domingo, 5 de dezembro de 2010

“Precisamos de um resgate dos Correios acima de partidos políticos e indicações”

  Gabriel Brito, da Redação do Correio da Cidadania  
 
Nos últimos dias, as fraturas internas da Empresa de Correios e Telégrafos, uma das maiores do mundo em serviços postais, voltaram a ser expostas ao público com a saída de seu diretor de Recursos Humanos. Paulo Bifano deixou o cargo fazendo duras acusações contra a atuação de Helio Costa, ministro das Comunicações, acusando-o de causar uma proposital paralisia na empresa com o intuito de desmoralizá-la e privatizá-la.
 
Em vista disso, o Correio da Cidadania conversou com Moyses Leme, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telégrafos. Na conversa, ele endossa e aprofunda as acusações de Bifano, incluindo-o entre os principais culpados pelas crises que assolaram os Correios nos últimos anos. "Lamentavelmente, é graças ao PMDB que vemos esse caos, Helio Costa, Paulo Bifano, Carlos Henrique, toda a corja que ocupou a empresa".
 
Leme não poupa em nada as gestões recentes, listando uma série de debilidades atuais propositalmente negligenciadas. Cita casos para ilustrar a enorme promiscuidade política em torno da empresa e afirma que seriam necessários ao menos 30 mil novos funcionários para atender à demanda postal atual. O sindicalista ainda critica o tratamento dado aos servidores, pede o fim das terceirizações e ressalta a necessidade de a estatal efetuar, e não o mercado, a universalização definitiva dos serviços postais brasileiros. "40 milhões de brasileiros ainda não recebem correspondência em casa".
 
A entrevista completa com Moyses Leme pode ser conferida a seguir.
 
Correio da Cidadania: Para quem tem acompanhado, é notório que as brigas políticas internas têm afetado a atuação dos Correios, gerando inclusive deficiência nos serviços. Um estado de coisas similar já havia sido abordado pelo Correio da Cidadania no ano passado. O que tem acontecido na gestão da estatal?
 
Moyses Leme: Na verdade, esse tipo de problema é antigo na empresa. Quando se chega aos Correios, numa estrutura como a nossa, onde gira mais de 12 bilhões de reais por ano, têm-se dois caminhos a seguir. O primeiro é fazer um projeto de universalização dos serviços postais, com planejamento, inclusive das compras (que são milionárias), todo um caminho para ter êxito na gestão da empresa.
 
Infelizmente, na direção da empresa muitas pessoas vêm cumprir tarefas partidárias, envolvendo-se na administração para se beneficiar, em prol do partido ou às vezes do próprio bolso. Isso avançou e tem se alavancado, com brigas políticas enormes nos Correios, parando a empresa.
 
Agora, vai sair a duras penas um concurso público. De fato, houve problema na elaboração do concurso, que será nacional, quando sempre se fazia de forma regional. Teve um levante com todos os diretores nacionais, numa reunião interna em que cobraram soluções. E o diretor que se aliava à proposta de manter os Correios públicos, sem terceirizações, com frota própria, parando de privatizar as entregas, foi convidado a se retirar, o Marco Antonio Oliveira, um diretor que sempre defendeu esses princípios.
 
Depois, os diretores que permaneceram desenvolveram uma guerra pessoal. Recentemente, o Paulo Bifano, diretor de RH, o Carlos Henrique, presidente da ECT, e o próprio ministro Helio Costa, fizeram parte dessa discussão. E o Bifano, em entrevista recente à Folha, realmente colocou uma situação mais grave, acusando os outros dois de atrapalharem e sabotarem a empresa, impedindo a compra de veículos, os concursos, as licitações... E sabemos que hoje há uma terceirização de veículos na empresa, na qual vemos, incrivelmente, que quase todas as empresas contratadas são de Minas Gerais, estado do ministro das Comunicações. Essa terceirização também atinge a atividade-fim da empresa, situação agora agravada com os destemperos do diretor de RH, de acusá-los de sabotagem na empresa.
 
Correio da Cidadania: E você concorda com essa colocação do Bifano? Ele afirmou que os Correios têm mais de 4 bilhões de reais em caixa e mesmo assim não se fazem investimentos, além de a contratação de novos funcionários ser em ritmo mais vagaroso do que a demanda sugere. Tal fala converge com a sua ao Correio da Cidadania, no ano passado, de que a empresa de fato tem dinheiro pra investir tranquilamente em sua melhoria.
 
Moyses Leme: O que pensamos hoje em relação aos Correios é que a empresa tem sido sucateada. Temos 103 mil funcionários, precisamos urgentemente de concursos. O correio francês tem 300 mil trabalhadores, já o brasileiro tem 103 mil. A questão social da empresa tem ficado pra trás, assim como a do maquinário, da qualidade. Hoje, gastam-se bilhões de reais com aluguéis. E quando se procura quem são os donos dos imóveis, vemos Paulo Otavio, Nenê Constantino (empresários de Brasília do ramo imobiliário envolvidos em diversos escândalos dos governos locais Arruda e Roriz, com fortunas suspeitas de se originarem em diversos favorecimentos; ambos estão sob mira constante do Ministério Público), só pessoas envolvidas em processos complicados.
 
Os Correios gastam mais de 1 bilhão de reais em aluguéis, sendo que poderia ter seus próprios, e adequados, imóveis. Temos o know-how, o conhecimento de como fazer, mas de fato há pessoas sabotando a empresa, sabotando com S maiúsculo mesmo. E agora o próprio Bifano e o ministro sabotavam a empresa, buscando desqualificá-la e terceirizar os serviços.
 
Inclusive, a questão da universalização dos serviços postais deveria ser contemplada, de acordo com a portaria 1112 do Ministério das Comunicações, com todo um regramento sobre quantas agências devem ser abertas e quantos servidores contratados. Mas não vemos por parte do governo e do Ministério das Comunicações atuação nesse sentido, muito menos por parte da empresa.
 
Dentro dos Correios, vemos atividades terceirizadas, inclusive atividades-fim, o que não deveria ocorrer, mas sim concursos públicos. Um rombo de bilhões de reais gastos em aluguéis, em que mega-empresários, como Nenê Constantino e Paulo Octavio aqui em Brasília, são donos de imóveis, com agências convencionais fechando para abrir franquias de deputados, senadores, como Gim Argelo... Vamos dar nome aos bois. Fecham agências convencionais pra abrir as deles.
 
Correio da Cidadania: A empresa está completamente aparelhada no momento.
 
Moyses Leme: O que precisamos, de fato, é de um resgate dos Correios. Acabar com essa questão dos aluguéis absurdos, melhorar a tecnologia na empresa, dos sistemas. Do orçamento de 651 milhões, só se gastaram 150 milhões de reais, e faz tempo que não se compram equipamentos, mesmo com a centralização das compras.
 
Na área de equipamentos, eles não chegavam por causa da burocracia de tecnocratas da empresa, que não conseguiam fazê-los chegar aos setores dos Correios que os demandavam.
 
Portanto, precisamos de um planejamento e resgate da empresa acima de partidos políticos e indicações. Precisamos de um planejamento, a fim de universalizar os serviços postais e trazer a qualidade dos serviços dos Correios de volta, que é um dos melhores do mundo.
 
Correio da Cidadania: Até a ultramercadista revista Forbes a elegeu a melhor do mundo em serviços postais. Incrível, assim, que a empresa passe por tamanhas turbulências. A parasitagem política do PMDB tem algo a ver com esse cenário?
 
Moyses Leme: Ainda somos a melhor empresa mesmo. No correio americano, gastam cerca de 7 a 14 dias para entregar. Aqui, o período é de três a quatro dias, com toda a dificuldade. Mas chegamos ao fundo do poço. Não há planejamento, funcionários. Centraliza-se o planejamento, mas não há condições reais de executá-lo. Pelo menos tivemos reuniões com os diretores regionais aqui em Brasília, onde se redigiu um documento, listando o que havia de errado.
 
Um exemplo: se você manda uma correspondência de Santa Cecília, na capital de São Paulo, da rua tal, com um CEP de São José dos Campos, o que acontece? O funcionário sabe onde é a Santa Cecília, mas por causa do CEP manda errado pra São José, pra depois carimbar de volta, retornar ao remetente, que precisa mandar de novo a correspondência.
 
Não há frota de veículos, as terceirizações estão a todo vapor, um verdadeiro caos dentro da empresa, o que não permite o trabalho adequado.
 
Lamentavelmente, é graças ao PMDB que vemos esse caos nos Correio, ao senhor Helio Costa, ao Paulo Bifano, ao Carlos Henrique, toda a corja que ocupou a empresa.
 
Correio da Cidadania: As terceirizações continuam em alta, mas nas mesmas proporções que anteriormente?
 
Moyses Leme: Agora estão liberando contratações de terceirizados, até por determinação do Ministério Público. Isso é irregular e muito grave. Vamos fiscalizar unidade por unidade. Não pode haver essa entrega direta do serviço de correspondência, é algo grave.
 
Porque, sem que se leve a mal, sempre que há uma leva de contratações, são registrados problemas com assaltos, perda de objetos; são milhões de reais perdidos, não é brincadeira.
 
Correio da Cidadania: Dessa forma, você também estenderia as criticas ao Paulo Bifano, que saiu atirando contra o Helio Costa, acusando-o de sucatear propositalmente os serviços dos Correios, com a intenção de posteriormente privatizar mais uma rentável empresa pública?
 
Moyses Leme: Ele não teve cuidado, não teve respeito, não buscou em momento algum ouvir os funcionários. Também tem um grupo dentro da empresa que joga contra, não é só o pessoal de fora. Dentro também, jogando contra a valorização dos funcionários, só com uma fração deles possuindo plano de carreira e de salário... É preciso resgatar esses planos, também o de cargos, trazer de volta o ânimo dos trabalhadores de níveis médio, técnico e de terceiro grau.
 
Hoje, o cara entra como engenheiro nos Correios e em um ano sai para outra empresa. Por quê? Porque não há perspectiva de ascensão, os cargos comissionados são apenas de indicação política. Às vezes é gente que não tem conhecimento técnico, ou um conhecimento superior, e sim porque é sobrinho de senador, de alguém do alto escalão, sendo nomeado para uma empresa que movimenta bilhões de reais. E as pessoas ficam desmotivadas, porque, depois de um concurso público, todo o estudo e esforço não valem nada, pois nunca se irá para outro cargo, a não ser que a pessoa tenha um parente político ou coisa assim lá dentro. Tal situação precisa acabar.
 
É preciso retomar a política de plano de carreira, que dê condições de a pessoa ascender na empresa, melhorar o salário... Os Correios estão pagando muito mal, nos níveis médio, técnico e principalmente terceiro grau. Nós vemos no mundo os governos investindo bilhões de reais em seus correios. Aqui é o contrário: todos os anos sacam 400 milhões de reais da empresa. Um dinheiro que deveria ser investido em mais funcionários, melhores salários, mais agências, mais veículos próprios. Mas não! Hoje, a logística dos Correios é totalmente terceirizada, portanto, não temos controle algum sobre a logística da empresa.
 
Correio da Cidadania: Ou seja, a empresa está totalmente gerenciada no sentido de servir interesses particulares. Mesmo na condição de estatal, opera na prática de forma privatizada.
 
Moyses Leme: Por isso que defendemos o resgate de nossa própria logística de transporte terrestre, assim como uma outra logística de transporte aéreo, competindo com empresas do mercado internacional, como a Fedex. Precisamos discutir essa questão, as empresas internacionais disputam o filé mignon e nós temos de ficar com tudo, interior e capitais, enquanto eles só ficam nas capitais. Nós queremos taxá-los mais por isso também, de modo a reverter mais recursos à estrutura dos Correios. Até porque precisamos atender à necessidade de universalização dos serviços postais.
 
Portanto, é preciso que parem de meter a mão no dinheiro dos Correios, para que o utilizemos a fim de desenvolver os serviços postais em todos os municípios. Se não, quem vai fazer isso, a Fedex, a DHL?
 
Atualmente, 40 milhões de brasileiros não recebem suas correspondências diretamente em casa. Como fazemos? Por isso estamos mostrando, nós do sindicato e da federação, tal necessidade, de como é preciso desenvolver o mercado dos serviços postais.
 
Correio da Cidadania: A empresa precisaria contratar quantas pessoas para suprir plenamente suas necessidades de atendimento e caminhar para essa universalização?
 
Moyses Leme: Antes de responder a esta pergunta e falar do concurso que contratará uma quantidade razoável de pessoas, gostaria de lembrar dos demitidos de 97. Com a aprovação da lei Maria do Rosário, que está parada no Senado na mão do Inácio Arruda, conseguiríamos recolocar 4 mil trabalhadores demitidos injustamente no governo FHC, pelas mãos do Sérgio Motta. Que o diabo o tenha, pois não prestava mesmo.
 
Pois esses 4 mil demitidos merecem seus empregos de volta. E a lei está lá emperrada no Senado. No entanto, mesmo com a volta de todos, ainda não seria suficiente.
 
Para prestar um serviço de qualidade à população, o mínimo seriam 30 mil contratações.
 
A previsão do concurso é 8 mil, mas não dá, é muito pouco, estamos discutindo com a direção da empresa pelo menos 15 mil.
 
Correio da Cidadania: Além disso, é preciso garantir que as contratações se efetivem rapidamente após o concurso, o que nem sempre ocorre.
 
Moyses Leme: É preciso mesmo deixar isso claro, queremos que o concurso aconteça, que as pessoas recebam a oportunidade, mas que a qualidade melhore, pois hoje está difícil trabalhar lá.
 
Temos que ficar atentos, assim como a imprensa, que precisa esclarecer a população, que só aumenta, assim como o mercado cresce, como se vê nas obras pelas cidades, que não param de crescer; e não se vê contratação de funcionários. Infelizmente, isso acarreta uma péssima qualidade do serviço.
 
Além disso, há os problemas da terceirização, precarização do trabalho, malversação de recursos dentro da empresa, como no caso dos aluguéis de imóveis, em que se paga para o empresário construir, arcando-se com toda a obra, e depois os Correios ficam sem nada.
 
Veja o absurdo: os Correios, por exemplo, querem uma área de 1500m², fazem um contrato de cinco anos com uma empresa, que paga tudo relativo à obra durante esse tempo e depois apresenta uma fatura maior do que aquilo que foi efetivamente gasto, saindo num lucro enorme. Depois desses 5 anos, o dono tem um patrimônio imenso! Vai no banco, pega uma linha de crédito e faz um patrimônio de 5, 10 milhões de reais em 5 ou 10 anos. Isto é, mais uma forma de promover o repasse do dinheiro público ao setor privado.
 
Correio da Cidadania: Por mecanismos cada vez mais invisíveis.
 
Moyses Leme: É um absurdo o que tem acontecido na empresa. Fora a falta de controle nas franquias, que dão um prejuízo de mais de 1 bilhão por ano. Enfim, é muita coisa a ser resolvida.
 
Outro exemplo é o banco postal. Tem que sair do Bradesco, precisamos de parcerias com outros bancos, alguma solução. É uma exploração com os funcionários da empresa, pois não há horário bancário, caixa adequado, segurança, e o lucro fica todo com o Bradesco, outra picaretagem. E ainda postergaram a resolução disso para 2011.
 
Mas esperamos resolver essa questão já no ano que vem e estender o banco postal para cada município e distrito do país. Na última pesquisa que fiz, em 1750 municípios o único banco postal era o nosso. O banco postal tem de ser uma ferramenta importante, como são os bancos postais francês, japonês, chinês. No Brasil é que é uma sacanagem, com o perdão do termo. Você trabalha, corre todos os riscos e o lucro fica com o Bradesco. E com os outros apadrinhados também esquematizados.
 
Correio da Cidadania: Após todo esse apanhado das tendências privatizantes que têm dominado a estatal, como você acredita que a presidente eleita Dilma Rousseff deve tratar os Correios em seu mandato?
 
Moyses Leme: Nós temos muita confiança que a presidente Dilma possa resgatar a empresa. Mas, em primeiro lugar, não tem a menor condição de o Ministério das Comunicações ficar na mão do PMDB. Esse é o primeiro ponto, não tem condição (A entrevista foi realizada na segunda-feira, 29/11; no dia 30, Dilma Rousseff nomeou Paulo Bernardo, ex-ministro do Planejamento, para a pasta).
 
Em segundo lugar, o planejamento da empresa deve ser discutido com os trabalhadores. Eles sabem o que é melhor para a empresa, e não podem ser ouvidos somente depois de greves. Não pode ser por aí o tratamento com o trabalhador.
 
O terceiro ponto é investimento. Em imóveis próprios, em abrir novas agências, ter uma frota própria de transportes terrestre e aéreo. E investir na questão humana, com contratações, melhoria salarial em todos os níveis. Senão, vamos perder nossos profissionais para outras empresas. Precisamos oferecer plano de carreira, com condições de ascensão sem que se seja filho, neto, do rei ou coisa assim. Fazer concursos e dar espaço a muita gente boa que quer contribuir com a empresa.
 
Para que se tenha uma idéia, uma das coisas que dá muito lucro na empresa e que está sendo abandonada são as coleções de selos. Tem todo um mercado internacional de filatelia e esse setor nos nossos Correios está acabando! E sempre rendeu milhões de reais. É preciso recuperar tais aspectos também, relativos à história da empresa.
 
Acredito que a Dilma vai dar uma resposta positiva, com mobilização dos trabalhadores. Temos muito trabalho pela frente.
 
Correio da Cidadania: Acredita que a presidente irá combater essas privatizações disfarçadas?
 
Moyses Leme: Espero que ela acabe com isso. O Serra falou muito em estatização no período eleitoral, e ela ficou um pouco calada para não polemizar no momento.
 
Mas em reuniões que já tivemos com gente do PT, com os deputados Geraldo Magela, Erika Kokay, falou-se muito na manutenção da empresa pública. O senador Paulo Paim também é defensor dos Correios públicos e de qualidade.
 
Enfim, há um segmento que acredita em outro caminho, de um Correio eficiente, presente em todos os municípios e distritos do país, com muita capilaridade. Esse é o único caminho. Uma empresa pública com forte participação do Estado, que seja mais que uma empresa, e sim uma entidade que presta o serviço público com cidadania.
 
Correio da Cidadania: E a Dilma terá essa visão estratégica sobre a empresa?
 
Moyses Leme: Esperamos tanto que ela tenha essa visão como que ouça os trabalhadores, as entidades de classe, para que possamos de fato trilhar tal caminho. Muita gente sabe que esse é o caminho, inclusive ela. Esperamos que ela não traia a população e os trabalhadores, pelo contrário, que mantenha a empresa pública e faça os investimentos necessários, sabendo que o PMDB não tem condição nenhuma de assumir os Correios. Não se trata de querer impor esse ponto à presidente, mas já está comprovado, são coisas que já aconteceram. Eles não têm condições de administrar o Ministério das Comunicações, são muito incompetentes.
 
Correio da Cidadania: Dessa forma, o que pensa da atuação de Helio Costa no Ministério das Comunicações? Muitas figuras, a respeito de outros assuntos, o chamaram criticamente de ‘ministro da Globo’, uma vez que por diversas vezes se posicionou publicamente no sentido de tranqüilizar a mídia hegemônica em assuntos de seu interesse – além de ser ex-funcionário da emissora. Trata-se de um privatista nato, empenhado em transferir patrimônio público a grupos políticos de sua proximidade?
 
Moyses Leme: A gente viu isso. Durante todo seu período, ele deu seqüência às terceirizações, ao fim das garagens, impediu toda sorte de investimentos. O próprio Bifano, de outra ala do PMDB, foi quem fez as denúncias que vimos na imprensa nos últimos dias. Nem a gente sabia que a coisa era tão profunda assim, com tanto descaso do ministro em relação à empresa, falta de cidadania. Pior: ele não tinha respeito nem pela soberania do país, porque um Correio público também é questão de soberania. E respeito à população.
 
Portanto, queria dizer que nós trabalhadores esperamos que, de fato, as coisas mudem, que ocorram contratações, o fim das terceirizações, que possamos ter nossa logística terrestre e aérea e um maior diálogo. E que levem a sério o que falarmos, pois tudo que acontece hoje foi acusado com muita antecedência e não foi levado a sério por ninguém, diretor de RH, presidente, diretoria, conselho, governo...
 
Tudo que acontece agora na empresa nós estávamos criticando, relatando e denunciando há muito tempo. Conhecemos a situação de perto e queremos solução. O governo precisa dar atenção ao trabalhador, que tem conhecimento de causa.
 
Correio da Cidadania: Para isso é preciso abandonar, pelo menos em parte, a visão completamente mercantilizada das relações sociais que temos hoje em dia, retomando também, como você disse, o caráter humano de uma empresa pública.
 
Moyses Leme: Claro, é preciso considerar a questão social. A empresa é boa, tem tudo para avançar e crescer, pois também está num mercado que cresce cada dia mais. É possível fazer um trabalho com seriedade e profissionalismo. Por isso reforço a questão do plano de carreira, pois os trabalhadores costumam ter compromisso com a empresa. Em geral, quem tem compromisso com a empresa são os do segundo escalão, não os de cima. Esses vivem do status superior, não estão nem aí pra nada, apenas seguem ordens, já estão com a vida ganha, enfim, não querem nada.
 
Queremos renovação, com pessoas capacitadas, com condições de desempenhar as necessidades dos Correios, contratando funcionários e universalizando os serviços postais. É o que esperamos.
 
Correio da Cidadania: Alguns estados têm começado a cobrar, inclusive judicialmente, por uma resposta dos Correios, pois alguns de seus cidadãos vêm ficando sem receber suas correspondências. Por sua vez, a empresa alega que os próprios estados e municípios deixam de colaborar ao não fazerem o cadastro de todos os endereços de seu território. Algo tem sido feito para sanar os problemas?
 
Moyses Leme: Tem de ser feito. Os estados têm que contribuir também. Na verdade, não há o interesse nem da empresa, por meio do Ministério das Comunicações, e nem dos estados e municípios na questão postal.
 
Em Brasília, por exemplo, temos 500 mil pessoas que não recebem correspondência diretamente. A capital do país. Devido também à falta desse trabalho por parte dos municípios e dos legislativos. Tais questões só se resolvem com contratação de concursados e fim das terceirizações de atividades-fim, negativas para o cliente e a empresa.
 
É o que queremos mudar.
 
Correio da Cidadania: Você vê possibilidades de entrarmos em um ‘caos postal’?
 
Moyses Leme: Com concursos públicos e a contratação emergencial, mais a aprovação da lei dos trabalhadores demitidos em 97, penso que conseguiríamos dar uma melhor qualidade aos nossos serviços postais. Com mais respeito pela empresa e os trabalhadores e o fim do assédio moral, podemos evitá-lo.
 
Gabriel Brito é jornalista.
 

Mais uma imprescindível se foi....

Aos 92 anos, morre a ativista de direitos humanos uruguaia María Esther Gatti

A ativista de direitos humanos uruguaia María Esther Gatti, fundadora da Associação de Mães e Familiares de Uruguaios Presos durante a última ditadura militar do país (1973-1985), faleceu neste domingo (5/11) ao 92 anos, informou o Museu da Memória em comunicado .

"María Esther lutou incansavelmente pela aparição de sua filha, María Emilia Islas, seu genro, Jorge Zaffaroni, e sua neta Mariana Zaffaroni, sequestrados e desaparecidos na Argentina no dia 27 de setembro de 1976, durante a Operação Condor", consta no comunicado da entidade.

A Operação Condor foi uma aliança entre os regimes militares da América do Sul — Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai — criada com o objetivo de coordenar a repressão a oposicionistas dessas ditaduras instaladas no Cone Sul.

Uma das lutas de María Esther foi para saber do paradeiro de sua neta Mariana, sequestrada quando tinha apenas 18 meses. Depois de muito tempo procurando, finalmente localizou a neta em 1992 e consegui a restituição de sua identidade e o processo dos sequestradores.

Além da busca pela neta, a ativista ficou conhecida pela campanha pela anulação da Ley de Caducidad, como é chamada no Uruguai a medida que anistiu os agentes da repressão da ditadura.

"Não se pode perder jamais a esperança e muito menos a vontade de lutar", disse María Esther em março deste ano ao comemorar a inauguração de uma biblioteca e o aniversário de 35 anos de Mariana. Até o fim de sua vida, ela buscou o paradeiro de sua filha María Emília.

Seu corpo será velado entre hoje e amanhã na Universidade da República em Montevidéu, segundo o site de notícias uruguaio Observa.

Fonte: OperaMundi

Janis Joplin & Jorma Kaukonen - The Typewriter Tape - 1964



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1. Trouble In Mind 3:44
2. Long Black Train 3:59
3. Kansas City Blues (False Start) 0:19
4. Kansas City Blues 3:01
5. Hesitation Blues 4:18
6. (Strumming) 0:14
7. Nobody Knows When You're Down 3:18
8. Daddy, Daddy, Daddy 3:58

Recorded on June 30, 1964



http://img73.imageshack.us/img73/2476/47319335hj2.jpg

Janis Joplin - Vocals
Jorma Kaukonen - Guitar
Margareta Kaukonen - Typewriter

A primeira gavação de Janis, com Jorma Kaukonen, o futuro guitarrista de Jefferson Airplane, gravado na casa dele e com Margareta Kaukonen fazendo a percussão com uma máquina de escrever.




Créditos: Loolo

O filme que inspirou "Tempos Modernos" de Chaplin



A nós a liberdade - 1931



SINOPSE
Um rico industrial é chantageado por causa do seu passado, recebendo então a ajuda de um antigo companheiro de prisão. Encantadora comédia satírica em estilo opereta, dirigido e escrito por René Clair, um dos mais admirados cineastas franceses de todos os tempos, o primeiro a ser eleito para a Academia Francesa. "A Nós a Liberdade" influenciou decisivamente Charles Chaplin ao fazer Tempos Modernos, tornando-se também uma poderosa denúncia à sociedade moderna mecanizada.

DADOS DO ARQUIVO
Diretor: René Clair
Áudio: Francês
Legendas: Português
Duração: 104 min.
Qualidade: DVDRip
Tamanho: 634 MB
Servidor: Megaupload (3 partes)

Créditos: Hilarius no laranja psicodélica

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