terça-feira, 3 de junho de 2008

O coração de Abel


DANIEL RICCI ARAÚJO

Abel não está indo embora do Inter porque tira Nilmar, inventa escalações ou submete a equipe a hierarquias que a essa altura já são inadmissíveis. Não. Abel está indo embora simplesmente porque nada, na vida, é para sempre. Nem mesmo nosso ex-comandante e seu tremendo coração podem driblar os ponteiros do relógio.

Casamentos terminam. Amizades soçobram. As vidas das pessoas podem entrar em modo de espera, em “standby”, ou do nada darem uma guinada às alturas, tudo conforme o tique-taque dos ponteiros ou o escoar da areia das ampolas. O mundo é assim mesmo. Na vida do Inter, Abel foi um furacão vitorioso de iniciativa, discursos emocionantes e vontade de vencer. Nas circunstâncias do Inter atual, isso bastou, e a história foi indelével e maravilhosamente escrita assim.

Tempo, tempo, tempo. Nele e por ele, a verdade de ontem é a mentira de hoje, a meta de outrora é a acomodação da atualidade. O Inter, por exemplo, esse Inter que Abel ajudou a dar forma está agora encharcado de glória. Indignação, filas no Portão 8, discursos revolucionários, reuniões de Conselho Deliberativo que mais pareciam o prenúncio da Terceira Guerra Mundial, tudo isso acabou. Abel foi o porta-voz de uma nova era, de um momento que tem muito de sua assinatura e vontade de vencer. E por isso estamos todos calmos, empanturrados e felizes. Mas o tempo passa. Nada é para sempre.

Somos, no momento, vítimas. Sim, vítimas. De um casamento feliz, de um relacionamento que foi perfeito e que nos deu o título capaz de fazer qualquer torcedor de futebol tocar o céu com as mãos. De momentos inspirados, quase religiosos, de êxtase puro e emoção inacabável. Mas até o matrimônio mais feliz cessa. Passa. Abatuma. Inter e Abel, na melhor das hipóteses, precisam dar um longo tempo tempo. Foram escalações erradas demais, preterições baseadas num fisiologismo evidente demais, frases de efeito demais - e as frases de efeito, quando cessam as vitórias, viram a forca do orador.

O maior - mas não o melhor - técnico da história do Inter vai merecidamente embora para enriquecer na Arábia. Abel foi menos treinador do que o imaginário coletivo que a torcida idealiza, mas bem mais do que a tropa de seus críticos ferozes pensa. Eu vejo em Abel um planejador eficiente de jogos decisivos, um estrategista sem controle mas com ímpeto e gana, e coração, muito coração, que se traduz em uma vontade de vencer tão necessária para um time quanto a correnteza é para um rio. Se as opiniões não se encontram, rendamo-nos ao razoável: ninguém vence tanto por mera casualidade.

A memorável, antológica e histórica palestra antes do jogo com o Barcelona, gravada para o futuro e realizada por ele numa naturalidade que faria corar um Napoleão será a marca registrada de Abel, o técnico-torcedor. Sobre ele talvez mais do que qualquer outro, as futuras gerações perguntarão com curiosidade e orgulho. E nós gostaremos muito de responder, porque Abel é o tipo de homem que suscita essas histórias capazes de marcar e inspirar as pessoas.

Muitos afirmavam que o maior defeito de Abel era essa sua intempestividade, esse élan vital e necessário, essa vontade de abarcar o Inter com seus braços e levá-lo para casa. Ao fim e ao cabo, como o profeta Ezequiel, Abel foi quase perfeito em seus caminhos. Noves fora as estripulias e erros cometidos, não há como discutir: o maior momento da história colorada acabou sendo protagonizado por um treinador que, antes de ser profissional, é um homem capaz de matar ou morrer pelo Inter. Abel não foi perfeito, mas o destino foi. Sinceramente? Não sei se poderíamos pedir mais do que isso.

Vencer é bom, mas fazer isso no meio dos nossos, de colorados para colorados, é ainda melhor. Os detratores de nosso treinador dirão que lhe falta autoridade, tática, vontade de mudar e, talvez, até um pouco de simplicidade. Mas uma coisa não poderão negar.

Digam qualquer coisa de Abel Braga, menos que ele não tem um imenso coração.

Belchior - Antologia Lírica (1999)




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Esculpir o Espaço

Um filme de Jatir Eitó

"Em dezembro de 2003, um grupo de artistas de diferentes áreas foi à Ocupação Prestes Maia na intenção de integrar seu trabalho com os moradores do Movimento Sem Teto do Centro, os quais habitam esse edifício. Essa integração criou uma interessante e curiosa atmosfera que inspirou esse filme-poema, cujo foco é os sonhos das pessoas que ocupam o edifício".






Em Busca da Sabedoria Ecológica
Há sinais inequívocos de que a Terra não agüenta mais.

Por Leonardo Boff.

O paradigma civilizatório globalizado assentado sobre a guerra contra Gaia e contra a natureza está levando todo o sistema da vida a um grande impasse. Há sinais inequívocos de que a Terra não agüenta mais esta sistemática exploração de seus recursos e a ofensa continuada da dignidade de seus filhos e filhas, os seres humanos, excluídos e condenados, aos milhões, a morrer de fome. Mas precisamos estar conscientes de que esta guerra não será ganha por nós mas por Gaia. Como observava Eric Hobsbawm na última página de seu conhecido livro A era dos extremos (1994): “O futuro não pode ser a continuação do passado; nosso mundo corre o risco de explosão e implosão; tem de mudar; a alternativa para uma mudança da sociedade é a escuridão”.

Como evitar esta escuridão que pode significar a derrocada de nosso tipo de civilização e eventualmente o Armagedon da espécie humana? É imperioso revisitarmos outras civilizações que nos podem inspirar sabedoria ecológica. Há muitas. Escolho a civilização maya, pelo simples fato de que tive a oportunidade no mês de março deste ano de freqüentar durante 20 dias as regiões da América Central habitadas ainda hoje pelos sobreviventes daquele extraordinário ensaio civilizatório e dialogado longamente com seus sábios, sacerdotes e xamãs. Daquela riqueza imensa quero ressaltar apenas dois pontos centrais que são grandes ausências em nosso modo de habitar o mundo: a cosmovisão harmônica com todos os seres e sua fascinante antropologia centrada no coração.

A sabedoria maya vem da mais alta ancestralidade e é conservada pelos avós e pelos pais. Como não passaram pela circuncisão da cultura moderna, guardam com fidelidade as antigas tradições e os ensinamentos, consignados também em escritos como no Popol-Vuh e nos Livros de Chilam Balam. A intuição básica de sua cosmovisão se aproxima muito à da moderna cosmologia e física quântica. O universo é construído e mantido por energias cósmicas pelo Criador e Formador de tudo. O que existe na natureza nasceu do encontro de amor entre o Coração do Céu com o Coração da Terra. A mãe Terra é um ser vivo que vibra, sente, intui, trabalha, engendra e alimenta a todos os seus filhos e filhas. A dualidade de base entre formação-desintegração (nós diríamos entre caos e cosmos) confere dinamismo a todo o processo universal. O bem estar humano consiste em estar permanentemente sincronizado com esse processo e cultivar um profundo respeito diante de cada ser. Então ele se sente parte consubstancial da Mãe Terra e desfruta de toda sua beleza e proteção. A própria morte não é inimiga: é um envolver-se mais radicalmente com o Universo.

Os seres humanos são vistos como “os filhos e filhas esclarecidos, os averiguadores e buscadores da existência”. Para chegar a sua plenitude o ser humano passa por três etapas, verdadeiro processo de individuação. Ele poderá ser “gente de barro”: pode falar mas não tem consistência face às águas pois se dissolve. Desenvolve-se mais e pode ser “gente de madeira”; tem entendimento, mas não alma que sente porque é rígido e inflexível. Por fim alcança a fase de “gente de milho”: este “conhece o que está perto e o que está longe”. Mas sua característica é ter coração. Por isso “sente perfeitamente, percebe o Universo, a Fonte da vida” e pulsa ao ritmo do Coração do Céu e do Coração da Terra.

A essência do humano está no coração, naquilo que viemos dizendo há anos, na razão cordial e na inteligência sensível. É dando centralidade a elas que se mostram pelo cuidado e pelo respeito que podemos nos salvar.

Billy Cobham - The Art of Three (2001)

http://i306.photobucket.com/albums/nn266/photoapo/Covers/BC_TheArt-fr.jpg

Billy Cobham - The Art of Three (2001)
mp3@320Kbps 167MB covers In & Out Records Total time: 73:50


Faixas:
1. Stella By Starlight (Ned Washington/Victor Young) 10:43
2. Autumn Leaves (Joseph Kosma/Johnny Mercer/Jacques Prévert) 10:00
3. New Waltz (Ron Carter) 6:55
4. Bouncing With Bud (Bud Powell) 7:02
5. 'Round Midnight (Bernie Hanighen/Thelonious Monk/Cootie Williams) 7:56
6. And Then Again (Kenny Barron) 11:25
7. I Thought About You (Johnny Mercer/James Van Heusen) 10:26
8. Someday My Prince Will Come (Larry Morey/Frank Churchill) 9:19

Músicos:
Billy Cobham (Drums)
Ron Carter (Double Bass)
Kenny Barron (Piano)

Downloads abaixo:

http://www.filefactory.com/file/bfc63e/ (direto)
http://rapidshare.com/files/119711955/theat_a.rar (parte 1)
http://rapidshare.com/files/119716320/theat_b.rar(parte 2)

A descarada política da Globo com suas novelas


Vermelho - Redação

O Brasil assistiu, dia 31, ao último capítulo da novela ''Duas Caras''. Se houve novidade na trama, assinada por Aguinaldo Silva, ela ficou por conta do abuso nas referências a personalidades e fatos da vida política nacional, e pela ridicularização dos movimentos sociais, misturando realidade e ficção com clara intenção de construir um discurso ideológico conservador.

Essa politização explícita já estava presente desde os primeiros capítulos, quando o autor declarou que o personagem Ferraço (Dalton Vigh), o vilão da trama, foi inspirado na vida do ex-ministro José Dirceu. A referência provocou uma carta indignada da ex-esposa de Dirceu, Clara Becker, acusando o novelista de fazer uma comparação caluniosa para alimentar divergências políticas. Chegou também ao cúmulo de atacar os concorrentes da TV Record colocando, na trama, um grupo de evangélicos que, raivosos, atacou uma mulher grávida acusando-a de promíscua.


Além do embate com os evangélicos, colocou em cena, de forma desfavorável e mistificadora, ''fatos do cotidiano'', como as CPIs, tapiocas, dossiês, cartões corporativos, política de cotas, racismo, educação privada x ensino público, protagonismo político da elite, entre outros temas colhidos pelo autor no noticiário da imprensa conservadora, da qual a novela é uma espécie de outra face da moeda, como ferramenta para formar opinião - no caso, opinião conservadora, alienada.


Ao abusar da politização, a novela global rompeu a barreira delicada que separa o aceitável do inaceitável no uso da concessão pública dos meios de comunicação. Não se discute o direito da emissora retratar assuntos políticos e polêmicas nacionais em seus programas, mas sim se é ético e justo usar um programa de tamanha audiência para atacar adversários políticos e construir discursos favoráveis ou contrários a propostas e idéias em disputa na sociedade.

As regras do jogo democrático pressupõem condições equilibradas para a luta de idéias. Os meios de comunicação sempre foram apontados com um fator de desequilíbrio nesta disputa pois, concentrados na mão de grandes empresários, costumam jogar no campo da direita. Para controlar a manipulação, há uma série de regras para regular o conteúdo das emissoras, especialmente em período eleitoral. Mas elas estão concentradas basicamente no conteúdo jornalístico. Quando a manipulação salta da pauta jornalística para o roteiro da novela (que é uma obra de 'ficção''), o desequilíbrio piora pois a propaganda política disfarçada feita através dela é menos suscetível a processos legais.

Assim, protegida pelo chamado “manto sagrado da liberdade de expressão artística”, as novelas da Globo são um verdadeiro paralelo desregulado ao jornalismo televisivo da emissora para construir discursos favoráveis ao pensamento único neoliberal. E contrários às idéias avançadas historicamente defendidas pela esquerda, como a política de cotas, a liberalização do aborto, a descriminalização da droga, a proibição da pena de morte, a valorização dos movimentos sociais (claramente atacados e ridicularizados pela novela global), a defesa dos direitos humanos etc.