Putirõ,
mutirão, auxílio recíproco no trabalho conjunto. Eis o termo que dá a
dimensão da construção dessa obra que foi gestada a partir da
sensibilidade e generosidade da Comunidade Mbyá-Guarani da Tekoá Koenju,
residente em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul.
Esse
“filho” que, ora chega as suas mãos, traz as marcas da reciprocidade
Guarani no trabalho coletivo de abrir sua aldeia para mostrar um pouco
do seu cotidiano. Ele vem impregnado da cor da terra, sagrada na
realização dos seus roçados e na construção das suas casas tradicionais;
do cheiro da Tataxina, quem vem do Petynguá; do sabor do mbojapé e do avatí; dos sons da mata e do Inhacapetum;
da imagem dos pequenos animais confeccionados em seu artesanato, enfim,
da sua cultura. Sobretudo, vem carregado das Belas Palavras, desses
autores e colaboradores Guarani, que nos permitiram reproduzir aqui, um
pouco de sua sabedoria, do seu “modo de ser”, o Nhande Reko. São as
palavras do Cacique Ariel Ortega – Kuaray Poty, da sua esposa e
professora indígena da aldeia, Patrícia Ferreira – Kerexu Rete, do sábio
Mariano Aguirre - Karai Tata Hendy, do Karaí Solano, de Elza
Chamorro – Para Yxapy, do Pedro - Verá Txiunu e de tantos outros que,
são protagonistas dessa história.
Mby
é outra expressão Guarani que ajuda a compreender esse livro, ou seja,
Coração. Eis a palavra que lembra uma fala do Cacique Geral dos
Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul, José Cirilo Pires Morinico –
Mburuvixá Tenondé Kuaray Nheery, quando esteve em Santo Ângelo, em 2008:
”Nós
queremos chegar até o branco, pelo coração”. É assim que entregamos
essas páginas que se somam às iniciativas no sentido de combater o
preconceito e a discriminação em relação aos povos indígenas,
respeitando sua diversidade cultural.
Japoi,
mãos abertas para dar e receber, como dádiva e dom mútuo. As mãos
Guarani que semeiam o roçado, imagem emblemática na capa, simbolizam a
semente que se almeja com esse projeto. Pensado e implementado a partir
da participação efetiva desses autores, dos seus depoimentos
transformados em textos e das fotos, feitas por eles na
aldeia,considerando a importância de tal publicação.
Cabe
destacar e agradecer esse trabalho de autoria Guarani, permitindo o
registro de suas falas e disponibilizando-se , também, a captar as
imagens da Tekoá, através das lentes da câmera digital. De nossa parte,
coube, tendo em vista todos esses anos de contato, pesquisa e
aprendizado, apresentar um pouco do que nos foi oferecido como dádiva,
isto é, o conhecimento sobre seu Reko, manifestado nas
fotos(selecionadas pelo Cacique Ariel), bem como, fragmentos de nosso diário de campo.
Bedati Finokiet no Sitio do cpergs