Mídia ignora candidatos que questionam ‘status quo’ |
Waldemar Rossi * Correio da Cidadania | |
Por mais que escrevam e falem em democracia, em direito de livre
opinião, em liberdade de imprensa, os órgãos da comunicação "social" -
escrita, televisada e falada - não conseguem esconder suas preferências
eleitorais. Conseguem, com muita maestria, iludir a maioria do povo
brasileiro levando-a a crer que só temos duas escolhas: Dilma ou Serra,
Serra ou Dilma. Estamos sendo assaltados pelos bandos que comandam a
mídia a serviço unicamente dos interesses do capital, com a farsa das
eleições "democráticas". O mais grave é que contam, para isto, com a
ação militante ou mercenária de milhares de cidadãos que se dispõem a
ser "cabos eleitorais" dos grandes partidos ou, especialmente, dos
candidatos impostos. Para milhares deles, as campanhas eleitorais são
uma oportunidade de sair do sufoco financeiro causado pelo desemprego ou
pelo trabalho temporário. Aliás, bem sabem eles que essa será também
uma ocupação remunerada temporária apenas.
São raras as pessoas que se dão conta de que essas duas candidaturas vêm
sendo enfiadas goelas abaixo há tempos, a ponto de raríssimas saberem
que há outros postulantes ao cargo de Presidente da República (sem falar
dos governos estaduais). Para disfarçar, de vez em quando dão algum
espaço para uma reserva de campanha, no caso atual da simpática Marina,
porque, se ao acaso uma das candidaturas estratégicas não emplacar, tem
que haver uma substituição de última hora, como no caso do tão apreciado
futebol. Para o capital, o jogo eleitoral não pode ter hegemonia de uma
única corrente. É preciso que haja "disputa acirrada" para que os
candidatos e seus partidos busquem mais favores financeiros já
reservados em seus cofres, para, com isto, os terem sob seu controle
total.
Embora tenhamos vários outros candidatos à Presidência não há espaços na
mídia para eles. As tais liberdade de imprensa e igualdade de direitos,
nesse caso, são jogados na lata do lixo. Inventaram normas eleitorais
que, embora nossa Constituição garanta isonomia para os direitos de
todos os cidadãos, procuram explicar as "razões" para essa criminosa
discriminação. É comum lermos ou ouvirmos as informações de que tais
candidatos têm poucos eleitores, quase não têm representação
parlamentar, são mais fracos e, portanto, não podem ter os mesmos
direitos. E o povo, educado na lógica do sistema, acaba acreditando que
isso é justo. O político grego Sólon (640-560 a.C) ensinava: ‘As leis
são como teia de aranha: quando algo leve cai nelas, fica retido, ao
passo que se for algo maior consegue rompê-la e escapar’.
Mal sabem os leitores que tal discriminação visa realmente impedir que
candidaturas alternativas às escolhidas tenham alguma chance de se
tornarem conhecidas e defendidas, assim como de fazer chegar ao
conhecimento popular as denúncias das enormes injustiças que pesam sobre
a vida de, pelo menos, 2/3 da população, e de propor políticas públicas
voltadas para atender às reais necessidades dos brasileiros. Como pode a
mídia, toda ela nas mãos do grande capital, dar espaço a candidatos que
ousem combater os privilégios do agronegócio, que propõem a erradicação
das sementes trangênicas, a revogação da doação das terras públicas aos
latifundiários grileiros, o fim do desmatamento criminoso, o fim da
produção dos agrotóxicos, que estabelecem que os movimentos sociais
tenham o direito ao mesmo espaço nos meios de comunicação social quando
atacados pelas grandes empresas e pela própria mídia? Para os poderosos
isto é inconcebível, pois, segundo sua doutrina, "todos são iguais
perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros".
A farsa eleitoral visa garantir a gangorra do processo que ora coloca o
candidato "A" com mais peso popular, ora coloca a candidata "B" como a
preferida pelos eleitores. Essa farsa conta com os auto denominados
Institutos de Pesquisa da Opinião Pública para concretizar a chantagem,
promovendo o vai e vem na alta e na baixa das intenções de votos. E,
assim como na palhaçada dos "BBB"s, nossos leitores ou telespectadores
vão torcendo ora por uma ora por outra candidatura, não tomando
conhecimento das demais alternativas, pois é e tem sido assim que o
capital vai conseguindo domesticar nosso povo e lhe dizer o que ele deve
querer e não o que precisa ter.
*Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral
Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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