quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Reflexões de Fidel



O inverno nuclear e a paz

(Extraído do CubaDebate)

MAIS de vinte mil armas nucleares estão nas mãos de oito países: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Israel, Índia e Paquistão; vários deles com profundas diferenças econômicas, políticas e religiosas.
O novo tratado START, assinado em Praga no mês de abril entre as maiores potências nucleares, não implica mais do que ilusões a respeito do problema que ameaça a humanidade.
A teoria do "inverno nuclear", desenvolvida e colocada no nível atual pelo eminente pesquisador e professor da Universidade de Rutgers, Nova Jersey, Dr. Alan Robock ─ cientista modesto que gosta mais de reconhecer os méritos de seus colegas do que os seus próprios ─, demonstrou sua veracidade.
Para eles, a única forma de evitar o uso das armas nucleares é eliminando-as. O povo norte-americano, situado num lugar privilegiado do planeta, que lhe permite desfrutar dos mais altos níveis de vida e riquezas no mundo, apesar dos incríveis esbanjamentos de recursos não renováveis, deveria ser o maior interessado na informação que lhe oferecem os cientistas. Quanto espaço dedicam a essa tarefa os meios de comunicação social?
A teoria do "inverno nuclear" ensinou-nos ―disse Robock― que: "Se tais armas não existissem, não poderiam ser utilizadas.  E neste momento não existe um argumento racional para usá-las absolutamente. Se não podem ser usadas, é necessária sua destruição e dessa forma nos protegeríamos dos acidentes, dos erros de cálculo ou de qualquer atitude demencial".
"…os computadores que funcionavam com modelos ultramodernos se tornaram o único laboratório de escolha, e os acontecimentos históricos – inclusive as cidades arrasadas pelo fogo depois dos terremotos e dos bombardeamentos em tempos de guerra, as colunas de fumaça dos incêndios florestais e as nuvens criadas pelas erupções vulcânicas- tornaram-se pedras de toque das avaliações científicas."
A proliferação das armas nucleares ─ na qual o Israel, a Índia e o Paquistão se integraram ao clube nuclear, e outros países, ao que parece, aspiram a ser membros do mesmo─, obrigou Robock e seus colegas a reverem as primeiras investigações. Os resultados desses estudos modernos, como foi pormenorizado em uma série de artigos recém-publicados, foram surpreendentes.
Quanto aos Estados Unidos e à Rússia, apesar de que cada um deles se comprometeu, no mês de abril de 2010 em Praga, a reduzir seu arsenal nuclear operativo até aproximadamente 2000 armas, a única forma real de evitar uma catástrofe climática global seria eliminando as armas nucleares.
"…qualquer país que neste momento esteja considerando a via nuclear precisa reconhecer que estaria colocando em perigo não só suas próprias populações, mas também o resto do mundo, ao adoptar essa via.  É hora de que o mundo pense mais uma vez nos perigos das armas nucleares, e que desta vez adote o caminho rumo à paz e elimine a possibilidade de uma catástrofe climática global induzida pela energia nuclear, pela primeira vez desde meados do século passado."
"…o uso das armas nucleares no caso de um ataque total contra um inimigo, seria uma ação suicida devido ao frio e à escuridão anômalos provocados pela fumaça proveniente dos fogos gerados pela bomba.  De fato, evidenciou-se que, enquanto mais armas nucleares tiver um país, terá menor segurançã."
Albert Einstein disse: "O poder desencadeado do átomo tem mudado tudo salvo nossas formas de pensar, e é por isso que avançamos sem rumo para uma catástrofe sem precedentes".  Carl Sagan tinha dito que nossa política de armas nucleares era "um caminho onde nenhum homem pensava."
No final da conferência magistral, perguntei ao professor Alan Robock: "Quantas pessoas no mundo têm conhecimento desses dados?" Respondeu-me que "muito poucas". Acrescentei: E no seu país, quantas?" "Igual ―respondeu-me― não se conhecem."
Não duvidava que essa fosse a triste realidade e acrescentei: "Não fazemos nada apenas nós sabendo. É preciso que o mundo saiba disso. Talvez seja necessário buscar psicólogos para que expliquem por que as massas não entendem".
"Eu tenho uma resposta ― exclamou o cientista―: Isto se chama negação. É uma coisa horrível que as pessoas não queiram pensar nisso. É mais simples fingir que isto não existe."
Suas palavras — durante quase uma hora que empregou na conferência, auxiliado por gráficos, dados e fotos projetados numa tela —, foram claras, precisas e eloquentes. Por isso expressei: "O que é fazer consciência, da qual tanto falamos? O que é criar cultura? E quanto desanima a vocês, os cientistas, que a gente nem saiba do que vocês estão a fazer, quantas horas investem?"
Eu lhe disse que, quando não existiam nem rádio, nem televisão, nem internet, era impossível difundir uma conferência como essa em Cuba ou no mundo. Ainda menos, quando muitas pessoas não sabiam nem ler nem escrever.
Prometemos ao professor divulgar a informação que nos ofereceu sobre a teoria do "inverno nuclear", com uma linguagem que até as crianças cubanas de oito anos podem compreender, da qual só conhecíamos um pouco, a partir de nossa preocupação quanto ao estouro de uma guerra global nuclear, o que nos levou a escutar sua palestra.
Nenhuma outra época da história humana é tão parecida com esta. Com certeza, se esses riscos não são compreendidos por aqueles que adoptam as decisões das alturas do imenso poder que a ciência e a tecnologia colocaram nas suas mãos, a próxima contenda mundial será a última, e talvez decorressem dezenas de milhões de anos antes que novos seres inteligentes tentem escrever sua história.
Quis o azar que, ontem segunda-feira dia 20, recebesse a notícia de que com, atraso de várias horas, por causa dos furacões, no amanhecer do dia 21n chegaria ao porto de Havana, procedente das Ilhas Canárias, o cruzeiro "Peace Boat", a Organização Não-Governamental Internacional com Estatuto Consultivo Especial perante a ONU que, desde 1983, organiza viagens globais para a promoção da paz, os direitos humanos, o desenvolvimento justo e sustentável e o respeito pelo meio ambiente. A Organização, em 2009, foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz pela sua campanha global para prevenir a guerra.
Na carta que me endereçou o fundador e diretor do "Peace Boat", Yoshioka Tatsuya, através do chefe do coletivo de visitantes Nao Inoue, expressa: "Nossa organização trabalhou durante anos, recentemente em paceria com países da ALBA. […] que expressam claramente o compromisso com a abolição nuclear, a proibição de bases militares estrangeiras e a resolução pacífica de controvérsias internacionais […]  O Japão, como você sabe, único país que sofreu um bombardeamento atômico, ainda hoje mantém uma Constituição pacifista que, através do seu artigo 9, renuncia formalmente à guerra e proíbe o uso da força nas disputas internacionais.
"…tema de especial interesse em nosso ativismo é a remoção de bases militares estrangeiras, uma situação presente no Japão e em diversas partes do mundo, considerando que bases estrangeiras como as existentes em Guantánamo e Okinawa causam prejuízos ambientais irreversíveis e fomentam a guerra, em vez da paz mundial."
"Peace Boat" organizou, incluindo esta, 70 viagens ao redor do mundo desde 1983, com a participação de não menos de 40 mil pessoas que visitaram mais de 100 países. Seu slogan é: "Aprende com as Guerras Passadas para Construir um Futuro de Paz".
Em 20 anos, seu navio visitou 14 vezes nosso país, ultrapassando obstáculos e empecilhos impostos pelos Estados Unidos, promove campanhas de doações significativas para os sectores da educação e da saúde fundamentalmente.
Estão presentes nos numerosos fóruns internacionais e encontros de solidariedade a Cuba. São amigos verdadeiramente provados de nossa Pátria. Em maio de 2009, a organização foi condecorada com a Ordem da Solidariedade que outorga o Conselho de Estado da República de Cuba, por proposta do ICAP.
Foi para mim uma grande honra receber o convite para me reunir com uma representação dos visitantes, e lhes propus fazê-lo, com o máximo possível, no Palácio das Convenções. Falaram o senhor Nao Inoue, e a sobrevivente, Sra. Junko Watanabe, que tinha apenas dois anos de idade quando a primeira bomba atômica foi lançada sobre a cidade de Hiroshima. A menina se encontrava com um irmão mais novo no quintal de uma casa a 18 quilómetros do ponto em que foi lançada a bomba, que fez desaparecer a maior parte da cidade, matou instantaneamente mais de 100 mil pessoas e ocasionou sérios danos no resto dos habitantes.
Ela narrou suas dramáticas lembranças quando, anos mais tarde, foi conhecendo as imagens e pormenores daquele acontecimento que tantos sofrimentos ocasionou em tantas pessoas inocentes que nada tinham a ver com aquele ataque brutal.  Foi um acto deliberado para aterrorizar o mundo com o uso desnecessário de uma arma de extermínio maciço, quando o império japonês havia sido já derrotado. Foi lançada, não sobre uma instalação militar, mas sobre um alvo civil indefeso. As imagens divulgadas sobre aquele crime horrível não expressam o que a voz de Junko Watanabe nos contou sobre os fatos. A ocasião foi propícia para expor nossos pontos de vista, e contar aos nossos amistosos visitantes japoneses, lutadores pela abolição das armas nucleares, das bases militares e da guerra, a respeito do esforço que nossa Pátria leva a cabo para evitar um conflito nuclear que possa pôr termo à existência de nossa espécie.
Fidel Castro Ruz

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA E CONTRA O GOLPE


 Gilmar Crestani 
Respeito é bom e eu gosto!
Respeito é bom e eu gosto!
Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.
Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Acima dos barões da imprensa estão as instituições, pilares do regime democrático.
Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa, que não conseguem vencer eleições no voto, se organizam na imprensa e em entidades golpistas para-políticas, para solapar o regime democrático.
É intolerável assistir ao uso de órgãos da imprensa como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.
É inaceitável que a organização partidária tenha convertido os órgãos da imprensa, empresas concessionárias de radio e TV e do poder econômico em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
É lamentável que governadores demo-tucanos escondam na imprensa que vemos, seus governos que não vemos; no qual as relações de corrupção, compadrio, fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do estado, negando-se a qualquer controle, abafando CPI’s e engavetando denúncias.
É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo golpista hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.
É constrangedor que a oposição e sua imprensa não reconheçam os direitos políticos e constitucionais do cidadão brasileiro, na presidência da República, e conclame a voltar aos tempos da ditadura para censurar e cassar, como no AI-5, a palavra e opinião de lideranças políticas, estejam ou não no exercício de mandatos.
É constrangedor também que a oposição não tenha a compostura de separar sua imprensa do partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro, numa manifestação escancarada de abuso de poder econômico e político e de uso da máquina de concessões públicas de rádio e TV em favor de uma candidatura.
A oposição e sua imprensa não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia, pelo voto popular nas urnas, mas um inimigo que tem de ser eliminado pela vontade do poder econômico das oligarquias políticas e midiáticas.
É aviltante que a oposição e governadores demo-tucanos estimulem e financiem a ação de oligarquias de donos da imprensa golpista que pedem abertamente restrições à liberdade de expressão de blogueiros e à livre concorrência da imprensa alternativa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas unicamente ao controle de patrões barões da mídia, que seguem às determinações de um partido político e de seus interesses.
É repugnante que essa mesma máquina de publicidade demo-tucana tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da economia soberana, livre da intervenção do FMI, rumo a se tornar a 5ª economia do mundo, resgatando a riqueza do pré-sal para os brasileiros, com crescimento que deverá passar de 7% neste ano, que gerou 14 milhões de empregos, que democratizou o crédito, a expansão da classe média e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como refém da imprensa lobista, sob ameaças de chantagens com dossiês e assassinatos de reputações a quem contraria os interesses econômicos e políticos dos barões da imprensa corrupta e lobista.
É um insulto não aceitar a decisão soberana popular, do cidadão votar em quem quiser, conforme sua consciência e suas convicções, para a composição do Senado.
É um escárnio que a imprensa lobista e corrupta se submeta à esquemas de corrupção para fazer lobby para criminosos do colarinho branco se safarem, e exercer pressão nas decisões do Poder Judiciário.
Cumpre-nos, pois, combater essa visão elitista do processo político da imprensa demo-tucana, que quer vencer no golpe, rasgando a Constituição e as leis, negando o poder popular legítimo que emana das urnas, duramente conquistado em campanhas como as Diretas Já, boicotada por setores dessa mesma imprensa demo-tucana.
Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o golpismo autoritário.
Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.
Não precisamos de donos da imprensa com pretensões golpistas e que querem ser donos do voto dos eleitores como se leitores e telespectadores fossem um curral eleitoral demo-tucano.
Precisamos de democratas convictos, que respeitem o resultado soberano das urnas e da vontade popular.

Solidariedade latinoamericana...

Presidente Mujica nega porto a navios ingleses


Governo uruguaio atende pedido dos argentinos

Por Cristóvão Feil no Diario Gauche
O governo uruguaio negou ontem a entrada no porto de Montevideo de uma fragata da marinha britânica. O barco é parte da frota que custodia e transporta vìveres e combustíveis às ilhas no sul do Oceano Atlântico, atualmente com soberania inglesa, mas reclamada pela Argentina como seu território nacional.

As Malvinas, chamadas de Falklands pela Inglaterra, foram motivo de guerra entre a Argentina e a Inglaterra, no ano de 1983. A primeira-ministra Margaret Thatcher endureceu posição com a ditadura militar argentina então sob o comando do general Leopoldo Galtieri. Houve guerra de algumas semanas, a Argentina sofreu derrota humilhante e a ditadura caiu meses depois.

O barco HMS Gloucester D-96 havia solicitado há uma semana a autorização para aportar em Montevideo. O pedido foi rechaçado pelo Ministério de Relações Exteriores do Uruguai, alegando concordância com a política de apoio à soberania argentina sobre as ilhas Malvinas.

Em 2006, a chancelaria argentina pediu aos países vizinhos do Cone Sul que não facilitem o acesso a portos e aeroportos de barcos e aviões britânicos com destino às Malvinas (foto ao lado). Em 2007, o presidente Tabaré Vázquez também já havia negado porto aos ingleses em trânsito para o sul do Atlântico.

O tema volta à pauta política porque a Inglaterra está começando a explorar o petróleo na plataforma marítima das Malvinas.

Globo foi o maior dedo duro de 1964



Amigo navegante enviou ao Conversa Afiada (Paulo Henrique Amorim)essas duas páginas do Globo de 7 de abril de 1964.

É um documento histórico.

Atribuído a um grupo de democratas, o Globo publicou no dia 7 de abril de 1964, poucos dias depois da intervenção militar, a lista dos que tinham assinado um manifesto do Comando dos Trabalhadores Intelectuais.

Como hoje, o Globo do Dr Roberto colaborava com o Golpe: “chamamos a atenção de alto-comando militar para os nomes que o assinaram”.

É o dedo duro na sua manifestação mais cristalina.

Repare, amigo navegante, alguns dos nomes que o Globo queria mandar para a câmara de torturas:

Ferreira Gullar, Carlos Diegues, Arnaldo Jabour, Chico Anísio, Paulo Francis, Tereza Rachel, Jorge Zahar.

Que horror !

É a “Lista de Schindler” de sinal trocado: é a “Lista do Globo”, dos que deveriam ser cremados.

Viva o Brasil !


Paulo Henrique Amorim


Confira os documentos:



Uma elite preconceituosa


Laerte Braga

O preconceito não chega às claras. É politicamente correto disfarçá-lo. Vem embutido na ira e na forma sórdida como é distribuído pelos mais diversos canais de comunicação, até o boca a boca.
 
Falo da eleição de uma presidente e não de um presidente.
 
A campanha contra Dilma Roussef traz explícito o rancor e o preconceito dos porões onde se escondem os torturadores da ditadura militar e disfarçado no noticiário de jornais como a Folha de São Paulo, ou revistas como Veja (não tão disfarçado assim). O Jornal Nacional se imagina uma espécie de porta voz divino e acredita que o trono de Deus esteja no PROJAC. Os anúncios se materializam pelo anjo William Bonner e arcanjos são os Marinho.
 
Deus, o deles, de fato, está em Wall Street e espalhado pelas várias agências de propaganda que transformam esse cheiro fétido de ódio em sabão em pó que tira todas as manchas. Ou perfume que perfuma como nenhum outro o seu banheiro, acrescido do fato de ter vida inteligente.
 
No início da campanha eleitoral o jornal Folha de São Paulo, um dos braços da ditadura militar (Operações Bandeirantes e Condor), montou um currículo de Dilma Roussef insinuando assaltos a bancos, assassinatos de inocentes e ações terroristas.
 
A primeira reação veio de dentro do próprio jornal. O Onbudsman, um jornalista eleito para fazer a análise crítica dos fatos noticiados e corrigir distorções, levantou uma série de incorreções no tal currículo.
 
Ao contrário do que apregoa a FOLHA DE SÃO PAULO – UM JORNAL DE RABO PRESO COM O LEITOR –, o rabo está preso na FIESP e no esquema corrupto que tenta transformar o Brasil em colônia de um mundo gerido pelo terror nuclear com sede em Washington. Não foram feitas as retificações, ou correções. Prevaleceu a mentira dos donos.
 
Que Dilma Roussef foi integrante de um grupo de resistência à ditadura militar o País inteiro já sabe. Junto com ela milhares de mulheres e homens enfrentaram o golpe de 1964 e toda a barbárie que caracterizava o movimento.
 
Que Dilma Roussef foi presa e torturada, submetida a vexames diversos nem ela própria nega, nem jamais tentou negar e isso ficou claro na resposta que deu a um senador numa das muitas CPIs fajutas que os tucanos armaram para tentar atingi-la, só não sabe quem não quer.
 
Um dos filmes brasileiros que mais comoveu a opinião pública foi o que mostrou a saga de Zuzu Angel, a célebre figurinista, assassinada pela ditadura militar por exercer com bravura e dignidade o ofício de mãe, na busca de seu filho morto nos cárceres da ditadura. Pelos bravos “patriotas” que apregoavam a tal “democracia a brasileira”.
 
Bem mais que o ofício de mãe. O exemplo de dignidade da mulher como um todo, revestida do caráter que único, de ser humano em seu sentido pleno. Isso significa coragem, porque coragem aí não é bem um ato de heroísmo, mas bravura indômita de quem não se curva ao tacão dos poderosos.
 
Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo e um dos protagonistas do golpe militar de 1964 (protagonista de segunda categoria) foi uma espécie de precursor do malufismo. Chegou a fugir do País quando a justiça quis prendê-lo pelas mais variadas formas de corrupção possíveis. Surgiu com Ademar o slogan “rouba mas faz”.
 
A Dilma se imputa uma ação onde um cofre do ex-governador teria sido roubado. No cofre, um milhão de dólares, guardado na casa de uma amante, resultado de propina.
 
Na prática, quando abjetos torturadores tentam desqualificar Dilma Roussef (e nem estou entrando no mérito de sua candidatura) estão tentando desqualificar também centenas de mulheres anônimas que foram vítimas da ditadura e todas as mulheres em todo o País.
 
É o preconceito odioso da supremacia da barbárie.
 
 Há anos nos tribunais brasileiros maridos que se julgavam vítimas de traição e executavam a mulher e o suposto amante, eram absolvidos com um argumento solerte de “legítima defesa da honra” e adultério era crime. A própria palavra adultério, em si, é uma aberração.
 
 Saiam aplaudidos ao final de seus julgamentos.
 
 Há uma verdade em qualquer canto do mundo sobre mulheres submetidas a sevicias, quaisquer que sejam elas. A cara machista da sociedade se apieda num primeiro momento e rotula como mulher vulgar num segundo momento.
 
Está no assédio, na vulgarização, nas práticas deliberadas de transformar coragem em terrorismo, loucura, histerismo, um monte de ismos. 
 
Numa cidade do interior mineiro, anos atrás, um comprador de cabelos para a indústria de perucas (era comum as mulheres não cortarem seus cabelos), assustou-se ao chegar a uma determinada residência onde compraria os cabelos das filhas de um lavrador com um detalhe que nunca poderia imaginar.
 
Eram três filhas e o pai iria vender o cabelo de apenas duas. Segundo ele, a terceira “já foi usada por um sem vergonha, o cabelo não presta”.
 
Não sei quantas mulheres tombaram na luta contra a ditadura. Aqui no Brasil, no Chile, na Argentina, nas Filipinas, na Indonésia, mas sei que muitas mulheres emprestaram dignidade e determinação à luta contra tiranos.
 
 
 
Entre nós a anistia na verdade não beneficiou a exilados, presos políticos e que tais. Como concebida e determinada em lei garantiu a impunidade de torturadores, estupradores, assassinos. Permanecem sob as sombras de sua covardia a destilar veneno. Foi conseqüência da percepção simples que os governos militares não iriam se sustentar por mais tempo, estavam sendo surrados nas urnas desde 1974 e para evitar derrotas maiores recorriam ao casuísmo da legislação autoritária que lhes garantia a maioria que não tinha.
 
 
 
Uma espécie de saída não tão devagar que pareça provocação, nem tão depressa que pareça medo. Mas saída. E aí, louve-se a capacidade de enxergar esse óbvio do presidente/ditador Ernesto Geisel. Mas registre-se o preço pago junto às hordas de assassinos dos DOI/CODI, a impunidade.
 
Dilma Roussef foi uma dessas resistentes. Como o seu adversário José Arruda Serra.
 
 Ao contrário de Arruda Serra foi presa, torturada, submetida a humilhações, cumpriu pena. Arruda Serra trocou de lado ao primeiro aceno do dinheiro. Veio pelas mãos de seu mentor FHC (entre os traidores, dedos duros, havia um esquema de patente também. Anselmo era cabo, FHC general).
 
É mulher, é mãe, é avó, como milhões de mulheres no País e sobreviveu e superou toda essa caminhada, suportou todas essas provações, manteve-se e mantém-se incólume, preservada em seu caráter, em sua dignidade de ser humano e ser humano mulher.
 
A despeito dos avanços e conquistas da mulher na chamada sociedade civil organizada (trem também que é de lascar, sociedade civil organizada, parece clube de aleluia, aleluia), o preconceito ainda é imenso e se manifesta das mais variadas formas.
 
Neste momento a candidata Dilma Roussef simboliza essa luta que no dizer de Celso Furtado “a revolução feminista foi a mais importante revolução do século XX”.
 
 A dela, de lutar pela presidência da República, a primeira a chegar ao cargo, a de mulheres que saem de suas casas ainda pela madrugada para jornadas de trabalho e se obrigam a lutar ombro a ombro numa tal sociedade que ainda se lhes vê como melancia, ou melão, ou pera.
 
Uma vez uma professora perguntou ao então deputado César Maia se ele sabia o preço do pão de sal. Ele respondeu que não. Ou da condução, do ônibus, ele respondeu que não.
 
A moça, perto de trinta anos de magistério, em sala de aula, salário miserável, mas caráter exemplar, dedicação absoluta, respondeu apenas o seguinte. “Pois deveria saber, afinal você é deputado, que não se vive sem pão e nem se vai ao trabalho sem ônibus”. “Será que você sabe o que é trabalho?”
 
Cada uma dessas afirmações recheadas da polidez do politicamente correto sobre Dilma e mulheres que não estão preocupadas em ser miss laje para aparecer no Faustão, traz em si, além do preconceito contra a mulher como ser humano, a arrogância das elites políticas e econômicas que enxergam apenas pernas, seios e bundas e acham que os cabelos de uma “mulher usada” já não servem.
 
O que a mídia privada tenta imputar a Dilma e deve reforçar esse tipo de canalhice no final da campanha é o que pensam da mulher brasileira. Objeto.
 
Mais que isso. Escondem, ou tentam disfarçar a prepotência na suposição que a tarefa de cada mulher é achar o desodorante certo para o banheiro.
 
São primatas na prática e na essência.

Guerra aberta

Escrito por Wladimir Pomar no Correio da Cidadania  
 
Se antes poderia haver alguma dúvida, entre alguns setores da campanha Dilma, de que a guerra contra a candidata petista se tornaria aberta, suja e sem qualquer limite, talvez a última semana tenha sido a demonstração clara de que tais dúvidas não passavam de ilusões infantis.
 
Veja, Globo, Folha de S. Paulo, Estadão e outros órgãos da famosa grande imprensa, o chamado quarto poder, não demonstram qualquer preocupação em serem vistos como a artilharia pesada dessa guerra. Suas manchetes diárias e semanais são sempre, inexoravelmente, a pirita garimpada em investigações cuja credibilidade dificilmente pode ser comprovada. Para quem criou o escândalo da Escola Base e outros, forjados nas cozinhas das redações, que diferença faz criar estes, em que se joga o destino da política que essa grande imprensa defende?
 
"Cartas abertas", assinadas por "personalidades" que talvez não saibam que seus nomes estão sendo utilizados, repetem pela Internet os antigos e surrados argumentos anti-Lula e anti-PT, que pareciam enterrados desde 2002. Bolsões reacionários de militares da reserva saem a público para ameaçar golpes. FHC compara Lula a Mussolini e apela a forças ocultas para barrar a caminhada do petismo. E, em drops da imprensa, repetem-se os comentários que sustentam as possíveis semelhanças do governo Lula com Vargas e seu fim.
 
Se a campanha Dilma e a direção do PT continuarem ignorando esse conjunto de sinais de desespero de uma direita reacionária que tinha como certa sua volta ao governo, o caminho para o segundo turno e até para uma derrota podem estar traçados. Essa direita não vai se contentar com a saída de Erenice da Casa Civil e quase certamente jogará novos pacotes podres sobre a mesa, na expectativa de que o governo, o PT e a campanha Dilma continuem cometendo erros, e ignorando a natureza da atual ofensiva oposicionista.
 
Os dados do Instituto Datafolha, divulgados no dia 16/9, parecem moldados de forma que o PT e a campanha Dilma continuem acreditando que vencerão no primeiro turno, sem necessidade de qualquer reação maior. Dilma marcou 51% das preferências eleitorais, enquanto Serra se manteve com 27% das intenções de voto, e Marina seguiu com 11%. Aparentemente, o melhor dos mundos.
 
No entanto, podem-se descobrir algumas surpresas nessa pesquisa, desde que se coloque de lado a euforia e se busquem as tendências reais. Entre os eleitores bem informados, a intenção de votos em Dilma desceu para 46%, enquanto em Serra subiu para 33%, e em Marina para 14%. Com isso compreende-se por que a grande imprensa vem martelando incessantemente para ‘informar’ o eleitorado sobre os ‘fatos’ que tem criado nos bastidores, mesmo que tais ‘fatos’ não passem de falsificações. Se conseguir que o conjunto do eleitorado se deixe convencer por essas informações falsas, o segundo turno estará configurado.
 
É significativo que Dilma tenha caído na preferência do eleitorado, em caso de segundo turno, em estados como Rio Grande do Sul e Paraná, assim como em Brasília. E que sua subida em outros estados e cidades importantes tenha se mantido dentro da margem de erro. Este pode ser um sinal de que o ritmo de crescimento da candidatura Dilma foi afetado pelas denúncias e escândalos criados pela aliança do tucano-pefelismo com a grande imprensa, embora ainda não de forma avassaladora.
 
Nos próximos quinze dias antes das eleições, se a campanha Dilma e o PT não forem suficientemente ágeis para criar mobilizações massivas, passar ao contra-ataque na diferenciação entre seu projeto político e o projeto de Serra e Marina, e gerar fatos políticos de repercussão, a corrosão da candidatura Dilma pode chegar àquele nível procurado pelo quarto poder.
 
Feito isso, a grande imprensa continuará convencida de que é capaz de moldar a opinião pública com mentiras e falsificações, da mesma forma que Goebbels e outros gurus da comunicação de massa acreditavam. E, certamente, configurado o segundo turno, virá com armas ainda mais letais. Se a meta da campanha Dilma é evitar que isso aconteça, esta é a semana decisiva para revirar o jogo.
 
Wladimir Pomar é analista político e escritor.