Cidadania e
Vandalismo
Guto Nadal – Secretario de
Habitação-Bagé-RS – arquiteto e urbanista -especialista em Gestão Pública
Participativa
Ingredientes
para fermento na massa:
Lei
FIFA com restrições do espaço territorial público + passagem de ônibus mais
cara do mundo no comparativo do custo por hora de trabalho + violência policial
abusiva em um ato pacífico + manipulação da grande mídia + instrumento de
comunicação alternativo e instantâneo de abrangência mundial (WEB) com doses de
mentiras e desinformações
Sou
da geração que passou a infância convivendo com a ditadura. Conheci movimentos
de massa, no final da década de 70 a partir das greves de bancários,
trabalhadores da construção civil, metalúrgicos e estudantes. E que resultaram em
importantes avanços para os trabalhadores, estudantes e na construção do
primeiro partido do país construído a partir de bases: o Partido dos
Trabalhadores. No início da década de 80 (83 e 84) lutamos pelas eleições
diretas que resultou na abertura política em 1985, na constituinte de 86-88 e
na primeira eleição direta para presidente do nosso país em 1989. Em 1992, foi
a vez de lutarmos frente a um mar de corrupção e o avanço do Neoliberalismo. O
impeachment foi conquistado, à derrota neoliberal foi mais demorada. Começamos
a derrota-lo a partir do Rio Grande do Sul, com a eleição de Olívio Dutra
(1999-2002) o primeiro gestor público a implantar o Orçamento Participativo em
um estado subnacional no mundo. Convivemos neste período com a era de FHC quando
o avanço neoliberal fez com que o patrimônio dos brasileiros fosse vendido por
valores irrisórios e ocorreu a precarização dos serviços públicos e a
estagnação de nosso país. O salário mínimo chegava a 67 dólares em
dezembro/2002 e apenas 95 mil jovens tinham acesso a universidade, a
distribuição de renda era apenas um vale, nosso país era a 11ª economia mundial
e os juros eram de 44 %, 33 milhões de brasileiros encontravam-se na linha de
pobreza absoluta e o IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano) era o mesmo dos
países do terceiro mundo.
Foi
necessário elegermos (2002), reelegermos (2006) um trabalhador e uma mulher
(2010) para presidente do país, para termos os mais diferentes avanços em
políticas públicas. O salário mínimo, hoje supera a 300 dólares, 2 milhões de
jovens tiveram acesso a universidade e a distribuição de renda beneficiou a
mais de 27,9 milhões de brasileiros* que saíram da linha da pobreza absoluta e
outros 40,3 milhões que ascenderam à classe C a partir da geração de 18 milhões
de novos empregos, a geração de trabalho e renda para trabalhadores e a
formalização de milhões de microempreendedores e trabalhadoras domésticas. Já
foram construídas e entregues mais de um milhão de moradias. Para combater a
corrupção as informações foram publicadas via WEB e foi criado o Conselho de
Justiça, hoje nosso país é a 7ª Economia Mundial e os juros foram reduzidos
para 8%, temos um IDH semelhante aos países desenvolvidos, para os capacitados
vivemos uma situação de pleno emprego e estamos desenvolvendo um plano de
capacitação de dimensões inéditas.
Hoje o mundo vive a luta contra a crise
econômica,recessão, desemprego e a miséria. Enquanto, em nosso país vivemos um
momento de estabilidade, de desenvolvimento econômico com distribuição de renda
e inclusão social de milhões de brasileiros e brasileiras, contudo muito ainda
falta a ser feito. Nos grandes centros os problemas de mobilidade urbana
decorre do excessivo uso individual do automóvel. É necessário maior
investimentos em mobilidade urbana de massas e valorização de alternativas de
transporte não motorizados, nossa educação necessita de mais qualidade e
valorização de nossos educadores, nossa saúde requer mais ações de
descentralização com valorização dos trabalhadores da saúde e criação de centros
de excelência regionais e maior valorização de médicos clínicos gerais. O
combate a corrupção tem que ser constante e vigilante, temos que avançar em
gestão pública participativa para que a cidadania tenha controle na aplicação
dos recursos públicos.
Nos
últimos dias o Brasil foi chocalhado por manifestações articuladas a partir de
redes sociais ( Faceboock, Twitter... ) que colocam nosso país na agenda de
mobilização de massas tendo como com instrumento de comunicação a Web ( nova
mídia), mobilizações semelhantes como já ocorreram em países como Espanha,
Portugal, Grécia, França e Turquia. Porém oportunistas facistas querem disputar
e despolitizar o movimento. Inclusive fazendo uso da violência para amedrontar
a militância de centro-esquerda que sempre lutaram uma vida inteira pela
qualificação dos serviços públicos e pela ética na política.
Meu
repúdio aos atos de vandalismo, banditismo, opressão e violência praticados nas
manifestações que queremos que sejam pacíficas e democráticas, e não onde
facistas agridem militantes de partidos de centro-esquerda e de esquerda. É
importante resgatar que foi a polícia do governador do PSDB-SP que reprimiu
violentamente a primeira manifestação de 5000 pessoas deste ciclo e que
alimentou o noticiário inclusive provocando uma linha editorial da grande mídia
de apoio a violência militar contra manifestações, onde trabalhadores,
estudantes e jornalistas foram feridos.
Somos
solidários a juventude e a cidadania brasileiras que mobilizam-se pelo direito
a mobilidade de qualidade, ao zelo pelo dinheiro público, por melhores
políticas públicas para que nosso país continue a avançar. Mas não queremos ver
em nosso país discurso e atos de despolitização usando os jovens e a cidadania
para o retrocesso de nosso país. Queremos avançar, as bandeiras presentes de
norte a sul, de leste ao oeste por um Brasil melhor são nossas bandeiras. O
Brasil acordou? Para nós o Brasil nunca adormeceu, somos militantes no dia a
dia, na sociedade, em nossos partidos, no serviço público e nos movimentos
populares, lutamos para aprofundar e avançarmos para uma sociedade justa e
democrática.
Sou
de esquerda e luto para fortalecer os fóruns e instrumentos da democracia
participativa. Além dos movimentos que mencionei também participei de todas as
Conferências das Cidades desde 2003. Fórum que também pauta avanços em questões
defendidas pelo Movimento Cidadania Web: o transporte público e a mobilidade
urbana. O Brasil esta neste momento fazendo o debate em diversas Conferências
Setoriais para que os problemas de hoje serviam como solução para os de amanhã.
Participar é exercer a cidadania, permitir que sejamos manipulados e oprimidos
é defender aqueles que vencemos com a constituinte/88. Nossa Constituição não
avançou tudo o que queríamos, por isso que defendemos também a Reforma
Política. Defender a Cidadania e a Democracia é um dever de todos nós, coibir a
repressão injustificada, o vandalismo e o facismo também. A jovem democracia
brasileira merece nossa maturidade e nossa vigilância. Manifestação é um ato
político. Parabéns a nova geração que quer dar continuidade ao que construímos
até aqui. Vamos em frente, falta muito o que fazer. Vamos semear ? Passaremos
por espinhos, apreciaremos as flores e finalmente colheremos os frutos que
serão usufruídos pelas gerações atuais e futuras que estão por vir.
Brasil país justo, democrático e sem miséria é nosso
sonho, e o seu ? A construção de um Brasil melhor iniciou a partir do Fórum
Social Mundial, do qual somos protagonistas ontem, hoje, amanhã e sempre. Vamos
a luta nosso país precisa de todos nós!
*
OIT- Organização Internacional do Trabalho (2013)