sábado, 11 de julho de 2009

Uma tentativa de golpe de Estado filo-imperialista no Irão
Domenico Losurdo





O imperialismo europeu, acolitado pelos serventuários dirigentes e governantes da UE, procura impor ao mundo um novo conceito de legitimidade eleitoral: os votos expressos nas urnas os resultados só serão legítimos se corresponderem aos desejos e interesses imperiais! A vitória do Hamas nas eleições palestinas em Janeiro de 2006 foi a primeira manifestação visível deste ilegítimo conceito de legitimidade…

Um país, os EUA, onde o Supremo Tribunal Federal sentenciou a validade de uma «chapelada» de votos decidir a eleição de um presidente (a primeira eleição de George W Bush), “na base de que princípios se arroga (…) o direito de proclamar, inapelavelmente, a legitimidade das eleições do ano passado no México, e a ilegitimidade das eleições de há duas semanas no Irão”?

Domenico Losurdo* - Odiario.info

Não restam dúvidas de que temos assistido no Irão a uma tentativa de golpe de Estado fomentada e apoiada do exterior. É óbvio que tentativas deste género só podem ter possibilidade de sucesso se estivermos em presença de uma consistente oposição interna. Esse facto, todavia, não altera a substância do problema.

A técnica dos golpes de Estado filo-imperialistas, camuflados de «revoluções coloridas», segue um esquema já bem consolidado:

1) Na véspera das eleições ou imediatamente após a sua realização uma gigantesca engrenagem de base multimediática, digital e de redes móveis bombardeia obsessivamente a tese segundo a qual a oposição é proclamada vencedora, e os seus apoiantes convocados a manifestar-se na rua contra «as fraudes».

2) As «cores» e as palavras de ordem das manifestações estão programadas antecipadamente; a «guerra psicológica» está já definida em todos os detalhes de modo a mostrar a oposição filo-imperialista como expressão «pacífica» da vontade popular e para evidenciar como intrinsecamente fraudulentas e violentas as forças com orientação diferente e opostas a ela.

3) A reivindicação é a da anulação e repetição das eleições. Nenhum resultado será considerado válido se não for aprovado pelos juízes que residem em Washington e em Bruxelas, de cuja sentença não há apelo. Deste modo, a repetição da consulta eleitoral é destinada a produzir uma inversão do resultado anterior. O bloco político-social cuja expressão conduzira a um vencedor considerado ilegítimo por Washington e Bruxelas tende a desagregar-se: parece agora insensato opor-se aos patrões do mundo, que já demonstraram a sua omnipotência através da anulação das eleições; seria quixotesco tentar agora a oposição à corrente «irresistível» da história. Quixotesco e também perigoso: como o demonstra bem o exemplo de Gaza, um resultado eleitoral que não agrade aos patrões do mundo abre caminho ao embargo, ao bloqueio, aos bombardeamentos terroristas, à morte pela fome ou pelo fósforo branco. Em contrapartida, os «democratas» legitimados e abençoados por Washington e Bruxelas, para além de disporem da benevolência económica, multimediática, digital e telefónica do Ocidente, serão posteriormente compensados com a sensação de se movimentar em consonância com as aspirações dos patrões do mundo e com a corrente «irresistível» da história.

À luz destas conclusões fica bem evidente a miséria intelectual e política de boa parte da «esquerda» italiana. Nem sequer prestou qualquer atenção à tomada de posição do presidente Lula: Na base de que princípios se arroga o Ocidente o direito de proclamar, inapelavelmente, a legitimidade das eleições do ano passado no México, e a ilegitimidade das eleições de há duas semanas no Irão? E no entanto no primeiro caso o candidato derrotado denunciava fraudes, e ao fazê-lo exprimia um sentimento largamente partilhado pela população, que efectivamente acorria às ruas em manifestações não menos maciças do que as que se realizaram em Teerão. E deve acrescentar-se que no México a margem de vantagem do vencedor era bastante reduzida, ao contrário do que se verificou no Irão….

Deixarei para outra ocasião uma análise mais detalhada da revolução e da situação iraniana. Mas uma coisa fica desde já clara. No seu conformismo, uma certa «esquerda» acredita estar a defender a causa da democracia, mas na realidade está a tomar posição a favor de um ordenamento internacional profundamente antidemocrático, no quadro do qual as potências hoje mais poderosas económica e militarmente assumem a pretensão de decidir soberanamente sobre a legitimidade das eleições em qualquer parte do mundo, e também de condenar ao inferno da agressão militar e do estrangulamento económico os povos que manifestem preferências eleitorais «erradas»: a lição de Gaza!


* Domenico Losurdo, filósofo e historiador, é Professor da Universidade de Urbino, Itália

Este texto foi publicado em “L’ Ernesto” de 29 de Junho de 2009


Tradução de Filipe Diniz

Maria Bethânia - Maria Bethânia Ao Vivo (1995)




download




Créditos: UmQueTenha

Do blog Agencia Chasque...

Estamos rumo ao apartheid ambiental

Felipe Amaral

Porto Alegre (RS) - Estudo divulgado pala organização Oxfam Internacional alerta que podemos regressar 50 anos na luta pela erradicação da pobreza. A Oxfam é uma aliança, uma confederação de 13 organizações que tem uma similar filosofia e trabalham conjuntamente, além do suporte de sócios e colaboradores em todo o mundo. Suas atividades estão voltadas para assegurar a melhoria de condições de vida dos pobres e das comunidades marginalizadas.

O informe intitulado “Evidências que doem: as mudanças climáticas, os povos e a pobreza”, combina os últimos descobrimentos científicos sobre as mudanças climáticas com os testemunhos de comunidades espalhadas por mais de 100 países. O conteúdo releva como as alterações no sistema climático estão influenciando a estabilidade dos sistemas produtivos, sobretudo em países mais pobres, comprometendo as colheitas e ampliando o estado de fome e miséria já endêmicas em muitas regiões do globo.

O estudo é enfático ao afirmar que se medidas reais, eficientes e contínuas para redução dos efeitos do aquecimento global não forem adotadas e implementadas imediatamente, teríamos um retrocesso irreparável de 50 anos em todas as conquistas e avanços na erradicação da fome. O que levaria a humanidade a uma tragédia ainda neste século.

O informe publicado simultaneamente ao encontro do G-8 na Itália trata de temas pontuais e estabelece suas correlações como a fome, agricultura, saúde, trabalho, água, desastres e desabrigados, ou como diria: os refugiados ambientais.

Sobre a fome e agricultura, destaca como a instabilidade climática das estações anuais, com a redução das chuvas, está comprometendo as culturas tradicionais na Nicarágua, Uganda e Bangladesh. E que o arroz e o milho, os cultivos mais importantes e base da cadeia alimentar na Ásia, América e África, estão gradativamente reduzindo suas colheitas e a produtividade. Segundo os dados apresentados, até 2020 as colheitas de milho terão uma queda em torno de 20%, principalmente na África Subsahariana e Índia, regiões já empobrecidas.

O quadro apresentado para a saúde não deixa dúvidas sobre os efeitos das mudanças climáticas, principalmente pela ampliação de epidemias, pestes e enfermidades para regiões onde anteriormente não existiam registros de casos. Os cálculos estimam que ocorrerão em média 150 mil mortes a mais ao ano por distintas enfermidades, comparadas aos registros de 1970, principalmente por fatores ligados ao saneamento e à expansão de doenças para regiões climáticas onde não haviam registros.

Os desastres naturais estão mais freqüentes e mais intensos, com a previsão de triplicar os acontecimentos extremos até 2030, atingindo de forma desigual pobres e ricos, localizados em uma mesma região, área ou cidade. Isso se deve ao fato de que os mais abastados têm condições de mitigar seus danos e recompor sua vidas. Enquanto aqueles mais carentes e já debilitados economicamente não têm acesso a seguros e a outros meios, como financiamentos para habitação e construção, ficando reféns do poder público e do “mercado da caridade”.

Hoje os desabrigados ambientais, ou refugiados ambientais, somam 26 milhões de pessoas e as estimativas indicam um aporte anual de 1 milhão de pessoas.

Dentre os dados apresentados pelo estudo o mais surpreendente, pelas dimensões e efeitos sobre a economia de regiões industrializadas e urbanizadas, refere-se à influência do clima sobre o regime do trabalho. Onde o aumento das temperaturas pode reduzir o ritmo do trabalho, influenciando diretamente na jornada laboral e saúde dos trabalhadores. Principalmente para aquelas atividades desenvolvidas ao ar livre em cidades localizadas em regiões tropicais, podendo ter uma queda de até 30% na produtividade.

Enquanto líderes e chefes de estado discutem a possibilidade remota de efetivar medidas para redução dos efeitos do aquecimento global, com o protecionismo às atividades industriais e receio de encolhimento das economias, amplia-se a fome e a miséria.

O mundo dos ricos amplia os riscos para o mundo dos pobres. Implementa-se o apartheid climático ambiental.

Felipe Amaral é ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (http://www.institutobiofilia.org.br).

Está no Patria Latina...

Mr. Presidente John Mccain – O oficial e o paralelo



Laerte Braga

Não é só Honduras que tem um governo constitucional e um governo paralelo por força de realidades golpistas. Os Estados Unidos também. Barak Obama venceu o senador John McCain nas eleições do ano passado. Venceu no voto popular e no Colégio Eleitoral. Diferente de George Bush, que perdeu em 2000 no voto popular e venceu no Colégio Eleitoral numa fraude bisonha, mas que norte-americanos engoliram goela abaixo para não “fraturar” a democracia do país.
Onde fraude impede fratura não sei, mas lá ficou assim.
Obama tomou posse, anunciou ao mundo uma nova era e transformou o governo do seu país num espetáculo itinerante. Primeiro presidente supostamente negro, de origem humilde, criado por muçulmanos e com uma estrela de primeira grandeza em seu ministério, a secretária de Estado Hilary Clinton, sua adversária no partido Democrata.
É o governo oficial.
McCain voltou ao Senado e juntou os cacos do governo Bush, principalmente Dick Chaney, o ex-vice-presidente, figura principal dos anos de terror republicano e montou o governo paralelo.
É que comanda os EUA.
O golpe militar em Honduras foi pensado, planejado e desfechado por militares hondurenhos a soldo de empresários de seu país associados a empresários norte-americanos, tudo por baixo dos panos da CIA e das articulações de Chaney e McCain.
Chamam isso de patriotismo. De defesa da democracia. São os “negócios”.
O governo oficial condenou o golpe, Obama falou em volta do presidente deposto Manuel Zelaya e tudo ficou do mesmo tamanho.
O governo paralelo de McCain convidou os golpistas a enviarem uma delegação a seu país, promoveu encontro com políticos, empresários e na prática, no paralelo, legitimou o golpe.
Não importa que Obama tenha se recusado a receber os “patriotas”. O golpe já estava consumado.
Hilary Clinton, mais na real, percebeu toda a movimentação, a impotência do governo oficial para enfrentar os golpistas sem “fraturar” a tal democracia norte-americana e foi logo propondo um acordo em que parece que a legalidade fica salva, mas a prática golpista permanece.
O governo paralelo está governando os EUA. O governo oficial ainda não achou o caminho ou a chave da porta do país. E conta de quebra com o vice-presidente Joe Binden para o meio de campo, coisa assim do tipo “os caras não vão engolir isso, é melhor assim ou assado”.
Nessa confusão toda vão assando Obama.
A solução de acordo agradaria a generais hondurenhos que não admitem o “desprestígio” de voltar atrás no golpe e contam com generais norte-americanos como aliados. Honduras já foi conhecida como “porta aviões” dos EUA. Há uma base com 500 soldados norte-americanos e forte armamento.
Obama não tem controle sobre os generais de seu país. McCain sabe como trata-los é considerado herói da guerra do Vietnã, exatamente a que perderam de forma clara e definitiva.
As ofensas racistas do “chanceler” do governo golpista ao presidente oficial dos EUA e que valeram hoje protestos oficias do governo de Obama, refletem o pensamento das elites de ambos os países. O mesmo embaixador que encaminhou o protesto, foi o artífice do golpe.
A primeira decisão de Obama ainda não foi tomada. Se é negro de fato, ou só de cor da pele e se assim o for, aí é branco.
“El negrito” não é da lavra do “chanceler.” É a forma como o governo paralelo de McCain enxerga e trata Obama. É como se referem ao presidente oficial os que detêm o poder real nos EUA.
Toda a virulência da linguagem do presidente golpista de Honduras Roberto Michelletti deriva daí. Ele e seu grupo, empresários hondurenhos ligados a empresários norte-americanos, enfrentam Barak Obama sem qualquer receio ou constrangimento, pois sabem que têm o apoio, mais que isso, o estímulo do governo paralelo de McCain.
Dick Chaney continua sendo o principal formulador das reais políticas dos EUA.
O golpe militar em Honduras é só um teste para aventuras maiores. Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, El Salvador, Cuba, Equador, todas as antigas colônias latino-americanas.
Não há exagero em dizer que o governo paralelo de McCain é como um esquadrão da morte em dimensão mundial. Aviões não tripulados atacaram um acampamento no Paquistão e mataram 45 pessoas. Segundo eles “insurgentes”. Segundo o governo do Paquistão – que é aliado dos norte-americanos – um ataque desnecessário, que revolta a população, viola a soberania do país e inflama o povo contra o governo e o leva a proteger “insurgentes”.
O grande problema de Barak Obama é que eles quebraram o país, mas deixaram a bomba em suas mãos. Se explodir a culpa é dele. Eles voltam, saem do paralelo (diferente de clandestinidade, pois agem à luz do dia). E muito pior que isso. O que parecia ser uma nova era, volta a ser um túnel tenebroso e sem perspectivas de saídas. Tem quem acredite nessas histórias de mocinho acabando com bandido versão Hollywood. Nunca se sabe quem é bandido ou qual é o mocinho em se tratando dos EUA.
Para os latino-americanos a alternativa é a luta. A organização popular. A resistência. Sabendo de antemão que o grosso de seus militares – que em tese seriam a garantia da soberania e da integridade territorial – são controlados à distância por Washington, pelos porões de Washington. Vide o caso do general brasileiro Augusto Heleno, ex-comandante militar da Amazônia e hoje garoto propaganda da VALE. Cumpre o ofício em palestras “patrióticas” Brasil afora.
O que está acontecendo em Honduras é bem mais que Honduras. Permanece intocada, muito bem guardada, a grande teia golpista que comandou as ditaduras militares na América Latina no século passado.
E levam de lambuja a mídia dominada, comprada e vendendo a idéia do colonizador. Yes, Barra da Tijuca. Yes, FIESP/DASLU. Yes, José Serra. Essa estranha cunha criada pelo capitalismo e que chamam de classe média achando que New York e a Broadway estão ali, é só virar a esquina. Ou apertar o controle remoto e ligar o aparelho de tevê.
Yes Tegucigalpa.
Tudo termina em Hollywood, ou, se for no Brasil, acaba no programa do Faustão. E congêneres.
Não deixe de tomar o remédio mágico do grande irmão, a pílula que nos transforma em consumidores desvairados no estrito cumprimento do dever. É servida diariamente em doses maciças no JORNAL NACIONAL. Ou qualquer veículo da grande mídia.
No mais, já está à disposição de todos na rede mundial de computadores o encontro de Elvis Presley e Michael Jackson no céu.
O governo paralelo de McCain é capaz de prodígios inimagináveis.
O governo oficial de Obama é de brincadeira. Para inglês ver. Se é que inglês enxerga alguma coisa desde Margareth Teatcher. Ou na versão de um tucano brasileiro, de plantão no assalto aos cofres públicos na cidade mineira de Juiz de Fora, prefeito, “a Inglaterra acabou depois que acabaram com o fog. Perdeu a graça”.
De tudo fica a lição da luta popular. De lutadores invencíveis. Em qualquer circunstância. Como naqueles filmes de ficção (nem tanto), em que humanos lutam com andróides.
Navegar é isso. Acaba sendo viver. E assim a luta não pára.
Eles também aprenderam isso e vão aprender mais, bem mais. Vão aprender que não têm a liberdade na palma da mão, não podem fechar os punhos e prendê-la. O povo de Honduras está mostrando isso.