Cuba, tornaram-se uma praga universal, e foi Cuba que afinal resolveu esse problema quando, depois de ser advertido reiteradamente, devolvemos aos Estados Unidos a dois dos seqüestradores, é doloroso, eram cidadãos cubanos, mas o advertimos, vieram e os enviamos, cumprimos com a palavra pública; mas nunca, nem sequer depois nos deram notícias para seus familiares. Têm seu modo de agir. Ninguém sabe. Sei que foram condenados a 40 anos, e aquilo foi o que pôs fim ao seqüestro de aviões.”

[...] Nenhum dos atuais problemas do mundo podem ser resolvidos pela força, não há poder global, nem poder tecnológico, nem poder militar que possa garantir a imunidade total contra tais fatos, porque podem ser ações de grupos reduzidos, difíceis de descobrir

É muito importante saber qual vai ser a reação do Governo dos Estados Unidos. Possivelmente venham dias perigosos para o mundo, não estou falando de Cuba, Cuba é o país que mais tranqüilo está no mundo, por várias causas: por nossa política, por nossas formas de luta, por nossa doutrina, nossa ética, e para além, companheiras e companheiros, pela ausência total do temor.

Nada os inquieta, nada nos intimida. Seria muito difícil fabricar uma calúnia contra Cuba, não seria acreditada nem por aquele que a inventasse e fizesse a patente, é muito difícil; e Cuba não é hoje qualquer coisa neste mundo (Aplausos), tem uma posição moral muito grande e uma posição política muito sólida.

[...] Os próximos dias vão ser tensos dentro dos Estados Unidos e fora dele começaram a emitir opiniões não se sabe quantas pessoas.

[...] Lhes sugeriríamos àqueles que dirigem o poderoso império que sejam serenos, que tentem agir com equanimidade, que não se deixem arrastar por impulsos de ira ou de ódio, nem se lancem a caçar pessoas lançando bombas pro todo o lado.

Reitero que nenhum dos problemas do mundo, nem o do terrorismo, podem ser resolvidos pela força, e cada ação de força, cada ação disparatada do uso da força, em qualquer parte, agravaria seriamente os problemas do mundo.

O caminho não é a força, nem a guerra. Digo-o aqui com toda a autoridade de ter falado sempre com honradez, possuir convicções sólidas e a experiência de ter vivido os anos de luta que Cuba tem vivido. Só a razão, a política inteligente de procurar a força do consenso e a opinião pública internacional pode arrancar de vez o problema. Julgo que este fato tão insólito deveria servir para criar a luta internacional contra o terrorismo, mas a luta internacional contra o terrorismo não se resolve eliminando um terrorista por aqui e outro lá, usando métodos semelhantes e sacrificando vidas inocentes. Resolve-se pondo termo, entre outras coisas, ao terrorismo de Estado e outras formas repulsivas de matar (Aplausos); pondo termo aos genocídios, seguindo lealmente uma política de paz e de respeito pelas normas morais e legais que são ineludíveis. O mundo não tem salvação se não segue uma linha de paz e de cooperação internacional.

[...] Nós temos demonstrado que podemos sobreviver, viver e progressar, e tudo o que cá se mostra hoje é uma expressão de um progresso sem paralelo na história (Aplausos). Não se progressa apenas produzindo automóveis, progressa-se desenvolvendo inteligências, administrando conhecimentos, criando cultura, atendendo aos seres humanos como eles devem ser atendidos, que é o segredo da enorme força de nossa Revolução.

Não tem salvação o mundo por outras vias, e estou me referindo neste caso às situações de violência. Procure-se a paz em todas partes para proteger a todos os povos contra essa praga do terrorismo, que é uma das pragas, porque hoje há outra terrível praga que se chama, por exemplo, AIDS; há outra praga terrível que mata a dezenas de milhões de crianças, adolescentes e pessoas no mundo por fome, doenças e por falta de assistência e medicamentos.

No terreno político há idéias absolutistas, pensamento único que se lhe trata de impor ao mundo, e promovem rebeldias e irritações por todas partes.

Este mundo não se salva –e isto não tem nada a ver com o terrorismo- se continua se desenvolvendo ou se aplicando esta ordem econômica e social injusta que conduz ao mundo para a catástrofe, para um caminho do qual não poderiam fugir os 6 200 milhões nem os futuros filhos dos habitantes que hoje tem este planeta, que está sendo cada vez mais destruído e conduzido à pobreza, ao desemprego, à fome e ao desespero. Isso o demonstram as massas nos diversos lugares já históricos como Seattle, Quebec, Washington, Génova.

As lideranças mais poderosas da economia e da política mundial já quase não podem se reunir; as pessoas cada vez têm menos medo, estão se sublevando, o que pode ser constatado em todas partes. Há pouco estive em Durban, e ali vi milhares de pessoas pertencentes às Organizações Não Governamentais; vê-se crescer como a escuma o descontentamento no mundo. [...]

Quão enorme diferença entre a conduta do governo de Cuba e a do governo dos Estados Unidos! A Revolução, que se baseia na verdade, e o império, que se baseia na mentira!


(Traduzido pela Equipe de Serviços de Tradutores e Intérpretes do Conselho de Estado — ESTI)


ZECA BALEIRO - Lado Z

Lado Z é a coletânea fantástica do consagrado cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro que reúne algumas de suas participações em projetos de outros artistas. Produzido por Marco Mazzola, o repertório traz 15 faixas, incluindo duetos com Lobão, Rolando Boldrin, Martinho da Vila, Forróçacana, Fagner, entre outros. Destaques para "Meu Coração Está de Luto", "Forró no Malagueta" e "Da Teresinha a São Luís". Vale a pena conferir!

Copiado de: NewBrasilMidia


Faixas

  • 1. Eu, Você e a Praça

  • 2. Tristeza Pé no Chão

  • 3. Uma Delicada Forma de Calor - Part.: Lobão

  • 4. Na Subida do Morro - Part.: Jards Macalé

  • 5. Das Dores de Oratório

  • 6. Salve a Mulatada.... - Part.: Martinho da Vila

  • 7. Não Tenho Tempo - Part.: Raimundo Fagner

  • 8. Menino Jesus

  • 9. Da Teresinha a São Luís - Part.: Tião Carvalho

  • 10. Meu Coração Está de Luto

  • 11. Roda Morta

  • 12. Onde Anda Iolanda - Part.: Rolando Boldrin

  • 13. Radiografia - Part.: Vanessa Bumagny

  • 14. Forró no Malagueta - Part.: Forróçacana

  • 15. Coro das Velhas - Bônus - Part.: Sérgio Godinho

ELIS REGINA - Discografia

Nasceu em Porto Alegre, e desde os 11 anos se apresentava na Rádio Farroupilha, cantando. Fez parte do elenco fixo da emissora, onde trabalhou por algum tempo. Em 1959 assinou o primeiro contrato profissional, na Rádio Gaúcha, e no ano seguinte foi para o Rio de Janeiro, onde gravou o primeiro compacto, pela Continental. A mesma gravadora em 1961 lançou seu primeiro LP, "Viva a Brotolândia", com calipsos e rocks. Em seguida voltou para Porto Alegre, onde ficou até 1964, quando regressou definitivamente para o Rio. Cantou no Beco das Garrafas, reduto da bossa nova, onde teria aprendido com o bailarino americano Lennie Dale a célebre coreografia que lhe valeu o apelido de "Hélice Regina". Contratada pela TV Rio, passa a trabalhar ao lado de Jorge Ben, Wilson Simonal e outros. Tornou-se conhecida nacionalmente em 1965, ao sagrar-se vencedora do I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, defendendo a música "Arrastão", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Em seguida gravou "Dois na Bossa" ao lado de Jair Rodrigues, com tal êxito que nos anos seguintes foram lançados os volumes 2 e 3. Foi ao lado de Jair que apresentou um dos programas musicais mais importantes da música brasileira, O Fino da Bossa, estreado em 1965 na TV Record. O programa foi o responsável pelo lançamento de diversos artistas e sucessos, como "Canto de Ossanha" (Baden Powell/ Vinicius de Moraes), "Louvação" (Gilberto Gil/ Torquato Neto) e "Lunik 9" (Gil). A partir daí a carreira solo de Elis decola. Seu disco "Elis", de 1966, traz "Canção do Sal", de Milton Nascimento, gravado aí pela primeira vez. Elis foi a primeira intérprete a gravar músicas de alguns compositores que se tornariam consagrados, como Milton, Ivan Lins ("Madalena"), Tavito/ Zé Rodrix ("Casa no Campo") e Belchior ("Como Nossos Pais"). Participou de festivais e de movimentos político-musicais, como a "passeata contra as guitarras", que visava à preservação das "raízes" da MPB contra a invasão estrangeira. Intensificou sua carreira no exterior em 1969, ano em que fez show nas principais capitais européias e latino-americanas. Um de seus discos mais marcantes, "Elis e Tom" (com Tom Jobim), foi gravado em 1974 nos Estados Unidos, onde também tornou-se popular. No ano de 1979 participou do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e gravou um de seus maiores sucessos, "O Bêbado e a Equilibrista", de Aldir Blanc e João Bosco, dupla que lhe forneceria inúmeros sucessos, como "Caçador de Esmeraldas", "Mestre-sala dos Mares", "Dois pra Lá, Dois pra Cá". Outras interpretações que entraram para a história foram "Upa, Neguinho" (Edu Lobo/ G. Guarnieri), "Águas de Março" (Tom Jobim), "Ponta de Areia" (Milton Nascimento/ Fernando Brant), "Folhas Secas" (Nelson Cavaquinho/ Guilherme de Brito) e "Romaria" (Renato Teixeira). Depois de sua morte, em 1982, decorrente de overdose de drogas, foram lançados discos com gravações inéditas e coletâneas. Foi homenageada em 1995 no prêmio Sharp de música. Seus filhos João Marcelo Bôscoli (com Ronaldo Bôscoli) e Pedro Camargo Mariano (com César Camargo Mariano) também são músicos.

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NEY MATOGROSSO - Vivo (320Kbps)

FAIXAS

01 Mulher Barriguda
02 Com a Boca No Mundo
03 Miséria No Japão
04 Vira-Lata de Raça
05 Novamente
06 Poema
07 Mesmo Que Seja Eu
08 Faço de Tudo
09 A Balada Do Cachorro Louco (Fere Rente)
10 O Vira
11 Exagerado
12 Bomba H
13 O Último Dia
14 A Cara Do Brasil
15 Sangue Latino
16 Rosa de Hiroshima
17 Balada Do Louco
18 Homem Com H
19 Pro Dia Nascer Feliz
20 Metamorfose Ambulante

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PARTE 1 --- PARTE 2

CrackDown 2.2


Programa que faz procura de Cracks e Seriais para Programas pagos, muito bom, sem ter nenhum risco de pegar virus entrando em sites hackers, e duvidosos. Esse eu recomendo!
Copiado de: Baixenet

Só para lembrar.......

Revés em Gaza para a doutrina Bush
Ali Abunimah [*]

Tomada dos serviços de segurança palestinos em Gaza. A dramática derrota em Gaza das milícias apoiadas pelos EUA e por Israel, infligida pela forças leais ao Hamas, representa um enorme revés para a doutrina Bush na Palestina.

Antecedentes

Desde que o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas nos territórios ocupados, em Janeiro de 2006, elementos da liderança do movimento Fatah, há muito dominante, incluindo o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas e seus conselheiros, conspiraram com Israel, os Estados Unidos e os serviços de inteligência de vários Estados árabes para derrubar e enfraquecer o Hamas. Este apoio incluiu canalizar armas e dezenas de milhões de dólares para incontáveis milícias, particularmente a "Força de Segurança Preventiva" encabeçada em Gaza pelo senhor da guerra Mohammad Dahlan , um aliado próximo de Israel e dos Estados Unidos e pertencente à "Guarda Presidencial" de Abbas. O vice-conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Elliott Abrams — o mesmo que ajudou a desviar dinheiro para os Contras da Nicarágua na década de 1980 e que foi condenado por mentir ao Congresso no escândalo Irão-Contra — liderou o esforço para montar estes Contras palestinos. (Este antecedente foi extensamente pormenorizado em numerosos artigos publicado nos últimos meses por The Electronic Intifada ). Abrams também é conhecido por ter ajudado a encobrir massacres e atrocidades cometidas pelas milícias e esquadrões da morte apoiados pelos EUA em El Salvador.

Duas revelações recentes mostram a extensão da conspiração: em 7 de Junho, o jornal Haaretz relatou que "altos responsáveis do Fatah na Faixa de Gaza pediram a Israel que lhes permitisse receber grandes carregamentos de armas e munições de países árabes, incluindo o Egipto". Segundo aquele jornal israelense, o Fatah pediu a Israel "carros blindados, centenas de rockets RPG para furar blindagens, milhares de granadas de mão e milhares de balas de munições para armas de pequeno calibre", tudo para ser utilizado contra o Hamas.

Desde o momento da sua vitória eleitoral, o Hamas actuou pragmaticamente e com a intenção de integrar-se na estrutura política existente. Ele observou durante mais de um ano um cessar fogo unilateral em relação a Israel e parou com os ataques suicidas a civis israelenses que o haviam tornado notório. Num memorando confidencial escrito em Maio e publicado esta semana por The Guardian, o envio superior das Nações Unidas, Alvaro de Soto, confirmou que foi sob a pressão dos EUA que Abbas recusou ao Hamas o convite inicial para constituir um "governo de unidade nacional". De Soto pormenoriza que os conselheiros de Abbas ajudaram activamente a cortar a ajuda de Israel-EUA-União Europeia e o cerco dos palestinos sob ocupação, o que conduziu a um aumento maciço da pobreza para milhões de pessoas. Estes conselheiros empenharam-se junto aos Estados Unidos numa trama para "provocar a morte prematura do governo [Autoridade Palestina] liderado pelo Hamas", escreveu De Soto.

Apesar de uma sangrenta tentativa de golpe contra o Hamas por parte das forças lideradas por Dahlan, em Dezembro de Janeiro, o Hamas ainda concordou em aderir a um "Governo de Unidade Nacional" com o Fatah promovido pela Arábia Saudita na cimeira de Meca. Os conselheiros de Dahlan e de Abbas estavam determinados a sabotar isto, continuando a acumular armas e recusando-se a colocar as suas milícias sob o controle de um ministro do Interior neutro que, frustrado, acabou por demitir-se.

Um revés para os Estados Unidos e Israel

O núcleo da estratégia americana na Ásia Sudoeste e Central, particularmente no Afeganistão, Iraque, Palestina e Líbano, é estabelecer regimes fantoches que combatam inimigos da América em seu lugar. Esta estratégia parece estar a fracassar por toda a parte. Os Taliban estão a ressurgir no Afeganistão. Apesar do seu "acréscimo" ("surge") de tropas os EUA não estão mais próximos de subjugar a resistência no Iraque e não podem confiar nem mesmo no exército iraquiano que ajudaram a montar. O exército libanês, que os EUA esperavam reforçar como contrapeso ao Hizbollah, actuou fracamente contra umas poucas centenas de combatentes estrangeiros enfiados no campo de refugiados Nahr al-Bared (embora tenha provocado mortes e devastação entre muitos refugiados palestinos inocentes). Agora, em Gaza, deu-se o último fracasso.

A política de Israel é uma versão local da estratégia americana — ela também foi tentada e fracassou. Ao longo de mais de duas década Israel confiou numa milícia sua procuradora, o Exército Libanês do Sul, a fim de ajudá-lo a impor a ocupação no sul do Líbano. Em 2000, quando as forças israelenses retiraram-se precipitadamente, esta milícia entrou em colapso tão rapidamente quanto as forças de Dahlan e muitos dos seus membros fugiram para Israel. O Hamas agora está a referir-se à derrota das forças de Dahlan como uma "segunda libertação de Gaza".

Um elementos persistente da estratégia israelense tem sido tentar circunscrever a resistência palestina através da tentativa de criar lideranças traidoras. Na década de 1970 Israel ainda via a OLP como verdadeira representante da resistência. Assim, montou as "ligas de aldeia" colaboracionistas na Cisjordania como alternativa. Em 1976, permitiu eleições municipais na Cisjordania num esforço para dar alguma legitimidade a esta liderança alternativa. Quando candidatos filiados à OLP varreram o quadro, Israel começou a assassinar os presidentes de municipalidades OLP com carros bombas ou forçá-los ao exílio. Uma vez que alguns líderes exilados da OLP, nomeadamente Yasser Arafat, tornar-se subempreiteiros coniventes com a ocupação (uma acomodação formalizada pelos Acordos de Oslo), emergiu uma nova força de resistência na forma do Hamas. Os esforços israelenses para apoiar Dahlan e Abbas, o sucessor de Arafat, como alternativas de traição agora explodiram espectacularmente.

No rastro do colapso do Fatah em Gaza, o Haaretz relatou que o primeiro-ministro israelenses Ehud Olmert aconselhará o presidente Bush a manter Gaza isolada da Cisjordania. Isto pode ser encarado como uma tentativa de escorar Abbas, cuja sobrevivência Israel considera essencial para manter a ficção de que não domina directamente milhões de palestinos privados de direitos de cidadania. Um colapso total da Autoridade Palestina exporia a obrigação legal de Israel, como poder ocupante, de providenciar o bem estar dos palestinos que subjuga.

E como ficam agora os palestinos sob a ocupação?

Abbas declarou um "estado de emergência" e demitiu Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do Hamas, assim como o "governo de unidade nacional". O "estado de emergência" é meramente retórico. Todo o controle que ele tinha em Gaza acabou-se e Israel, de qualquer forma, tem o controle completa da Cisjordania.

Haniyeh, num discurso transmitido esta noite ao vivo na Al-Jazeera, rejeitou os "apressados" movimentos de Abbas e alegou que eles resultavam de pressões do exterior. Ele emitiu uma declaração com 16 pontos, dentre eles que o "governo de unidade" representava a vontade de 96 por cento dos palestinos sob ocupação expressa nas urnas eleitorais. Reafirmou o compromisso do seu movimento para com a democracia e o sistema político existente e que o Hamas não imporia mudanças no modo de vida das pessoas. Haniyeh disse que o governo continuaria a funcionar, restauraria a lei e a ordem e reafirmou o compromisso do Hamas para com a unidade nacional e o acordo de Meca. Conclamou todos os membros do Hamas a observarem uma amnistia geral beneficiando quaisquer combatentes da sua segurança capturados (isto seguia-se a relatos dos media de um punhado de execuções sumárias de combatentes do Fatah). Enfatizou também que a luta do Hamas não era com o Fatah como todo, mas apenas contra aqueles elementos que estiveram a colaborar activamente — uma referência clara a Dahlan e outros conselheiros de Abbas. Ele retratou a tomada de controle do Hamas como um último recurso na sequência da escalada de ilegalidades e tentativas de golpe de colaboracionistas, listando muito alegados crimes que acabaram por esgotar a paciência do Hamas. Haniyeh enfatizou a unidade de Gaza e da Cisjordania como "partes inseparáveis da nação palestina" e reiterou um apelo aos sequestradores do correspondente da BBC Alan Johnston a libertarem-no imediatamente.

O contraste entre a acção de Abbas e a resposta do Hamas é gritante. Abbas, empurrado talvez pelo mesmo grupo de conselheiros, parece estar a escalar a confrontação e a fazer isso quando não há razão para acreditar que possa vencer. O Hamas, enquanto se mantém firme e a partir de uma posição de força, fala numa linguagem de conciliação, enfatizando novamente que o Hamas tem um problema apenas com um pequeno grupo dentro do Fatah, não com as suas bases. Abbas, Dahlan e seus apoiantes precisam manter uma atitude sóbria — eles podem ser tentados a dominar o Hamas na Cisjordania, mas a escala da sua derrota em Gaza teria de conte-los.

Ambas as lideranças estão confinadas. Abbas parece estar inteiramente dependente do apoio estrangeiro e israelense, e incapaz de tomar decisões independentes de uma clique corrompida e venal. O Hamas, quaisquer que tenham sido as suas intenções, é provável que se descubra em Gaza sob um cerco ainda mais duro.

Abbas, apoiado por Israel e pelos EUA, apelou a uma força multinacional em Gaza. O Hamas rejeitou-a, dizendo que esta seria considerada como uma "força de ocupação". Na verdade, eles têm razão em estarem suspeitosos: durante décadas Israel e os EUA bloquearam apelos a uma força internacional de protecção para os palestinos. A força multinacional, receia o Hamas, não estaria ali para proteger os palestinos dos seus ocupantes israelenses, mas para desempenhar o papel de procurador (proxy) na protecção dos interesses de Israel que as forças de Dahlan já não são capazes de executar e para conter a resistência — tal como a força multinacional era suposta fazer no Líbano após a guerra de Julho de 2006.

Líderes sábios em Israel e nos Estados Unidos reconheceriam que o Hamas não é um fenómeno passageiro, e que nunca poderão criar líderes fantoches que sejam capazes de competir contra um movimento de resistência popular. Mas não há sinais de sabedoria: os EUA pediram agora a Israel para "afrouxarem o seu domínio" na Cisjordania a fim de dar uma ajuda a Abbas. Embora a doutrina Bush tenha sofrido um golpe, o povo palestino não ganhou uma grande vitória. O jogo sórdido às suas custas continua.
14/Junho/2007
[*] Cofundador da publicação online The Electronic Intifada e autor de One Country: A Bold Proposal to End the Israeli-Palestinian Impasse .

O original encontra-se em http://electronicintifada.net/v2/article7030.shtml

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Biomassa: um novo olhar

Redação do LeMonde-Brasil

Para o WorldWatch Institute, os combustíveis vegetais podem contribuir tanto com o ambiente quanto para reduzir desigualdades. O foco é mudar a atual estrutura agrária

Uma ácida polêmica cerca, há meses, o debate sobre os combustíveis biológicos (ou, para alguns, agrícolas). A produção de etanol seria, como sustentam seus defensores, uma alternativa contra o aquecimento global e uma janela de oportunidade para o Brasil e outros países da América Latina? Ou estaria roubando terra de outros cultivos, inflacionando os preços dos alimentos e pressionando ecossistemas como a Amazônia, apenas para engordar os lucros das transnacionais do agronegócio? Um relatório de 480 páginas (sumário em inglês), que acaba de ser lançado pelo WorldWatch Institute (site global, site brasileiro), propõe uma espécie de síntese entre os dois pontos de vista. Apoiado em uma profusão de dados, ele procura deslocar o debate para algo mais refinado que ser a favor ou contra a cana-de-açúcar e o etanol (álcool). Sugere que, ao invés de “julgar” uma planta ou um combustível, é preciso influir sobre as relações sociais e ambientais que cercam sua produção.

A vantagem ambiental da biomassa em relação ao petróleo é conhecida. Tanto álcool quanto gasolina geram gás carbônico em sua queima. Mas as plantas das quais se extrai o combustível vegetal compensam tal efeito (com folgas, no caso da cana), porque respiram (”seqüestram”) CO2 durante toda sua vida, no processo de fotossíntese.

O WorldWatch acrescenta que pode haver também três ganhos sociais expressivos. 1) A emergência da biomassa está ajudando a reverter a queda livre dos preços de matérias-primas agrícolas. Provocado, entre outros fatores, pelos subsídios concedidos pelos EUA e Europa a suas exportações, o declínio estendeu-se por três décadas (1970-2000) e arruinou agricultores em todo o Sul do planeta. Se for anulado, permitirá revitalizar a agricultura familiar. 2) Os combustíveis vegetais podem livrar dezenas de países pobres da dependência penosa do petróleo. Entre as 47 nações mais empobrecidas do planeta, 38 são importadoras do produto e 25 compram todo o óleo que consomem. A alta dos preços internacionais do produto ameaça quebrá-las. Isso será evitado se puderem comprar de seus próprios agricultores, em moeda local, a energia que hoje importam (com dólares ou euros muito escassos) de mega-empresas. 3) Além disso, muitos países do Sul, que possuem terras e força de trabalho ociosas, poderiam ter na biomassa uma fonte de ocupação e de divisas.

O que o relatório enfatiza é que nenhuma dessas oportunidades será aproveitada se persistirem a concentração internacional de riquezas e a estrutura agrária da maior parte dos países do Sul. Nesse caso, haverá desastres. O mercado mundial de combustíveis forçará os produtores de biomassa a competirem uns com os outros, para oferecer preços mais baixos. Essa disputa estimulará a produção em condições degradantes para os trabalhadores e devastadoras para a natureza. O latifúndio de cana (ou de palma, na África) avançará sobre o cultivo de alimentos, reduzindo a área plantada e provocando altas de preços que podem ser devastadoras.

A importância de uma saída: A grande vantagem do documento do WorldWatch Institute é sugerir uma saída. Combater a produção de etanol, em países como o Brasil, tende a ser tão inviável quanto sugerir que a Arábia Saudita (ou a Venezuela) interrompam sua produção de petróleo, em nome da luta contra o aquecimento global. Dos 142 mil novos postos de trabalho criados pela indústria de São Paulo, no primeiro semestre deste ano, cerca de 100 mil surgiram nas usinas de álcool.

O foco alternativo é intervir no debate sobre as condições em que se a biomassa será produzida. As nações produtoras de álcool podem se articular, tanto para defender preços dignos (como já faz a OPEP, no caso do petróleo), quanto para colaborar entre si. A diplomacia brasileira teria um papel relevante neste esforço. No interior de cada país, é perfeitamente possível medidas para distribuir a riqueza gerada pelos novos combustíveis (por exemplo, assegurando condições dignas de trabalho na lavoura de cana; estimulando a produção de álcool a partir de outras plantas, em cooperativas e pequenas unidades; tributando a exportação das grandes usinas e utilizando a receita para incentivo à agricultura familiar). O movimento ambientalista pode agir, nos planos nacionais e mundial, para exigir que os novos cultivos de biomassa se dêem em áreas agrícolas hoje desaproveitadas, e não ameace os ecossistemas naturais.

A produção mundial de combustíveis vegetais dobrou entre 2000 e 2005. Tudo indica que haverá uma explosão, nos próximos anos e décadas. É mobilizador imaginar que não se trata nem da “salvação da lavoura”, nem de mais uma conspiração do capital — mas de um processo cujo sentido depende de consciência e mobilização social.