domingo, 7 de julho de 2013

Cidadania e Vandalismo

Cidadania e Vandalismo
                              Guto Nadal – Secretario de Habitação-Bagé-RS – arquiteto e urbanista -especialista em Gestão Pública Participativa

Ingredientes para fermento na massa:
Lei FIFA com restrições do espaço territorial público + passagem de ônibus mais cara do mundo no comparativo do custo por hora de trabalho + violência policial abusiva em um ato pacífico + manipulação da grande mídia + instrumento de comunicação alternativo e instantâneo de abrangência mundial (WEB) com doses de mentiras e desinformações

                Sou da geração que passou a infância convivendo com a ditadura. Conheci movimentos de massa, no final da década de 70 a partir das greves de bancários, trabalhadores da construção civil, metalúrgicos e estudantes. E que resultaram em importantes avanços para os trabalhadores, estudantes e na construção do primeiro partido do país construído a partir de bases: o Partido dos Trabalhadores. No início da década de 80 (83 e 84) lutamos pelas eleições diretas que resultou na abertura política em 1985, na constituinte de 86-88 e na primeira eleição direta para presidente do nosso país em 1989. Em 1992, foi a vez de lutarmos frente a um mar de corrupção e o avanço do Neoliberalismo. O impeachment foi conquistado, à derrota neoliberal foi mais demorada. Começamos a derrota-lo a partir do Rio Grande do Sul, com a eleição de Olívio Dutra (1999-2002) o primeiro gestor público a implantar o Orçamento Participativo em um estado subnacional no mundo. Convivemos neste período com a era de FHC quando o avanço neoliberal fez com que o patrimônio dos brasileiros fosse vendido por valores irrisórios e ocorreu a precarização dos serviços públicos e a estagnação de nosso país. O salário mínimo chegava a 67 dólares em dezembro/2002 e apenas 95 mil jovens tinham acesso a universidade, a distribuição de renda era apenas um vale, nosso país era a 11ª economia mundial e os juros eram de 44 %, 33 milhões de brasileiros encontravam-se na linha de pobreza absoluta e o IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano) era o mesmo dos países do terceiro mundo.

                Foi necessário elegermos (2002), reelegermos (2006) um trabalhador e uma mulher (2010) para presidente do país, para termos os mais diferentes avanços em políticas públicas. O salário mínimo, hoje supera a 300 dólares, 2 milhões de jovens tiveram acesso a universidade e a distribuição de renda beneficiou a mais de 27,9 milhões de brasileiros* que saíram da linha da pobreza absoluta e outros 40,3 milhões que ascenderam à classe C a partir da geração de 18 milhões de novos empregos, a geração de trabalho e renda para trabalhadores e a formalização de milhões de microempreendedores e trabalhadoras domésticas. Já foram construídas e entregues mais de um milhão de moradias. Para combater a corrupção as informações foram publicadas via WEB e foi criado o Conselho de Justiça, hoje nosso país é a 7ª Economia Mundial e os juros foram reduzidos para 8%, temos um IDH semelhante aos países desenvolvidos, para os capacitados vivemos uma situação de pleno emprego e estamos desenvolvendo um plano de capacitação de dimensões inéditas.

Hoje o mundo vive a luta contra a crise econômica,recessão, desemprego e a miséria. Enquanto, em nosso país vivemos um momento de estabilidade, de desenvolvimento econômico com distribuição de renda e inclusão social de milhões de brasileiros e brasileiras, contudo muito ainda falta a ser feito. Nos grandes centros os problemas de mobilidade urbana decorre do excessivo uso individual do automóvel. É necessário maior investimentos em mobilidade urbana de massas e valorização de alternativas de transporte não motorizados, nossa educação necessita de mais qualidade e valorização de nossos educadores, nossa saúde requer mais ações de descentralização com valorização dos trabalhadores da saúde e criação de centros de excelência regionais e maior valorização de médicos clínicos gerais. O combate a corrupção tem que ser constante e vigilante, temos que avançar em gestão pública participativa para que a cidadania tenha controle na aplicação dos recursos públicos.

                Nos últimos dias o Brasil foi chocalhado por manifestações articuladas a partir de redes sociais ( Faceboock, Twitter... ) que colocam nosso país na agenda de mobilização de massas tendo como com instrumento de comunicação a Web ( nova mídia), mobilizações semelhantes como já ocorreram em países como Espanha, Portugal, Grécia, França e Turquia. Porém oportunistas facistas querem disputar e despolitizar o movimento. Inclusive fazendo uso da violência para amedrontar a militância de centro-esquerda que sempre lutaram uma vida inteira pela qualificação dos serviços públicos e pela ética na política.

                Meu repúdio aos atos de vandalismo, banditismo, opressão e violência praticados nas manifestações que queremos que sejam pacíficas e democráticas, e não onde facistas agridem militantes de partidos de centro-esquerda e de esquerda. É importante resgatar que foi a polícia do governador do PSDB-SP que reprimiu violentamente a primeira manifestação de 5000 pessoas deste ciclo e que alimentou o noticiário inclusive provocando uma linha editorial da grande mídia de apoio a violência militar contra manifestações, onde trabalhadores, estudantes e jornalistas foram feridos.

                Somos solidários a juventude e a cidadania brasileiras que mobilizam-se pelo direito a mobilidade de qualidade, ao zelo pelo dinheiro público, por melhores políticas públicas para que nosso país continue a avançar. Mas não queremos ver em nosso país discurso e atos de despolitização usando os jovens e a cidadania para o retrocesso de nosso país. Queremos avançar, as bandeiras presentes de norte a sul, de leste ao oeste por um Brasil melhor são nossas bandeiras. O Brasil acordou? Para nós o Brasil nunca adormeceu, somos militantes no dia a dia, na sociedade, em nossos partidos, no serviço público e nos movimentos populares, lutamos para aprofundar e avançarmos para uma sociedade justa e democrática.

                Sou de esquerda e luto para fortalecer os fóruns e instrumentos da democracia participativa. Além dos movimentos que mencionei também participei de todas as Conferências das Cidades desde 2003. Fórum que também pauta avanços em questões defendidas pelo Movimento Cidadania Web: o transporte público e a mobilidade urbana. O Brasil esta neste momento fazendo o debate em diversas Conferências Setoriais para que os problemas de hoje serviam como solução para os de amanhã. Participar é exercer a cidadania, permitir que sejamos manipulados e oprimidos é defender aqueles que vencemos com a constituinte/88. Nossa Constituição não avançou tudo o que queríamos, por isso que defendemos também a Reforma Política. Defender a Cidadania e a Democracia é um dever de todos nós, coibir a repressão injustificada, o vandalismo e o facismo também. A jovem democracia brasileira merece nossa maturidade e nossa vigilância. Manifestação é um ato político. Parabéns a nova geração que quer dar continuidade ao que construímos até aqui. Vamos em frente, falta muito o que fazer. Vamos semear ? Passaremos por espinhos, apreciaremos as flores e finalmente colheremos os frutos que serão usufruídos pelas gerações atuais e futuras que estão por vir.
Brasil país justo, democrático e sem miséria é nosso sonho, e o seu ? A construção de um Brasil melhor iniciou a partir do Fórum Social Mundial, do qual somos protagonistas ontem, hoje, amanhã e sempre. Vamos a luta nosso país precisa de todos nós!

* OIT- Organização Internacional do Trabalho (2013)