domingo, 21 de dezembro de 2008

Enquanto isso na Nicarágua.....

Importantes avanços na campanha de alfabetização nicaragüense



Managua (Prensa Latina) As autoridades nicaragüenses obtêm importantes lucros com vista de declarar ao país livre de analfabetismo o 19 de julho de 2009, disse hoje o presidente da Juventude Sandinista, Mario Rivera.
Em declarações a Imprensa Latina, Rivera assegurou que a intensa campanha despregada permitirá chegar ao mês de janeiro com muitos municípios com cerca do seis por cento ou menos de iletrados.
Na atualidade há 56 municípios com o quatro por cento de pessoas que não sabem ler e nem escrever, inclusive alguns com o dois por cento, como Manágua onde o índice é de 1.84 por cento.
A grande preocupação dos dirigentes da cruzada pelo saber é conseguir que as pessoas que sejam alfabetizadas se incorporem a alternativas de continuidade e continuem a sua educação.
Se conseguirmos isto, disse Rivera, evitaremos o retrocesso que afetou à população em anos de governos liberais, onde as cifras se incrementaram, após o atingido na primeira etapa de governo sandinista.
O dirigente juvenil destacou o labor do contingente de cubanos e venezuelanos, que sob o guarda-chuva da Alternativa Bolivariana para os povos de nossa América (ALBA), assessoram neste labor.
Na atualidade temos coberta todas as cabeceiras municipais com presença dos pedagogos cubanos, indicou.
Com marcado otimismo, Rivera sublinhou que a meta do governo é ultrapassar os planos de ter menos do 5 por cento de analfabetos e prosseguir a educação das pessoas, inclusive de cegos e surdo- mudos .
Na atualidade, agregou, Nicarágua tem o menor índice de analfabetos de sua história, com 7,48 por cento.
A alfabetização é só o começo deste processo de devolver os direitos negados ao povo pelos governos neoliberais, assinalou.
Reiterou que a cruzada é em saúdo ao XXX Aniversário da Revolução Popular Sandinista, o 19 de Julio, quando com o apoio dos irmãos cubanos e venezuelanos desterraremos este flagelo.

Texto: Luis Beaton/Prensa Latina /



Violentada e respeitada




Frei Betto
- Correio da Cidadania

Completei 60 anos a 10 de dezembro. Sou um dos mais destacados consensos entre os associados à ONU. Fui aprovada por 192 países. No entanto, raros os que me respeitam.

Infelizmente não recebi, até hoje, aprovação do Estado do Vaticano. Logo ele, que se propõe a defender os valores encarnados por Jesus, que coincidem com os meus.

Nasci no pós-guerra. O mundo ansiava por justiça e paz. Ao longo desses 60 anos, sofri todo tipo de violações: a Coréia dividiu-se em duas; o Vietnã teve sua população civil bombardeada pela França e pelos EUA; empresas usamericanas de produtos químicos – as mesmas que monopolizam as sementes transgênicas – chegaram ao perverso requinte de criar o agente laranja e o napalm, destinados a intoxicar letalmente seres vivos.

Fui violentada na África do Sul, vítima do apartheid, e no Oriente Médio, onde ainda sofro em decorrência de preconceitos étnicos e religiosos. Na continente africano, todos os meus preceitos são ignorados, por culpa do neocolonialismo e da indiferença das nações ricas. Estas só se lembram das africanas quando se trata de vender suas armas.

Em Guantánamo, o governo dos EUA promove descarado acinte contra todos os meus princípios. No Iraque e no Afeganistão, os excessos praticados são ainda mais graves.

Padeci também na União Soviética e na China. Sob a bandeira da nova sociedade, reprimiram manifestações de pensamento e religião; decretaram a censura; perseguiram opositores políticos; implantaram, em nome do socialismo, um capitalismo de Estado.

Na América Latina tenho uma trágica trajetória. Ditaduras militares seviciaram-me de todas as maneiras: prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos, banimentos, assassinatos, seqüestros de crianças...

Sofri massacres em El Salvador, Guatemala, Colômbia e Peru. Grupos paramilitares se vangloriam de violar-me. E em alguns países, como é o caso do Brasil, meus transgressores continuam impunes. Felizmente a OEA me leva a sério e trata de apurar denúncias que recebe.

Hoje, sou duramente vilipendiada pelo narcotráfico e o terrorismo. As drogas corroem profundamente a dignidade humana; o terrorismo, tanto de Estado quanto de grupos fundamentalistas, inocula no ser humano o medo e a ira como condição existencial.

No Brasil, estou longe de merecer o devido respeito. Muitos nem querem ouvir falar de mim. Julgam que sou mulher de bandido. Sou ignorada pelos policiais que torturam e também pelos que praticam exploração sexual de crianças, discriminação de negros e indígenas, preconceito à homossexualidade e agressão às mulheres.

Sofro, de modo especial, em decorrência da estrutura injusta que perdura no país, sobretudo a desigualdade social acentuada pela falta de reforma agrária. O latifúndio figura entre os meus principais inimigos, ao lado da devastação ambiental.

Contudo, há avanços. Comissões de Justiça e Paz se multiplicam pelo país. Inúmeras ONGs se dedicam à minha causa. O governo Lula deu status de ministério à Secretaria Especial dos Direitos Humanos, à frente da qual se encontra um homem íntegro e corajoso: Paulo de Tarso Vannuchi.

Nas escolas, sou cada vez mais estudada. Há um setor da Justiça atento às ameaças e violações que sofro. As leis Afonso Arinos e Maria da Penha inibem e/ou punem uma parcela de meus agressores. A aprovação dos estatutos da Criança e do Adolescente e também do Idoso são avanços que me favorecem.

Se muitos ainda não me respeitam mundo afora, ao menos já não ousam falar mal de mim abertamente. Empresas e governos se sentem obrigados a levar em conta também meus direitos ecológicos, sociais e raciais.

Sou um projeto de futuro. Só na medida em que eu for assumida e respeitada, a humanidade haverá de desfrutar a felicidade como experiência pessoal e fenômeno coletivo.

Meu nome é Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Moacyr Scliar e Veríssimo, entre outros, de "O desafio ético" (Garamond), entre outros livros.