sábado, 31 de maio de 2008

IGNACIO RAMONET

Mídia, o aparato ideológico da globalização

Por Henrique Costa

Reproduzido do Observatório do Direito à Comunicação

"O mais difícil de perceber não é a informação distorcida, mas a informação oculta". Em torno dessa e de outras idéias o jornalista, escritor e teórico da comunicação Ignacio Ramonet apresentou, na noite de segunda-feira (26/05) no Instituto Cervantes, em São Paulo, a palestra "Informação, poder e democracia", como parte do ciclo "Pensar Iberoamérica" do instituto espanhol. Com a mediação do sociólogo Emir Sader, o tom foi não apenas de denúncia da grande imprensa, mas também uma reflexão sobre a indústria cultural e as possibilidades de uma imprensa alternativa.

Membro do conselho editorial do Le Monde Diplomatique – um dos exemplos mais bem-sucedidos de imprensa alternativa no mundo – e diretor do jornal até recentemente, Ramonet foi descrito por Sader como um "intelectual da esfera pública". De fato, as inúmeras atividades deste galego que foi aluno de Roland Barthes comprovam sua vocação para o ativismo público, como a fundação das ONGs internacionais ATTAC e Media Watch Global e como um dos fomentadores do Fórum Social Mundial.

O evento no Instituto Cervantes serviu fundamentalmente para reafirmar suas posições para um público restrito, mas, em geral, pouco familiarizado com o debate sobre democratização da comunicação. Inclusive porque, em uma de suas primeiras afirmações, Ramonet diria que "muitos militantes de esquerda que tomaram consciência da luta contra o neoliberalismo não tomaram a consciência da necessidade de democratizar os meios de comunicação de massa". Ou seja, é evidente para ele que qualquer transformação social depende da desconcentração dos meios de comunicação das mãos de poucos afortunados que os usam para seus fins particulares. No entanto, os obstáculos para isso são imensos.

Emir Sader colocou em pauta um outro ponto grave na cobertura jornalística, que diz respeito à impossibilidade de negar ou mentir sobre pontos inegavelmente positivos, como, por exemplo, os ganhos sociais do regime cubano ou os avanços da nova constituição boliviana. A saída, considera, é simplesmente omitir. "Como não tem como falar mal, não falam. E essa omissão é gravíssima", afirmou Sader.

Kane e Murdoch

Ramonet listou uma série de exemplos que colocam em destaque o cinema blockbuster americano, para traduzir a idéia de que a estratégia de distração pode ser muito mais eficaz para o status quo. Na cultura de massas se reconhece o direito à distração, ou seja, a possibilidade de assistir a um filme desarmado, sem ressalvas. E é justamente nessas ocasiões que as idéias dominantes penetram com mais facilidade, diferentemente do que aconteceria se assistíssemos a um filme "político".

Dentro desse esquema, a dominação cultural é tão importante quanto a militar. A idéia exposta tanto por Ramonet quanto por Sader de que a guerra imperialista hoje se faz tanto pela via militar quanto pela cultural acusa que é justamente através dos meios de comunicação que se produz os consensos e legitimações. "Em vários processos de dominação, a violência é usada numa primeira fase, mas a guerra não pode durar tanto. A segunda fase é justamente conquistar mentes", afirmou Ramonet. A última investida, conta, é oferecer a idéia de que globalização financeira é igual à modernidade. "Os meios de comunicação têm a função de ser o aparato ideológico da globalização."

Muito distante disso está o conceito verdadeiramente francês de que a imprensa se constituiria em um "quarto poder". Poder este que, diferentemente do que se compreende nos tempos atuais, seria o responsável por fiscalizar os três poderes de Montesquieu, lembra Ramonet. Curiosamente, assume o jornalista, a concentração cada vez maior dos meios de comunicação tem, inclusive, deixado obsoletos os grandes arquétipos da mídia tradicional. O Cidadão Kane, de Orson Welles, nada mais era do que um magnata do final do século 19 estabelecido em seu próprio país e eivado de alguma ética. "Comparem Kane com Rupert Murdoch!", enfatiza Ramonet, citando o bilionário dono de canais de TV, jornais, revistas e todos os tipos de mídias nos cinco continentes, algumas delas acusadas de dar suporte, por exemplo, a já comprovada farsa da invasão do Iraque pelo governo norte-americano.

Observatórios de mídia

A questão é que a imprensa trocou a cidadania pelo espetáculo. Para o jornalista, a lógica em que atuam as grandes empresas de mídia não mais diz respeito ao velho esquema de vender informação ao público, mas sim vender público aos anunciantes, citando o exemplo dos jornais gratuitos. "Há uma tendência de baixar o nível para atingir uma faixa maior de público. Além de tudo, se você vai dar a informação de graça, não vai querer gastar muito para produzi-la". Isso mesmo que, de modo geral, o nível educacional melhore e essa contradição fique ainda mais evidente.

A globalização é uma máquina de frustração, esclarece Ramonet. Mas contra a hegemonia do pensamento único, é possível a constituição de uma imprensa alternativa viável? "Muito difícil", diz ele, justamente pelo que dizia há pouco. Essa mídia estaria disposta a baixar sua qualidade para atingir o grande público? O jornalista, no entanto, vê boas perspectivas quando se fala nos observatórios de mídia e acredita que o Brasil está bem servido nesse quesito. Além disso, se entusiasma com as TVs públicas, desde que se entenda que elas não podem ser governamentais. "Não se pode ter medo da democracia".

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Os intelectuais pacifistas de Israel

Por meio de uma ampla pesquisa nos arquivos do Estado, eles desmontam os mitos da política oficial e procuram abrir caminho para uma nova relação com os árabes. Graças aos estudos, sabe-se, por exemplo, que a ocupação da Palestina sempre esteve nos planos da direita sionista

Eric Rouleau

A intelligentsia israelense conheceu, nos anos 1980, o começo de uma mutação notável, que marca a ascensão de uma nova geração de homens e de mulheres que não conheceram a shoah [1] nem a criação do Estado de Israel. Essa evolução é também testemunho do amadurecimento progressivo das elites, capazes, a partir de então, de julgar sem complexo o passado e de se livrar dos mitos e tabus propalados pelos dirigentes israelenses.

O anticonformismo desses intelectuais — historiadores, sociólogos, filósofos, jornalistas, escritores, cineastas, artistas — manifestou-se depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967: a ocupação, a resistência palestina, a ascensão ao poder da direita nacionalista e religiosa em 1977, a influência crescente dos colonos e dos rabinos expansionistas, a exacerbação das tensões entre religiosos e leigos não deixou de alimentar a contestação. “Quando eles falam de Tel-Aviv, os religiosos usam com freqüência a expressão ‘Sodoma e Gomorra’, ao passo que, para os laicos, Jerusalém é como a Teerã do tempo dos aiatolás”, comenta Michel Warschawski, um dos dirigentes da ala radical do movimento pacifista.

A paz com o Egito, em 1979, suscitou a esperança de uma solução global, que a invasão do Líbano, em 1982, transformou em desilusão. Vista pela opinião pública como a primeira guerra ofensiva de Israel, esta última foi provocada por razões que se revelaram falsas. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que a dupla Menahem Begin - Ariel Sharon buscava aniquilar, não promoveu nenhuma provocação, ao contrário do que o governo israelense afirmava. Ela deu, até mesmo, sinais da vontade de se engajar na via do compromisso. Não colocava em perigo a existência do Estado judeu. À época, muitos israelenses ficaram escandalizados com a extrema brutalidade de suas forças armadas, e com o número exorbitante de vítimas entre os civis palestinos e libaneses, que culminou no terrível massacre de Sabra e Chatila.

Acontecimentos sem precedentes se sucederam então: cerca de quatrocentos mil manifestantes protestaram no centro de Tel Aviv; quinhentos oficiais e soldados desertaram; o movimento dos refuseniks [2] tomou forma com aqueles que se recusavam a servir o exército, inicialmente no Líbano, em seguida nos territórios ocupados. A “pureza das armas”, de que o Estado judeu se gabava desde o seu nascimento, ficou seriamente prejudicada.

São os primeiros pesquisadores, desde a criação do Estado de Israel, a fundamentar seus trabalhos em documentos irrefutáveis, ao invés de referências de segunda mão

Jovens historiadores contribuíram ainda mais, voluntariamente ou não, para o descrédito desse slogan. Ao tomar conhecimento dos arquivos oficiais, em grande parte tornados públicos em 1978 (trinta anos depois dos acontecimentos relacionados, como autoriza a lei israelense), descobriram que o comportamento das forças judaicas, antes e durante a Guerra de 1948, esteve longe de corresponder à imagem idílica projetada pela propaganda. Apoiado por documentos oficiais, Simha Flapan, fervoroso sionista até sua morte e um dos dirigentes do partido de esquerda Mapam, foi o primeiro a publicar uma obra expondo os “sete principais mitos” utilizados para enganar a opinião pública durante décadas [3].

Dominique Vidal [4], em colaboração com Sébastien Boussois, expõe e analisa as conclusões daqueles que, atualmente, designamos como “novos historiadores”: trata-se dos primeiros pesquisadores, desde a criação do Estado de Israel, a fundamentar seus trabalhos não sobre referências de segunda mão, como fizeram seus predecessores, mas sobre documentos irrefutáveis, consultados nos arquivos do Conselho de Ministros, do Exército, do Palmach (tropas de choque), das organizações sionistas, do diário do primeiro-ministro David Ben Gurion, entre outros.

Seu livro descreve as circunstâncias que conduziram à guerra contra os exércitos árabes, estigmatiza o papel de Ben Gurion, no melhor dos casos ambíguo, e consagra um capítulo a Benny Morris, o líder dos “novos historiadores”, que Vidal classifica de “esquizofrênico”, em razão do fosso entre seu engajamento de historiador na busca da verdade e suas posições políticas próximas da extrema-direita israelense. Vidal analisa, por fim, a obra mais recente de Ilan Pappé, The ethnic cleansing of Palestine ["A limpeza étnica da Palestina", ainda sem edição em português], que provocou tal escândalo (depois de tantos outros) que ele teve que se demitir da Universidade de Haifa para se exilar em uma universidade britânica.

Pappé não é o primeiro intelectual dissidente, e sem dúvida não será o último, a se expatriar para escapar do ambiente opressivo reservado aos “pestilentos”, como ele se define. No entanto, é muito difícil contestar suas narrativas, bem mais detalhadas do que as de seus predecessores. O historiador de Haifa teve acesso a documentos guardados nos arquivos israelenses há sessenta anos (e não apenas há quarenta, como foi o caso de seus predecessores). Mas ele também se baseou nos escritos de historiadores palestinos, muitas vezes testemunhas oculares dos acontecimentos. E recolheu testemunhos de sobreviventes da limpeza étnica, até agora, curiosamente, negligenciados por seus colegas, seja pela rejeição a priori dos testemunhos, seja por má fé, seja pela ignorância da língua árabe. São testemunhos ainda mais preciosos pelo fato de os Estados árabes se recusarem até hoje a abrir seus arquivos aos pesquisadores.

"Nós estamos em condições de ocupar toda a Palestina, disso não tenho qualquer dúvida", escreve Ben Gurion, o fundador de Israel, três meses antes da guerra de 1948

As divergências entre Ilan Pappé e Benny Morris não são, em última análise, fundamentais. Um e outro confirmam, em primeiro lugar, que a Guerra de 1948 não foi, como se costuma dizer, um combate de “David contra Golias”, pois as forças judaicas eram claramente superiores em efetivos e armamentos às de seus adversários. No auge da guerra civil judaico-palestina, havia apenas alguns milhares de combatentes palestinos mal equipados, apoiados por voluntários árabes do Exército de Libertação de Fawzi Al-Qawuqji. E, mesmo quando os Estados árabes intervieram, no dia 15 de maio de 1948, seus contingentes eram muito inferiores aos da Haganá [5], que não parava de se reforçar.

Além disso, os dois historiadores concordam que os exércitos árabes invadiram a Palestina in extremis, e certamente a contragosto, não para “destruir o jovem Estado judeu”, algo do qual sabiam que eram incapazes, mas para impedir que Israel e a Cisjordânia — em “conluio”, segundo o historiador Avi Shlaïm — partilhassem o território devolvido aos palestinos pelo plano de divisão da ONU de 29 de novembro de 1947.

“Nós estamos em condições de ocupar toda a Palestina, disto não tenho qualquer dúvida”, escreveu Ben Gurion a Moshe Sharett em 1948, três meses antes da guerra israelo-árabe e algumas semanas antes das entregas maciças de armamentos encaminhados, via Praga, pela União Soviética. Algo que não o impediu de proclamar repetidas vezes que Israel estava ameaçado de um “segundo holocausto”.

Deixando-se arrebatar pela euforia das vitórias conquistadas, relata Ilan Pappé, o “pai” do Estado judaico escreveu no dia 24 de maio, na primeira semana da guerra, em seu diário pessoal: “Nós estabeleceremos um Estado cristão no Líbano (…) nós faremos a Cisjordânia em pedaços, bombardearemos a sua capital, destruiremos o seu exército (…) deixaremos a Síria de joelhos (…) nossa aviação atacará Port Said, Alexandria e o Cairo, e isto para vingar nossos ancestrais oprimidos pelos egípcios e pelos assírios nos tempos bíblicos (…)”.

Está demonstrado: as autoridades israelenses que forçaram os palestinos ao êxodo recorrendo, para enxotá-los de suas terras, à chantagem, à ameaça, ao terror e à brutalidade das armas

Do mesmo modo, Benny Morris e Ilan Pappé reduzem a nada a fábula, alimentada pelos dirigentes israelenses, segundo a qual os palestinos teriam deixado os seus lares voluntariamente, depois de apelos lançados pelas autoridades e pelas rádios árabes (emissões que a propaganda israelense forjou, como testemunham as gravações integrais realizadas pela BBC). Ao contrário, os dois historiadores confirmam aquilo que já sabíamos desde o fim dos anos 1950: foram as autoridades israelenses que forçaram os palestinos ao êxodo recorrendo à chantagem, à ameaça, ao terror e à brutalidade das armas para enxotá-los de suas terras.

Eles divergem, no entanto, sobre o sentido dessas expulsões. Para Benny Morris, são apenas “danos colaterais”: “guerra é guerra”, afirma, acrescentando mais recentemente [6], não sem cinismo, que Ben Gurion deveria ter prosseguido até expulsar o último palestino. Onde Benny Morris descreve um êxodo “nascido da guerra e não de uma intenção, judia ou árabe”, Ilan Pappé mostra que a purificação étnica foi planejada, organizada e posta em prática a fim de ampliar o território do Estado de Israel e de “judaizá-lo”.

O fato é que, apesar de terem aprovado publicamente o plano de divisão das Nações Unidas, os dirigentes sionistas o julgavam inadmissível: sua aprovação era de ordem tática, como indicam os numerosos documentos arquivados, assim como o diário de Ben Gurion.

Mais da metade da Palestina lhes havia sido atribuída, o restante regressando aos árabes autóctones que eram duas vezes mais numerosos do que os judeus. Todavia, aos seus olhos, o território previsto para o Estado de Israel era muito estreito para acolher os milhões de imigrantes que seus dirigentes esperavam receber. Além disso, 405 mil árabes palestinos conviveriam ali com 558 mil judeus, estes últimos constituindo assim apenas 58% da população do futuro Estado hebreu. Com tal composição, o sionismo arriscava-se a perder até mesmo a sua razão de ser. Daí a fórmula “tornar a Palestina tão judia quanto a América é americana e a Inglaterra é inglesa”, lançada por Haim Weizmann, futuro primeiro presidente de Israel.

A “transferência” (eufemismo para designar a expulsão) dos árabes autóctones para fora das fronteiras atormentou os espíritos dos dirigentes sionistas. Por isso, eles não paravam de debatê-la, o mais das vezes a portas fechadas. No final do século 19, Theodor Herzl sugeriu ao sultão otomano que deportasse os palestinos para desocupar o território e dar lugar à colonização judaica. Em 1930, Haim Weizmann tentou persuadir o governo britânico, potência mandatária da Palestina, a fazer o mesmo.

Em alguns meses, foram registrados dezenas de massacres e execuções sumárias: 531 aldeias, em um total de mil, foram destruídas ou reconvertidas para acolher imigrantes judeus

Em 1938, depois da proposição de um mini-Estado judeu, e também de uma transferência de árabes, pensada pela comissão britânica dirigida por Lord Peel, Ben Gurion declarou diante do comitê executivo da Agência Judaica: “Eu sou favorável à transferência obrigatória — uma medida que não tem nada de imoral”. A Guerra de 1948 ofereceu-lhe a ocasião sonhada. Seis meses antes da intervenção dos exércitos árabes, ele lançou contra a população autóctone a ofensiva destinada a deportá-la. Para realizar esse projeto — revela Pappé —, Ben Gurion possuía um arquivo com dados de todas as aldeias árabes, contendo informações demográficas, econômicas, políticas e militares, arquivo criado pela Agência Judaica em 1939 e atualizado constantemente ao longo da década de 1940.

Os meios aos quais as forças judaicas recorreram — e que Ilan Pappé analisa em detalhes — são de dar frio na espinha, mesmo que tenham por precedentes as atrocidades cometidas no curso das purificações étnicas conduzidas por outros povos desde a alta antigüidade. O balanço feito pelo historiador é eloqüente: em alguns meses, foram registrados dezenas de massacres e execuções sumárias; 531 aldeias, em um total de mil, foram destruídas ou reconvertidas para acolher imigrantes judeus; onze centros urbanos etnicamente mistos viram-se esvaziados de seus habitantes árabes.

Sob a ponta das baionetas, o conjunto de palestinos de Ramallah e de Lod, cerca de 70 mil pessoas, inclusive crianças e idosos, foi banido em poucas horas, em meados de julho de 1948. A operação foi instruída por Ben Gurion, como o testemunham as memórias, posteriormente censuradas, do futuro primeiro-ministro Itzhak Rabin — à época, o oficial superior encarregado, juntamente com Igal Allon, da atividade. Repelidos em direção à fronteira da Cisjordânia, vários palestinos morreram no caminho, de cansaço. A mesma coisa ocorrera, em abril, na cidade de Jaffa, quando 50 mil de seus habitantes árabes tiveram de fugir, aterrorizados pelo ataque intensivo da artilharia do Irgun [7], e pelo medo de novos massacres. Foi o que o próprio Benny Morris chama de “fator atrocidade”.

Esses horrores são ainda mais injustificáveis quando se sabe que muitas aldeias árabes — Ben Gurion mesmo o confessa — haviam declarado sua vontade de não resistir à divisão da Palestina e até mesmo decidido estabelecer, para esse fim, acordos de paz com seus vizinhos judeus. Foi o caso da aldeia de Deir Yassin, onde, apesar de tudo, as forças irregulares do Irgun e do Lehi [8] exterminaram uma parte considerável da população — com o acordo tácito da Haganá, o exército “regular” da Agência Judaica, segundo Simha Flapan.

Entre 1947 e 49, entre 750 e 800 mil palestinos tiveram de se exilar. Seus imóveis e móveis foram confiscados.O Fundo Nacional Judeu tomou 300 mil hectares de terras árabes

No total, entre 1947 e 1949, de 750 mil a 800 mil palestinos tiveram de tomar o caminho do exílio, enquanto seus bens imobiliários e mobiliários eram confiscados. Segundo a estimativa de um oficial israelense citado por Dominique Vidal, o Fundo Nacional Judeu se apoderou de 300 mil hectares de terras árabes, das quais a maior parte foi dada aos moradores dos kibutz. A operação não poderia ter sido melhor concebida: no dia seguinte ao voto da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 11 de dezembro de 1948, que aprovou a famosa resolução sobre o “direito ao retorno”, o governo israelense adotou a “lei de urgência relativa às propriedades dos ausentes”, que complementou aquela sobre o “cultivo das terras abandonadas”, de 30 de junho de 1948, e legalizou retroativamente a espoliação, proibindo que os espoliados se instalassem novamente em suas casas ou reivindicassem qualquer compensação.

Apesar dos protestos de alguns membros do governo israelense, escandalizados pela brutalidade da purificação étnica, Ben Gurion — que não havia patrocinado explicitamente e por escrito essas ações — não fez nada para interrompê-las. Contentou-se em denunciar os saques e os estupros a que os soldados do Tsahal se entregavam — crimes que se beneficiaram, contudo, de uma impunidade total. O mais espantoso, sem dúvida, foi o pesado silêncio da “comunidade internacional” — silêncio que se prolongou por várias décadas, durante as quais os observadores estrangeiros, incluídos os da ONU, não ignoraram as atrocidades cometidas. Compreendemos melhor, dessa maneira, porque os palestinos falam em nakba (catástrofe) quando se referem à “guerra de independência de Israel”.

Avi Shlaim, professor de longa data no St. Anthony’s College, em Oxford, acaba de publicar Le Mur de fer, Israël et le monde arabe ["O muro de ferro: Israel e o mundo árabe". ainda ainda sem edição em português]. No livro, Shlaim destrói mais um mito: o de um Estado de Israel enamorado pela paz, em oposição ao belicismo dos Estados árabes dedicados a aniquilá-lo. O título de sua obra refere-se à doutrina de Zeev Jabotinsky. Já em 1923, esse pai da direita ultranacionalista judaica, afirmava que era imprescindível desistir de negociar um acordo de paz antes de ter colonizado a Palestina, protegido dos perigos por um “muro de ferro”, já que os árabes só compreendiam a lógica da força.

Tendo adotado essa doutrina na prática, políticos e militares israelenses, tanto de “direita” quanto de “esquerda”, teriam, no mais das vezes, sabotado os sucessivos planos de paz. Calculando que o tempo joga a favor de Israel, e sustentando que este “não tem um parceiro pela paz”, conforme as palavras de Ehud Barak, os dirigentes de Jerusalém esperam sempre que a parte contrária se resigne a aceitar a expansão territorial do Estado judeu e a fragmentação de um hipotético Estado palestino, condenado a se tornar um mosaico de “bantustões”. A obra de Shlaim, cuja edição inglesa no ano 2000 tornou-se um best-seller, com mais de cinqüenta mil exemplares vendidos, foi traduzida em várias línguas antes de aparecer em hebraico, cinco anos depois: a quase totalidade dos editores israelenses a havia considerado até então “sem interesse”.

Historiadores, sociólogos, escritores, jornalistas e cineastas da nova onda da intelligentsia são sionistas de tipo novo. Estão convencidos de servir à causa da paz, ao restabelecer a verdade histórica

Avi Shlaim admite “reconhecer a legitimidade do movimento sionista e a do Estado de Israel em suas fronteiras de 1967”. Ele acrescenta, porém: “Por outro lado, rejeito totalmente o projeto colonial sionista além dessa fronteira”. Com algumas exceções, os historiadores, sociólogos, escritores, jornalistas e cineastas pertencentes à nova onda da intelligentsia são, como ele, sionistas de um tipo novo, aos quais apelidamos de “pós-sionistas”. Todos estão convencidos de servir à causa da paz ao restabelecer a verdade histórica e ao reconhecer os prejuízos causados aos palestinos.

Para apreender o sentido e o alcance dessa mutação, iniciada nos anos 1980, podemos ler com proveito a pesquisa realizada em Israel por Sébastien Boussois junto aos novos historiadores e seus adversários [9]. Alguns chegaram à conclusão de que a instituição de um Estado de Israel “normalizado”, em paz com seus vizinhos, depende em grande medida do impacto que esses intelectuais contestadores terão sobre a sociedade e principalmente sobre o mundo político israelense.

É o que escreve, à sua maneira, Yehuda Lancry, antigo embaixador de Israel na França e nos Estados Unidos: “Os ‘novos historiadores’, mesmo por meio do radicalismo de Ilan Pappé, são tanto os batedores dessa região pouco clara da consciência coletiva israelense quanto os preparadores de uma adesão mais firme ao reconhecimento mútuo e à paz com os palestinos. Seu trabalho, longe de representar uma fonte de transtornos para Israel, é uma honra para o seu país — e, mais do que isso, um dever, uma obrigação moral, uma prodigiosa tomada de responsabilidade sobre um empreendimento liberador capaz de inscrever no vivido israelense as linhas de articulação, os interstícios saudáveis, necessários para a inserção do discurso do outro [10].”



[1] Termo iídiche, que significa calamidade ou grande catástrofe, com o qual os judeus se referem ao holocausto nazista.

[2] Originalmente, o termo nomeava judeus, armênios e outras minorias às quais era negada autorização para emigrar na antiga União Soviética. Atualmente, a palavra designa aqueles que alegam objeção de consciência para não servir o exército israelense.

[3] The Birth of Israel, myths and realities (Nova York, Pantheon Books, 1987).

[4] Dominique Vidal é jornalista, integrante do coletivo de redação de Le Monde Diplomatique (França). Seu livro Comment Israel expulsa les Palestiniens (Como Israel expulsou os palestinos) é uma edição revista e ampliada da obra Le péché originel d’Israel (O pecado original de Israel), publicada pelo mesmo autor, em colaboração com Joseph Algazy, pelas Éditions de l’Atelier, em 1988.

[5] Força paramilitar judaica. Criada durante o Mandato Britânico na Palestina, entre 1920 e 1948, tornou-se a coluna vertebral do exército israelense.

[6] Em uma entrevista ao diário Haaretz (Tel Aviv, 8 de janeiro de 2004).

[7] Organização sionista terrorista atuante na Palestina. Fundado em 1931, o Irgun foi dirigido, a partir de 1943, por Menahem Begin, futuro primeiro-ministro israelense. Em 1948, com a criação do Estado de Israel, a grande maioria de seus membros foi incorporada ao recém-criado exército nacional.

[8] Organização sionista terrorista atuante na Palestina. O Lehi nasceu, em 1940, de uma dissidência do Irgun, liderada por Avraham Stern.

[9] Ver Dominique Vidal, op. cit. Sébastien Boussois é, por outro lado, o autor de Israel, confronté à son passé (Israel confrontado com o seu passado). Paris, L’Harmattan, 2008.

[10] Prefácio ao livro de Dominique Vidal, op. cit.

Políticos de direita são os donos da mídia, aponta pesquisa


Os políticos dos partidos conservadores de direita e de centro, DEM,
PSDB e PMDB são os "donos da mídia" nacional. É o que conclui o
Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom). Ao total, 271
políticos são sócios, proprietários ou diretores de emissoras de rádio
e TV. Contrariando a legislação, a maioria deles é prefeito, seguidos
dos deputados estaduais.

Dos políticos-proprietários de meios de comunicação, 147 são prefeitos
(54,24%), 48 (17,71%) são deputados federais; 20 (7,38%) são
senadores; 55 (20,3%) são deputados estaduais e um é governador. Esses
números, porém, correspondem apenas aos políticos que possuem vínculo
direto e oficial com os meios – não estão contabilizadas as relações
informais e indiretas (por meio de parentes e laranjas), que
caracterizam boa parte das ligações entre os políticos e os meios de
comunicação do país.

"Salta aos olhos a quantidade de prefeitos donos de veículos de
comunicação. Demonstra a conveniência do Executivo em usar esses meios
para manter uma relação direta com seu eleitorado", destaca James
Görgen, pesquisador do Epcom.

Entre as mídias mais apreciadas pelos prefeitos, conforme a pesquisa,
destacam-se o rádio OM (espaço onde acontecem os debates públicos) e
as rádios comunitárias (que permitem a proximidade com a comunidade, a
troca diária com o eleitorado, seja por meio da administração da
rádio, seja pelo controle da programação). ''Assim, eles garantem suas
bases eleitorais'', avalia Görgen. Já os senadores e deputados
aparecem como proprietários de mídias com maior cobertura, como as TVs
e FMs.

"Em ano de eleições, é difícil imaginar que esses políticos deixem de
usar seus próprios meios de comunicação para tirar vantagem logo de
saída na corrida eleitoral", analisa o pesquisador, dando como exemplo
os prefeitos-proprietários, que este ano podem usufruir de temporada
maior que a regulamentar da campanha para fazer sua exposição
positiva. "Isso dá a eles uma vantagem enorme e representa um risco à
democracia", conclui.

Em relação às regiões, relativizando as proporções de cada uma e a
densidade de municípios, a pesquisa confirma a prática do chamado
"coronelismo eletrônico" concentrado no nordeste brasileiro, onde
prevalecem políticos controlando meios de comunicação.

Quanto aos partidos, esses políticos surgem assim: 58 pertencem ao
DEM, 48 ao PMDB, 43 ao PSDB, 23 são do PP, 16 do PTB, 16 do PSB, 14 do
PPS, 13 do PDT, 12 do PL e 10 do PT.

Os números apresentados são resultado do cruzamento de dados da
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) com a lista de
prefeitos, governadores, deputados e senadores de todo o país.

Coronelismo eletrônico

No ano passado, uma subcomissão especial da Comissão de Ciência,
Tecnologia e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, analisou os
processos de outorga no setor de radiodifusão e apresentou, em
dezembro, relatório revendo as normas de concessão de rádio e
televisão. Uma proposta de Emenda Constitucional foi encaminhada pelo
grupo, acrescentando um parágrafo ao artigo nº 222 da Constituição,
que estabelece: ''não poderá ser proprietário, controlador, gerente ou
diretor de empresa de radiodifusão sonora e de sons e imagens quem
esteja investido em cargo público ou no gozo de imunidade parlamentar
ou de foro especial''.

A presidente da subcomissão, deputada Luíza Erundina (PSB-SP),
explicou, na época, que, como esse artigo ainda não foi regulamentado,
os detentores de cargos públicos conseguem burlar a Constituição.
Segundo ela, os políticos utilizam essas brechas para adquirir
emissoras.

O coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC), Celso Augusto Schröder, condena a utilização
privada das concessões públicas e defende que a lei seja mais clara e
que sejam construídos ritos públicos eficientes.

A deputada relatora da proposta, Maria do Carmo Lara (PT-MG) declarou,
no relatório, que a propriedade e a direção de emissoras de rádio e
televisão 'são incompatíveis' com a natureza do cargo político.

O texto cita ainda um 'notório conflito de interesses' dos
parlamentares, já que os pedidos de renovação e de novas outorgas de
rádio e TV passam pela aprovação dos próprios deputados e senadores. A
proposição ainda não foi posta em votação.

FORUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO

Assista ao vivo no sitio do FME-Santa Maria

Pedro Iturralde - Paco de Lucía - "Jazz Flamenco vol.1 y vol.2" - 1967

"Jazz Flamenco vol.1 e vol.2"
1967
Parte1 - Parte2

No se puede mostrar la imagen “http://www.flamenco-world.com/jazz/fotos/iturrald.gif” porque contiene errores.


1. Las Morillas De Jaen
2. Cafe De Chinitas
3. Zorongo Gitano
4. Soleares
5. Bulerias
6. Adios Granada
7. Anda Jaleo!
8. Homenaje A Granados

quinta-feira, 29 de maio de 2008

La Vie de Bohème
(Boheemielämää)
Baseado na obra de Henry Murger, que deu origem à famosa ópera de Puccini, La Bohème, essa adaptação feita por Kaurismäki é na verdade um sátira sem rédeas ao propagado charme da vida boêmia, em nada se assemelhando ao texto original de Murger. Filmado na França, com diálogos em francês, o filme é todo feito com atores finlandeses - e já de partida se tem uma noção da pilhéria que é o filme. A história é simples: um grupo de amigos boêmios e pobres fazem o que podem para levar adiante umas vidas sem muito propósito. Rodolfo, um deles, conhece Mimi numa situação bastante peculiar e acaba se apaixonando por ela. O fim, já se sabe, é trágico. Todos os elementos dos filmes de Kaurismäki estão, todavia, aqui presentes: o humor refinado, o tom humanista, a melancolia e um toque de nihilismo. Tudo isso regado a excelentes atuações, direção magistral e boa fotografia. Legendas exclusivas!


Créditos: Makingoff - frombr
Gênero: Comédia
Diretor: Aki Kaurismäki
Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento: 1992
País de Origem: França
Idioma do Áudio: Francês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0105750/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
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Legendas: Em anexo

Elenco

Matti Pellonpää ... Rodolfo
Evelyne Didi ... Mimi
André Wilms ... Marcel
Kari Väänänen ... Schaunard
Christine Murillo ... Musette
Jean-Pierre Léaud ... Blancheron

Premiação

- Berlin International Film Festival, 1992 (Forum of New Cinema);
- European Film Awards, 1992 (Melhor ator e melhor ator coadjuvante);
- Jussi Awards, 1993 (Melhor diretor).

LEMBREM-SE DE FAZER O REGISTRO NO MAKINGOFF ANTES DE FAZER O DOWNLOAD
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Marina, veja só





Rogério Grassetto Teixeira da Cunha

A reboque de sua saída do Ministério do Meio Ambiente, todos os veículos de comunicação, não apenas os alternativos e os ligados ao meio ambiente, foram inundados por artigos e análises sobre seu ato. No caso da grande mídia corporativa, isso se deu possivelmente com vistas a tirar também mais uma casquinha do governo, como de costume. É interessante avaliar o conteúdo destes textos, pois eles funcionam como um termômetro do pensamento das forças econômicas que ditam a linha editorial destes veículos. Tomemos o mais emblemático deles, Marina: a revista Veja.

Na edição de 21 de maio, saiu uma matéria-artigo (já que a revista não faz reportagens, mas apenas textos editoriais, com conteúdo abertamente opinativo e tendencioso) sobre a sua saída. Veja, Marina, que os autores tentaram (ou fingiram tentar), sem sucesso, equilibrar a defesa de algumas de suas posturas com posições desenvolvimentistas, mais ao gosto dos leitores da publicação e das forças econômicas por trás dela. Tentaram, no entanto, defender uma linha impraticável: de que é possível conciliar "a equação" crescimento econômico e preservação ambiental. Veja, Marina, que uma das frases iniciais a seu respeito ("Marina teve de sair porque não soube solucionar essa equação") é lapidar.

Creio que não se pode dizer que você não soube "solucionar essa equação" por duas razões. Em primeiro lugar, penso que você nem queria encontrar essa solução. Conhecedora como é da problemática ambiental, certamente compreende que simplesmente não há como conciliar crescimento constante e eterno (a irreal base da noção de desenvolvimento tal como entendida atualmente) com preservação. Sabe que são passíveis de discussão outras questões, tais como se devemos tolerar algum grau de destruição para almejarmos certo crescimento econômico e uma melhor qualidade de vida para a população, ou como buscar formas de desenvolvimento e distribuição de renda que não estejam baseadas no crescimento eterno.

A segunda razão pela qual a afirmação da revista erra em relação à sua atuação é que nunca lhe foram dadas as ferramentas e o poder necessários para buscar caminhos alternativos de desenvolvimento. Dada a conjuntura de forças atual, é muito difícil ter alguém com peso suficiente para trilhar tais caminhos. Quem quer que ocupe a pasta passaria e passará pelas mesmas dificuldades. Isto é, se tiver interesse em tentar...

Veja, Marina, que o texto segue com outra passagem brilhante: "para dar o salto econômico de que necessita, o Brasil não pode abrir mão de seu potencial agropecuário ou de investir na geração de energia. Tampouco pode destruir um bioma que é ao mesmo tempo um patrimônio nacional a ser preservado e um foco de interesse internacional". Sabemos que o Brasil necessita menos de um salto econômico que de um desenvolvimento mais justo e distribuidor de riqueza gerada.

Além disso, o que querem eles dizer com "potencial agropecuário"? Já exploramos uma quantidade de terras cuja produção seria suficiente para alimentar com sobras toda nossa população e, de quebra, fornecer combustível para a frota nacional. E ainda sobraria espaço para exportação de alguns excedentes. Não precisamos mais explorar este "potencial". Mesmo que concordemos com a necessidade de crescimento econômico por certo tempo, não precisaríamos baseá-lo no crescimento da exportação de produtos agrícolas in natura ou apenas minimamente processados. O passivo ambiental no campo é grande e a geração de empregos proporcionalmente a outros setores é menor. E, como você bem sabe, no Brasil, explorar este potencial significa, sim, destruição.

Quanto à energia, há inúmeras outras formas mais racionais de obtê-la sem violar os últimos grandes rios do Brasil em bom estado de preservação. Aqui, novamente, a construção das usinas significa destruir parte do bioma. Não há como "solucionar esta equação". É uma coisa ou outra. Pode-se destruir mais ou menos, mas a destruição sempre ocorrerá.

Inegavelmente séria, você, discípula de Chico Mendes, até que tentou, e desculpe-me por colocar isso de forma tão direta, mas a revista acerta quando diz que você "nunca passou de um ícone, uma peça de marketing exibida pelo governo Lula para mostrar uma suposta vocação ambientalista". Depois de tantas esperanças acumuladas, você merecia um governo melhor. Na verdade, nós todos merecíamos. Porém, a revista desliza quando afirma que enquanto você "se mostrou apenas um ícone, Minc é um ambientalista que se adequou às políticas de desenvolvimento". O erro aqui é um só, o verbo usado na sentença. "Cedeu", "foi seduzido" ou "foi cooptado" seriam redações mais precisas que "se adequou". Isto porque sabemos dolorosamente que, tal como estas políticas são aplicadas por aqui, não há como conciliá-las com real preservação ambiental. Para adequar-se a elas não precisamos de um ambientalista, bastaria um tecnocrata.

Veja, Marina, que a visão de mundo da revista desnuda-se de vez logo em seguida ao dizer que sua postura "era de preservação incondicional da Amazônia, admitindo apenas ilhas de agricultura de subsistência e de proteção de pequenas comunidades, como a de seringueiros e castanheiros". E que o seu discurso "eficiente na teoria e para conquistar a simpatia internacional (...) bateu de frente com as necessidades práticas do país, como a construção de estradas, a mineração, a geração de energia elétrica, a agricultura e a pecuária".

Ao colocar as coisas nestes termos, sutilmente atacam a sua imagem, ao retratar-te como uma pessoa visionária, lunática, fora da realidade. Na verdade, os alucinados são eles.

Analisemos o que a revista entende por "necessidades práticas do país". Não me consta que você fosse contra a construção de estradas, mineração, novas fontes de geração de energia, nem muito menos contra o agronegócio. Acredito que era e continua sendo contra estradas na Amazônia (o grande vetor de desmatamento na região), apesar de que, no governo, você não tinha condições políticas de seguir atacando projetos como o da pavimentação da BR-163. Era contra a mineração ilegal ou mesmo o desregramento da legalizada e contra a instalação de usinas hidrelétricas na Amazônia (pois sabe do impacto que elas causarão por lá e que haveria como suprir a demanda de outras formas). E era, sim, contra a expansão desenfreada e desregrada da pecuária e da agricultura nos biomas brasileiros, desrespeitando as leis, gerando desmatamento e prejudicando a imagem do Brasil no exterior. Não contra o agronegócio em si, pois é uma pessoa sensata.

Continuo com a opinião de que você cedeu demais em alguns pontos (como a divisão do Ibama) e errou em outros (como as concessões de florestas públicas). Porém, várias de suas derrotas (a liberação dos transgênicos, a importação de pneus usados, o licenciamento das usinas no rio Madeira, entre outras) foram na verdade devidas à pouca força política do Ministério. Somando-se a isto, temos a mentalidade desenvolvimentista reinante e que impregnou o governo até a alma, que ainda se aliou a forças predatórias e criou uma base de apoio extremamente ampla e heterogênea onde estão incluídas várias das forças ruralistas mais nocivas ao meio ambiente. Com isto, manteve e até reforçou o já grande poder destas forças. Lula foi ainda seduzido, de corpo e alma, pelo agronegócio nacional e se tornou voluntariamente um arauto do mesmo. Incorporou a noção subdesenvolvida do papel principal que nos é reservado pelas forças políticas mundiais, de fornecedor de commodities agrícolas, de celeiro, granja e, mais recentemente, de futura bomba de combustível do mundo.

Neste contexto todo, apesar de suas falhas e derrotas, acho que você fez o possível politicamente. E, se tivesse estômago para tal, acho que deveria ter continuado no ministério, pois talvez conseguisse continuar brecando um pouco a sanha predatória. Talvez conseguisse colocar algumas condições para as obras destruidoras, o que o nosso ministro "acelerador-de-licenças", cheio de bravatas verbais e coletes de bolinhas, possivelmente não tentará com a mesma disposição. A sua imagem iria desgastar-se mais e mais perante os ambientalistas, é verdade, mas a causa é nobre. Se você fosse ficando no ministério, a despeito da vontade de Lula de mandá-la às favas, e não se demitisse, mas forçasse o presidente a fazê-lo, conseguiria com isto causar um impacto muito maior. Mas acho que não faria isto. Todos temos nossos limites.

Rogério Grassetto Teixeira da Cunha é biólogo e doutor em Comportamento Animal pela Universidade de Saint Andrews.

E-mail: rogcunha@hotmail.com



A pergunta é do jornalista Paulo Henrique Amorim ao comentar o escândalo de corrupção envolvendo o governo tucano de Yeda Crusius. Em uma nota intitulada “Roubalheira no Rio Grande do Sul é dos tucanos”, ele comenta o comportamento discreto e seletivo da imprensa sobre o caso:

"O Ministério Público Federal, no Rio Grande do Sul, pediu indiciamento dos acusados de fraudar o sistema de concessão de carteira de habilitação no Rio Grande do Sul. A pequena nota da Folha (de São Paulo) ignora dois fatos importantes: o esquema estava indissoluvelmente ligado à caixa do PSDB no Rio Grande do Sul. Era uma ligação tão íntima quanto a de Ricardo Sérgio de Oliveira com as campanhas de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
A segunda circunstância que a Folha ignora é que há uma acusação grave de que a Governadora Yeda Crusius não tomou as providências que deveria tomar, quando soube que herdara de Germano Rigotto aquela “usina de roubalheira”. Se o escândalo tivesse estourado no colo do Governador Olívio Dutra, a fúria do PiG e da Folha teria sido de intensidade diferente".

Créditos:

Comentário interessante:

paulo disse...

Se fosse o governo Olívio, com certeza a chamada reportagem investigativa estaria em ação. Já saberíamos se O Sr. Olívio tem netos e onde estudariam, quanto custaria os estudos, onde morariam os filhos e possíveis familiares de cônjuges. O local de trabalho dos mesmos. Estaria sob investigação financiamentos da Caixa, renda salarial e ganhos dos últimos 20 anos. Alguém de Brasília já teria sido citado. O Senador Simon viria a público falar e moral e ética. A palavra impeachment não só estaria na boca de todo mundo que até no jardim de infância se saberia escrever. O ilustre Dep. Vieira faria uma veemente declaração na tribuna do Congresso falando sobre os horrores nunca visto aqui no RS. Trariam para depôr o Sr. Diógenes, enfim, saberíamos o que é pertinente e impertinente para as investigações.

Brasil - A festa dos arrozeiros

Laerte Braga -Adital


O ministro Mangabeira Unger está propondo ao governo uma rede de indústrias na Amazônia como forma de permitir o desenvolvimento da Região e o manejo ecológico da floresta.

Ricardo Boechat leu um editorial da REDE BANDEIRANTES no JORNAL DA BAND, oito pontos de audiência, onde a empresa afirma que a política desastrada de Lula para a região, falava da demarcação das terras indígenas, "deixou até de ouvir o Exército".

Os latifundiários que ocupam a Reserva Raposa do Sol, território indígena, invadiram terras que não lhes pertencem na obsessão da segurança nacional, da integridade do território brasileiro e da soberania do País. Disfarce para vigarice, entreguismo e borduna. Já foram indenizados pelo poder público alguns anos depois para sair de uma área onde existe a maior população indígena do Brasil por quilômetros quadrado.

É desnecessário falar da GLOBO. É ponta de lança nesse discurso dúbio que representa interesses de empresas nacionais e estrangeiras, parceiras na cobiça da Amazônia. A rede e qualquer veículo da chamada grande mídia.

O problema está na demarcação de terras indígenas.

Se olharmos a proposta do ministro, o editorial lido por Boechat, a argumentação dos arrozeiros, a campanha da mídia, o desgoverno de Lula, pelo menos o desencontro entre o que fala o ministro da Justiça Tarso Genro e os delírios macarrônicos mas entreguistas de Mangabeira Unger, é só fardar um Heleno Augusto da vida para falar em nacionalismo e entregar tudo. Tal e qual foi feito na ditadura militar e por governos como o de FHC.

O de Lula não entrega e nem deixa de entregar, olha para outro lado.

Pouco antes de ler o editorial da REDE BANDEIRANTES o JORNAL DA BAND mostrou índios protestando contra a construção de uma hidrelétrica no Paraná. Como se fossem animais, algo assim como um Ermírio de Moraes, que desmata um ou dois estados e enche de eucalipto em nome do progresso.

Breve nas farmácias chá de eucalipto contra todos os males da economia nacional. E imensas áreas desertificadas no futuro por conta do mesmo progresso. Vão gerara empregos. É o lugar comum da destruição.

O mesmo JORNAL DA BAND exibiu matéria do jornal NEW YORK TIMES onde se fala que os brasileiros somos irresponsáveis para cuidar da Amazônia, o pulmão do mundo.

Entrega então.

O que Mangabeira Unger quer é o mesmo que Heleno quer, só que disfarçado em desenvolvimento. E o que Heleno quer é o mesmo que Mangabeira quer, só que em forma de porrete.

Os culpados são os índios, viva os arrozeiros, os plantadores de eucalipto, as grandes madeireiras manejando a floresta (seria para rir não fosse trágico), viva a VALE, viva a ARACRUZ.

Há uma lógica simples nessa história toda. A do modelo.

Ou se opta pelo modelo vida ou se escolhe o modelo progresso desvairado cheio de empregos, mas no frenesi do capitalismo.

Quando um norte-americano como Mangabeira Unger afirma que é preciso descentralizar a questão das licenças ambientais para os governos dos estados está escancarando as portas para a destruição e a corrupção. Entregando o ouro.

Definir o modelo e desenhar a Amazônia brasileira a partir do Brasil e não de quem busca o soldo em Wall Street via Washington.

Os caras descobriram as palavras chaves. Emprego e progresso.

Onde? Vão destruir a Amazônia e a acumulação será em São Paulo, no enclave FIESP/DASLU. Nos cofres da ARACRUZ ou da VALE.

E nem estou tocando na questão estratégica de domínio da América do Sul. Como a "democracia" tem produzido resultados desfavoráveis aos donos do mundo torna-se necessário trazer a borduna de volta e como se fosse uma pílula de cianureto, disfarçada em azeitona de martini, de preferência misturado e não batido, ao estilo James Bond.

Não existe um projeto para a Amazônia brasileira no Brasil. Existe em Wall Street e em Washington. Os atores são cooptados como Mangabeira Unger, Augusto Heleno, arrozeiros. Os assistentes de direção desse filme são muitos. Ermírio de Moraes, Paulo Stak, banqueiros internacionais. Os alvos são as riquezas da floresta e governos democráticos com projetos para seus países além da biruta do aeroporto Lula, que toca ora o vento de Mangabeira, ora o vento de Tarso, de vez em quando fica estática perplexa na falta de ventos de Jobim.

A GLOBO, na irresponsabilidade do espetáculo e na pressa da audiência, derrubou um avião na terça-feira em São Paulo. A GLOBONEWS noticiou que uma aeronave da empresa PANTANAL havia caído sobre um prédio em São Paulo.

Checada a notícia, o piloto da aeronave, ao levantar vôo em Congonhas e sobrevoar parte da cidade de São Paulo, percebeu um incêndio num prédio. Avisou aos bombeiros.

Os arsenais contra Lula já estavam montados para o JORNAL NACIONAL. Aeroporto próximo a prédios, não ia deixar de ser citada a "falta de ranhuras" e todo o foco seria deslocado para o que já não existe, próximo de ser o que os americanos chamam de pato manco, mas de olho na presunção que governar é cair de quatro e fazer de conta que PAC e PPP (Programa de Aceleração do Crescimento e Parceria Público Privada) vão transformar o Brasil numa nova China.

A nova China é só uma potência controlada por um partido dominado pelo capital e pela burocracia com milhões morrendo de fome. O socialismo reinventado no delírio do tal progresso, a política Delfim Neto, "deixar o bolo crescer para repartir".

A "queda" do avião é o nível de responsabilidade e compromisso que a mídia tem com o Brasil e os brasileiros. Imagine a floresta Amazônica transformada numa grande plantação de eucaliptos sob a batuta de madeireiros, arrozeiros, criadores de gado e tente imaginar o futuro do País.

Quem entrega o que?

Por detrás de tudo isso existe um discurso afinado, combinado no vestiário onde o Brasil se estrepa.

E os culpados são os índios.

É o mesmo discurso que mata palestinos há sessenta anos. Augusto Heleno ainda vira um Ariel Sharon de verdade. Mangabeira Unger vai ser chefe do Estado Maior.

Querem fazer disso aqui um Oriente Médio.

Por trás do arroz está o petróleo da Venezuela. O gás da Bolívia. Até chegarem aos palestinos que vivem na Tríplice Fronteira (e a água do Aqüífero Guarani) e nos transformarem numa base política, econômica e militar para assegurar o domínio dos "negócios".

E a cocaína de Uribe e família.

Não sei como a GLOBO ou a BAND não foram entrevistar o papagaio que perdido citou o endereço do dono e assim conseguiu voltar para casa.

Só falta dizer que os índios possuem armas de destruição em massa e podem representar sério risco para a humanidade, a democracia, a justiça, etc, etc.

Vem aí a Quarta Frota.

A GLOBO e a BAND vão recebê-la com flores e mimos com que costumam agradar os colonizadores.

Os "morros do capitalismo" vão soltar foguetes avisando que a droga chegou.


* Jornalista

quarta-feira, 28 de maio de 2008


O esquema desmontado pela Operação Rodin, informa a denúncia do MP federal, envolvia o desvio de verbas provenientes do Detran para empresas prestadoras de serviços à autarquia. A fraude ocorreu entre julho de 2003 e novembro de 2007, através de duas fundações vinculadas à Universidade Federal de Santa Maria, a Fatec (Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia) e a Fundae (Fundação para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura) contratadas sem licitação e a preços superfaturados pelo Detran. A Fatec e a Fundae faziam o repasse de verbas mensal para empresas subcontratadas prestadoras de serviços. A fraude teria desviado aproximadamente 44 milhões de reais dos cofres públicos.

Conforme a avaliação da juíza Simone Barbisan Fortes, ocorreu um ajuste prévio, no qual pessoas com grande influência política (lobistas) conseguiram obter junto a órgãos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, para as Fundações de Apoio, contratos para prestação de determinados serviços. “Contratadas, sem licitação, as fundações subcontrataram empresas e pessoas para a realização dos serviços, superfaturados, de forma a beneficiar, primeiramente, os próprios lobistas, e, ainda, também os dirigentes do órgão contratador e das fundações”.

Esse lobby, prossegue, se valeu da reputação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), “para obtenção dos contratos públicos, em cujo preço são embutidos, além do valor do próprio serviço, a "remuneração" dos lobistas, pela obtenção do contrato, e, em muitas situações, o superfaturamento, também destinado a corromper funcionários públicos”.

Confira as denúncias oferecidas pela Justiça Federal contra alguns dos principais acusados de liderar o esquema:

Lair Ferst – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa, falsidade ideológica e extorsão.

José Fernandes – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa, falsidade ideológica.

Paulo Sarkis – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa e passiva.

Carlos Ubiratan dos Santos – formação de quadrilha, dispensa indevida de licitação, peculato-desvio, falsidade ideológica, corrupção ativa.

Antônio Dorneu Maciel – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, corrupção passiva, peculato-desvio.

Flávio Vaz Netto – formação de quadrilha, dispensa indevida de licitação, peculato-desvio, corrupção passiva, concussão.

Carlos Dahlem da Rosa: formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa.


Luiz Paulo Rosek Germano – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa.

Clique AQUI para ver a íntegra da decisão da Justiça Federal de Santa Maria

Créditos:

terça-feira, 27 de maio de 2008

Sobre as contradições do jornalismo


Por Venício A. de Lima

No final da tarde de terça-feira (20/5) fui surpreendido com telefonema de pessoa de minha família, em Minas Gerais, preocupada em saber se eu estaria viajando ou se estava em Brasília. Estava em Brasília, por quê? "Acabamos de ouvir na rádio Itatiaia de Belo Horizonte que um avião de passageiros havia se chocado com um prédio nas proximidades do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, provocando grande incêndio. Como você sempre viaja, queríamos ter certeza de que não estaria entre as vítimas de mais esse acidente aéreo."

Depois do telefonema, tomei conhecimento de que o canal GloboNews, da operadora de TV a cabo NET, havia interrompido a transmissão ao vivo de depoimentos na CPI dos cartões para "informar" que um avião da empresa Pantanal acabara de cair sobre um prédio na Zona Sul de São Paulo, próximo ao aeroporto de Congonhas. Durante mais de cinco minutos, a GloboNews mostrou imagens de fumaça sobre a cidade e do incêndio que teria sido provocado pelo choque de um avião com o prédio.

Numa inversão da lógica que tem presidido a análise do fluxo das notícias, quase simultaneamente a GloboNews pautou os principais sites online – UOL, Folha OnLine, Terra, iG, Estadão – que passaram a "informar", em manchete, sobre a queda do avião e sobre o incêndio. A partir daí, a "informação" passou também a ser transmitida por emissoras de rádio em todo o país.

Aos poucos foram aparecendo os desmentidos: da Infraero, da Pantanal e da própria Central Globo de Comunicação que, em comunicado, informou:

"A respeito do incêndio ocorrido hoje à tarde em São Paulo, a GloboNews, como um canal de noticias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A primeira informação sobre a causa do incêndio recebida pela Globo News foi a de que um avião teria se chocado com um prédio na região do Campo Belo, Zona Sul de São Paulo. Naquele momento bombeiros e Infraero ainda não tinham informação sobre o ocorrido. As equipes da própria Globo News constataram que não havia ocorrido queda de avião e desde então esclareceu que se tratava de um incêndio em um prédio comercial. Poucos minutos depois o Corpo de Bombeiros confirmou tratar-se de um incêndio em uma loja de colchões."

Não havia acidente. Nenhum avião havia se chocado com qualquer prédio. Na verdade, tratava-se de um incêndio em loja de colchões no bairro paulistano de Moema.

Há vinte meses

Foi impossível não lembrar de uma outra situação envolvendo o jornalismo das Organizações Globo. Esta última ocorrida em 29 de setembro de 2006, quando um jato Legacy derrubou o Boeing que fazia o vôo Gol 1907, de Manaus para Brasília, matando quase uma centena de pessoas.

Naquela época, ao contrário de outras emissoras de TV e sites na internet, a TV Globo demorou a noticiar o acidente que ocorreu antes do Jornal Nacional. Como estávamos às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais de 2006, houve uma grande polêmica em torno do assunto. A Globo sempre alegou que não poderia ter dado a notícia sem primeiro checar os fatos. A emissora temia as eventuais repercussões que uma notícia dessas – não confirmada – poderia causar na vida de milhares de pessoas.

Agora a GloboNews deu a "informação" falsa sobre o "acidente". Sites e emissoras de rádio reproduziram a "informação" e só depois se deram ao trabalho de checar para ver se era verdadeira. Não era.

Deixo a meu eventual leitor as devidas conclusões sobre a qualidade e a responsabilidade do jornalismo que continua a ser praticado no Brasil.

Satyricon de Fellini - RE(POSTAGEM)

Satyricon de Fellini
de Federico Fellini



Sinopse:
Esta é a livre adaptação de Fellini da famosa peça de Petronius, que faz uma crônica da vida na Roma antiga. Encolpio (Martin Potter) e seu amigo Ascilto (Hiram Keller) disputam o afeto do jovem Gitone (Max Born). Quando Encolpio é rejeitado, ele começa uma jornada na qual encontra todos os tipos de pessoas e de acontecimentos, entre eles uma orgia e um desfile de prostitutas na Roma antiga. Durante a orgia, organizada por Trimalchio (Mario Romagnoli), encontra um ex-escravo que menosprezou a mulher em troca dos prazeres oferecidos por um jovem garoto.

Título Original: Fellini - Satyricon
Gênero: Drama
Origem/Ano: ITA/FRA/1969
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Petronius e Federico Fellini

Formato: rmvb
Áudio: Italiano
Legendas: Português
Duração: 123 min
Tamanho: 423 MB
Partes: 5
Servidor: Rapidshare
Créditos: F.A.R.R.A - zé qualquer

Elenco:
Martin Potter ... Encolpio
Hiram Keller ... Ascilto
Max Born ... Gitone
Salvo Randone ... Eumolpo
Mario Romagnoli ... Trimalcione
Magali Noël ... Fortunata
Capucine ... Trifena
Alain Cuny ... Lica
Fanfulla ... Vernacchio
Danika La Loggia ... Scintilla
Giuseppe Sanvitale ... Abinna
Genius ... Liberto arricchito
Lucia Bosé ... La matrona
Joseph Wheeler ... Il suicida
Hylette Adolphe ... La schiavetta
 

TORRENT DO FILME AQUI

 TORRENT DA LEGENDA AQUI

Outros filmes do mesmo diretor:




Jornalismo de Esgoto é isso aí!


Quadrilha denunciada


A juíza da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, Simone Barbisan Fortes, aceitou a denúncia contra 40 das 44 pessoas indiciadas pelo Ministério Público Federal, acusadas de envolvimento no desvio de cerca de R$ 44 milhões do Detran/RS. A juíza também informou que está suspenso o sigilo sobre o processo, excluindo-se o sigilo bancário e fiscal dos denunciados, além de parte dos conteúdos de escutas telefônicas. Assim, a peça de denúncia elaborada pelo Ministério Público Federal torna-se pública a partir de hoje. Os bens de todos os indiciados pela Polícia Federal seguirão bloqueados. Os réus começarão a ser ouvidos no dia 19 de agosto.

Os quatro nomes excluídos da denúncia foram: Ronaldo Etchechury Morales (ex-presidente da Fatec), Luis Felipe Tonelli de Oliveira, Sérgio de Moraes Trindade e Jorge Alberto Viana Hossler. Simone Barbisan Fortes considerou que não havia indícios suficientes contras essas pessoas.

Segundo a denúncia aceita pela Justiça Federal, a fraude no Detran iniciou em 2003, a partir do trabalho de Lair Ferst e José Fernandes junto à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), contando com a participação ativa do ex-reitor desta universidade, Paulo Sarkis. Durante três anos e meio, a quadrilha montada por eles desviou dinheiro público de forma organizada e sistemática. O empresário e lobista tucano Lair Ferst, que depôs ontem na CPI do Detran e negou qualquer envolvimento com desvio de dinheiro público, foi denunciado por seis crimes, entre eles, formação de quadrilha, corrupção e falsidade ideológica.

créditos:

Por uma nova resistência palestina

No 60º aniversário de Israel, Ignácio Ramonet entrevista Mustafá Barghouti, líder da Iniciativa Nacional Palestina. Ele vê o Estado judeu dominado pelo aparato industrial-militar e propõe, contra a ocupação de seu país, uma luta de massas e não-violenta. alternativa à Al Fatah e ao Hamás


Ignacio Ramonet


Nascido em 1954 em Jerusalém, Mustafá Barghouti é médico, formado nas universidades de Moscou, Jerusalém e Stanford. É secretário-geral da Al-Mubadara (Iniciativa Nacional Palestina), organização política laica criada em 2002, com participação ativa de Edward Said [1]. Foi ministro da Informação no governo palestino de união nacional constituído em 2007, depois das eleições legislativas. Em 2006, foi candidato à presidência. Obteve um terço dos votos, derrotado pelo atual presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas. Líder da principal organização de resistência de massa, militante da não-violência, o Dr. Barghouti adota, como referência, o modelo de Gandhi, pai da independência da Índia, na luta contra os britânicos, em estratégia de não-violência. Na sociedade palestina, atormentada por 60 anos de conflitos, cansada da corrupção da Al Fatah e descrente do fundamentalismo religioso do Hamás, o apoio popular às teses da Al-Mubadara não pára de aumentar – especialmente entre os grupos laicos. Barghouti conta também com significativo apoio internacional, como se viu na recente visita que lhe fez, em Ramallah, mês passado, o ex-presidente Jimmy Carter, dos EUA. O movimento pacifista israelense também o apóia.

Mustafá Barghouti trabalha por uma sociedade palestina edificada sobre os princípios de uma democracia radical, enraizada nos movimentos sociais e baseada nos princípios éticos e de transparência da boa governança e do respeito aos direitos humanos. Para alcançar a plena soberania, Barghouti prega a resistência determinada, mas pacífica, contra a ocupação. (Ignacio Ramonet)

14 de maio de 2008 marca o 60º aniversário da criação de Israel e do que os palestinos chamam a Nakba, a catástrofe. Neste momento, qual sua opinião sobre o estado atual das relações entre Israel e os palestinos?

Depois de 60 anos de espoliação, 41 anos de ocupação, 17 anos da Conferência de Madri, 15 anos dos acordos de Oslo, e de várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU, especialmente a 242 (1967) e a 338 (1973), à procura de uma solução justa e durável para décadas de conflitos entre Israel e os palestinos, não sou otimista. Já teríamos de estar mais perto da paz.

E não estão?

Não. Ao contrário. O problema é cada dia mais complicado e mais complexo, dada a intransigência das autoridades de Israel. E isto, seja qual for a atitude dos palestinos. Já se tentou tudo: resistência armada, resistência não-violenta, participação, não-participação etc. Sem qualquer resultado concreto. A cada dia que passa, a situação fica mais difícil, na Palestina.

O senhor esquece a intransigência do Hamás

Hoje, fala-se muito do Hamás, nos jornais, na televisão. Há 20 anos, o Hamás não existia. Nem existia o Hizbollah libanês. Israel, de certo modo, provoca o surgimento destes grupos, por sua atitude de afrontamento sistemático contra os palestinos. Para ser objetivos, temos de reconhecer também que o Hamás e o Hizbollah são resultado da intransigência de Israel. Mas, desde o final dos anos 1980, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) tem-se mostrado disposta a negociar e a encontrar soluções.

Mas os atentados não cessaram. E é compreensível que a população em Israel preocupe-se com a segurança. O senhor não acha?

Acho. Mas, como médico, posso garantir que um dos erros mais graves, que se pode cometer é confundir causas e sintomas de uma doença. Quem age assim corre o risco de matar o doente.

O que se vê é que, em sua prática de propaganda, Israel mistura muito habilmente sintomas e causas. Praticamente todos os veículos de comunicação que noticiam o conflito palestino-israelense dão destaque à violência. Mas esquecem sempre de dizer que a violência é sintoma, manifestação da doença, do mal-estar, expressão de uma outra coisa. Esta outra coisa, de que ninguém fala, é a causa. São poucos os que lembram que a causa da violência é a ocupação da Palestina por Israel. Esquecem de dizer que – como aconteceu na França, por exemplo, de 1940 a 1944 – a pior de todas as violências é a ocupação.

O senhor vê semelhanças entre a situação dos palestinos hoje e a dos franceses sob a ocupação alemã?

Não, não quero comparar situações tão diferentes. O que estou dizendo é que a ocupação da França, entre 1940 e 1944, não foi causada pela violência da Resistência. Tampouco a violência dos indianos revoltados contra a presença colonial dos ingleses foi causa da colonização inglesa na Índia. A causa sempre é a ocupação. A violência contra a ocupação é sintoma. “Causa” e “sintoma” são conceitos completamente diferentes, que não podem ser confundidos. Os veículos de comunicação, a midia, mistura sistematicamente os dois conceitos. E confunde tudo.

Na Palestina, pede-se aos que vivem sob ocupação que garantam a segurança dos ocupantes. A mídia começou por confundir a mente dos israelenses, e aos poucos confundiu o mundo todo

Talvez porque os palestinos cometem atentados contra civis israelenses.

É uma situação estranha, e efetivamente trágica. Na Palestina, pede-se aos que vivem sob ocupação que garantam a segurança dos ocupantes. É surreal. Para explicar uma situação muito simples – um país foi ocupado, seus habitantes defendem-se contra os ocupantes –, chegamos a ponto de confundir: as vítimas seriam os agressores, e os agressores, as vítimas. Começaram por confundir a mente dos próprios israelenses. Depois, pouco a pouco confundiram todas as mentes.

E como o senhor explica este processo?

Existe, em Israel, um importante complexo militar-industrial, semelhante ao que, desde 1960, o presidente Eisenhower denunciava, nos EUA. E este complexo militar-industrial lucrou muito com as sucessivas guerras de Israel contra os Estados árabes, assim como lucra com o conflito contra os palestinos.

Como o senhor define este complexo militar-industrial?

É muito mais sofisticado que seu homólogo norte-americano. Pode-se defini-lo como um complexo militar-industrial-computacional. É alimentado por todas as guerras que se sucederam desde 1948. E faz de tudo para manter os enfrentamentos e a conflitualidade em geral, à custa dos próprios cidadãos israelenses, eles mesmos as primeiras vítimas.

Israel é, não só uma potência nuclear mais importante, por exemplo, que a França; também se tornou um dos principais exportadores mundiais de armas e de dispositivos de segurança.

O senhor não estará exagerando?

Segundo estatísticas recentes, Israel é o quarto maior exportador de armas do mundo: depois de EUA, Rússia e França. Mas não se contenta com exportar armas. Cada vez mais, Israel exporta dispositivos eletrônicos de segurança, sistemas de alerta e de defesa, técnicas de controle, equipamentos de vigilância e prevenção etc. E, como o senhor sabe, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a venda destes produtos aumentou muito.

O senhor realmente acredita que o caráter de exportador de armas, de Israel, determina sua política em relação aos palestinos?

Sim. Porque não se compreende a evolução de Israel, se não se analisa a evolução do aparato militar. No começo, entre 1920 e 1948, quando a Palestina era administrada pela Grã-Bretanha, havia a Hagana, a organização militar clandestina judaica que obteve as primeiras vitórias – mediante atentados – contra os britânicos; e o grupo Stern, que aterrorizava os palestinos. Naquele momento, eram civis em funções militares. Depois, outras organizações armadas, como o Irgun, fundiram-se com as duas primeiras, para constituir o exército israelense. O exército profissionalizou-se; mas, pouco a pouco, os civis deixaram de comandar os militares. A situação inverteu-se. E os generais começaram a comandar a sociedade israelense.

Os militares influenciaram tanto? Israel, afinal de contas, é uma democracia.

Sim, mas que estranha democracia! Nesta democracia, os militares muitas vezes exercem funções determinantes. Pense, por exemplo, em Ariel Sharon, Ehoud Barak, Benyamin Netanyahou, Yitzhak Rabin ou Menahem Begin. Todos militares ou egressos de organizações militares. Todos foram primeiros-ministros de Israel.

O exército israelense tem grande número de oficiais e os renova constantemente. Do ponto de vista militar, é bom, porque o alto oficialato é jovem e conhece bem as técnicas mais modernas de guerra. Mas, também conseqüência do rápido turn-over, as forças armadas aposentam um número muito grande de generais. Estes, liberados das funções militares, passam a interessar-se pela política. E não raras vezes alcançam os cargos mais altos da vida civil. O exército, assim, ocupa também muitos postos políticos no governo e no serviço público.

E então, conduzidos os postos políticos, os jovens generais aposentados põem-se a procurar o que fazer. Assim chegam às indústrias de armas e passam a se interessar pela exportação de sistemas de segurança.

O complexo industrial-militar de Israel é o principal responsável pela guerra sem fim. Exerce enorme influência na política e faz tudo para manter o conflito, à custa dos próprios cidadãos israelenses

A guerra como indústria de exportação...

É isto. Os conhecimentos adquiridos no exército ou nas atividades de repressão, eles os põem a serviço de empresas especializadas em segurança e na prevenção de ataques ou em controles sobre a vida dos cidadãos. Assim, Israel tornou-se um dos maiores exportadores mundiais de sistemas de vigilância e segurança.

Por esta mesma lógica, pode-se dizer que Israel usa, em vários sentidos, a Cisjordânia e Gaza como laboratórios para testar e aperfeiçoar novas técnicas de controle de indivíduos. São técnicas que também, adiante, poderão ser exportadas.

Não há dúvidas de que muitos países têm interesse em comprar a grande experiência dos militares israelenses nesta matéria.

Há rumores sobre a presença de oficiais norte-americanos nas invasões da Cisjordânia, onde observam e estudam os métodos de vigilância, de controle, de prevenção e de repressão criadas pelos especialistas israelenses. Em seguida, usam-nas no Iraque.

Sejam estes rumores verdadeiros ou não, é direito dos palestinos perguntar se é normal que a democracia israelense seja comandada por exportadores de armas e indústrias de segurança que, naturalmente, lucram com a guerra e rejeitam a paz.

Isto explicaria, na sua opinião, por que, depois do “Mapa do Caminho”, de abril de 2003, e da conferência de Annapolis, em novembro de 2007, houve tão pequenos avanços na direção da paz?

O célebre “Mapa do Caminho”, redigido há cinco anos pelo “Quarteto” (EUA, ONU, Rússia e União Européia) fracassou. Ali se fixavam, essencialmente, dois objetivos: 1) Israel pararia a colonização; e 2) os palestinos garantiriam a segurança dos israelenses. Mas cinco anos depois do “Mapa do Caminho” a colonização foi intensificada. E, mesmo depois de Annapolis, Olmert anunciou novas construções nas colônias!

E quanto à segurança dos israelenses?

A Palestina não tem exército, nem soberania, nem controle sobre as fronteiras. Mesmo assim, exigem que garanta a segurança dos israelenses; em especial, a segurança de colonos que, como o nome diz, colonizam terras palestinas, confiscadas aos palestinos, que foram expulsos, manu militari, de suas propriedades.

O “Mapa do Caminho” só fala da segurança dos israelenses. Só dela. A segurança dos ocupantes deve ser garantida pelos ocupados. Jamais se viu idéia semelhante!

Mas o “Mapa do Caminho” foi aceito e adotado pelos representantes da Autoridade Palestina.

Segurança é também segurança social, segurança do emprego, segurança da propriedade, segurança para ir e vir etc. Ora, os palestinos vivem privados de todas estas seguranças. E exige-se que os palestinos, que vivem privados de todas estas seguranças, responsabilizem-se e garantam a segurança dos que ocupam seu país. É o mundo às avessas!

Sou defensor ativo da não-violência. Mas repare: em 2000, a proporção entre o número de mortos palestinos e o de israelenses era 4 por 1. Nos três primeiros meses de 2008, já é de 46 por 1!

Contudo, nada justifica atentados contra populações civis.

Concordo integralmente. Mas – e falando só da segurança física – consideremos os números oficiais, das estatísticas israelenses. Em 2007, foram mortos 13 israelenses, dos quais quatro soldados e quatro colonos, em confrontos armados. No mesmo período, 404 palestinos foram mortos por israelenses. Os números crescem em proporções alucinantes. O senhor sabe que sou defensor empenhado da não-violência, mas os números não podem ser ignorados.

Em 2000, a proporção entre o número de mortos palestinos e o número de mortos israelenses era 4 por 1. Para cada israelense morto, havia 4 palestinos mortos. Em 2006, a proporção chegou a 27 por 1! Em 2007, foi de 31 por 1! E nos três primeiros meses de 2008, já é de 46 por 1!

De 2000 até hoje, foram mortas cerca de mil crianças palestinas. Depois da conferência de Annapolis, em novembro de 2007, foram mortos mais de 330 palestinos. Cerca de quarenta crianças. Não faz sentido falar de segurança para um lado, ficando o outro lado sem qualquer tipo de segurança.

Por que a situação deteriorou-se a tal ponto?

Em minha opinião, por três razões. Pela fraqueza do campo da paz, em Israel; pela fraqueza dos palestinos; e por causa do grande silêncio internacional. Além do mais, as autoridades israelenses estão convencidas de que merecem total impunidade. Podem fazer tudo, sem risco de sofrer qualquer sanção nem, sequer, de receber crítica séria. Por isto, também, alguns dirigentes políticos israelenses estabelecem hoje um verdadeiro apartheid.

O que o leva a dizer isto?

Tomemos o exemplo da água, que é bem escasso e precioso nesta região semi-árida. Se se consideram as fronteiras de 1967, a Cisjordânia pode contar com, em média, 936 milhões de metros cúbicos de água. Mas só 132 milhões estão concretamente acessíveis aos palestinos. O restante, 804 milhões de metros cúbicos, são reservados aos colonos israelenses. Isto significa que um palestino só pode usar, por ano, 50 metros cúbicos de água para todas as necessidades da vida: para beber, lavar-se, cozinhar, para a agricultura, a indústria etc. Por outro lado, cada colono ilegal tem garantidos, por ano, 2.400 metros cúbicos de água, 48 vezes mais! É um escândalo.

Ironia cruel é que, além do mais, são os palestinos que, essencialmente, financiam esta água. Cada palestino paga 5 shekels [cerca de 1 euro] por unidade de água, quando, pela mesma unidade, um colono paga menos da metade deste preço.

O senhor pode citar outro exemplo?

Sim. Acontece o mesmo, também, em matéria de energia. Ao longo dos últimos anos, as autoridades israelenses destruíram a única empresa que produzia energia elétrica na Cisjordânia. Começaram por proibir que a empresa comprasse novos geradores. Depois, obrigaram-na a fornecer energia aos colonos por preço reduzido. Resultado: a empresa perdeu condições de continuar a produzir eletricidade e ficou obrigada a comprar a eletricidade vendida em Israel. Conseqüência disto é que, hoje, a Cisjordânia importa de Israel toda a energia que consome. Também neste caso a energia é vendida aos palestinos por preço duas vezes superior ao cobrado dos colonos. Os colonos pagam, por unidade de energia elétrica, apenas 6,3 shekels; pela mesma unidade, os palestinos pagam 13 shekels.

Assim, os palestinos contribuem para financiar a própria colonização. O que é ainda mais injusto, porque há diferença abissal entre a riqueza de Israel e a miséria dos palestinos. Há quatro anos, a renda anual média por habitante, na Palestina, equivalia a 1.600 dólares (cerca de 1.000 euros). Hoje, não passa de 800 dólares. A renda anual média por habitante, em Israel, já chega a 24 mil dólares. É 36 vezes maior!

Apesar desta enorme disparidade, os palestinos são obrigados a importar de Israel a maior parte dos produtos que consomem. Ao preço de mercado, fixado conforme o padrão de vida israelense. Em resumo, temos de viver com produtos tão caros quanto em Israel. E nossa renda é 36 vezes menor...

Uma das "inovações" da ocupação israelense é a segregação de estradas Se eu tomar uma via para israelenses, serei imediatamente preso e condenado a seis meses de prisão — ainda que esteja a pé

Quando o senhor disse “apartheid”, supus que falasse da barreira de separação.

Sim, também há este Muro do Apartheid e mais centenas de pontos de controle, que impedem a livre circulação dos palestinos. E há, sobretudo, uma “segregação de estradas”. É uma inacreditável medida de discriminação, que jamais se adotou antes, em país algum. É uma das inovações da ocupação israelense. Não houve, sequer, na África do Sul em tempos de apartheid; nem nos EUA em tempos de segregação racial. Nestes países houve, sim, linhas de ônibus diferentes para brancos e para negros, ou bancos diferentes, nos mesmos ônibus, para brancos e para negros. Mas os ônibus circulavam pelas mesmas estradas.

Na Palestina, as autoridades israelenses de ocupação construíram estradas reservadas exclusivamente aos colonos e aos israelenses. São interditadas ao tráfego de palestinos. Se eu, por exemplo, embora deputado do Parlamento palestino e ex-ministro, tomar uma destas estradas – e mesmo que esteja a pé – serei imediatamente preso e condenado a seis meses de prisão.

A mesma segregação aplica-se aos palestinos de Jerusalém Leste. Que sequer saíram de suas casas. São palestinos que vivem há séculos em Jerusalém. Eles não se mudaram para Israel. Aconteceu que, um dia, em 1967, Israel, por conquista militar, "mudou-se” para lá. E então, imediatamente, cerca de 340 mil palestinos passaram a ser “residentes temporários”.

O que significa isto?

Significa sursis [2]. A qualquer momento, poderão ter cassado o direito de residir em Jerusalém. Um exemplo: só muito raramente Israel fornece autorização para construir, a palestinos residentes em Jerusalém Leste — e sempre depois de muita demora e longas obstruções. Se um daqueles palestinos decidir construir uma casa na Cisjordânia, porque quer se casar ou por outro motivo qualquer, perderá, imediatamente, o direito de residir em Jerusalém, onde nasceu!

Ao mesmo tempo, um judeu, recém-chegado de qualquer parte do mundo, recebe imediatamente, ao chegar a Israel, a cidadania israelense e o direito a uma casa na Cisjordânia, se quiser. A partir do instante em que ponha os pés em Israel, esta pessoa tem mais direitos que um palestino nascido aqui, cuja família vive aqui há séculos, quando não há milênios.

Há séculos, se não há milênios, os judeus têm sido vítimas de segregação, de perseguição, de racismo. Na Europa, foram vítimas, até, de uma monstruosa tentativa de exterminação. Não é normal que Israel acolha todos os que desejem viver protegidos contra o anti-semitismo?

Sou o primeiro a condenar o anti-semitismo e a reconhecer que os judeus sofreram terrivelmente, no genocídio pelos nazistas. Como meu amigo Edward Said, digo que nós, palestinos, temos de ter consciência de que o Holocausto foi um crime monstruoso. Mas isto não significa, de modo algum, aceitar a idéia de que o genocídio absolveria o sionismo, e justificaria os sofrimentos infligidos aos palestinos.

O fato de ter sofrido tantas perseguições não dá aos judeus o direito de praticar, por sua vez, uma política de ocupação, contra um povo ao qual não se pode atribuir qualquer responsabilidade pelos crimes cometidos contra os judeus. Aqui e agora, é Israel, sua política de segregação e de injustiça, que rouba milhares de vidas palestinas. Eu acrescentaria que os que nos perseguem hoje não são as vítimas diretas do Holocausto. Tenho quase certeza de que, se soubessem o que os palestinos estão sofrendo, os judeus de hoje não aceitariam as políticas de Israel. O que sofremos hoje os faria lembrar os próprios sofrimentos pelos quais passaram os judeus.

Há famílias palestinas nas quais marido e mulher não podem viver juntos. Se um deles, por exemplo, sair de Jerusalém Leste para encontrar o outro na Cisjordânia, perderá o direito de residente e, portanto, seu ganha-pão, em Jerusalém. É terrível.

Ainda mais terrível é o silêncio internacional, diante de todas estas injustiças. Chegamos a pensar que o mundo não quer tomar conhecimento de nossa tragédia. Que fechou olhos, boca e orelhas. A desgraça palestina está órfã.

A Palestina precisa de uma alternativa. Propomos uma saída não-fundamentalista, e somos pela não-violência. Mas não nos opomos à resistência: ela é legítima, desde que não faça vítimas entre os civis

Fale-me sobre sua organização, Al-Mubadara, a Iniciativa Nacional Palestina.

Com um dos fundadores da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Dr. Haidar Abdel-Shafi [falecido em 25/9/2007], com Ibrahim Dakkak, Edward Said e outros intelectuais, decidimos, em junho de 2002, fundar este novo movimento, a Iniciativa Nacional Palestina (INP) .

Estávamos chocados com os acordos de Oslo, de 1993. Participei da delegação palestina à Conferência de Madrid, em 1991. Oslo não passou de instrumento para nos enganar. O verdadeiro objetivo de Oslo foi desmantelar o projeto palestino de soberania. Os acordos de Oslo substituíram a idéia de independência e soberania, pela idéia da Autoridade Palestina. Foi um truque, um golpe-de-mão. Na prática, Oslo tentou criar um bantustão [3].

Por que a OLP aceitou firmar aqueles acordos?

Penso que a OLP foi apanhada numa armadilha. De fato, Yasser Arafat estava muito inquieto. Ao tornar-se presidente da nova Autoridade, deixaria de ser chefe da OLP. Mas tampouco desejava criar um líder alternativo, permitindo que se elegesse um novo chefe que o substituísse à frente da OLP. Por isto preferiu diluir sua organização no bojo da Autoridade Palestina.

O senhor, várias vezes, acusou de corrupção a Autoridade Palestina.

Sim, temos denunciado uma grande corrupção. Corrupção que, indiscutivelmente, é encorajada por Israel, que deu à Autoridade palestina o monopólio de inúmeros serviços e obras. Isto, inevitavelmente, levaria, como levou, a fraudes, extorsões, enriquecimentos ilícitos. Então, muitos cidadãos desiludiram-se e voltaram-se para o Hamás, organização que, sim, é fundamentalista, mas que, a partir de uma posição de integridade, denunciava a desonestidade e o aviltamento moral da Autoridade Palestina.

A Iniciativa Nacional Palestina representa uma solução, uma alternativa, à Autoridade Palestina?

Não só à Autoridade. Pensamos que a Palestina carece, sim, de uma alternativa. Mas que não seja fundamentalista. Propomos uma alternativa não-fundamentalista. E somos pela não-violência. Mas não nos opomos à resistência. Porque a resistência, de um povo que vive sob ocupação é legítima, reconhecida e autorizada também pelo Direito internacional, desde que não faça vítimas entre os civis.

A Iniciativa Nacional Palestina prega a resistência não-violenta?

Sim. Nossa idéia é a resistência não-violenta, de massas. Penso, por exemplo, na primeira Intifada ou “a guerra das pedradas”, iniciada em dezembro de 1987, que salvou a OLP do desastre. É um bom exemplo de resistência não-violenta, de massas.

Se tivéssemos podido concluir as negociações com Israel naquele momento, sem desperdiçar os resultados da primeira Intifada [que durou até setembro de 1993], não teria havido Oslo, e teríamos uma paz sustentável. Mas os israelenses optaram por assinar aqueles acordos com uma liderança da OLP que, naquele momento, estava enfraquecida.

Hoje, a maioria dos palestinos está decepcionada, reduzida a uma escolha binária: ou o Fatah, subserviente e corrupto, ou o Hamás, religioso fundamentalista. A Iniciativa Nacional Palestina constitui uma alternativa, para conduzir a resistência.

O senhor acredita que a resistência não-violenta seja opção realista?

Temos de entender bem. Partimos de uma estratégia de quatro faces: 1) fomentar a resistência não-violenta, de massas; 2) ajudar a população a resistir, estimulando as forças de cada um e ajudando na vida diária; 3) buscar apoio em forte movimento de solidariedade internacional, como o que houve contra o apartheid na África do Sul; e 4) sob liderança unificada.

O fracasso do mundo árabe é conseqüência de não haver um único regime realmente democrático. Politicamente desprezados e socialmente empobrecidos, os cidadãos voltam-se ao fundamentalismo religioso

De que modo o senhor espera alcançar a massa-crítica necessária para que sua estratégia dê resultados?

O Fatah e o Hamás dependem da força. Queremos a democracia. A questão da democracia é decisiva para nós. A democracia é condição fundamental para que haja paz. A paz só será durável e sustentável se for negociada entre formações democráticas. Nenhum partido pode impor-se aos demais pela força. Não há nem jamais haverá democracia se o poder político depender da força. Seja em Gaza seja na Cisjordânia, nem o Hamás nem o Fatah são democráticos. Em vez de gastar energia disputando entre eles os cargos da administração, o Hamás e o Fatah melhor fariam se apostassem na democracia. A verdade é que os dois partidos praticam modalidades particularmente inaceitáveis de violência interna: o clientelismo e o nepotismo.

Quanto a isto, a INP é muito diferente do Hamás e do Fatah, que permanecem enraizados nos defeitos e desvios da sociedade tradicional. Seus partidos tendem a converter-se em tribos. Não digo que as duas organizações sejam idênticas; há diferenças entre elas. O Hamás, por exemplo, não é corrompido e, no plano político, é partido muito coerente. Mas há pontos em que os dois são semelhantes. Sobretudo, porque ambos tendem ou ao clientelismo ou ao nepotismo.

Quais são suas chances de sucesso?

O futuro depende de nossa capacidade para convencer os palestinos quanto à eficácia de nossa estratégia de quatro pontos, de que já falamos. Além disto, temos uma agenda social. Exigimos respeito ao Estado de direito, aos direitos ligados à cidadania, aos direitos das mulheres, das crianças, dos portadores de deficiências, aos direitos sociais. Em resumo, respeito integral aos direitos humanos. E entendemos que esta agenda social deve estar diretamente articulada à nossa agenda política.

Que fórmula política o senhor preconiza, para pôr fim a este conflito interminável?

Somos pela solução dos dois Estados, que nos parece a melhor. É o modo mais fácil de pôr fim a tantos sofrimentos. Mas não sei se esta solução ainda é viável. Porque, para implementar a solução dos dois Estados, Israel tem de demolir o Muro do apartheid, parar definitivamente a colonização e demolir os prédios dos colonos — o que jamais fez. E prossegue a colonização, selvagem ou autorizada. Continuam a construir prédios e a colonização, na verdade, está avançando. Entre 1993 e 2006, o número de colonos mais que duplicou. São mais de 230 mil em Jerusalém Leste e mais de 250 mil na Cisjordânia. Já são 25% da população da Cisjordânia e ocupam mais de 40% de nosso território. Se isto continuar, não se pode prever o que acontecerá. O que posso garantir é que os palestinos jamais aceitarão que os convertam em alguma espécie de escravos de um bantustão.

Ao mesmo tempo, posso também garantir que, se os israelenses aceitarem a solução dos dois Estados, nos termos da Conferência de Madri, os palestinos a aceitarão. Até o Hamás aceitará.

E se não aceitarem?

Neste caso, resta a solução de um só Estado, no qual co-habitem israelenses e palestinos. Esta solução só será viável se este Estado for realmente democrático, sem segregação nem discriminações. Mas, em termos profundos, sinto que devemos nos preparar para uma longa luta contra um novo tipo de apartheid.

O que os palestinos e os Estados árabes podem esperar?

O mundo árabe está dividido, manipulado, também, por Israel, que é o adversário mais astuto que o mundo árabe jamais enfrentou. Está em condições lastimáveis, por razões internas: ausência de democracia, regimes instáveis. E por serem instáveis e vulneráveis, estes regimes precisam do Ocidente.

O fracasso do mundo árabe é conseqüência de não haver, em todo o mundo árabe, um único regime realmente democrático. Politicamente desprezados e socialmente empobrecidos, os cidadãos voltam-se ao fundamentalismo religioso. Mas é preciso lembrar que o mundo árabe também é caracterizado pela ausência de inúmeros direitos – sobretudo os direitos da mulher e dos mais jovens. Ora, a população é muito jovem. Na Palestina, por exemplo, 70% dos habitantes têm menos de 30 anos. Estes jovens precisam de mudanças, de novas visões de mundo, de perspectivas novas — em resumo, de esperança. E nada vêem à frente. Se não lhes oferecermos alguma esperança, os jovens vão, eles também, aderir ao fundamentalismo. Um dos problemas dos principais partidos árabes tradicionais é que não fazem o trabalho de formação da juventude. Assim, deixam o campo livre para a ação dos movimentos religiosos.

A opção por permanecer aqui é o maior acerto estratégico dos palestinos. O povo a tomou espontaneamente. Nossa sociedade é mais avançada que os dirigentes e mantém viva uma incrível atitude de resistir, de recomeçar

Em março de 2002, na Cúpula Árabe de Beirute, a Arábia Saudita propôs uma “iniciativa de paz árabe”. O senhor acha que esta proposta continua atual?

A “iniciativa de paz árabe” prevê três pontos: 1) o fim da ocupação por Israel, da Cisjordânia, de Jerusalém Leste, da Faixa de Gaza e do Golan; 2) o direito de retorno, para os refugiados palestinos; e 3) sendo atendidos estes dois primeiros pontos, Israel será reconhecido pelo conjunto do mundo árabe.

Mas Israel não deseja esta solução. Basta ver que sua reação a esta proposta foi reocupar a Cisjordânia, cometendo um massacre. Em seguida, em abril de 2003, os EUA tiraram da cartola o “Mapa do Caminho”, com o objetivo, precisamente, de neutralizar a “iniciativa de paz árabe”. Seja como for, a experiência mostra que Israel destrói sistematicamente qualquer possibilidade de haver um Estado palestino independente e viável.

E, de modo geral, o mundo árabe deixa barato...

Exatamente. Sobretudo, porque há enorme contradição entre as ambições dos líderes árabes, de um lado, e, de outro lado, as aspirações das sociedades árabes. Os dirigentes vivem quase sempre separados do povo e desconfiam do povo.

Há extremistas, em Israel, que propõem expulsar os palestinos para além do rio Jordão. Isto o preocupa?

Expulsar os palestinos é, sim, o objetivo manifesto dos extremistas israelenses. Mas é também o objetivo dissimulado, oculto, mascarado, de todo o establishment israelense. Evidentemente, não podem fazer abertamente o que fizeram em 1948 – como Ilan Pappé, historiador israelense, denunciou magistralmente. Hoje, limitam-se a criar condições de vida que são insuportáveis para os palestinos. Estão apostando no desalento, na desesperança, no cansaço, no medo. Estão apostando na idéia de que, dado que a vida torna-se literalmente impossível aqui, os palestinos partirão, mais dia menos dia. Estimulam os palestinos a partir, a emigrar.

Atualmente, os israelenses gostariam de anexar Gaza ao Egito, como antes de 1967, para se desembaraçar de 40% do problema palestino.

Em 1967, ante o avanço fulgurante das forças armadas de Israel, alguns palestinos partiram. Mas a maioria ficou. Porque lembraram-se dos que fugiram em 1948 e que estão, até hoje — aqui mesmo, na Cisjordânia, em Gaza, no Líbano ou na Jordânia — em campos de refugiados. Não quiseram sofrer a mesma humilhação nem passar pelo calvário pelo qual ainda passam os refugiados-expulsos de 1948.

O senhor tinha 13 anos em 1967. Lembra-se da chegada das forças israelenses?

Sim, é claro. Era muito jovem, mas lembro que meu pai nos disse: “Nós ficaremos. Não nos moveremos daqui. Melhor morrer na nossa terra, do que como errantes sem teto.” A escolha por não nos mover daqui é o maior acerto estratégico dos palestinos. Ironia, sim, é que seja estratégia muito bem-sucedida que não foi pensada ou decidida por qualquer equipe de especialistas. Foi decisão coletiva que o povo tomou espontaneamente. Como a primeira Intifada, iniciada em dezembro de 1987. Isto mostra que o povo palestino está mais avançado que os dirigentes. E que mantém viva uma incrível atitude de resistir, de recomeçar.

Em 1967, não partimos. Os israelenses não conseguiram assustar-nos para expulsar-nos. Continuamos aqui.

Em meio a tanta violência, por que o senhor ainda aposta na não-violência? Seu projeto não lhe parece um pouco utópico?

Muita gente diz que Israel só entende o idioma da força. Neste sentido, Israel comporta-se como todas as demais potências coloniais. Nenhum Estado colonialista jamais entendeu por que os colonizados queriam vê-lo pelas costas. Aconteceu, por exemplo, com o Estado francês na Argélia, com o Estado inglês na Índia, no Quênia, no Iêmen.

Mas para mim, não há só a força militar. Foi a força da não-violência que pôs fim ao colonialismo na Índia e ao regime racista do apartheid na África do Sul.

Se conseguirmos mobilizar uma maioria de cidadãos palestinos, a favor da idéia de uma resistência de massa, não-violenta, creio que começaremos a ter paz nesta região. Uma paz justa para os dois lados, fundada em justiça e democracia. E que nos leve a uma prosperidade partilhada.

Tradução: Caia Fittipaldi
caia.fittipaldi@uol.com.br