segunda-feira, 28 de março de 2011

Palestina: adeus às divisões?



Por Carmelle Wolfson, do Alternet| Tradução: Daniela Frabasile,via Patria Latina






Num grande painel com uma caricatura do presidente Barack Obama, pendurado em uma sacada sobre a praça Al-Manarah, em Ramallah, no dia 15 de março, podia-se ler: “Ele disse: liberdade para o povo da Tunísia. Ele disse: liberdade para o povo egípcio. Ele disse: liberdade para o povo líbio. Mas ele não se atreve a dizer liberdade para o povo palestino”.
Estimulada pela dinâmica das revoltas que se espalham pelo mundo árabe, a juventude palestina ergueu um acampamento de protesto no centro de Ramallah, em cidades na Cisjordânia e na faixa de Gaza, em 15 de março. Esse grupo de jovens ativistas, não alinhado politicamente, é incapaz de se reunir devido aos postos de controle do exército de Israel e aos muros. Estão se conectando por Facebook, Twitter e telefones celulares.
O movimento de 15 de março, como está sendo chamado, reivindica reestruturação do Conselho Nacional Palestino (CNP), convocação de eleições, liberação de todos os prisioneiros políticos em poder da Autoridade Palestina e do Hamas e a unificação nacional da Palestina.
Na semana passada, centenas de milhares de palestinos protestaram nas ruas da cidade de Gaza, e milhares na Cisjordânia. Logo em seguida, o presidente palestino Mahmoud Abbas, do grupo Fatah, anunciou planos para encontrar o líder do Hamas, Ismail Haniyed, em Gaza.
Uma das figuras-chaves do movimento de 15 de março é Fadi Quran. Junto com nove outros companheiros, ele fez uma greve de fome de quatro dias, às vésperas do protesto. Diz que o CNP não representa todos os palestinos, e que “sistemicamente levará a uma divisão”, como atual impasse entre o Fatah e o Hamas. Quran acredita que se Abbas e Haniyet se encontrarem, os líderes tentarão chegar a um acordo de partilha do poder, combinando posições e dividindo cadeiras entre os partidos.
Abbas e Haniyet ainda precisam acertar os termos desse encontro. Abbas pede a formação de um governo transitório para preparar as eleições. Como o Hamas provavelmente receberia uma pequena quantidade de votos, perdendo assim seu poder sobre a faixa de Gaza, Haniyet está pouco estimulado a apoiar as eleições agora. Haniyet insiste em uma reunião que lance conversações pela reconciliação

O Movimento 15 de Março

Os ativistas palestinos estão esperando para ver se os planos vão dar frutos. Mas falando com eles fica claro que a derrubada dos presidentes Mubarak e Ben Ali, no Egito e Tunísia, reavivou suas esperanças. “Daqui para a frente, as coisas serão diferentes”, disse Quran no protesto de terça-feira.
Mas Quran, que estudou em Standford, é também pragmático. Indagado se 15 de março poderia se tornar a versão palestina do movimento 25 de janeiro (o primeiro dia de grandes manifestações populares no Cairo), ele respondeu: “acho que aqui, as mudanças que queremos precisam de mais tempo para ser implementadas. No Egito, reivindicava-se que Mubarak saísse. Nós não podemos pedir isso [em relação a Abbas] agora”.
O presidente Abbas tem apoio insignificante. Desde que a Al Jazeera liberou documentos [do Wikileaks] confirmando as suspeitas de que a Autoridade Palestina, dirigida pelo Fatah, cedeu demais a Israel (principalmente por permitir a expansão dos assentamentos, abandonar o direito de retorno para todos os refugiados palestinos e recuar da exigência de partes de Jerusalém Oriental), ele está tentando evitar uma grande revolta, como as que varreram o Oriente Médio e norte da África. A julgar pela tática de Abbas, ele deve ter aprendido alguma coisa com Mubarak.
Durante os últimos meses, nos comícios na Cisjordânia em solidariedade aos egípcios e tunisianos, as forças da Autoridade Palestina foram convocadas para entoar suas próprias palavras-de-ordem, e também para ameaçar e deter manifestantes. Nessa semana, a Autoridade Palestina usou estratégia parecida para suprimir protestos voltado mais diretamente a seus dirigentes.
Em toda a manifestação de 15 de março, em Ramallah, agentes secretos da inteligência da Autoridade Palestina (Mukhabarat) identificaram e retiraram os principais organizadores. A certa altura, a Mukhbarat arrastou uma jornalista da agência de notícias Ma’na para o posto de polícia depois que a repórter tirou uma foto de um dos agentes. A britânica foi liberada logo depois, mas ao final do dia pelo menos seis palestinos tinham sido detidos e sete foram levados por ambulâncias devidos a lesões. Ao escurecer, as forças de segurança isolaram a rua.
Após a implementação dos Acordos de Oslo, os palestinos parecem conviver com uma nova força de repressão, criada no interior da Autoridade Palestina, dirigida pelo Fatah. Ela captura e interroga regularmente ativistas políticos palestinos na Cisjordânia. A economia palestina pode ter crescido na região, mas os assentamentos israelenses expandem-se mais rapidamente. É essa realidade, tanto quanto a divisão de facções e as revoltas árabes, que inspiram os jovens palestinos hoje.
Mais cedo naquele dia, partidários do Fatah, incluindo alguns antigos membros da segurança da Autoridade Palestina, encheram a praça, tentando fixar-se em locais estratégicos. A multidão do Fatah cantou músicas tradicionais nacionalistas que tocavam nos auto-falantes, e espalhou pelas ruas cartazes de líderes palestinos martirizados. Um cartaz destacava a foto do antigo líder do Fatah, Yasser Arafat, beijando o líder espiritual do Hamas, Sheik Yassin.
Uri Davis, do Conselho Revolucionário do Fatah – o único membro judeu israelense da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) – falou com repórteres no meio da praça. “O fim da fragmentação da cena política palestina”, deveria ser a principal demanda , disse ele, atribuindo o processo à tática colonial de dividir para reinar usada por Israel.
Sobre a reestruturação do Conselho Nacional, Davis disse que abrir o voto às comunidades palestinas em Israel e às espalhadas pela diáspora tornaria o órgão mais representativo.
Quem observasse os que pedem unificação nacional na semana passada, julgaria que a divisão é insuperável. As tensões ferviam sob a superfície, entre os que apoiavam o Fatah e os esquerdistas e os ativistas não alinhados a nenhum dos dois grupos (que organizaram a manifestação). Dois grupos distintos se formavam, cada um tentando se sobrepor ao outro.
Depois que os membros do Fatah se retiraram no começo da tarde, um grupo de aproximadamente 500 pessoas permaneceu. Jovens de ambos os sexos lideraram os coros. Dois homens sentaram-se sobre um painel da Autoridade Palestina 4 metros de altura onde podia-se ler “restauração do centro da cidade”. Eles seguravam um cartaz com um desenho de duas jovens palestinas gritando, com os cabelos aparecendo sob lenços frouxos, no fundo vermelho, branco e verde da bandeira palestina.

Reação israelense

Dezenas de soldados israelenses também estavam mobilizados no posto de controle em Qalandia na última terça-feira, para a eventualidade de os manifestantes palestinos em Ramallah dirigirem-se para lá
Os levantes regionais alimentam o medo que os israelenses têm de serem cercados por inimigos prontos para atacar. Oficiais de segurança israelenses claramente foram pegos de surpresa quando Mubarak caiu. Ainda assim, o governo de Israel parece indeciso sobre como responder politicamente à agitação no Oriente Médio e no norte da África, permanecendo em compasso de espera antes de dar o próximo passo.
Israel perdeu seu maior aliado no Oriente Médio quando o presidente egípcio, Mubarak, resignou. A estabilidade do Estado baseia-se na paz com o Egito e em manter Gaza em rédeas curtas. É por essa razão que Israel apressa-se para terminar a construção do muro ao longo da fronteira com o Egito.
O primeiro-ministro Netanyahu espera que emerja, no Egito, um novo líder com quem Israel possa contar para continuar a mesma política de Mubarak.
Enquanto isso, têm aparecido no Facebook grupos chamando refugiados palestinos a marchar em direção às fronteiras do Egito, Líbano, Síria, Jordânia e os Territórios Palestinos Ocupados em 15 de maio. Seria a “terceira intifada palestina”. Se essa ação acontecer, Israel terá de lidar com uma séria preocupação com segurança.
No momento, com os militares egípcios – financiados pelos Estados Unidos – exercendo forte controle e com fissuras que começam a aparecer na revolta popular do Egito, a situação política pode se mover a favor ou contra Israel. Se alguma coisa está clara, é que Israel baseia-se na divisão da Palestina e não irá tolerar um movimento democrático se isso significar uma negociação com o Hamas.

Islamofobia

14777.jpegO cidadão da foto, com essa cara de mau, é o deputado republicano Peter King, uma das figuras em maior evidência hoje nos EUA.  É dele a iniciativa de criar uma comissão que vai investigar as atividades de organizações muçulmunas no país,  vista como uma atitude discriminatória e revanchista. 

por Eliakim Araujo em Miami


O cidadão da foto, com essa cara de mau, é o deputado republicano Peter King, uma das figuras em maior evidência hoje nos EUA.  É dele a iniciativa de criar uma comissão que vai investigar as atividades de organizações muçulmunas no país,  vista como uma atitude discriminatória e revanchista.  Desde já, King  está sendo chamado de o McCarthy do século XXI, numa referência ao parlamentar dos anos 50 e 60 que perseguiu e destruiu famílias pela simples suspeita de que poderiam ser comunistas.

O novo mccarthysta considera que o inimigo está dentro de casa e que a crescente radicalização dos muçulmanos nascidos e criados nos Estados Unidos representa uma ameaça que deve ser avaliada antes que seja tarde demais.  Como presidente do Comitê de Segurança Nacional da Câmara - cargo conquistado pelos republicanos depois da vitória nas eleições parlamentares de novembro passado - King argumenta que os americanos muçulmanos não cooperam com a lei e a ordem na hora de denunciar atividades suspeitas e que 80% dos líderes islâmicos são extremistas.

Mas King não é flor que se cheire.  Além de acusado de falsas alegações e de estar querendo estigmatizar e demonizar a comunidade muçulmana de sete milhões de pessoas,  seus adversários afirmam que ele defendeu nos anos oitenta a luta armada do IRA, a organização terrorista irlandesa.
Quem tem um deputado como esse, não precisa de terrorista. Ele é o próprio.

Washington made in China
A rede ABC mostrou outro dia em seu principal telejornal uma reportagem super interessante. O repórter percorreu as lojas de souvenirs de Washington e descobriu que quase todos eram fabricados na China. Miniaturas dos memoriais, do Capitólio, da Casa Branca e, pasmem,  até bandeirinhas dos EUA eram "made in China".   

Esse tipo de reportagem,  cada vez mais frequente, revela a preocupação do cidadão americano com o rival chinês, acusado de manipular sua moeda e roubar empregos dos Estados Unidos.  A desgastada crise econômica,  que não dá sinais de arrefecimento,  não é mais a única culpada pelo índice de desemprego que teima em permanecer em torno dos 10%.

Até Donald Trump, misto de empresário e apresentador de TV (ele apresenta o original do "Aprendiz"), com seu jeito meio bufão, dizia em um programa de entrevista que é fácil acabar com o desemprego nos EUA "é só mandar para a China os nossos trabalhadores, porque nossos empregos foram todos levados para lá".

Na contramão da reportagem da ABC, a Boeing anunciou esta semana ter fechado encomendas de 10 bilhões de dólares com duas companhias aéreas da China, o mercado de aviação de crescimento mais rápido no mundo. 

Ou seja, pelo menos nesse segmento a China ainda não conseguiu roubar os empregos dos técnicos e operários norte-americanos. Por enquanto.

Eu ainda amo Bill
A revista sensacionalista Enquirer tirou do ostracismo uma mulher que quase derrubou um presidente dos Estados Unidos. Monica Lewinski, a mais famosa estagiária americana,   hoje com 37 anos (ela tinha 22 por ocasião do escândalo)  revelou que nunca se esqueceu do romance proibido com Bill Clinton, tanto que até hoje não conseguiu preencher o vazio deixado por ele. Não casou e nem quis ter filhos com pretensos namorados. E Mônica confidenciou a amigos mais próximos que não consegue mais amar ninguém, pois seu coração pertence ao ex-presidente.

Monica, que chegou a escrever um livro sobre seu "estágio" na Casa Branca, conta que foi muito pressionada na época pela chamadas forças ocultas do governo para calar a boca sobre os acontecimentos no Salão Oval.  Mas confidenciou que faria tudo de novo, porque Bill foi seu "único e verdadeiro amor".

É a tal história do amor que bate e fica.

Sem Harvard, mas com Eike

Pesquisa divulgada na semana que passou, com pouco destaque na mídia preocupada com a cobertura do Carnaval, revelou que nenhuma universidade brasileira foi classificada entre as cem melhores do mundo.  O trabalho é da Times Higher Education (THE), instituição baseada em Londres.

Harvard, nos EUA, obteve a pontuação máxima no ranking, montado a partir de uma pesquisa com convidados de mais de 13 mil professores de 131 países do mundo.  Como nos anos enateriores, as universidades americanas seguem dominando o ranking.  Entre as dez primeiras da lista, sete são dos EUA, duas do Reino Unido e uma do Japão.

A nós, brasileiros, resta o consolo de saber que, se não temos uma universidade do topo, temos em compensação trinta bilionários na lista da Forbes. Para ser preciso, subimos de 18 para 30 em um ano. Sinal de que as coisas andam bem para os negócios no Brasil. 

Melhor ainda. Se não temos uma universidade entre as melhores, temos um empresário entre os dez mais ricos do mundo. Eike Batista, aparece no oitavo lugar, com uma fortuna estimada em 27 bilhões de dólares. Só não dá para entender como alguém que tem uma fortuna de 27 bi precisa de um aporte de capital público (BNDES) de 600 milhões de reais para tocar seus negócios.

Se alguém souber, me explique, por favor.

EUA e aliados cometem crimes monstruosos na Líbia


Miguel Urbano Rodrigues
 
 
Na Líbia de hoje, tal como sucedeu na Jugoslávia, no Iraque ou no Afeganistão, as “missões humanitárias” do imperialismo deixam um hediondo rasto de morte e destruição. Apesar do silêncio, da manipulação e da mentira dos grandes media internacionais e nacionais, a barbaridade da agressão imperialista contra o povo líbio começa a surgir em toda a sua criminosa dimensão.


Os EUA e os seus aliados repetem na Líbia crimes contra a humanidade similares aos cometidos no Iraque e no Afeganistão.
A agressão ao povo líbio difere das outras apenas porque o discurso que pretende justificá-la excede o imaginável no tocante à hipocrisia.
A encenação prévia, pela mentira e perfídia, traz à memória as concebidas por Hitler na preparação da anexação da Áustria e das campanhas que precederam a invasão da Checoslováquia e da Polónia.
Michel Chossudovsky, James Petras e outros escritores progressistas revelaram em sucessivos artigos - citando fontes credíveis - que a rebelião de Benghazi foi concebida com grande antecedência e minúcia e alertaram para o papel decisivo nela desempenhado pelos serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido.
A suposta hesitação dos EUA em apoiar a Resolução do Conselho de Segurança da ONU que criou a chamada zona de «Exclusão Aérea», e posteriormente, em assumir a «coordenação das operações militares» foi também uma grosseira mentira. Farsa idêntica caracterizou o debate em torno da transferência para a NATO do comando da operação dita «Amanhecer de Odisseia», titulo que ofende o nome e a epopeia do herói de Homero.
O Pentágono tinha elaborado planos de intervenção militar na Líbia muito antes das primeiras manifestações em Benghazi, quando ali apareceram as bandeiras da monarquia fantoche inventada pelos ingleses após a expulsão dos italianos. Tudo isso se acha descrito em documentos (alguns constantes de correspondência diplomática divulgada pela Wikileaks) que principiam agora a ser tornados públicos por webs alternativos.
OS CRIMES ENCOBERTOS
Os discursos dos responsáveis pela agressão ao povo líbio e a torrencial e massacrante campanha de desinformação montada pelos grandes media ocidentais, empenhados na defesa e apologia da intervenção militar, são diariamente desmentidos pela tragédia que se abateu sobre a Tripolitania, ou seja o ocidente do país controlado pelo Governo.
Hoje não é mais possível desmentir que o texto da Resolução do CS - que não teria sido aprovado sem a abstenção cúmplice da Rússia e da China – foi desafiadoramente violado pelos Estados agressores.
Os ataques aéreos não estavam previstos. Mas foram imediatamente desencadeados pela força aérea francesa e pelos navios de guerra dos EUA e do Reino Unido que dispararam em tempo mínimo mais de uma centena de mísseis de cruzeiro Tomahwac sobre alvos muito diferenciados.
Têm afirmado repetidamente os governantes dos EUA do Reino Unido, da França, da Itália que a «intervenção é humanitária» para proteger as populações e que «os danos colaterais» por ela provocados são mínimos.
Mentem consciente e descaradamente.
As «bombas inteligentes» não são cegas. Têm atingido, com grande precisão, depósitos de combustíveis e de produtos tóxicos, pontes, portos, edifícios públicos, quartéis, fábricas, centrais eléctricas, sedes de televisões e jornais. Reduziram a escombros a residência principal de Muamar Khadafi.
Um objectivo transparente foi a destruição da infra-estrutura produtiva da Líbia e da sua rede de comunicações.
Outro objectivo prioritário foi semear o terror entre a população civil das áreas bombardeadas.
Afirmaram repetidas vezes o secretario da Defesa Robert Gates e o secretario do Foreign Ofice, William Haggue que as forças daquilo a que chamam a «coligação» mandatada pelo Conselho de Segurança, não se desviaram das metas humanitárias de «Odisseia». Garantem que o número de vítimas civis tem sido mínimo e, na maioria dos bombardeamentos cirúrgicos, inexistente.
Não é o que informam os correspondentes de alguns influentes media ocidentais e árabes.
Segundo a Al Jazeera e jornalistas italianos, o «bombardeamento humanitário» de Adhjedabya foi na realidade uma matança sanguinária, executada com requintes de crueldade.
Outros repórteres utilizam a palavra tragédia para definir os quadros dantescos que presenciaram em bairros residenciais de Tripoli.
Generais e almirantes norte-americanos e britânicos insistem em negar que instalações não militares ou afins tenham sido atingidas. É outra mentira. As ruínas de um hospital de Tripoli e de duas clínicas de Ain Zara, apontadas ao céu azul do deserto líbio, expressam melhor do que quaisquer palavras a praxis dos «bombardeamentos humanitários». Jornalistas que as contemplaram e falaram com sobreviventes do massacre, afirmam que em Ain Zara não havia um só militar nem blindados, sequer armas.
Numa tirada de humor negro, no primeiro dia da agressão, um oficial dos EUA declarou que a artilharia anti aérea líbia ao abrir fogo contra os aviões aliados que bombardeavam Tripoli estava a «violar o cessar-fogo» declarado por Khadafi.
Cito o episódio por ser expressivo do desvario, do farisaísmo, do primarismo dos executantes da abjecta agressão ao povo líbio, definida como «nova cruzada» por Berlusconi, o clown neofascista da coligação ocidental.
Khadafi é o sucessor de Ben Laden como inimigo número um dos EUA e dos governantes que há poucos meses o abraçavam ainda fraternalmente.
O dirigente líbio não me inspira hoje respeito. Acredito que muitos dos seus compatriotas que participam na rebelião da Cirenaica e exigem o fim do seu regime despótico actuam movidos por objectivos louváveis.
Mas invocar a personalidade e os desmandos de Muamar Khadafi no esforço para apresentar como exigência de princípios e valores da humanidade a criminosa agressão ao povo de um país soberano é o desfecho repugnante de uma ambiciosa estratégia imperialista.
O subsolo líbio encerra as maiores reservas de petróleo (o dobro das norte-americanas) e de gás da África. Tomar posse delas é o objectivo inconfessado da falsa intervenção humanitária.
É dever de todas as forças progressistas que lutam contra a barbárie imperialista desmascarar a engrenagem que mundo afora qualifica de salvadora e democrática a monstruosa agressão à Líbia.
A Síria pode ser o próximo alvo. Isso quando não há uma palavra de crítica às monarquias teocráticas da Arábia Saudita, do Bahrein, dos Emirados.
Uma nota pessoal a terminar. Os líderes da direita Europeia, de Sarkozy e Cameron à chanceler Merkel, cultivam nestes dias – repito - o discurso da hipocrisia. Nenhum, porém, consegue igualar na mentira e na desfaçatez a oratória de Barack Obama, que, pelos seus actos, responderá perante a História pela criminosa política externa do seu país, cujo povo merecia outro presidente.

A discriminação ao trabalho das empregadas domésticas


Do conjunto de mulheres ocupadas no país, 17% são trabalhadoras domésticas, em sua maioria negras


 

Inesc

Assessor de diversidade e apoio aos cotistas da Universidade de Brasília (UNB), Joaze Costa é autor do estudo Sindicatos das trabalhadoras domésticas no Brasil: teorias de descolonização e saberes subalternos, de 2007.
Coordenador da mesa Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, no Seminário Internacional Igualdade, Racismo e Políticas Públicas, que acontece dias 30 e 31 de março no anfiteatro 12 da UNB, Joaze é também segundo secretário da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras (ABPN).
O evento contará com alguns dos principais especialistas da área e, além de tratar das desigualdades e do racismo enfrentado pelos brasileiros, tem como objetivo discutir temáticas como: cotas, ações afirmativas, Estatuto da Igualdade Racial, comunidades quilombolas, modelo de desenvolvimento e racismo institucional à luz de experiências internacionais e também da atuação do Estado brasileiro.

Inesc - Quantas trabalhadoras domésticas existem no país e quantas são sindicalizadas?

Joaze Costa - A Pnad 2009, divulgada no final de 2010, indica um contingente de 7,2 milhões de trabalhadores domésticos, em sua expressiva maioria mulheres. Trata-se de uma categoria socioprofissional extremamente significativa numericamente, representando 7,8% da População Economicamente Ativa. Se considerarmos apenas o conjunto das mulheres ocupadas no país, 17% das mulheres empregadas são trabalhadoras domésticas.
Infelizmente, não tenho dados mais recentes em mãos, mas com certeza trata-se de uma categoria que também tem uma sobrerrepresentação de mulheres negras, o que torna muito interessante os estudos sobre estas profissionais, pois sobre elas incidem práticas discriminatórias de gênero e raça, conjugados obviamente com fatores classistas. Porém, além dessa dimensão analítica, a categoria profissional das trabalhadoras domésticas impõe enormes desafios no campo das políticas públicas.
Também lamento não ter dados atuais sobre o número de trabalhadoras domésticas sindicalizadas. Porém, quando defendi minha tese de doutorado no Departamento de Sociologia da UNB, em 2007, o índice de trabalhadoras sindicalizadas era em torno de 1,6%. 

Este não é um percentual muito baixo?

Com certeza trata-se de um índice baixo, entretanto, numa perspectiva histórico-sociológica torna-se compreensivo este índice, podendo inclusive ser motivo para comemorações. As barreiras para uma luta política das trabalhadoras domésticas são inúmeras, para se ter uma idéia, citaria apenas um dos obstáculos, talvez o central: o isolamento intramuros das trabalhadoras domésticas nos seus locais de trabalho.

Da fundação da Associação Profissional das Empregadas Domésticas de Santos, em São Paulo, em1936, à criação da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, em 1997, que conquistas a classe conseguiu?

Esta é uma ótima pergunta; para uma resposta mais completa recomendo a leitura da minha tese de doutorado. Mas, posso adiantar que a principal conquista do grupo foi a sua própria organização como categoria profissional. Essa história inicia-se com Laudelina de Campos Melo, na década de 30 do século 20, passando por uma articulação com o Teatro Experimental do Negro, e com a corrente progressista da igreja católica nas décadas de 50 e 60.
Em minha pesquisa de doutorado descobri que na sombra de cada direito conquistado – mesmo que insuficiente, comparado aos outros/as trabalhadores/as – havia uma forte militância das trabalhadoras domésticas. Por exemplo, os primeiros direitos da categoria profissional em 1972 foram um produto direto do 1o Congresso Nacional das Trabalhadoras Domésticas, que ocorreu em 1968, no Rio de Janeiro. Em 1974, elas realizaram o 2o Congresso Nacional para avaliar os ganhos com a lei 5958/72. Após o 5o Congresso Nacional da Categoria em 1985, em Recife, as trabalhadoras domésticas iniciam uma forte articulação nacional com outros movimentos sociais, especialmente as feministas, com Constituintes, com a própria igreja católica progressista, para apresentar uma proposta de lei, que contemplasse os direitos da categoria. Esta longa e silenciada história, revela o ativismo destas mulheres, divididas entre cuidar da casa dos outros e pensar no futuro delas mesmas e até mesmo do país. Com a Constituição de 1988, as trabalhadoras domésticas foram contemplados com alguns direitos, muito aquém dos demandados. Aliás, é muito revelador o parágrafo único dos Direitos Sociais da Constituição Cidadã, que menciona as trabalhadoras, é para dizer que 25 dos 34 direitos sociais previstos na Constituição Federal para todos/as os trabalhadores brasileiros/as não se aplicam às domésticas. Após a década de 80, os sindicatos criados a partir de 1988 sentiram a necessidade de uma representação uniforme, sobretudo para lidar com o governo federal. Decidiram então pela criação da Fenatrad, a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, que tem como sua atual presidenta Creuza de Oliveira.

E que desafios tem a categoria agora?

Os desafios continuam enorme à categoria. Por exemplo, a elevação do número de trabalhadoras com carteira assinada e com contribuição à previdência social, regulamentação da jornada de trabalho, campanha da casa própria, obrigatoriedade do FGTS, hora extra etc. Estes direitos têm estado na pauta da categoria após 1988 e talvez ganhem novo fôlego a partir da Conferência Internacional da OIT, que ocorrerá em junho de 2011.

O trabalho das empregadas domésticas reúne três tipos de discriminação: de gênero, de classe e 
de raça; ainda assim é visto com muita naturalidade pela sociedade em geral. O que isso aponta em termos de cultura nacional?

Esta é uma das questão que mais me interessa no estudo do trabalho doméstico. Ainda não tive tempo para uma grande elaboração a este respeito, mas minha hipótese é que no trabalho doméstico temos uma das chaves para entender a formação de uma gramática moral que explica a estabilidade da desigualdade social no Brasil. E é bastante óbvio que o trabalho doméstico herda a funcionalidade do trabalho escravo.

O livro Levando a Raça a Sério: ações afirmativas e universidade, lançado em 2004, traz um panorama de ações de enfrentamento do racismo no campo da educação. O que pensa da lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de História da África nos currículos escolares?

O livro foi resultado de um seminário que organizei em 2003, na Universidade Federal de Goiás, no âmbito do Programa Políticas da Cor na Educação Brasileira, com o Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e com apoio da Fundação Ford. Naquela ocasião, reunimos coordenadores e participantes de alguns dos projetos daquele programa, que estavam nas suas respectivas universidades propondo políticas de ação afirmativa. Assim, o foco do livro foram os debates e negociações que estavam ocorrendo em cada uma das universidades ali representadas: UNB, Universidade do Estado da Bahia, UFBA, UFSCar, UFMG, UFG, UFMT etc.
As discussões sobre a lei 10.639/03 não entraram naquele seminário e, portanto, não foram expressas no livro. Porém, lembro-me vagamente que meses depois viemos para uma reunião em Brasília no MEC, quando foi assinada a primeira minuta do programa Uniafro, voltado para o financiamento de projetos de pesquisa e atividades sobre a 10.639/03.

E como garantir a implantação efetiva dessa lei?

Devemos a existência desta lei à professora Petronilha da Silva, relatora do parecer que aprovou a 10.639/03. Obviamente, outros personagens são e foram fundamentais para termos alcançado essa conquista legal. Esta lei se mostra como um primeiro passo para o combate ao chamado racismo epistemológico, assim também como o primeiro passo para o combate à cultura racista existente na sociedade brasileira, que até pouco tempo atrás era ensinada nas nossas escolas impunemente.
Eu diria que o grande desafio hoje para a implementação efetiva desta lei no sistema de ensino brasileiro passa pelo envolvimento das universidades. As universidades têm o dever de formar pessoas capazes de lidar de maneira qualificada com a 10639/03. Para isso, as universidades têm que contratar novos professores para desempenhar esta tarefa.
De que maneira as cotas raciais têm colaborado para o acesso e a manutenção da população negra nas universidades? Além de garantir o ingresso, como garantir a permanência do(a) aluno(a) cotista?
As cotas raciais foram o primeiro passo para uma reestruturação as universidades brasileiras, porém não podem ser pensadas como ato único e isolado. As universidades têm que trazer para o seu bojo imediatamente uma discussão sobre a permanência dos cotistas, o acesso dos mesmos às redes de pesquisa e a reforma curricular. Enfim, há um conjunto de ações ainda por implementar para caracterizar uma efetiva política de ação afirmativa nas universidades brasileiras.

Acredita que políticas de ação compensatória, como o Bolsa Família, são eficazes também para o combate às desigualdades raciais?

Sem dúvida. Seria um grande engano dizermos que as chamadas políticas universais não teriam impacto sobre as desigualdades raciais.
Estes 10 primeiros anos deste novo milênio foram fundamentais para a discussão sobre as políticas de ação afirmativa. Convencemos setores importantes da sociedade brasileira da necessidade de adoção destas políticas para quebrarmos o “teto de vidro” e para a adoção de políticas valorativas. Entretanto, não podemos pensar que as políticas de ação afirmativa serão a panaceia para todas as desigualdades raciais brasileiras. As ações afirmativas precisam ser combinadas com políticas universais de combate à pobreza, de elevação de escolaridade, de equidade regional etc. Sem abrir mão das políticas de ação afirmativa – que cumprem um papel decisivo na sociedade brasileira – temos que partir para um movimento político de elevação da qualidade do ensino fundamental e médio brasileiro, de aumento de matrículas no ensino médio, de melhoria do sistema de saúde, de melhoria da habitação etc.
Os próximos anos de crescimento econômico do Brasil não podem repetir os erros do passado, quando o crescimento econômico não veio acompanhado de igualdade social e racial.

Qual sua expectativa em relação ao Seminário Igualdade, Racismo e Políticas Públicas?

O Seminário traz pesquisadores refinados da questão racial brasileira; pessoas que com uma seriedade incrível tem refletido sobre nossa sociedade e os desafios para a igualdade social e racial. Certamente, a Universidade de Brasília ganhará muito com a presença desses pesquisadores e pesquisadoras.
Serão colocadas questões importantes para o desenvolvimento social brasileiro. Para o/a aluno/a que comparecer, certamente ele perceberá inúmeros possíveis temas de pesquisa para sua monografia, dissertação e tese. Para os/as pesquisadores/as será uma ótima oportunidade para intensificar o diálogo com outros/as pesquisadores/as nacionais e internacionais. E espero que tenhamos um público expressivo, pois num seminário como este são discutidas questões que tem a ver com o futuro do nosso país.

A nudez consciente...

De topless, ucranianas lutam contra a exploração sexual e pelos direitos das mulheres


Ucranianas do Femen fazem topless em manifestação em Kiev contra promoção feita por rádio neozelandesa
Rodrigo Borges Delfim no Opera Mundi
 
 A emissora neozelandesa The Rock FM anunciou nesta semana a promoção "Ganhe uma esposa", cujo vencedor viajaria para a Ucrânia para "escolher" uma noiva através de uma agência que promove encontros. Em resposta, ativistas do grupo feminista ucraniano Femen protestaram em Kiev, capital do país, com slogans como "A Ucrânia não é Bordel" e fazendo o tradicional topless, que já virou uma marca registrada.

A promoção da rádio e a reação do Femen mostram como a fama de “point” do turismo sexual colou na Ucrânia e também o tamanho do desafio do movimento feminista em mudar essa imagem do país no exterior. A Ucrânia se consolidou como um destino turístico, com cerca de 20 milhões de visitantes por ano. Mas a atração principal para esse público está longe de trazer orgulho.

Já não bastasse o rótulo de prostitutas que mulheres de países do leste carregam na Europa, a ex-república soviética também ganhou a fama de ser uma das mecas do sexo pago no mundo, em especial na capital Kiev. O fato de 23% das prostitutas da Europa serem de origem ucraniana reforça o estereótipo.

A crise econômica vivida pelo país agrava o problema, já que muitas jovens enxergam na prostituição uma forma de ganhar muito dinheiro e ascender socialmente. Estima-se que 60% das universitárias ucranianas recorram à indústria do sexo para custearem os estudos.

Femen/Divulgação

Para as ativistas ucranianas, a nudez chama a atenção para a causa defendida nos protestos

É dentro desse contexto que estudantes da Universidade de Kiev fundaram em 2008 o Femen, um movimento que adotou um jeito polêmico e irreverente de protestar contra o turismo sexual e lutar pelos direitos das mulheres na Ucrânia e pelo mundo. A forma mais marcante de manifestação e que mais chama a atenção da mídia internacional é o topless.

"Criei este movimento porque compreendi que havia falta de ativistas femininas na nossa sociedade. A Ucrânia é uma sociedade dominada pelos homens e na qual as mulheres têm um papel passivo", disse Anna Hutsol, presidente do Femen.

Para as integrantes do Femen, a prostituição é uma forma de escravidão. Por isso, o grupo também se opõe a qualquer proposta de legalização da atividade no país e propõe a criminalização do ato da compra de sexo. Essa política já é adotada na Suécia e conhecida como “Modelo Nórdico”.

Uma das preocupações futuras do Femen é com 2012, ano no qual cidades da Ucrânia serão sedes da Eurocopa, ao lado da vizinha Polônia. A grande dimensão do evento e seu potencial turístico tendem a agravar o problema da prostituição no país.

As manifestações do Femen em prol dos direitos das mulheres na Ucrânia também incluem campanhas com slogans irreverentes e marcantes. Uma das mais famosas é "A Ucrânia Não é Bordel", que aborda o tema da prostituição. Outra iniciativa de destaque é a campanha "Não Seja uma Vagabunda - Não Venda Seu Voto", que visava a conscientização do público feminino para a última eleição presidencial, ocorrida no ano passado.

Efe

Já são mais de sete as manifestações organizadas pelo Femen em 2011

O grupo, aliás, também é crítico ferrenho do governo ucraniano, que vem restringindo a liberdade de expressão no país. Protestos em geral são proibidos – sobretudo contra a Rússia, maior aliada da atual gestão – e a mídia ucraniana recebe “recomendações” sobre o que pode e como deve ser veiculado.

Com a consolidação do futuro site, a organização pretende intensificar a mobilização promovida nas redes sociais – já engloba locais como o Facebook, MySpace, Twitter e Flickr. Hoje, o Femen conta com cerca de 300 ativistas que participam dos protestos. Mas quando somam o apoio que recebem via internet, a base de ativistas chega a 2,5 mil.

A princípio, o uso do topless como forma de manifestação pode parecer equivocada, sob risco de reforçar os estereótipos já existentes. Mas as integrantes pensam de forma bem diferente. “Nós começamos vestidas e ninguém reparava. Eu sou uma grande fã de tirarmos nossas roupas. É como conseguimos atenção da nossa plateia”, disse a militante e estudante de Economia Alexandra Shevchenko. “É tudo o que temos, nosso corpo. Nós não temos vergonha disso”, completou a estudante de jornalismo Inna.

Chavez sobre a Líbia....

Posição de Chavez sobre as questões que envolvem a Líbia. Ele percebe o cerne da problemática libia e deixa muito claro sua consequencia para a política internacional imperialista.