quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Síria: Para onde vai a revolução confiscada e a preparação de intervenção militar imperialista

 


Em dezembro de 2010 teve início um movimento revolucionário que se espalhou pelo Magreb (Norte da África) e Oriente Médio. Começou na Tunísia derrubando a ditadura de Ben Ali, derrubou Mubarak no Egito e ameaçava todos os regimes da região.
As formas e o próprio desenvolvimento da situação revolucionária variaram em cada país, mas seu conteúdo era o mesmo, uma revolta das massas contra as condições de vida que lhes eram impostas pelas tiranias a serviço do imperialismo. A autoimolação do jovem Mohamed  Bouazizi foi o estopim, mas a situação que levou a água à borda do copo foi a crise econômica mundial que atinge violentamente as condições de vida dos povos e o aumento da exploração e repressão sobre os trabalhadores.
Na Líbia frente a uma verdadeira insurreição popular que se iniciava o regime começava a se desagregar e o imperialismo toma a iniciativa de buscar legitimar os opositores burgueses e assim assumir o controle da situação, impedindo um aprofundamento revolucionário. Em nome de um hipócrita humanitarismo o imperialismo intervém na Líbia diretamente. Esta intervenção provoca por um lado um recoesionamento dos setores leais a Kadafi e por outro coloca o controle da situação nas mãos dos seus agentes locais. O resultado foi o recrudescimento da guerra, sectarização da luta e a destruição do país, com a população que havia iniciado a insurreição afastada da cena tendo confiscada sua revolução e o controle do país tomado por bandos armados.
Na Síria, o imperialismo, notadamente o norte-americano e francês, além dos regimes reacionários locais, como Arábia Saudita e outros, todos se lançaram imediatamente para impedir a generalização da revolução e se dedicam a deturpar a revolução, desviá-la conduzindo e preparando a situação para uma intervenção militar imperialista da ONU, ou de outra força imperialista diretamente.
Na Líbia no inicio eles foram surpreendidos e não estavam seguros de assumir o controle frente a independência do movimento. Entretanto a falta de organização e de direção política, a violência de Kadafi e a transformação da insurreição nas cidades em combate de exércitos colocou a direção nas mãos daqueles que o imperialismo armava e deslocou os métodos e o resultado final da luta popular chegando a estabelecer um governo abertamente pró-imperialista e desagregando o país em uma guerra de milícias e tribos. Agora, eles tomam iniciativas mais rapidamente inclusive pelo lugar e grau de desenvolvimento da Síria na região.
A Síria está sendo levada a destruição enquanto o imperialismo deturpa a verdadeira insurreição popular que buscava se livrar de Assad, e prepara uma intervenção. Em todos os casos, tanto na Líbia como na Síria, trata-se de criar condições para impedir que uma verdadeira revolução tenha lugar e coloque o problema da exploração e da opressão na mesa para ser resolvido. Tanto na Líbia como na Síria no inicio do processo as insurreições populares começaram a constituir Conselhos Populares com delegados eleitos e revogáveis que assumiam as tarefas de direção e controle de cidades. Para os capitalistas e seus agentes este é um processo que é preciso interromper a qualquer custo.  
Só no último mês de agosto estima-se que 100 mil pessoas abandonaram a Síria de Bashar Al-Assad, no poder desde 17 de julho de 2000, quando substituiu seu pai, Hafez al-Assad que assumiu o controle do país, em 1970, em um golpe dentro do golpe que ele e outros haviam dado em 1963.
A TV não pára de mostrar cenas de guerra e de horror. A imprensa burguesa apresenta os fatos fingindo-se alarmada e preparando o terreno para uma intervenção militar imperialista.
O conflito na Síria, assim como foi na Líbia, coloca questões políticas importantes. Ex-estalinistas, grupos pequeno-burgueses e diversas seitas se colocaram desde o início contra as manifestações populares que enfrentavam a ditadura de Assad gritando que se tratava de “ações imperialistas infiltradas” contra um regime progressista e anti-imperialista. Essa lamentável posição de capitulação a um regime reacionário e sanguinário é expressão da falência política destas correntes.
Por um lado, afastam a história e por outro não levam em consideração os sentimentos das massas revoltadas, mas apenas as declarações hipócritas do regime. E por fim, de fato, consideram as massas populares como uma manada sem discernimento e sem objetivos, capaz de ser “levantada” por intrigas imperialistas secretas. O absurdo de conceder ao imperialismo a capacidade de em ações secretas conseguir jogar as massas contra um regime progressista é a prova de que estas correntes não têm nenhuma confiança no povo trabalhador e se movem pela ação dos aparelhos. Eles não se movem pelas necessidades profundas dos oprimidos. São meros impressionistas incapazes de distinguir a realidade da farsa.
O fato é que ninguém organizou ou previu a explosão popular contra o regime assassino, nem mesmo os serviços de Inteligência do imperialismo ou seus melhores analistas. O influente "The Economist Intelligence Unit" previa um futuro de paz para Damasco. Ninguém viu a insurreição que chegava.
Em fevereiro de 2011, poucos dias após o ditador Hosni Mubarak foi derrubado no Cairo, Bashar Al-Assad, dizia em público que “as revoluções recentes na Tunísia e no Egito nunca poderiam ser repetidas em seu país porque o povo sírio apreciava seu regime e sua  resistência contra o sionismo e imperialismo”.
Apenas Assad fez esta previsão e milhares de habitantes da cidade de Derá, no sul do país, tomaram as ruas para protestar contra a detenção e interrogatório de vários adolescentes que tinham escrito grafites contra o governo. Era 15 de março, o primeiro dia de uma rebelião que foi inicialmente pacífica, mas que desde o início sofreu uma repressão contundente e sangrenta.  A rebelião logo se espalhou a partir do epicentro de Derá para as províncias periféricas do país até ser deslocada pela fabricação do Exército Livre Sírio que transformou a insurreição em guerra de guerrilha nas cidades afastando o componente de luta de massas.
Mas, o prognóstico de Al-Assad não foi o único errado. Especialistas de todo tipo fizeram previsões semelhantes nos meses anteriores. Um relatório da Economist Intelligence Unit (EIU), de junho de 2010, analisa a situação política e econômica na Síria e faz previsões para o segundo semestre de 2010 e todo o ano de 2011. Diz o relatório que o regime de Assad “talvez faça algumas reformas políticas limitadas" nesse período, mas insiste que a sua posição não está ameaçada. "O presidente Assad deve permanecer no poder em 2010 e 2011 e apesar de algumas tensões dentro do regime, não há nenhuma ameaça significativa para seu governo", prevê o relatório.
O levante sírio veio como uma surpresa da mesma forma que as revoltas na Tunísia e no Egito não foram previstos por ninguém, incluindo os próprios regimes, até que estouraram. E isso inclui os serviços de inteligência das potências ocidentais, entre os quais estão os Estados Unidos que se aprontavam para enviar um novo embaixador para a Síria já que não tinha ninguém ali neste posto há cinco anos. Mas, os eternos conspiradores que nunca confiam nas massas são incapazes de compreender isso.
A insurreição popular iniciada contra Assad apavorou não só o regime, mas seus aliados e adversários imperialistas. A derrubada do regime e a extensão de Conselhos Populares controlando cidades não é o tipo de regime e estado que os capitalistas possam apoiar, em nenhum caso. Era preciso por um lado intensificar a repressão para aterrorizar e estancar a revolução e por outro criar as condições para tirar as massas da cena e organizar um conflito de tipo militar entre frações armadas pelo regime e por seus adversários. Esse foi o papel reservado ao autoproclamado Exército Livre Sírio.
Os massacres ordenados por Assad levaram a uma situação em que a violência com que os soldados eram obrigados a reprimir seu próprio povo propiciou deserções massivas no exército. Muitos desses soldados não tinham outra coisa a fazer que juntar-se à iniciativa de grupos religiosos armados pela Arábia Saudita, Qatar e outras organizações integristas muçulmanas que constituíam o autoproclamado Exército de Libertação Sírio (ELS). Muitos dos massacrados sobreviventes também fugiram e se enredaram no ELS, única força com meios de propiciar a sobrevivência e armas. Estes soldados desertores e os sobreviventes, sinceros combatentes pela derrubada de Assad, engrossaram o que até então era um grupo armado por regimes rivais.
No ELS entraram oficiais que apoiavam o regime, mas mudaram de lado como ratos que abandonam um navio naufragando assim como mercenários dos países vizinhos cujo soldo é bancado pelos mais reacionários regimes da região. O Qatar e Arábia Saudita, e diversas lideranças religiosas pretendem derrubar Assad e impor um regime a sua imagem. O fato de Assad pertencer à minoria alauita em um país predominantemente sunita é apontado por essa gente como a causa de todos os seus crimes. Fomentando o ódio religioso, buscando transformar a revolução em uma jihad (guerra santa), contra os inimigos do Islã.
A ação do ELS iniciando a luta armada interrompeu os protestos de massas e o processo dos conselhos populares que se desenvolvia. O ELS não representa uma vanguarda revolucionária que poderia constituir-se uma milícia proletária independente, mas é a expressão da degeneração da revolução em contrarrevolução através do predomínio de forças e interesses em oposição à insurreição das massas cansadas da exploração capitalista que o regime representava. O ELS pede armas às monarquias locais e um intervenção militar imperialista, o que já mostra seu caráter.
A dita luta armada do ELS impede as massas de utilizarem seus métodos de luta e as atomiza em “civis” ou “soldados”. Torna impossível que as manifestações continuem e impede a organização da classe trabalhadora nos seus locais de trabalho fazendo uso de suas armas históricas, como as greves e paralizações para golpear regime e classe inimiga.
Paralelamente à constituição do ELS, uma parcela da burguesia nativa da Síria, ao perceber que Assad não teria condições de se manter no poder e que era uma questão de tempo para sua deposição, autoproclamou-se direção da revolução sob o nome de Conselho Nacional da Síria (CNS). Um conglomerado de burgueses liberais, que deseja a deposição de Assad tanto quanto teme a tomada do poder pelas massas de trabalhadores. E por isso mesmo tem clamado abertamente pela intervenção militar imperialista no país.
Hoje não há uma organização revolucionária de massas dos trabalhadores na Síria, uma  organização à qual eles possam se agarrar nesse momento revolucionário para golpear Assad. A falta de organizações de massa dos trabalhadores cria um vácuo que em política nunca permanece muito tempo sem ser ocupado.
As massas deram início a uma experiência de Conselhos Populares de tipo soviético na cidade de Zabadani, na fronteira com o Líbano, ao final de 2011. Não por acaso esta cidade foi alvo de ataques sucessivos até que ao final de janeiro desse ano foi tomada pelo exército. O resultado foi massacre, repressão, prisões, tortura e estupros de pessoas de todas as idades. A intenção de Assad era fazer fracassar a experiência dos Conselhos antes que seu exemplo permitisse apontar para uma nova ordem social.
As consequências dessa repressão foram dramáticas. Desde as crescentes deserções engrossando as fileiras do ELS até o crescimento de lideranças religiosas na revolução com consignas reacionárias. Eles apenas dividem os trabalhadores ocultando que os interesses do conjunto da classe não são distintos, seja de um sunita, xiita, alauita, curdo, cristão ou druso. O resultado é também um coesionamento das forças sob controle de Assad.
A forma de impedir a completa degeneração do processo revolucionário em curso, de barrar uma intervenção militar imperialista ou dos regimes da região diretamente, é a entrada em cena das massas trabalhadoras com seus métodos históricos de greves gerais, manifestações de massas, ocupação de fábricas e empresas colocando-as sob o controle dos trabalhadores, demonstrando quem é que comanda e controla a economia da sociedade, paralisando o regime até a sua liquidação. Este é o caminho para uma saída positiva frente a atual situação e ao sofrimento das massas sírias.
O que necessita a revolução síria para salvar-se é a constituição imediata de conselhos populares de trabalhadores, em todas as fábricas e locais de trabalhos, mas também nos bairros, democraticamente eleitos, a organização de milícias armadas proletárias sob controle dos Conselhos, armamento geral das massas, para depor Assad e varrer o regime. Frente a estas ações o regime seu exército se desagregarão. Foi assim no Irã em 1979, foi assim na Tunísia e em tantas outras revoluções.
A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores, como disse Marx, assim repudiamos e nos opomos a qualquer intervenção estrangeira, mesmo que envolta no véu “humanitário”. Que o povo sírio, através de conselhos revolucionários e da tomada do poder resolva a situação tomando seu destino em suas próprias mãos. Nenhuma confiança no CNS ou no ELS que apenas militarizou a revolução apagando o protagonismo e participação popular do processo, transformando em guerra civil sangrenta de duas frações reacionárias em luta pelo poder, sem que nenhuma represente um futuro digno ou o final das condições que propiciaram o início dos protestos das massas sírias.
As massas são plenamente capazes de concluir o processo revolucionário que iniciaram.
Uma união de todos os trabalhadores do campo e da cidade, sem divisões religiosas ou  étnicas, a partir da deposição de Assad, deve constituir o único poder legítimo e reconhecido, para que as tarefas da revolução sejam conduzidas até o fim.
Essas são as condições para que a revolução não se perca e tenha por consequência mais que a deposição de um tirano sanguinário, mas o início de um tempo onde todas as riquezas socialmente produzidas deixem de ser apropriadas por uma camarilha de parasitas e passem a ser distribuídas e utilizadas no interesse social do povo sírio.
Fora disso, se as tropas imperialistas entrarem na Síria as armas dos revolucionários estarão voltadas contra eles. De uma intervenção imperialista só se pode esperar a desagregação da Síria, como fizeram na Somália e agora na Líbia, e um aumento do sodfrimento de todo o povo e ameaças sobre toda a revolução árabe e do Magreb.   
Fora com a intervenção imperialista! Viva a primavera árabe!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Olga Benário luta contra violência às mulheres


 

blog AVERDADE

A atual posição social ocupada pelas mulheres teve sua origem há centenas de anos, com o surgimento da propriedade privada e o nascimento da figura do patriarca, o homem que detinha poder sobre todos os bens da família: terras, ferramentas, excedentes de produção etc. Condenada às obrigações domésticas, a mulher foi escravizada dentro do lar e passou a ser considerada também uma das propriedades do patriarca da família, bem como os filhos gerados por ela.
A sociedade em que vivemos ainda é baseada nessa forma de organização chamada “patriarcal” e economicamente regida pelo sistema capitalista. Este sistema econômico se sustenta a partir das desigualdades e opressões, explorando o trabalho de muitos e enriquecendo poucos. Tudo vira mercadoria e é passível de comercialização, e aquilo que não mais interessa é descartado e substituído por outro artigo mais rentável.
A aprovação da Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, foi, sem dúvida, uma importante conquista da sociedade, em especial das mulheres que lutam há anos pela criminalização da violência. Porém, a lei está aquém do necessário, pois falta muito suporte para que ela seja plena. A existência de apenas 374 delegacias especializadas no enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil faz com que apenas 7% dos 5.554 municípios brasileiros sejam contemplados. Além das delegacias, é necessário que outros órgãos municipais, estaduais e federais atuem de maneira conjunta para reeducar agressores e prevenir e punir qualquer tipo de violência. Atualmente as delegacias comuns desqualificam as denúncias de agressão e violência, não as enquadrando na Lei Maria da Penha. Não existem órgãos de apoio suficientes e não há punição severa para os agressores.
Na última década, percebeu-se um crescimento de políticas e iniciativas que visam a minimizar a prática de violência e assassinatos praticados contra mulheres no Brasil, mas o que se pôde observar foi um aumento de 230% no número de mortes nesse mesmo período. Este assustador crescimento está intimamente ligado ao fato de que as mulheres ainda são consideradas uma propriedade privada dos homens com os quais se relacionam ou são extremamente desvalorizadas por agressores que não sejam de seu convívio.
Belo Horizonte, por exemplo, terceiro centro econômico e político do país, apresentou um aumento de 77% das ocorrências de estupro e ocupa hoje a posição de sétima capital mais violenta para mulheres do Brasil.
Neste sentido, o Movimento de Mulheres Olga Benário lançou,em Minas Gerais, uma ampla campanha que denuncia a violência e exige o combate a todos os tipos de violência cometidas contra as mulheres. Organizando grupos de estudo com as mulheres da Ocupação Eliana Silva, debates em parceria com a Central Única dos Trabalhadores e lançando materiais e manifestos, o Olga Benário começa a reorganizar as mulheres em torno dessa luta para acabar com esta verdadeira chacina cometida contra as trabalhadoras brasileiras – e convoca toda a sociedade para se levantar contra tamanha barbárie.

Raphaela Mendes é Movimento de Mulheres Olga Benário – MG

Indignados não se intimidam com repressão e voltam às ruas

          

Coação policial, processos na Justiça e até acusação de espionagem vinculada ao ETA não impedem que milhares protestem em frente ao Congresso da Espanha contra a proposta de orçamento do governo, que vai aumentar em 34% os gastos destinados ao pagamento da dívida. A reportagem é de Naira Hofmeister e Guilherme Kolling, direto de Madri.


     

           Madri - “A voz do povo/ Não é ilegal!” As palavras de ordem do protesto dos Indignados da Espanha neste sábado contra a proposta de orçamento do governo para 2013 deixaram evidente o desconforto dos manifestantes com a intimidação que vem sofrendo do poder público.

Nessa semana uma denúncia publicada no jornal El Mundo deu conta de que a polícia investiga a ligação do movimento popular que pede uma nova Constituição com o ETA, grupo separatista do País Basco que cometeu diversos atentados nas últimas décadas.

Foi o auge de uma ofensiva para criminalizar esses coletivos que lutam pela mudança no sistema político espanhol - a polícia pratica regularmente a identificação de integrantes em reuniões e protestos, partindo do pressuposto de que estariam cometendo um delito, reprime com violência manifestantes e o governo abre processos judiciais contra lideranças.

A delegada da administração de Madri, Cristina Cifuentes, chegou a declarar que as ações populares previstas para essa semana eram ilegais - anteriormente, comparou a convocação do “Ocupa o Congresso” à tentativa de golpe militar do início dos anos 80.

Mesmo assim, milhares voltaram às ruas na semana em que o Parlamento Nacional começou a discutir o projeto do orçamento de 2013 enviado ao Legislativo. “Cifuentes! Cifuentes!/ Não somos delinquentes!”, provocavam os ativistas, que exibiam faixas com dizeres como “A ditadura não estava morta?”

O conteúdo principal da marcha deste sábado que percorreu a avenida Gran Vía, no Centro de Madri, e que terminou com mais uma concentração em frente ao Congresso, foi questionar os números propostos pela gestão do conservador Mariano Rajoy para 2013.

Nas contas públicas apresentadas ao Parlamento, o gasto destinado ao pagamento da dívida aumentará em 34%. O débito da Espanha poderá alcançar 90,5% do PIB do país no ano que vem, tendo em vista que o passivo aumentará com o resgate para salvar os bancos.

Enquanto isso, os valores destinados para a saúde terão uma redução de 22,6%, conforme calculou o jornal El País. Oficialmente, o governo considera que serão apenas 3,1% a menos nesse item, porém o diário espanhol afirma que nesse cálculo estão incluídas despesas com a seguridade social e obrigações de exercícios anteriores.

A educação perderá 14% de sua verba, enquanto que a cultura terá que se virar com uma redução de 19% em relação a 2012. “O projeto de orçamento para 2013 referenda as irracionalidades e injustiças na organização e distribuição de recursos públicos e reafirma que a maioria da população pagará a dívida, cuja origem é 80% privada e foi transformada em pública mediante o resgate aos bancos”, critica o manifesto que convocou a população para rodear o Congresso mais vez - a primeira foi dia 25 de setembro.

Além de criticar a previsão orçamentária para o próximo ano, a intenção do ato foi demonstrar que os cidadãos não estão satisfeitos com a representação política atual, inclusive os parlamentares eleitos nas urnas que, segundo o texto, realizam um “simulacro de debate democrático”, já que não escutam as queixas que chegam das ruas diariamente.

O movimento popular que defende a abertura um processo constituinte organizou diversos atos públicos ao longo da semana. O primeiro aconteceu na terça-feira, 23, em frente ao Parlamento em Madri para marcar a entrada em pauta do projeto do orçamento. O lema foi “Não devemos!, não pagamos!”. Dois dias depois ocorreram ações descentralizadas para questionar os princípios que regem as contas públicas - uma das atividades foi em frente a sede do Bankia. E, neste sábado, houve ações em todo o país.

Uma pesquisa do instituto Metroscopia divulgada no início de outubro, mostrou que 77% dos espanhóis apoiam a pressão aos deputados, enquanto 93%, estão de acordo com mudanças na Constituição.

Mesmo assim, o texto orçamentário proposto pelo governo do PP deve ser aprovado no Legislativo com poucas mudanças, tendo em vista que o partido de Mariano Rajoy tem maioria na casa.

Método de luta provoca racha entre constitucionalistas
Os dois principais coletivos que defendem a discussão pública e democrática de uma nova Carta Magna na Espanha participaram das manifestações contra a proposta de gastos do governo central para 2013. Entretanto, o conteúdo dos protestos gerou uma ruptura entre os principais grupos: a Coordenadora 25-S e a Plataforma Em Pé.

A primeira, que responde oficialmente pela organização das ações de questionamento do poder estabelecido (o nome é referência ao 25 de setembro, data do primeiro protesto em frente ao Parlamento), pediu aos participantes que levassem suas “emendas” ao projeto do orçamento.

“Vamos 'empapelar' o Congresso”, era a chamada da Coordenadora 25-S, que se concretizou em centenas de cartazes afixados na grades de isolamento instaladas pela polícia em torno do quarteirão onde fica a casa legislativa, em pleno centro turístico de Madri.

A Plataforma Em Pé, que foi a pioneira em pedir uma “democracia real” e cujo manifesto de “fundação” pode ser considerado o marco teórico para as ações que hoje são levadas a cabo pela Coordenadora 25-S, discorda que a melhor maneira de mostrar a insatisfação pública seja tentar “reformar o orçamento”, o que significaria, de alguma maneira, aceitar o sistema atual.

Segundo um manifesto do coletivo publicado na internet junto com uma imagem de uma criança mostrando o dedo médio para a câmera, a única saída possível é a revolução, que deveria iniciar com a destituição do Parlamento. “A ideia original do 'Ocupa o Congresso' não era obter apenas manifestações estéreis de espírito reformista”, ataca o texto.

Embora discordasse do conteúdo, a Plataforma Em Pé referendou e participou dos protestos – e seguirá secundando todas as “ações contra o poder que nos submete cada dia mais a perdas de direitos e liberdades”.

Talvez por isso os protestos na rua desta semana tiveram menos gente do que os de setembro – a repressão policial e as distintas convocações para atos ao longo de uma semana são outros fatores que podem ter concorrido para a adesão menor de participantes.

Suicídio de homem que perdeu a casa eleva cobrança a banqueiros
O suicídio de um morador da cidade de Granada diante do iminente despejo por falta de pagamento da hipoteca de sua residência elevou o tom da cobrança a políticos e banqueiros no protesto popular deste sábado no Centro de Madri. Em diversos momentos, a massa cantava em uníssono que “não é suicídio, isso é homicídio”, em referência ao caso trágico que ocorreu na sexta-feira.

“Culpados”, “Assassinos!” e “Guilhotina!” foram alguns dos dizeres dos manifestantes ao passar pela sede ou até mesmo por caixas eletrônicos de Deutsch Bank, Caja Madrid e Banco de Espanha, durante a marcha que percorreu a Gran Vía, antes de chegar ao Congresso. “Mãos ao alto! Isso é um assalto”, foi outro lema entoado pelos ativistas ao visualizar instituições bancárias.

Sobrou também para o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, a quem o público pedia a demissão imediata. O ato por uma nova Constituição e contra o chamado “Orçamento da Dívida” terminou com um minuto de silêncio em frente ao Congresso e a apresentação da Orquestra Solfônica, uma brincadeira com o nome da praça - a Puerta del Sol - onde surgiu o movimento dos Indignados, em 2011.

domingo, 28 de outubro de 2012

Whisky (Whisky) – Uruguai (2004)

 




Direção: Juan Pablo Rebella; Pablo Stoll
Roteiro: Juan Pablo Rebella; Pablo Stoll; Gonzalo Delgado
Jacobo é um homem solitário que dedica sua vida ao pequeno negócio na fabricação de meias. Marta é a gerente da fábrica. Quando Herman, irmão de Jacob que não o visita há 20 anos, diz que irá aparecer, o homem propõe a Marta que finja ser sua esposa durante a visita do irmão.
Eu não sei se foi a monotonia do filme ou o tédio do meu sábado à noite que me fez dormir.
De qualquer forma, o ritmo arrastado é até certo ponto necessário para compor a psicologia dos personagens, que igualmente vão se arrastando pela vida.
De quebra, o filme ainda dá uma breve passeada pelas calles uruguayas, despertando saudades em quem já caminhou pelas ruas de Montevideo.
Whisky vale à pena para quem curte cinema latino-americano ou para quem, ultimamente, só tem sorrido na hora de tirar foto.
...


Referências ao Brasil:
Pelo fato de um dos protagonistas vir de Porto Alegre, há muitas referências ao Brasil.
Ao dar dois beijos, em vez de um, Herman se justifica: “Cumprimento à brasileira”.
Em outro momento há um diálogo:
- E você, Marta, conhece o Brasil?
- As cataratas (do Iguaçu). Fomos lá na lua-de-mel.
- Que beleza! Depois quero ver as fotos.
- A beleza das cataratas só se conhece estando lá.
Outro diálogo:
- E sabe onde foi isso? No restaurante do Tony Ramos.
- Tony Ramos?
- Ele tem um restaurante lá perto de casa. De vez em quando, aparece lá. Minhas filhas fazem um escândalo – “Ai, Tony Ramos”!
- Você conhece o Tony Ramos?
- Não somos íntimos, mas já conversamos. É um cara legal, o Tony.
- São tão boas as novelas brasileiras, os cenários, os atores, não é?
- Não sei, não vemos novelas lá em casa. Mas, é muito investimento, disso não há dúvida.
E, por fim:
- Se eu pudesse viajar, iria para o Brasil. O Brasil é um país encantador. Eu viajo muito, quase nunca paro lá.

Créditos: AZ

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A ideologia e as seitas

 

Filipe Diniz
 


A presença crescente nas eleições de diversos países de candidaturas apoiadas por formações “religiosas” é apenas uma face mais visível do papel instrumental que estas desempenham, em particular no quadro da actual crise geral do capitalismo. A componente “religiosa” da ideologia dominante continua a constituir um dos mais eficazes instrumentos da opressão de classe.


Segundo os jornais, um dos candidatos que as sondagens davam como favorito na primeira volta das eleições municipais em São Paulo, no Brasil, acabou por ser prejudicado por ser o representante da coligação Partido Republicano Brasileiro (PRB) / Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Teve 21% dos votos, o que foi insuficiente para passar à 2.ª volta. Mas o candidato Serra passou, com 30,7%, apoiado pela coligação PSDB/IMPD. IMPD é a sigla da Igreja Mundial do Poder de Deus.
Estas «coligações» têm muito que se lhes diga, porque dos nove deputados federais eleitos pelo PRB, sete são pastores da IURD. Ou seja, não será fácil distinguir se é o partido o braço «político» da Igreja, ou se é a Igreja o braço «religioso» do partido.
Nas eleições presidenciais dos EUA o candidato republicano, Mitt Romney, já foi bispo e é um alto dignitário da Later Day Saints Church (LDS), mais conhecida como Igreja mórmon. E não é obviamente a primeira vez que um candidato nos EUA tem um forte vínculo público a uma instituição de carácter religioso, tendo em conta o papel de grande relevo que muitas dessas instituições desempenham na sociedade americana. Já para não falar das consultas directas que George W. Bush fazia com Deus, segundo o seu próprio testemunho.
Serão surpreendentes estes fenómenos? Nem por isso. Essas «igrejas» são sobretudo potentados económicos e mediáticos, e não o são apenas extorquindo o «dízimo» aos seus fiéis. A LDS controla empresas que geram rendimentos anuais de milhares de milhões de dólares, um jornal, uma estação de TV, 11 rádios, uma editora, negócios de seguros, é proprietária de milhões de hectares de terras nos EUA, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, México, Argentina, Brasil.
E quanto à dimensão «religiosa», podemos recordar a propósito a reflexão de Gramsci acerca do papel da categoria intelectual dos eclesiásticos medievais – a «aristocracia da toga» – enquanto intelectuais orgânicos de um sistema feudal que entrara em crise. Para a ideologia dominante, num quadro em que o capitalismo já exclui qualquer dimensão de racionalidade, a componente religiosa da ideologia ganha uma prioridade acrescida.
E não é só no Brasil e nos EUA.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2030, 25.10.2012

sábado, 27 de outubro de 2012

Por que a América Latina é um território vigiado




Por Romina Lascano


O conflito geoestratégico com a China, o futuro da América Latina e o interesse de Washington na região são o miolo do novo livro da analista Telma Luzzani, Territorios Vigilados, recentemente apresentado em Buenos Aires, que deixa claro como opera a rede de bases militares estadunidenses na América do Sul.

Segundo a autora, a ideia do livro foi amadurecendo pouco a pouco até que, em 2008, escreveu uma nota sobre a reativação por parte dos Estados Unidos da IV Frota do Comando Sul para patrulhar os Oceanos Pacífico e Atlântico.


"O que me perguntava nessa nota –assinala Telma- é por que razão os EUA teriam interesse em reativar uma frota semelhante poder de fogo no território onde, visivelmente, não havia nada que chamasse a uma guerra”.

"Falei com vários analistas e o resultado dessa nota era que, justamente, nossas riquezas, com os recursos naturais e mais as mudanças que estavam acontecendo no mundo em âmbito econômico e político, tornavam necessário para os Estados Unidos, militarizar a zona, para continuar mantendo seu poder e seu domínio”.

Depois ficou-se sabendo que o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, naquele momento à frente do governo, havia acordado a presença de sete bases militares em seu país. Esse foi o início de uma investigação de vários anos e de um livro que tardou quase dois anos para ser publicado.

Com a colaboração dos jornalistas Emiliano Guido e Federico Luzzani, a autora começou a desenrolar o motivo que levou à instalação e manutenção das bases militares –que passaram de 14 (em 1938) para 30.000 (em 1945), das quais, ao finalizar a II Guerra Mundial, somente permaneceram abertas 2.000- sem conflito bélico à vista. Explica: "Todos os impérios tiveram bases militares. Os países que tem uma frota marítima significativa necessitam de lugares onde abastecer-se, treinar-se, acumular recursos. Então, as bases militares, na realidade, são parte da estrutura militar de uma potência”. "Quando os Estados Unidos converteram-se na maior potência juntamente com a União Soviética, após a II Guerra Mundial, decidem expandir suas bases em função de um projeto de dominação global”.

Segundo a jornalista, em cada período político e, de acordo com as circunstâncias, as bases vão mudando de características: "Uma base tradicional, grande, com muito pessoal é muito cara e é odiosa para o país que tem que alojá-la. Em geral, cria conflitos, traz problemas ambientais”. "Após a queda da União Soviética, os Estados Unidos redesenharam seu poder militar e decidiram em algum lugar deixar as bases tradicionais e, em outros, abrir novas bases ou substituir as que tinham por outras menores, dissimuladas, com pouco pessoal, que é rotativo. Para o governo que as aloja, é fácil convencer aos seus cidadãos de que não se trata de uma base militar...”.

Com relação ao critério empregado para situar as bases, a autora ressaltou que o mesmo é geoestratégico. "Está vinculado à guerra e ao comércio”. E aprofundou em uma das hipóteses de seu livro, o potencial conflito entre os Estados Unidos e a China rumo a 2016: "É somente uma projeção. 2016 será o ano assinalado pelo Banco Mundial como o momento em que, provavelmente, a China superaria aos Estados Unidos como primeira potência econômica do mundo. Os Estados Unidos não vão esperar por 2016 e que isso seja um fato consumado; essas coisas são resolvidas antes que aconteçam. Não sabemos se a China continuará o mesmo esquema expansionista dos Estados Unidos. Vamos rumo a um sistema que ainda não conhecemos”.


Nesse contexto, Luzzani analisou a papel da América Latina e ressaltou duas questões importantes. "Uma é que, pela primeira vez, os Estados Unidos têm que deslocar uma presença militar evidente, que, até que aparece a Base de Manta, isso não fazia falta porque havia uma quantidade significativa de governos militares, cuja linha de mando terminava diretamente no Pentágono. E, em segundo lugar, uma escassez de recursos naturais que, em nosso território, é abundante”.

Luzzani também busca desmascarar com seu texto a denominada irrelevância latino-americana. "Outra hipótese que trabalho no livro é o fundamento que diz que a América Latina não tem nenhuma importância para os Estados Unidos. Tento demonstrar que é exatamente ao contrário”. "É tão importante que, em geral, sempre está presente em seus primeiros objetivos sobre o que vai acontecer na região. Sem a América do Sul e a América central, os Estados Unidos não poderiam ser a potência que são”.

A jornalista argumentou que daí provém a necessidade de dominar a região e de separar o Brasil e a Argentina, união que considerou como "um dos piores pesadelos dos Estados Unidos”.

Telma Luzzani explicou que alguns fatos políticos não puderam ser incluídos no livro: "O que aconteceu com [Fernando] Lugo é importante porque eles têm uma base militar, que é a de Mariscal Estigarribia; que no Paraguai exista um governo como o de Lugo ou o de Federico Franco faz uma grande diferença. Nesse sentido, me interessava muito ampliar esse enfoque”.

Antecipou que poderia mudar algum capítulo para aprofundar sobre o processo de paz iniciado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc): "O presidente Juan Manuel Santos surpreendeu muito. A Colômbia sempre foi o país aliado estratégico dos Estados Unidos. A presença do Plano Colômbia justificada pelo narcotráfico, pelo terrorismo, parece que vai por águas abaixo caso avance o processo de paz. Suponhamos que o processo seja um êxito e que o argumento do terrorismo e do narcotráfico se debilitam. Então, não se justificaria semelhante deslocamento militar”.

Em relação à reeleição do presidente venezuelano Hugo Chávez, a autora ressaltou que para os Estados Unidos é uma má notícia e ressaltou que esse país também está rodeado por bases militares norte-americanas. "Há bases que estão a 50 quilômetros da costa venezuelana. Estão também as bases da Colômbia. O modelo venezuelano, o tipo de política que é levado adiante na Venezuela é exatamente o que os Estados Unidos não gostariam que tivesse êxito, porque é totalmente contrário ao que eles disseram por toda a vida que era melhor”.

Na hora de desvelar se a América Latina pode libertar-se do controle norte-americano, Luzzani não deu lugar a dúvidas: "Se pensarmos nas riquezas que temos, creio que, no momento, é muito difícil que deixemos de ser um território vigiado”.



[Territorios vigilados. Como opera la red de bases militares norteamericanas en Sudamérica; Editorial Debate, Buenos Aires, 560 páginas].



Fonte: IrãNews
Tradução: Adital

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Brasil e a crise síria: o que quer a senhora Clinton?

 

Editorial do PORTAL VERMELHO

A declaração da secretaria de Estado dos EUA, Hillary Clinton, de que “o Brasil é uma voz muito importante para tentar resolver a crise" na Síria, na quarta-feira (24) a jornalistas em Nova York, depois de uma reunião com o chanceler brasileiro Antonio Patriota, foi quase um pedido para a diplomacia ajudar a deslindar a sangrenta crise provocada naquele país depois das ações armadas de “rebeldes” apoiados precisamente pelo governo dos EUA. E um claro desmentido da torcida negativa que, na mídia conservadora brasileira, tem tentado desqualificar qualquer tentativa brasileira de apoiar, pelo mundo, os esforços pela paz.

O comentário de Hillary Clinton vem num momento favorável à paz, apesar da política intervencionista das grandes potências imperialistas. Tanto o governo do presidente Bashar Al-Assad quanto líderes da oposição armada concordaram em um cessar fogo entre a manhã da sexta-feira (26) e a segunda-feira (29), em virtude de um feriado religioso. Será a primeira suspensão dos combates desde março de 2011, quando a “primavera árabe”, na Síria, degenerou em conflitos armados que, com o apoio ativo dos EUA, da União Europeia e seus aliados no mundo árabe, têm o potencial de mergulhar o país no caos e transformar a Síria num caso semelhante àquele que sobreveio, na Líbia, quando este país sofreu a intervenção militar das potências imperialistas, através da Otan.

A questão subjacente à declaração da senhora Clinton é simples: afinal, o que querem os EUA? O desdobramento trágico da intervenção na Líbia indica que caminho semelhante pode ser trilhado na Síria no rastro de uma intervenção armada patrocinada pelo imperialismo. A alardeada “democracia” levada pela força das armas tem se traduzido, como ocorreu na Líbia e em outros países vítimas de agressão semelhante, no fortalecimento de grupos fundamentalistas religiosos extremamente conservadores e antidemocráticos, tendência semelhante à que se assiste entre os chamados grupos “rebeldes” que agem na Síria com o patrocínio do governo de Washington, como a dirigente da diplomacia dos EUA confessou, novamente, na entrevista desta quarta-feira.

Falar em “democracia”, neste contexto, não é irônico: é hipócrita. Na entrevista, Hillary Clinton deu um sinal das pretensões norte-americanas em relação à diplomacia brasileira. Ela foi clara, dando boas vindas a "qualquer participação brasileira no esforço para alcançar um cessar-fogo, para implementá-lo, para ajudar na transição política" na Síria.

A palavra chave aqui é “transição política”, um eufemismo para esconder o objetivo imperialista de intervir nos assuntos internos e soberanos da Síria e impor a troca do governo atual, de Assad, por outro formado por outras forças e “negociado”.

Esta não é a política brasileira para a crise síria. O Brasil tem autoridade para participar na busca de uma solução para esta crise, primeiro por acolher, em seu território, uma das maiores populações sírias no exterior, criando laços de amizade e parentesco entre os dois povos. Esta é uma autoridade sentimental que reforça outra, decisiva, a autoridade política. Sobretudo desde o inicio do governo Lula, em 2003, o país tem feito sucessivas gestões para fortalecer a amizade com os povos no Oriente Médio e ser um interlocutor influente nas negociações de paz na região.

É a tradição histórica de nossa diplomacia, reafirmada pela presidenta Dilma Rousseff em seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, há exatamente um mês, quando a mandatária brasileira proclamou ao mundo a sua convicção de não existir "solução militar para a crise na Síria. A diplomacia não só é a melhor como, creio, a única solução", disse. O Brasil vem reafirmando esta tese em declarações da Chancelaria e dos votos proferidos na ONU, onde se opõe ativamente a soluções militares e contrárias à soberania do Estado sírio e do seu povo.

O caminho que o Brasil propõe é o da paz e da soberania nacional, como Patriota deixou claro na entrevista concedida juntamente com Hillary Clinton. Sem referir-se à “transição política” citada pela norte-americana, disse esperar que as “posições do Conselho de Segurança representem um ressurgimento de um consenso internacional que contribua para uma solução dentro do mais breve prazo com respeito à Carta da ONU e dentro da prioridade ao diálogo e à diplomacia", rejeitando a possibilidade de uma intervenção na Síria. O importante, acentuou o chanceler brasileiro, é retomar o processo de paz “para encontrar uma solução negociada para a Síria", mobilizando também os países do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) nesse esforço.

Há diferenças entre a posição do Brasil e dos EUA, em relação à crise síria. E Isto sugere a pergunta: o que querem os EUA? O que pretende a senhora Clinton?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Competitividade, símbolo dos paradoxos da globalização

A palavra “competitividade” figura em todas as bocas e já não se restringe as empresas. Agora cidades, regiões e até mesmo as nações devem concentrar suas energias nesse objetivo. Com esse fim, nossos governantes são convidados a se inspirar nas teorias de administração desenvolvidas pelas escolas de comércio dos EUA
por Gilles Ardinat no LE MONDE -BRASIL

Singular unanimidade. Diante do anúncio da demissão de 8 mil funcionários da Peugeot em 12 de julho de 2012, Jean-François Copé, secretário-geral da União por um Movimento Popular (UMP), identificou uma “prioridade absoluta”: “a competitividade de nossa indústria”. Momentos antes, o ex-ministro do Trabalho Xavier Bertrand observava: “Não é apenas uma questão de quantidade, mas também de custo de trabalho e competitividade”.1 Outro argumento retomado no mesmo dia pelo senador e ex-primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin apelava para um “choque de competitividade”, a única forma de aquecer a economia francesa, segundo ele.
Assim ecoava o perfeito coro de tenores formado pelos dirigentes da UMP e políticos dos salões dos palácios do Eliseu e de Matignon. O presidente François Hollande identificou a competitividade como o principal eixo de trabalho. E, 48 horas antes, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault havia definido um objetivo fundamental para a nação: “Melhorar a competitividade de nossas empresas”.
Da estratégia de Lisboa, que em 2000 definiu um “novo objetivo” para a União Europeia (“transformar a economia do conhecimento na economia mais competitiva e dinâmica do mundo”), aos “acordos de competitividade e emprego” lançados pelo presidente Nicolas Sarkozy no fim de seu mandato; das injunções para a “competitividade fiscal” do patronato britânico aos planos de “competitividade industrial” de seu homólogo espanhol, a palavra “competitividade” figura em todas as bocas e já não se restringe ao meio empresarial. A partir de agora, cidades, regiões e até mesmo as nações devem concentrar suas energias nesse objetivo prioritário. Com esse fim, nossos magistrados e governantes são convidados a se inspirar nas teorias de administração desenvolvidas pelas escolas de comércio norte-americanas e colocar em prática seus conceitos:2 controle de custos de produção (“competitividade-custo”), benchmarking(os países são comparados e classificados como empresas em um meio concorrencial), marketing territorial (os territórios devem “vender-se”)3 e pesquisa de financiamento (atração de capitais). Ao passo que o uso dessa caixa de ferramentas aumenta, a competitividade se impõe como o novo padrão de performance dos territórios na globalização. Mas como ela é medida?
Em sentido amplo, a competitividade designa a capacidade de enfrentar com êxito a concorrência. Aplicada aos territórios, essa noção mede o nível de inserção na geografia econômica mundial. Contudo, basta consultar obras e artigos – abundantes – consagrados ao tema para identificar um primeiro paradoxo: apesar do entusiasmo que suscita, esse conceito se revela particularmente frágil no âmbito científico. Isso acontece porque transpõe uma noção microeconômica (a competitividade de produtos e empresas) à esfera política (a competitividade de territórios). Essa analogia é denunciada pelo economista Paul Krugman, agraciado em 2008 pelo Banco Central da Suécia com o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel: “A competitividade é uma palavra vazia de sentido até o momento em que é aplicada às economias nacionais. A obsessão pela competitividade é, ao mesmo tempo, falsa e perigosa”.4
Numerosos especialistas tentaram remediar essa carência construindo uma definição mais consensual para o termo, como a do economista austríaco Karl Aiginger, para quem esse conceito descreve cada vez mais uma “aptidão para gerar bem-estar” no meio concorrencial. Ele indica que “o salário e o emprego são gerados em processos nos quais a rivalidade e a performance relativa desempenham um papel”.5 Essa concepção, aplicada ao cenário atual, supõe que a concorrência generalizada entre territórios seja compatível com o melhoramento do nível de vida.
Ainda assim, permanece a questão: é possível considerar territórios e empresas como instituições de mesma natureza? Um território, espaço apropriado e delimitado por uma fronteira, oferece a um povo suporte físico, assim como boa parte de suas referências culturais e políticas. Ele não se reduz a dados macroeconômicos: as notas (papel das agências de risco), as taxas (inflação, juros, desemprego) ou os salários (comerciais, orçamentários) refletem apenas um aspecto – superficial e material – da nação. Contrariamente a uma empresa, o objetivo maior de um território não é lucrar. Sua ação se inscreve no tempo longo da história, não no imediatismo dos mercados. Enfim, uma nação não faz balanços nem pode ser liquidada.
É sobre essa assimilação, contudo, que se constrói a teoria da competitividade, um dos pilares da globalização. Aplicada aos territórios, essa noção marca uma nova etapa da “mercantilização do mundo”, porque subentende que existe um “mercado de territórios” em que as empresas podem escolher suas bases a partir do jogo da concorrência. Em um mundo onde tudo, ou quase tudo, pode ser cotizado na Bolsa (direitos de poluir, títulos de dívidas, matérias-primas), a competitividade faz as vezes de bússola para os investidores ao avaliar a suposta performance de um território.
Detenhamo-nos às declarações oficiais: alimentar a competitividade estimularia o emprego, a produtividade e o nível de vida. Segundo os especialistas delegados pela Comissão Europeia, “a concorrência é aliada, e não inimiga, do diálogo social”.6 A globalização ofereceria ao Ocidente a possibilidade de se livrar das atividades manufatureiras e da fabricação de produtos de pouco valor agregado em favor de empregos altamente qualificados e mais bem remunerados. Em resumo, uma operação vantajosa para todas as partes: de um lado, os países industrializados se beneficiariam com a especialização de serviços e da alta tecnologia (“competitividade estrutural”, que depende da capacidade de inovação e exploração da propriedade intelectual); do outro, o Terceiro Mundo sairia da pobreza graças aos deslocamentos de empresas para seus territórios (guiados pela “competitividade-preço”, ou seja, pela diminuição dos preços dos produtos em função dos baixos salários, da desvalorização da moeda e do crédito com juros baixos).
Esse cenário – que certos “países cobaias”, considerados simplesmente territórios low cost, não considerariam muito vantajoso – corresponde à realidade? Nenhuma economia, por mais sofisticada que seja, pode se emancipar dos problemas de custos. A Alemanha, muito usada como exemplo, é um país de forte tradição industrial. No entanto, aumentou sua competitividade por meio da estagnação salarial e de um imposto sobre o consumo considerado “social” (uma redução das contribuições patronais compensadas pelo aumento das taxas sobre o consumo de bens duráveis). Essas medidas unilaterais coincidem com a decolagem de seus excedentes comerciais. Além disso, apesar dos mitos sobre o atraso insuperável, os países emergentes se mostram cada vez mais competitivos pelas inovações em filões importantes do mercado (informática na Índia, energias renováveis na China).
Não seria ilusório, então, dividir o mundo em países de competitividade “estrutural” e países de “competitividade-preço”, condenados a ser apenas o lado mais fraco da globalização? O relatório Blanc de 2004,7 que inspirou a política francesa dos polos de competitividade, afirmava que, “para retomar uma vantagem significativa, a economia deve escolher entre alinhar-se ao modelo social asiático ou tomar a dianteira na inovação”. Com base nessa visão binária, os dirigentes da zona atlântica do euro retificaram os deslocamentos das últimas décadas. E, em seus discursos, raramente figurava a ideia de repatriar os milhões de empregos perdidos no setor têxtil, siderúrgico ou na indústria de brinquedos. Os países cuja produção se respaldou no Estado seriam condenados por “falência econômica”, teriam de reimportar esses produtos e se especializar em serviços e pesquisa.
Mas a estratégia da competitividade estrutural não seria outra forma de designar a renúncia política? Para além da frivolidade do “todos ganham” e da promessa de melhorar quantitativa e qualitativamente o emprego, em geral se trata da imposição de medidas impopulares: aumento de imposto, arrocho salarial, austeridade fiscal. Assim, foi em nome da competitividade que a União Europeia e o FMI exigiram a redução dos salários na Grécia.8 Menos performático que seus vizinhos, o país deveria baixar significativamente a remuneração do trabalho, enquanto os planos de salvamento garantiriam provisoriamente a remuneração do capital, ou seja, o pagamento dos juros ao sistema financeiro. Nesse sentido, a competitividade mascara o que, em realidade, parece um dumping generalizado.
Na década de 1980, a expressão “dumping monetário” foi abandonada (em teoria, denunciada pelo FMI) para dar lugar ao termo “desvalorização competitiva” – operação que consiste em manter o câmbio de uma moeda artificialmente baixo para favorecer as exportações. O termo dumping conservava uma característica pejorativa, razão pela qual foi substituído por “competitividade”, suficientemente respeitável para autorizar um governo a tomar medidas antissociais sem ser estigmatizado. Em resumo, essa palavra permite formular de maneira politicamente aceitável a imposição de se adaptar à concorrência, estratégia que a população não necessariamente escolheu, mas que é um dos pilares da globalização neoliberal.
Promessa de prosperidade que desemboca em políticas de dumping: esse discurso paradoxal de duplo sentido repousa sobre o dogma da concorrência entre sistemas produtivos. Se a ideia de uma “concorrência livre e perfeita” guiou diversas leis antitruste e antidumping,9 sua transposição aos territórios apresenta alguns problemas. Em primeiro lugar, não existe nenhuma autoridade de regulação confiável para a concorrência entre nações. Nem a Organização Mundial do Comércio (OMC) nem a Organização Internacional do Trabalho (OIT) parecem estar em condições de regulamentar os diferentes dumpings. Assim, a China pode acumular livremente dumping social (baixos salários), ambiental (livre poluição pelas indústrias), monetário (desvalorização deliberada do yuan), regulamentário (flexibilidade das leis) e fiscal (restrições nos serviços sociais estatais e multiplicação de zonas isentas de impostos). A lei do mercado, ao ser aplicada aos territórios, se revela fundamentalmente distorcida.
O discurso sobre a competitividade tenta mascarar esse panorama com a correção das disparidades entre os diferentes locais de produção. Esses esforços parecem irrisórios quando as abismais diferenças de custos são levadas em conta: o bloqueio dos salários no Ocidente, por exemplo, permite realmente que o salário dos trabalhadores franceses seja comparado ao de seus homólogos vietnamitas? Para cumprirem esse objetivo oficial (“ganhar a batalha da competitividade”), essas políticas respondem às tentativas do setor empresarial de reduzir os custos do trabalho. Surpreendente coincidência, a busca pela competitividade, pouco contundente em sua luta contra os deslocamentos de indústrias, constituiria, assim, um álibi cômodo para garantir ou aumentar a remuneração do capital. Nesse sentido, evocar os termos “território” ou “nação” constitui um artifício retórico, porque os benefícios não são coletivos (noção de interesse geral ou nacional), e sim categorizados (aumento do lucro de alguns).
Por outro lado, a concorrência frontal dos sistemas produtivos gera um efeito depressivo inerente sobre os salários, a arrecadação de impostos e a proteção social – todos eles com tendência ao reajuste para baixo. Esse fenômeno não prejudica apenas os assalariados (perda do poder de compra) e os Estados (redução da receita fiscal): também reduz a demanda dos mercados. Sem mencionar que, se os países decidissem simultaneamente impor suas demandas, precipitariam uma grave depressão. Analogicamente, no “mercado dos territórios” os excedentes comerciais não poderiam ser retirados todos de uma vez: é preciso necessariamente países no vermelho para que outros estejam no verde.10 A obsessão de uma “convergência de competitividades” segundo o modelo alemão, portanto, não passa de uma fábula.
A partir do momento em que se constata a fragilidade teórica do discurso sobre a competitividade – porque conduz a diagnósticos enganosos e ao dumping dissimulado –, como explicar seu enaltecimento por parte de dirigentes políticos? Talvez porque essa noção responda às exigências das empresas e dos mercados internacionais. Sem meios de controlar uns aos outros, os eleitos se adaptam às suas exigências. O objetivo da competitividade mascara a perda de autoridade e de soberania dos Estados-nação, e permite eliminar da ação política qualquer possibilidade de proteção social. Enquanto isso, o território – tradicionalmente considerado uma barreira contra as ameaças exteriores (sejam elas militares ou comerciais) com suas fronteiras e instituições políticas – perde gradualmente essa função protetora com o enfraquecimento das barreiras aduaneiras e prerrogativas do Estado.

Gilles Ardinat
Geógrafo


Ilustração: Alves


 
1  Agência France Presse (AFP), 12 jul. 2012.
2  Michael Porter, L’avantage concurrentiel des nations[A vantagem concorrencial das nações], Inter-Editions, Paris, 1993.
3  Ler François Cusset, “La foire aux fiefs” [A feira nos feudos], Le Monde Diplomatique, maio 2007.
4  Paul Krugman, “Competitiveness: a dangerous obsession” [Competitividade: uma perigosa obsessão], Foreign Affairs, Tampa, v.73, n.2, mar.-abr. 1994; “The competition myth” [O mito da competitividade], The New York Times, 23 jan. 2011.
5  Aiginger Karl, “From a dangerous obsession to a welfare creative ability with positive externalities” [De uma perigosa obsessão à habilidade criativa para gerar bem-estar com externalidades positivas], Journal of Industry, Competition and Trade, v.6, n.2, jun. 2006.
6  Alexis Jacquemin e Lucio Pench, Pour une compétitivité européenne. Rapport du groupe consultatif sur la compétitivité [Por uma competitividade europeia. Relatório do grupo de consultoria sobre a competitividade], De Boeck, Bruxelas, 1997.
7  Christian Blanc, “Pour un écosystème de la croissance. Rapport au premier ministre” [Por um ecossistema do crescimento. Relatório ao primeiro-ministro], La Documentation Française, Paris, 2004.
8  Ler Anne Dufresne, “Le consensus de Berlin” [O consenso de Berlim], Le Monde Diplomatique, fev. 2012.
9  Os Estados Unidos votaram, por exemplo, no Ato Antitruste de Sherman (1890) e o no Ato Antitruste de Clayton (1914), para melhorar o funcionamento do mercado.
10            Ler Till van Treeck, “Victoire à la Pyrrhus pour l’économie allemande” [Vitória de Pirro para a economia alemã], Le Monde Diplomatique, set. 2010.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Fidel Castro elogia plantas como alternativas para alimentação

       

  
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Havana, 24 out (Prensa Latina) O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, destacou novamente hoje as propriedades das plantas Moringa oleifera (acácia-branca) e Amora (morus alba) como alternativas para a alimentação.
A Acácia-branca ou Moringa, "originária da Índia, é o único vegetal que possui todos os tipos de aminoácidos. Sua produção de folhas verdes por hectar, com o planejamento do plantio e o manejo adequado, pode ultrapassar 300 toneladas por hectar em um ano. São conhecidas dezenas de propriedades medicinais", afirma Fidel Castro em uma carta publicada na página digital CubaDebate, em resposta a um leitor.

"Seus efeitos no sistema digestivo são muito bons como todos os vegetais, aparte de suas elevadas qualidades proteicas; mas não devem se consumidas em excesso, mais de 30 gramas diárias, o que depende da motilidade intestinal de cada um. Algumas pessoas admitem quantidades maiores. Conheço pessoas que a consomem em quantidades maiores como chá, em forma de pó, com resultados excelentes por suas qualidades sedativas e favoráveis ao descanso", indica o líder cubano.

Revela que "em nosso país fornecemos amostras de sementes de diferentes variedades aos institutos de pesquisa agrícola. Logo saberemos mais sobre suas potencialidades. Do meu ponto de vista, seu maior benefício para a população está em suas qualidades como ração animal para a produção de carne, leite, ovos, e inclusive o cultivo de peixes".

De acordo com Fidel Castro, "a Amora complementa esta importante qualidade da Moringa" e "tem sido a base para a produção de seda mediante um processo biológico que os chineses desenvolveram durante milhares de anos através dos bichos da seda. As variedades principais que temos aqui provem desse país, ainda que na atualidade em outras partes do mundo se desenvolveram diferentes variedades, algumas das quais recebemos recentemente".

O líder revolucionário explica que a limitação da planta "nas regiões frias é a temperatura e a baixa luminosidade que detêm seu crescimento em vários meses do ano. Em nosso clima, cresce o ano inteiro. Vários países a utilizam na produção de leite de cabra, cujos preços às vezes chegam ao dobro do leite de vaca para as pessoas alérgicas".

Em Cuba, confirma Fidel Castro, "haviam algumas plantas de Moringa, que os colonisadores ingleses levaram da Índia ao leste da África e daí ao Caribe inglês e América Central, possivelmente através de Belize, onde o estímulo dos altos preços que pagaram os yankis aos primeiros agricultores fomentou seu desenvolvimento por um brevíssimo tempo, e depois não encontraram mercado nem dentro nem fora do país. A forma de distribuição da terra e a falta de escolas e instrução impediu seu desenvolvimento. Nisso, desgraçadamente, os povos do chamado Terceiro Mundo ficaram para trás", admite.

No Brasil, os centros de pesquisa têm promovido o cultivo desta planta, e seu clima é excelente para o desenvolvimento agrícola, aponta o líder da Revolução cubana.

Em outra parte de sua carta, Fidel Castro considera que "a América Latina e o Caribe, em seu conjunto, dispõem de terra, água e recursos energéticos sem necessidade de promover a produção de gás de xisto mediante fratura hidráulica como fazem os Estados Unidos, com riscos provados para a própria saúde dos cidadãos desse país, como começaram a divulgar alguns meios de imprensa sérios".

"Gostaríamos que os mesmos (meios) discutissem sobre o tema", acrescenta o líder cubano e faz referência como um deles reconheceu que as pessoas que vivem nos Estados Unidos perto dos lugares onde se extrai gás não convencional, mostram um significativo deterioração de sua saúde.

O órgão de imprensa em questão alertou que "a metade das pessoas que participou no estudo informou que antes da exploração não tinha problemas com a saúde, mas agora sofre de alergia, asma, artrite, câncer, assim como pressão alta e doenças de coração, rins, pulmões e tiroides".

Isto é, 81% das pessoas reclama do mau cheiro dos compostos químicos, que às vezes contêm amoníaco, cloro, enxofre e propano, entre outros.

Nos Estados Unidos, esse gás é extraído através da fratura hidráulica: "Normalmente o material injetado é água misturada com areia e produtos químicos."

É a terceira vez nos últimos meses que vi advertirem sobre esse perigo, afirma Fidel Castro e expressa que "ao parecer, muito poucos sabem que as Nações Unidas já está consciente que sobre ela cai a responsabilidade de pagar cem mil dólares para cada uma das vítimas da epidemia de cólera que provocou a morte a mais de 7 mil pessoas no Haiti, contagiadas pelo contingente militar nepalês que as Nações Unidas introduziu nesse país, que não padecia dessa doença durante um século".

"Após exaustivas investigações foi confirmado que a linhagem é exatamente a mesma que existe em Nepal, e o valor a pagar aos familiares é de cem mil dólares por vítima, o que parece justo, mas ninguém menciona no entanto o que deve ser pago à nação haitiana pelo enorme prejuízo ocasionado a esse país pobre e subdesenvolvido", indica o líder revolucionário.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Reforma do Ensino Médio Brasileiro: A educação brasileira em perigo

 


Maritânia Camargo no MARXISMO.ORG
 
 
Os jornais de todo o Brasil, desde a publicação dos índices do IDEB - Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico -, divulgam que a educação pública, em nível médio, precisa passar por uma reforma e o Governo Federal já anunciou que a “reforma” sairá do papel. Não há dúvidas que existe um projeto a ser implementado e praticamente todas as esferas do poder estão caminhando juntas. São mudanças na estrutura do ensino e cabe aos sindicatos, às entidades estudantis e à sociedade organizada alertar a população da armadilha que está sendo preparada.
No início deste ano, o Conselho Nacional de Educação  em sua Resolução de número 2, de 30 de janeiro, publicou no Diário Oficial da União as "Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio". Já em maio de 2012 a Câmara dos Deputados constituiu uma "Comissão Especial Destinada a Promover Estudos e Proposições para a Reformulação do Ensino Médio". Em 17 de agosto no programa de rádio Hora da Educação, após a divulgação dos índices do IDEB, o ministro da Educação Aloizio Mercadante, afirma que “Precisamos de um novo currículo, mais flexível, menos fragmentado, tirando um pouco dessa sobrecarga de disciplinas”. Ainda em agosto o grupo RBS lança a campanha institucional com o slogan "A Educação Precisa de Respostas" e no painel promovido, ao vivo para todo o sul do país, "especialistas", governadores e o ministro, reafirmaram que a reformulação do Ensino Médio e a flexibilização da grade curricular são a prioridade. O projeto deve ser implantado a partir de 2013.
O que significa reformular o ensino médio? Qual a relação da flexibilização da grade curricular com a vida dos jovens e professores brasileiros?
Para o Ministro da Educação Aloizio Mercadante é preciso colocar em prática a Resolução 2 do CNE/CEB[1], que é por si só, observemos, por demais esclarecedora.
A Resolução 2 está organizada em 23 artigos, vários subtítulos e dezenas de incisos, numa linguagem que, quando olhada superficialmente, agrada muitos desavisados de boas intenções. Como explica o estudioso francês Michel Éliard em seu livro “O Fim da Escola’, vivemos momentos de extrema confusão social que têm efeitos devastadores sobre a linguagem. Certos termos que desde a Revolução Francesa expressaram os elementos essenciais da democracia, hoje são considerados obsoletos. Falar de igualdade republicana dos direitos não está na moda. A moda é  a diferença, o pluralismo, o multiculturalismo, a equidade. O universal “não está na moda”. A falada Resolução nº 2 cumpre exatamente o papel de estar na moda e, portanto, é o desmonte daquela ideia de igualdade para todos. Vale ressaltar que a Resolução n. 2 elimina da sua linguagem qualquer resquício da igualdade republicana que ainda era mantida na Resolução 3 de 26 de junho de 1998, que esteve vigente até a data da publicação desta de n. 2.
Pode-se dizer que as Diretrizes que compõem a Resolução n. 2 estão fundamentadas em três grandes eixos:
·         A divisão do Ensino Médio em áreas de conhecimento, através da flexibilização do currículo escolar;
·         A integração entre mundo do trabalho e escola;
·         O Financiamento da educação privada, ao invés da educação pública.
 
1.    Áreas de conhecimento
 A nova proposta educacional prevê que o currículo tenha uma parte comum e a outra flexível. Esta ideia já constava na LDB e na Resolução de 1998. Todavia, a Resolução n. 3 de 1998 era muito clara quando afirmava em seu inciso II do art. 11 que “a base nacional comum deverá compreender, pelo menos, 75% (setenta e cinco por cento) do tempo mínimo de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, estabelecido pela lei como carga horária para o ensino médio”. Já a Resolução 2 não trata de números, apenas autoriza a flexibilização. Na Resolução 2, a única “garantia” é que será levada em conta a diversidade, as características locais e especificidades regionais.
Diante disto, a proposta é que o currículo seja organizado em áreas de conhecimento: Linguagem; Matemática; Ciências da Natureza e Ciências Humanas.
Vários estados e municípios já passaram por experiências aproximadas, pois a LDB já autorizava que uma pequena parte do currículo fosse flexível. Muitos estados fizeram o experimento. Para exemplificar o assunto, retoma-se a primeira década do século XXI, quando o  Estado de Santa Catarina colocou no currículo do Ensino Médio a disciplina NRHE (Noções de Relações Humanas e Ética). Para a seleção dos profissionais que atuaram na área, não foi necessário concurso público, pois a disciplina se enquadrava na parte flexível, ou seja, era uma experiência. Os professores que ministraram esta disciplina tinham formações variadas: sociologia, direito, cursos técnicos, magistério. Alguns anos depois, o estado eliminou a matéria e passou uma borracha no assunto. Quando eliminada não deixou rastros. Os trabalhadores que ministraram aquela disciplina foram eliminados dos quadros do serviço do estado e finalizou-se o assunto.
Este modelo, conforme a Resolução 2 deve ser aplicado em todo o país. Cada governo, escola, ou até mesmo a comunidade deve decidir o que fazer com seus currículos, a maior parte da grade será flexível e, portanto, a escola passa a ser um grande experimento.
Outra consideração a ser feita  diz respeito ao que será contemplado em cada área de conhecimento. Pela Resolução, na área de conhecimento intitulada linguagem, por exemplo, entender-se-á:
“Parágrafo único. Em termos operacionais, os componentes curriculares obrigatórios decorrentes da LDB que integram as áreas de conhecimento são os referentes a:
I - Linguagens:
a) Língua Portuguesa;
b) Língua Materna, para populações indígenas;
c) Língua Estrangeira moderna;
d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e, obrigatoriamente, a musical;
e) Educação Física.”
O parágrafo único significa que havendo uma aula semanal de Língua Portuguesa, uma de Língua Materna, uma de Língua Estrangeira moderna, uma de Arte e uma de educação física, o estudante cumpriu o que se chama de currículo comum, o educando teve quatro aulas de “linguagem” por semana. Ou seja, existe aqui uma diminuição espantosa de conteúdo e uma redução gigante da carga horária dos professores efetivos concursados para as disciplina específicas. Um retrocesso de décadas para a educação pública do país.
Uma farsa educacional que colocará em risco a formação de milhões de jovens em todo o país e o emprego de milhares de professores.
 
2.    Escola e trabalho
Neste item é necessário primeiro esclarecer que nenhuma proposta educacional, atual, tem como fundamento a formação profissional para o trabalho. Pelo contrário, as novas legislações educacionais têm por objetivo adequar a escola ao novo mundo do trabalho, ou melhor, ao antigo mundo do trabalho, aquele do século XIX, onde a jornada era de 14h diárias e as crianças trabalhavam. Por isso, os estudantes do ensino médio não precisam mais ter conhecimento, precisam apenas permanecer na escola e transformarem-se em mão de obra barata por mais tempo. Tal afirmação está fundamentada, em especial, em dois itens da Resolução 2.
“Art. 14 (...)
IV - no Ensino Médio regular noturno, adequado às condições de trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga horária, o projeto político-pedagógico deve atender, com qualidade, a sua singularidade, especificando uma organização curricular e metodológica diferenciada, e pode, para garantir a permanência e o sucesso destes estudantes:
a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, com menor carga horária diária e anual, garantido o mínimo total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas;”
...
IX - os componentes curriculares devem propiciar a apropriação de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informações e conhecimentos, estabelecendo um conjunto necessário de saberes integrados e significativos;” (grifos meus)
Ou seja, nossos jovens trabalhadores poderão concluir o Ensino Médio, não mais em 3 anos, mas em quantos anos forem necessários para agradar o mundo do trabalho, tendo como única condição a carga horária. Até porque, como afirma a nova diretriz, a escola não deve ser um ambiente de acúmulo de conhecimento. Ao que parece, a escola deve se transformar em um depósito de jovens.
3.    Financiamento da Educação
Segundo o Censo da Educação Superior 2010, o Ensino Superior Privado subiu sua representação de 68,9% em 2008 para 74,2% em 2010, ou seja, o Ensino Superior público (federal, estadual e municipal) caiu de 31,1% para 25,8%, dado assustador que revela qual o caminho da educação pública no Brasil. Com a reforma do Ensino Médio o governo federal, apoiado por todos os governos estaduais e municipais pretende diminuir o custo da educação pública e ampliar o incentivo ao Ensino Superior Privado.
A fórmula é simples, reduz-se o custo do Ensino Médio público, aplica-se o Enem[2] e se distribui bolsas de estudos para que os alunos estudem em qualquer faculdade privada de fundo de quintal do país. Uma ação que atende aos interesses do mercado e que destrói o ensino público a cada dia.
É preciso enfatizar que a Resolução 2, no que diz respeito ao financiamento do Ensino Médio, reafirma e enfatiza a ideia de autonomia da gestão escolar, ou seja, aquela ideia vigente  de que não são os governos que devem sustentar as escolas, mas sim as comunidades. Para isso se dá o nome de democratização da Educação. 
Por fim, o que está em jogo no que se intitulou Reforma do Ensino Médio, através da Resolução 2 do CNE/CEB, é o papel que a história destinou à escola.  Isto é, a conquista da igualdade de direitos para que todos, sejam pobres ou ricos, tenham acesso à educação pública, gratuita e laica. O direito histórico de acesso ao  conhecimento que a humanidade acumulou durante milênios e que, durante muito tempo, era guardado para uma casta. Como afirma Éliard, em livre tradução, “defender o que existe é preparar o futuro. Ao contrário dos vastos programas ditos de refundação da escola, do primário ao superior, que escondem a destruição do edifício”.
Como já dito, é preciso que educadores, sindicatos de trabalhadores, estudantes e outras instituições ligadas ao tema tomem conta do assunto e levantem o debate em nível nacional, para lutar não em nome de uma modernidade vazia, mas de uma educação que continue a desenvolver o conhecimento e prepare os jovens para novos desafios.
 

[1] Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica
[2] Exame Nacional do Ensino Médio