quarta-feira, 30 de abril de 2008

AMBIENTALISTA DIZ QUE COM ESSE SISTEMA ECONÔMICO O MUNDO ESTÁ A CAMINHO DO ABISMO

Luiz Carlos Azenha

WASHINGTON - Podem acrescentar o "ismo" que vocês quiserem. Na Venezuela dizem que é o socialismo do século 21. No Paraguai há tons de "cristianismo comunitário". Idéias díspares que pipocam aqui e ali, a busca de uma saída, a constatação de que do jeito que está não dá. É óbvio que reproduzir o sistema econômico existente - em que a "liberdade individual" foi promovida com o objetivo de tornar uma criança de seis anos uma consumidora integral - não tem futuro. Nem o sistema, nem a criança. Aliás, no Brasil o cãozinho de estimação é um consumidor voraz e mesmo que ele não peça o dono às vezes gasta mais com ele do que com a "criadagem".

É só extrapolar o que vivemos hoje nas grandes cidades brasileiras para o mundo como um todo. É só pensar no "direito" de cada chinês e indiano a ter um automóvel cada. É só casar esse objetivo com a escassez de energia. É só constatar do que é capaz o capitalismo desvairado: o Reino Unido exporta 20 toneladas de água engarrafada por ano para a Austrália e importa outras 20 toneladas. Fonte: New York Times. Quanto custa em termos de energia essa viagem maluca da água "comoditizada", como diz a Amyra?

Gus Speth, um ambientalista americano que é professor de Yale e criou dois grupos importantes de defesa do meio ambiente - o Natural Resources Defense Council e o World Resources Institute - escreveu o livro "The Bridge at the Edge of the World" em que basicamente diz que não tem jeito.

Ele escreve: "Metade das florestas tropicais e temperadas sumiram. Cerca de metade das wetlands também. Estima-se que 90% dos peixes predadores grandes sumiram. Vinte por cento dos corais também. As espécies estão desaparecendo em um ritmo mil vezes mais rápido que o normal. Químicos tóxicos persistentes podem ser encontrados às dúzias em cada um de nós."

Não li o livro, ainda. As resenhas dizem que ele propõe uma "mudança transformadora do próprio sistema." Speth afirma que o pragmatismo e o incrementalismo dos ecologistas não leva a lugar algum. Talvez ele tenha visto uma edição recente da National Geographic. Na capa, o perigo do aquecimento solar. Na contracapa, um anúncio do gigante SUV da Chevrolet que foi escolhido "carro verde do ano", uma banheira que queima 1 litro de gasolina a cada cinco quilômetros na cidade mas, se o dono achar uma bomba, pode ser abastecido com o álcool de milho.

O triste é notar que no Brasil, da extrema-direita à extrema-esquerda, com raríssimas exceções, essas idéias não fazem parte do discurso político. Não são articuladas. O desenvolvimentismo com dinheiro do BNDES é o que temos de mais avançado. É nossa idéia de "progresso". Progresso rumo a quê?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Soja no Paraná causa impactos sócio-ambientais


Reportagem: Paula Cassandra



Porto Alegre (RS) – A produção da soja no Paraná não está desvinculada da produção do resto do Brasil. Segue as técnicas do agronegócio, como a cultura extensiva, o uso intensivo de defensivos agrícolas, a preferência pelas sementes transgênicas e a sua revenda por grandes cooperativas para exportação.

O caso se agrava quando são encontradas plantações de soja transgênica em unidades de conservação, como no Parque Nacional do Iguaçu. O pesquisador da organização não-governamental Repórter Brasil, Aloísio Milani, explica que até 2006, existia uma lei que proibia o plantio de transgênicos em um limite de 10 quilômetros das unidades de conservação. Porém, a lei foi cancelada devido ao lobby dos fazendeiros.

“Foi uma medida provisória assinada pelo Presidente Lula para liberar a soja que eles mesmos já tinham plantado ali como crime ambiental. Essa discussão, hoje, é um embrolho jurídico, porque a medida provisória prevê que não pode ter plantio de transgênicos numa região ali de 500 metros do limite parque, mas desde que se esteja previsto no plano de manejo do parque e o plano de manejo do Parque Iguaçu não prevê o plantio de transgênicos na sua região fronteiriça”, diz.

Aloísio declara que hoje, são pelo menos dois fazendeiros que extrapolam os limites do Parque Nacional do Iguaçu. Um deles é o Presidente da Cooperativa Agroindustrial LAR. O outro é o proprietário do Moinho Rotta, que vende suas sementes para as multinacionais Bunge e Cargill.

As reservas indígenas também estão sofrendo com o impacto da monocultura de soja, afirma Aloísio. O plantio de soja transgênica ocorre próximo à aldeia de Kaigangs, em Laranjeiras do Sul e Boa Vista. Apesar do reconhecimento legal da área como reserva indígena, existe a produção da semente transgênica com uso intensivo de agrotóxico a menos de 100 metros da comunidade.

“Eles relatam situação de contaminação das águas, contaminação humana, das crianças e tudo o mais e eles sobrevivem lá sem a mínima possibilidade de subsistência. Sobrevivem com cestas básicas da Conab e com ajuda de algumas entidades também como o Cimi, o Conselho Indigenista Missionário e enfim, e vários silvicultores e pecuaristas em volta”, diz.

O Paraná é o segundo maior produtor de soja do Brasil e possui uma estrutura agrária antiga. Por esses motivos, serve de modelo para se ter uma idéia de como outros estados podem sofrer com os impactos da monocultura de soja, como o Mato Grosso. Aloísio também destaca a concentração de terras no Paraná. No Estado, diminuiu consideravelmente o número de fazendas. Os poucos proprietários que existem são donos de grandes plantações da soja.


Almôndegas - Gaudêncio Sete Luas (1977)




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A natureza não é muda


AgenciaCartaMaior

O Equador está discutindo uma nova Constituição. Entre as propostas, abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história, os direitos da natureza. Parece loucura querer que a natureza tenha direitos. Em compensação, parece normal que as grandes empresas dos EUA desfrutem de direitos humanos, conforme foi aprovado pela Suprema Corte, em 1886.

O mundo pinta naturezas mortas, sucumbem os bosques naturais, derretem os pólos, o ar torna-se irrespirável e a água imprestável, plastificam-se as flores e a comida, e o céu e a terra ficam completamente loucos.

E, enquanto tudo isto acontece, um país latino-americano, o Equador, está discutindo uma nova Constituição. E nessa Constituição abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história universal, os direitos da natureza.

A natureza tem muito a dizer, e já vai sendo hora de que nós, seus filhos, paremos de nos fingir de surdos. E talvez até Deus escute o chamado que soa saindo deste país andino, e acrescente o décimo primeiro mandamento, que ele esqueceu nas instruções que nos deu lá do monte Sinai: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".

Um objeto que quer ser sujeito
Durante milhares de anos, quase todo o mundo teve direito de não ter direitos.

Nos fatos, não são poucos os que continuam sem direitos, mas pelo menos se reconhece, agora, o direito a tê-los; e isso é bastante mais do que um gesto de caridade dos senhores do mundo para consolo dos seus servos.

E a natureza? De certo modo, pode-se dizer que os direitos humanos abrangem a natureza, porque ela não é um cartão postal para ser olhado desde fora; mas bem sabe a natureza que até as melhores leis humanas tratam-na como objeto de propriedade, e nunca como sujeito de direito.

Reduzida a uma mera fonte de recursos naturais e bons negócios, ela pode ser legalmente maltratada, e até exterminada, sem que suas queixas sejam escutadas e sem que as normas jurídicas impeçam a impunidade dos criminosos. No máximo, no melhor dos casos, são as vítimas humanas que podem exigir uma indenização mais ou menos simbólica, e isso sempre depois que o mal já foi feito, mas as leis não evitam nem detêm os atentados contra a terra, a água ou o ar.

Parece estranho, não é? Isto de que a natureza tenha direitos... Uma loucura. Como se a natureza fosse pessoa! Em compensação, parece muito normal que as grandes empresas dos Estados Unidos desfrutem de direitos humanos. Em 1886, a Suprema Corte dos Estados Unidos, modelo da justiça universal, estendeu os direitos humanos às corporações privadas. A lei reconheceu para elas os mesmos direitos das pessoas: direito à vida, à livre expressão, à privacidade e a todo o resto, como se as empresas respirassem. Mais de 120 anos já se passaram e assim continua sendo. Ninguém fica estranhado com isso.

Gritos e sussurros
Nada há de estranho, nem de anormal, o projeto que quer incorporar os direitos da natureza à nova Constituição do Equador.

Este país sofreu numerosas devastações ao longo da sua história. Para citar apenas um exemplo, durante mais de um quarto de século, até 1992, a empresa petroleira Texaco vomitou impunemente 18 bilhões de galões de veneno sobre terras, rios e pessoas. Uma vez cumprida esta obra de beneficência na Amazônia equatoriana, a empresa nascida no Texas celebrou seu casamento com a Standard Oil. Nessa época, a Standard Oil, de Rockefeller, havia passado a se chamar Chevron e era dirigida por Condoleezza Rice. Depois, um oleoduto transportou Condoleezza até a Casa Branca, enquanto a família Chevron-Texaco continuava contaminando o mundo.

Mas as feridas abertas no corpo do Equador pela Texaco e outras empresas não são a única fonte de inspiração desta grande novidade jurídica que se tenta levar adiante. Além disso, e não é o menos importante, a reivindicação da natureza faz parte de um processo de recuperação das mais antigas tradições do Equador e de toda a América. Visa a que o Estado reconheça e garanta o direito de manter e regenerar os ciclos vitais naturais, e não é por acaso que a Assembléia Constituinte começou por identificar seus objetivos de renascimento nacional com o ideal de vida do sumak kausai. Isso significa, em língua quechua, vida harmoniosa: harmonia entre nós e harmonia com a natureza, que nos gera, nos alimenta e nos abriga e que tem vida própria, e valores próprios, para além de nós.

Essas tradições continuam miraculosamente vivas, apesar da pesada herança do racismo, que no Equador, como em toda a América, continua mutilando a realidade e a memória. E não são patrimônio apenas da sua numerosa população indígena, que soube perpetuá-las ao longo de cinco séculos de proibição e desprezo. Pertencem a todo o país, e ao mundo inteiro, estas vozes do passado que ajudam a adivinhar outro futuro possível.

Desde que a espada e a cruz desembarcaram em terras americanas, a conquista européia castigou a adoração da natureza, que era pecado de idolatria, com penas de açoite, forca ou fogo. A comunhão entre a natureza e o povo, costume pagão, foi abolida em nome de Deus e depois em nome da civilização. Em toda a América, e no mundo, continuamos pagando as conseqüências desse divorcio obrigatório.

Publicado originalmente no semanário Brecha, do Uruguai.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

O bushismo depois de George W. Bush


Os três pré-candidatos que disputam a indicação do seu partido para a eleição presidencial de novembro, nos Estados Unidos, têm pelo menos um ponto em comum: eles prometem se empenhar no sentido de mudar as relações do seu país com o restante do mundo. Se forem verdadeiras as afirmações tanto de John McCain, que já tem garantida a candidatura republicana, quanto de Barack Obama e Hillary Clinton, que seguem disputando entre si a candidatura democrata, o futuro presidente, quem quer que ele seja, estará empenhado em virar a página da era Bush.


Por Patrick Jarreau, para o Le Monde, reproduzido do Universo On Line.



Mas, será que está promessa se confirmará para valer? É difícil fazer tal previsão. No caso de John McCain, um herdeiro reticente da presidência que está se encerrando, a continuidade prevalece em relação à ruptura.


Vale reconhecer que desde 2001, o senador do Arizona tem sido um dos parlamentares republicanos mais críticos das ações de George W. Bush e da sua equipe, só que, ainda assim, ele nunca mostrou qualquer discordância em relação às decisões mais importantes que foram tomadas por este, e principalmente com a invasão do Iraque.


Na realidade, a atitude do antigo rival de George W. Bush para a candidatura republicana foi a de um membro do mesmo partido, que, se estivesse no seu lugar, teria conduzido a mesma política, mas empregando outros métodos e montando uma equipe diferente.

Por ocasião da eleição primária de 2000, McCain havia despontado como o candidato predileto dos neoconservadores, que só passaram a apoiar Bush quando este se tornou o candidato republicano, e só chegaram verdadeiramente a exercer uma influência sobre a sua política apenas depois dos atentados de 11 de setembro.


A respeito do Iraque, o senador do Arizona compartilhou as queixas dos neoconservadores, criticando o então secretário da defesa, Donald Rumsfeld, por este não ter empenhado força suficiente nesta guerra. Foram necessários mais de três anos de fracassos no terreno e inúmeras batalhas internas no campo republicano para que o presidente Bush concordasse em demitir Rumsfeld, em novembro de 2006, e para que McCain, junto com os seus aliados, conseguisse impor uma nova estratégia, conhecida como a do "surge", o envio maciço de reforços.


Atualmente, John McCain afirma a sua candidatura à presidência está associada ao sucesso desta estratégia. O senador do Arizona exclui toda retirada do Iraque, a qual seria, segundo ele, uma iniciativa irresponsável, pois ela equivaleria a deixar este país entregue a "uma violência aterradora, um processo de limpeza étnica e, possivelmente, um genocídio".


Ele avalia que os Estados Unidos estão fadados a permanecerem por muito tempo no país — "cem anos", disparou o senador, no estilo provocador que ele gosta de adotar —, da mesma forma que eles permaneceram na Alemanha e no Japão depois da Segunda Guerra Mundial. Em sua opinião, assim como aos olhos de Bush, o Iraque permanece no "front central" na luta contra o "extremismo islâmico", um conflito no qual ele enxerga o "desafio essencial do nosso tempo".


Um antigo prisioneiro de guerra, que foi torturado em Hanói (após ter participado, sem nunca ter mostrado qualquer espécie de conflito de consciência a esse respeito, dos bombardeios contra o Vietnã do Norte), ele se insurgiu contra os maus-tratos que estavam sendo infligidos aos prisioneiros dos americanos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, em 2004.


Ele tomou posição contra toda forma de tortura durante os interrogatórios conduzidos pela CIA (Central de Inteligência Americana), embora, de maneira pouco gloriosa, ele tivesse recorrido a subterfúgios espertos, por ocasião das suas últimas participações nas votações do Senado, com o objetivo de não perder o voto dos eleitores republicanos mais à direita.


Ele prometeu fechar a prisão de Guantânamo. Ele também busca marcar as suas diferenças em relação à presidência Bush quando anuncia, tal como os democratas, um engajamento claro dos Estados Unidos na luta contra o aquecimento climático.


De maneira geral, embora a paciência não seja a qualidade que os seus simpatizantes e os observadores lhe atribuem com maior freqüência, John McCain tem declarado abertamente a sua vontade de ouvir com maior atenção os aliados dos Estados Unidos.


Contudo, a sua posição para como o Irã é a da confrontação. Os seus detratores vêm compartilhando com medo, na Internet, o vídeo de uma reunião de eleitores durante a qual ele brincou de cantarolar "Bomb, bomb, bomb Iran!" ("Vamos bombardear o Irã!") com a melodia de "Barbara Ann", dos Beach Boys, um sucesso pop dos anos 1960.


Em relação ao Iraque, os candidatos democratas adotaram uma posição que se opõe frontalmente àquela de McCain. Eles não acreditam nem por um instante sequer que a América possa fazer deste país uma Alemanha ou um Japão do Oriente Médio.


Em sua opinião, a retirada das tropas americanas é necessária não apenas para o bem dos soldados, das forças armadas e do orçamento federal, como também para obrigar as facções iraquianas a se entenderem entre si e a assumirem o controle da administração do seu Estado.


Quando eles anunciam que darão início à retirada logo nos primeiros dias da sua eventual presidência, em janeiro de 2009, Hillary Clinton e Barack Obama estão informando na mesma ocasião ao primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, e ao seu governo que eles precisam se preparar para prosseguirem sem a ajuda das tropas americanas.


Proximidade com o Terceiro Mundo


Em relação ao Irã, os democratas e o republicano defendem opções tão divergentes quanto esta última. John McCain encampa a idéia segundo a qual os países que estiverem decididos a enfrentar Teerã precisam entrar em acordo em torno de uma política comum de sanções realmente capazes de prejudicar os interesses deste país, mesmo que para tanto seja preciso agir fora do quadro da ONU se necessário.


Os seus concorrentes, por sua vez, defendem o princípio da condução de discussões com os dirigentes iranianos. Entretanto, apenas Barack Obama vai mais longe ao comentar a perspectiva de empreender aquilo que um antigo conselheiro da presidência, Flynt Leverett, chamou de um "grande regateio".


Como resultado desta ambiciosa negociação, o Irã cessaria de progredir no caminho do armamento nuclear em troca da sua reintegração completa nas relações diplomáticas e econômicas internacionais e do reconhecimento dos seus interesses na qualidade de grande potência regional.


O senador do Illinois se disse disposto, caso ele for eleito presidente, a se reunir com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, para dar início a uma negociação de conjunto.


Barack Obama apresenta-se como um reformador da política externa americana. Valendo-se, sobretudo, da mistura racial que predomina nas suas origens familiares — pai queniano, mãe americana — e da sua proximidade com o Terceiro Mundo, ele esboça uma América mais bem orientada em relação aos países pobres e aos povos que mais andaram amargando dificuldades nos rumos que o mundo vem seguindo.


Inversamente, Hillary Clinton, valendo-se da sua experiência nas relações internacionais, acumulada junto ao seu marido, Bill Clinton, e depois como senadora, tenta se apresentar como mais realista, mas também como uma dirigente mais clássica.


Os dois pré-candidatos se comprometem a fazer uma prioridade da busca de um acordo de paz duradouro na Palestina. Os defensores da política israelense têm se mostrado mais preocupados, a este respeito, com eventuais iniciativas que poderia tomar Barack Obama, do que com aquelas que podem ser esperadas de Hillary Clinton.


Alguns dentre eles vêm conduzindo, contra o senador do Illinois, uma campanha venenosa, criticando-o por contar entre os seus conselheiros Zbigniew Brzezinski, que fora um colaborador, 30 anos atrás, do presidente Jimmy Carter.


É verdade que os princípios que Carter defendia, na época do acordo de paz egípcio-israelense, se tornaram heréticos aos olhos de uma grande parte do establishment da política externa de Washington.


UOL


Bach - Well tempered clavier - Glenn Gould

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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Eugênio Neves

A mídia do centro do país, finalmente, começa a romper o silêncio em torno do escândalo político desencadeado pela Operação Rodin. Dois colunistas comentaram o caso neste final de semana. Lucia Hippolito, da CBN/Globo, publicou um post em seu blog, afirmando que “Yeda está na linha de tiro”. Ela fala do encontro do secretário de Planejamento, Ariosto Culau, com Lair Fesrt (que provocou a queda do secretário na noite de domingo) e sobre as denúncias feitas pelo delegado Luiz Fernando Tubino em torno da casa comprada pela governadora Yeda Crusius (PSDB), no final de 2006:

“O delegado Luiz Fernando Tubino, ex-chefe da Polícia Civil gaúcha, afirmou que Lair Ferst teria dado R$ 400 mil para ajudar a governadora Yeda Crusius a comprar uma casa no bairro Vila Jardim. Segundo o delegado, a Operação Rodin, da PF, teria identificado o cheque. Não apresentou provas, mas a palavra de um ex-chefe da Polícia Civil, pronunciada diante de uma CPI, vale muito”.

O comentário de Hippolito foi publicado também no blog de Ricardo Noblat (O Globo), com o seguinte título: “Chapa esquenta para governadora do Rio Grande do Sul”.

A polêmica em torno da nova casa de Yeda também foi tema de matéria, sábado, na Folha de São Paulo (“Delegado diz que sobra de campanha pagou casa da governadora do RS”). O silêncio em torno do assunto transferiu-se agora para a mídia gaúcha que, até aqui, não quer saber de repercutir a denúncia.

créditos:

O ódio à velhice


Cynara Menezes

Agora que estou grávida, faço hidroginástica, atividade física apelidada por uma amiga de “natação geriátrica”. E é verdade. Minhas colegas de piscina são todas velhinhas. Adoro velhos, crianças e adolescentes, também. Confesso ter maior dificuldade de relacionamento com os adultos. Parece que a idade adulta é a idade da dissimulação. Velhos, crianças e adolescentes são sinceros por natureza. É muito mais fácil lidar com gente que não esconde o que pensa, ainda que não seja agradável ouvir.

No vestiário, as velhinhas me contam de suas doenças. Uma diz que se submeteu a uma cirurgia moderna, que lhe deixou cinco furinhos nas costas: “Bem aqui, ó”, exibe. Não dá para ver nada... Acho graça. Ela me conta que o tal procedimento ultra-sofisticado custou a bagatela de 170 mil reais! Fico pensando: se fosse pobre, estaria morta, coitada. Outra senhora se queixa de que não gosta de ser idosa, e me espanta saber o porquê. “Velho sofre muito preconceito, ninguém gosta de velho.”

Que horror. Chegamos a uma época de desprezo absoluto à velhice, condição inexorável do ser humano – bem, ou é isso ou morrer. Ficar velho não é mais tornar-se um sábio, mas um enjeitado. Talvez esteja na repulsa ao envelhecimento a raiz de tanta superficialidade no mundo, de tanto querer seguir jovem à custa de cirurgias plásticas patéticas em vez de se preocupar em aprimorar o espírito. Cuidar da mente, evoluir como ser humano, e, claro, conservar a alma sempre jovem. Isso é saber envelhecer bem. E reflete no lado de fora.

Alguém se engana mesmo com uma mulher que injetou não-sei-o-quê na boca para rejuvenescer? Ela parece de fato mais moça ou apenas feiosa? Ladies, preocupar-se com as rugas causa rugas! Não sou uma radical do “deixa cair”, nada disso. Não vejo mal algum em pintar os cabelos, passar uns creminhos para hidratar a pele (o creme compensa!), fazer exercícios para manter a forma. Mas há um exagero evidente nesta busca pela juventude eterna. Me incomoda essa multidão de seres espichados, de faces sem movimento, como um exército de clones assustadores a desfilar pelos calçadões da vida, sem idade ou identidade.

Como será no futuro quando os netinhos falarem de suas vovozinhas? “Ah, vovó é tão linda, com aqueles olhos puxados de chinesa! E os beijos que ela me dá, com aquela boca de Pato Donald, toda inchada? Adoro cada cicatriz naquele corpinho dela!” Observo a carne vincada, as dobras, os braços flácidos, as marcas que o tempo deixou no corpo de minhas colegas de hidroginástica e sinto saudade, já, da pele macia de vovó, tão longe de mim no final da vida. Aos 86, sua pele é enrugada, sim, como um dia também eu naturalmente serei. Mas suave ao toque, como a de um bebê.

Reparo que não se usa mais falar “morreu de velhice”, “de causas naturais”. Será que também aí não estaria embutido o preconceito? Diz-se que uma atriz, aos 90 e tantos anos, morreu de falência múltipla dos órgãos. Alguém me explica que é porque a ciência avançou e hoje em dia se sabe que as pessoas não morrem de causas naturais, mas por alguma razão específica. Ganha-se em informação, perde-se em poesia. Num mundo como o que vivemos, morrer de velhice deveria ser considerado um luxo.

Cynara Menezes

La Dolce Vita

créditos: CartaCapital




O Sangue de um Poeta

O Sangue de um Poeta
(Le Sang d'un Poète)

Extremamente pessoal e repleto de imagens irreais, o filme reflete sobre o mundo interior de um poeta, seus medos, obsessões e sua preocupação com a morte, compostas em quatro seqüências atemporais e ilógicas. Primeiro filme de Cocteau, cineasta que se destacou com uma linguagem própria, mesclando poesia e realidade. Jean Cocteau, que ganhou reputação na década de 20 como "Gênio Louco", fez seu debute como escritor, diretor, roteirista e narrador nesta fantasmagórica obra-prima. Como um artista salpicando tinta na tela, Cocteau criou uma colagem de alegorias magnetizantes e imagens plenas de simbolismo visual e efeitos abstratos.

Fonte


Créditos: Makingoff - Willans
Gênero:
Fantasia / Drama
Diretor: Jean Cocteau
Duração: 50 minutos
Ano de Lançamento: 1930
País de Origem: França
Idioma do Áudio: Francês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0021331/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1740 Kbps
Áudio Codec: AC3
Áudio Bitrate: 192
Resolução: 640 x 480
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 701 Mb
Legendas: Em anexo


Elenco

Enrique Rivero ... Poet
Elizabeth Lee Miller ... Statue
Pauline Carton
Odette Talazac
Jean Desbordes ... Louis XV Friend
Fernand Dichamps
Lucien Jager
Féral Benga ... Black Angel
Barbette

curiosidades

- "O Sangue de um Poeta" não é um filme comum. Cocteau considerava o filme como expressionista, enquanto que uma parte significativa da crítica o vê como um trabalho surrealista (embora André Breton, um dos nomes fortes do Surrealismo, tenha feito várias críticas ao longa). Um fato é que, rótulos à parte, se ainda hoje estamos diante de um filme que permanece para além dos padrões mais comuns do cinema, fica a questão: como deve ter sido recepção da obra na época do seu lançamento?

- Jean Cocteau foi um dos mais talentosos artistas do século XX, tendo sido diretor, poeta, romancista, pintor, roteirista, dramaturgo, escultor, cenógrafo e ator. Em concordância com isto, "O Sangue de um Poeta" pode ser visto, de certo modo, como um trabalho biográfico, uma vez que lança luzes sobre eventos que tiveram lugar na vida do artista francês, sobre sua mitologia pessoal no mundo da imaginação, bem como sobre personagens que o influenciaram de uma maneira mais significativa.

- "O Sangue de um Poeta" é a primeira parte da chamada "Trilogia de Orfeu". Os outros filmes são "Orfeu" (1950) e "O Testamento de Orfeu" (1960).

- Créditos da legenda para o pessoal do Movimento Cinema Livre, lá do opensubtitles. Dei uma revisada geral na legenda, corrigindo o timing de umas linhas e refinando a tradução de outras. Confiram aí.

crítica

O Sangue de um Poeta


Le sang d'un poète (1930) é a afirmação do realismo mágico. Não estamos perante um filme surrealista - aliás, Breton criticou-o sempre. Por aí passa uma novela de Poe (o pintor e o modelo), a pintura metafísica de de Chirico, um quadro célebre de van Gogh, os fuzilamentos de Goya e Manet, as jovens de Balthus e as bailarinas de Degas, a arte cinética e a hipnose, o dadaísmo e o suicídio, as cartas do destino (da moira), o segredo da esfinge e os anjos negros, os anjos da melancolia, as figuras do renascimento, o re-encontro com a tragédia grega, onde confluem passado, presente e futuro, e, especificamente, a matriz que o cinema de Duras há-de levar ao limite do dizível. Mas, qual é, então, o sangue do poeta? As imagens do início e as imagens do fim dão a resposta: a melancolia. Melhor: o sonho e a melancolia. Ou o ideal e o real.

Fonte

Dowloads abaixo:
Arquivo anexado Le_Sang_d__un_Poete__1930__DVDRip_by_Willams_megalilo.rar legendas
Arquivo anexado Le_Sang_d__un_Poete__1930_.torrent filme



Chick Corea


Chick Corea - The Best Of

1. Straight Up And Down
2. Tones For Joan's Bones
3. Matrix
4. My One And Only Love
5. Windows
6. Samba Yantra
7. Pannonica
8. Now He Sings,Now he Sobs
9. Toy Room
10. Blues Connotation
11. Nefertiti

Créditos: TrabalhoMental


domingo, 27 de abril de 2008

a midia de ESGOTO ataca de novo...

Diogo Mainardi encampa discurso neo-racista brasileiro


Com ataques cuidadosamente dosados contra a política de cotas universitárias implantadas no Brasil - que está sob julgamento no Supremo Tribunal Federal -, e, na verdade, querendo atingir todas as lutas do negro brasileiro, o colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, encampou de vez o discurso neo-racista brasileiro.



por Ismar C. de Souza*
para a Adital


"O negro que lute
pra poder sonhar
em mudar isso aqui,
o poder tem tantas mãos
e só sabe mentir"
(Djavan, "Soweto")

Com ataques cuidadosamente dosados contra a política de cotas universitárias implantadas no Brasil - que está sob julgamento no Supremo Tribunal Federal -, e, na verdade, querendo atingir todas as lutas do negro brasileiro, o colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, encampou de vez o discurso neo-racista brasileiro. "É uma chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras", afirma ele em "O quilombo do mundo" (edição 2057, 23/04/2008).


Mainardi se soma a outros jornalistas da Veja (impressa e on line) e a demais pessoas que recebem espaço na maior revista de circulação nacional para mover um combate sem tréguas à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, à política de cotas universitárias, à figura de Zumbi dos Palmares, ao Dia da Consciência Negra e, enfim, à causa da reparação das injustiças cometidas contra a comunidade negra ao longo da História brasileira.


Entremeando afirmações tendenciosas e citações do livro "Não Somos Racistas" (acredite quem quiser...) do guru do combate ao movimento negro brasileiro, o diretor de Jornalismo da Rede Globo Ali Kamel, Mainardi se mostra ainda mais parcial quando tenta apoiar sua tortuosa racionália numa frase do senador de ascendência africana Barak Obama: "Se olharem minhas filhas, Malia e Sasha, e disserem que elas estão numa situação bastante confortável, então (raça) não deveria ser um fator. Por outro lado, se houver um jovem branco que trabalhe, que se esforce, e que tenha superado grandes dificuldades, isso é algo que deveria ser levado em consideração".


Tratou-se de um comentário superficial e meio confuso, proferido durante um debate eleitoral. A conclusão de que Obama "quebrou um tabu e defendeu abertamente o fim das cotas raciais" é uma óbvia forçação de barra. Mainardi subestima a inteligência dos seus leitores.


Agora vejamos o que a Veja, preconceituosamente, em sua página de internet, via outro jornalista da turma do Mainardi (Reinaldo Azevedo, postado em www.veja.com.br/reinaldo, no dia 07/01/2008, 15h:51), opinou sobre o mesmo senador e candidato a candidato do Partido Democrata: "Que diabo se passa com o Partido Democrata americano, que tem como favoritos uma mulher e um negro com sobrenome islâmico e nenhum homem branco para enfrentá-los? (...) Para bom entendedor: tomo o par "homem branco" como apelo simbólico à tradição e à conservação de um modelo que, inegavelmente, deu certo e fez a maior, mais importante e mais rica democracia do mundo, que venceu, por exemplo, o embate civilizatório com o comunismo".


Como esse preconceito mal dissimulado ofende a qualquer ser humano digno desse nome, só restou à tropa de elite da Veja buscar o apoio da trupe dos conservadores raivosos, dos reacionários empedernidos e de alguns parlamentares influenciáveis que estão tentando barrar a implantação do Estatuto da Igualdade Racial.


Políticas de incentivo à integração do negro


Foi apenas em junho de 1998 que o Brasil empossou seu primeiro ministro de Estado negro, o mineiro Carlos Alberto Reis de Paula. Num país de aproximadamente 183 milhões de habitantes, com 11,5 milhões (6,3%) de negros, isto comprova que o Brasil é sim, um país racista, ainda que de uma forma dissimulada.


O certo é que só recentemente o problema da integração e participação digna do negro na sociedade passou a ter visibilidade nacional como política de Estado. E já produziu efeitos, pois agora são cinco os negros que participam como ministros do Governo Federal. Antes, só entravam como empregados subalternos.


Os interesses e idiossincrasias de nossa elite conservadora produziram convicções escravocratas que se tornaram estereótipos, ultrapassando os limites do simbólico e incidindo sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão dos negros na escala social, por menor que seja, sempre deu lugar a manifestações veladas ou ostensivas de ressentimentos.


Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por muito tempo, treinada para desdenhar e, mesmo, não tolerar a inconformidade, vista como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolheu a discriminação ou preconceito.


Cotas raciais nos EUA e no Brasil


A campanha pelos direitos civis nos Estados Unidos, que ganhou notoriedade internacional com a marcha de quase meio milhão de pessoas até Washington em 1963, foi o embrião da política oficial de cotas raciais, implementada a partir de 1970.


Em 1965, quando foi assinada a lei permitindo o voto e a eleição de negros nos EUA, a esmagadora maioria era pobre; assim, na primeira eleição, pouco mais de uma centena deles conquistou mandatos públicos. Hoje são mais de 8 mil.


Primeiro país a implantar o sistema de cotas, os EUA contam (abril/2008) com uma candidata negra, Cynthia Mckinney, candidata pelo Green Party (Partido Verde estadunidense) à presidência da república e com Obama tendo grande chance de se tornar o postulante do Partido Democrata.


Se lá, como aqui, o sistema de cotas possui falhas e não resolveu todos os problemas raciais da nação, com certeza motivou um grande debate nacional e alavancou uma melhor participação dos negros em sua sociedade, tanto que estes já têm presença marcante na classe média, ao contrário do Brasil.


O reacionário Mainardi, contra tudo e contra todos


Na contramão dos grandes pesquisadores e educadores brasileiros, o colunista da Veja chegou ao cúmulo de propor que o Brasil siga o exemplo dos EUA, extinguindo totalmente a gratuidade no ensino superior: "Se é para macaquear os Estados Unidos, temos de macaqueá-los por inteiro. A universidade pública americana cobra mensalidade dos alunos. Quem pode pagar, paga. Os outros se arranjam com bolsas, empréstimos ou bicos".


Como se fosse possível equiparar dois países em estágios de desenvolvimento econômico tão diferentes! E como se os estudantes daqui tivessem a mesma facilidade em levantar recursos por meio de "bolsas, empréstimos ou bicos"!


Bem se vê que Mainardi, habitando ou não no Brasil, estará sempre a anos-luz de distância de nossa sofrida realidade... o que não o impede de tentar, arrogantemente, ensinar a nós, nativos, como devemos viver, segundo o figurino da metrópole.


A violência policial e o silêncio cúmplice dos neo-racistas


Negros de qualquer classe social, no Brasil, são tratados da forma mais preconceituosa e arbitrária pelas autoridades policiais - vide o caso do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, assassinado em 2004 na zona norte paulistana apenas por suspeitarem que tivesse roubado o luxuoso carro que dirigia.


É nas estatísticas da violência policial contra os negros que as contradições da sociedade brasileira se mostram mais agudas, como se depreende, p. ex., de uma pesquisa que o Datafolha realizou em 1997 na cidade de São Paulo:
- a escolaridade e condição financeira têm pouca influência sobre a freqüência e incidência das revistas policiais e da violência praticada pela polícia;
- entre os da raça negra, quase metade (48%) já foi revistada alguma vez. Desses, 21% já foram ofendidos verbalmente e 14%, agredidos fisicamente por policiais;
- os pardos superam os negros em ofensas: 27% deles foram ofendidos verbalmente e 12% agredidos fisicamente. Ao todo, 46% já foram revistados alguma vez;
- a população branca é menos visada pela polícia. Entre estes, 34% já passaram por uma revista, 17% ouviram ofensas e 6% já foram agredidos, menos da metade da incidência entre negros.


Sobre a violência seletiva aplicada em muito maior escala e intensidade contra a população negra pelas polícias estaduais, os neo-racistas se calam, não escrevendo uma palavra sequer. Tais fatos não entram nas elocubrações deles, as vidas ou direitos destas pessoas não lhes interessam, pois na verdade não têm o que dizer sobre este assunto. Nem mesmo o guru Ali Kamel, que parece ter fixação por estatísticas, encontrou justificativa para estas.


Final rancoroso e melancólico

Como já fizera no título, Mainardi termina seu artigo dando uma conotação pejorativa à palavra quilombo: "O Brasil se refugiou no passado. O Brasil é o quilombo do mundo".


Quilombo, segundo o dicionário Aurélio, é "estado de tipo africano formado, nos sertões brasileiros, por escravos fugidos". Para nós, quilombo simboliza toda uma luta por liberdade e justiça. Ademais, como em alguns quilombos também viviam índios e brancos simpatizantes, pode ter sido o primeiro lugar no Brasil onde pessoas de raças diferentes conviveram harmoniosamente.


Destruidor de quilombos foi o bandeirante Domingos Jorge Velho, matador de negros do século XVII, até hoje relacionado entre os maiores assassinos de nossa História. Seus seguidores, como Mainardi, Reinaldo de Azevedo e Ali Kamel, atiram-se com o mesmo furor homicida contra a imagem dos quilombos. Só que, em vez de apertar gatilhos, comprimem teclas.


Não percebem, entretanto, que jamais conseguirão deletar as páginas de heroísmo escritas pelos negros, nem sua possibilidade de obterem agora o que lhes foi negado durante séculos.


Mas estão deletando a si próprios da civilização, eles sim refugiados num passado vergonhoso: aquele em que os preconceitos raciais ainda podiam ser expressos impunemente. Hoje, pelo contrário, só despertam perplexidade, indignação e asco.

*articulista freelancer


Fonte: Adital

Collage do Mar Vermelho
Breve composição sobre a dor palestina.


Por Tali Feld Gleiser.

I. SOBRE AS ELEIÇÔES DEMOCRÁTICAS NOS TERRITÓRIOS OCUPADOS EM 2006

O Sócio

A administração Bush promove na Palestina seu concepção de democracia. Inquieto ante a popularidade de Hamás, o governo estadunidense decidiu subvencionar Al Fatah para ajudá-lo a ganhar as eleições legislativas.

Os instrumentos do Sócio

A USAID, principal agência «humanitária» estadunidense, financiou a campanha de Al Fatah com dois milhões de dólares,

«Não apoiamos nenhum partido. Mas não respaldamos os partidos que aparecem na lista terrorista. Estamos aqui para garantir o processo democrático», assegura James A. Bever, diretor da USAID na Cisjordânia e na faixa de Gaza.

A democracia só é tal quando ganham eles

A vitória do grupo radical islâmico Hamás nas eleições legislativas palestinas (Hamás obteve 76 cadeiras, de um total de 132 frente aos 43 de Al Fatah) –certificada oficialmente pela Comissão Eleitoral- desatou um terremoto político de imprevisíveis conseqüências. O grupo armado também se manifestou disposto a acolher Al Fatah em seu futuro governo, mas os máximos dirigentes desta agrupação rejeitaram a oferta e garantiram que, desde agora, passariam à oposição.

Opinião do poodle de Bush

O ex-primeiro ministro britânico, Tony Blair, "reconheceu o mandato recebido por Hamás”, mas disse que “eles tinham que entender também que era o momento de escolher entre a via violenta e a democrática”.

Para a terrorista Rice o vitorioso Hamás é “terrorista”

Condoleezza Rice deixou claro que seu país "não vai fazer nenhuma mudança" em sua política antiterrorista em relação a esse grupo. Rice enviou por telefone sua felicitação ao presidente palestino Abu Mazen pelo que considerou como "um processo eleitoral sem problemas, pacífico e com muita participação. Os palestinos votaram em favor de uma mudança. Estas aspirações só podem ser realizadas se se renunciar à violência e se admite a Israel o direito de existir ".

Opinião de um diplomático

Hamás, como o FPLP e o FLP, está considerada como uma organização terrorista, embora no tenha apresentado nenhum candidato vinculado com atos terroristas. Hamás conseguiu votos que apóiam seu programa de islamismo social, e também de rejeição a Fatah. Muitos o votaram com esperança de que com Hamás as coisas melhorem. A oposição à ocupação foi muito importante eleitoralmente. Ainda, a vitória de Hamás leva implícita a rejeição aos Acordos de Oslo. José María Ferré.

A democracia tem que ir presa

O Exército israelense prendeu 87 militantes palestinos de Hamás, entre eles 10 ministros e 20 deputados e 23 ativistas da Yihad Islâmica.

O ministro israelense de Segurança Interior, Roni Baron os considerou suspeitos "de ter participado em atividades terroristas contra Israel".

O servil Abbas ilegaliza (que será lei para um servo?) Abbas ilegalizou Hamás e formou o novo Governo de emergência na Cisjordânia e “considerou a Força Executiva e todas suas milícias como ilegais", e as responsabiliza de um "golpe militar contra a legitimidade palestina e suas instituições".

A “visita” a Beit Hanoun

Os israelenses dizem que é uma ofensiva para impedir que se introduzam armas desde o Egito. Não es verdad. No puede entrar nada. En Gaza no hay mais que unos fusiles que son inútiles contra os Apaches e os carros Merkava do ejército israelí. Las armas de guerra que han entrado en Gaza son las que Estados Unidos entregó a Dahlan, que es o hombre de Abu Mazen, o hombre mais temido de Gaza. Es o cabecilla de las fuerzas que desde hace meses provocan disturbios para derrocar o governo de Hamás.

II. ISRAEL CONTINUA A ATACAR

A morte não usa ambulância

Em 19 de fevereiro de 2008, as ambulâncias da Faixa de Gaza ficaram sem combustível para circular devido ao bloqueio de Israel sobre a zona, que inclui a redução dos fornecimentos. O serviço de ambulâncias e de urgências do Ministério de Sanidade palestino organizou uma 'sentada' como forma de protesto.

Um passo à sobrevivência

Dezenas de milhares de palestinos da Faixa de Gaza começaram a atravessar a fronteira em direção ao Egito pelo passo de Rafah, ao sul do território palestino, a procura de comida e medicamentos ante o bloqueio de Israel.

Os foguetes do IV Reich

A Abu Bilal al-Yaabir não pesaria tanto a perda de sua casa como a do filho que morreu em fevereiro quando um helicóptero israelense o abateu com um míssil não muito longe de seu domicílio em Beit Lahiya, ao norte de Gaza.

Abu Bilal, sua esposa e dois de seus filhos casados, que vivem no mesmo prédio de três andares com sete netos, não abandonaram a flamante casa que terminaram de construir faz dois anos. Sem perder tempo, todos os membros da família chamaram os vizinhos e cinco minutos depois o terraço estava cheio de centenas de pessoas convertidas em escudos humanos e dispostas a sacrificarem suas vidas se fosse necessário.

Os ladrões de Sion

Com a desculpa de combater Hamás, as tropas israelenses e os agentes do Shin Bet, a tristemente célebre agência de segurança interna israelense, assaltaram e arrasaram organizações benéficas, orfanatos, internados e entidades a eles afiliadas.

Mordechai Vanunu será negado mil vezes

O Coronel Warner D. Farr sostiene que Israel hoy posee cerca de 400 bombas nucleares.

Reunião de funcionários de Nova Iorque

Em uma reunião do primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert, concluiu uma reunião com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com a promessa de que não haverá novos assentamentos israelenses.

As moradas do IV Reich

O município de Jerusalém anunciou a construção de 600 novas moradias no assentamento judaico de Pisgat Zeev, uma área cisjordana considerada por Israel parte da cidade.

Por outra parte, o partido ultraortodoxo Shas prometeu a construção de mais 800 moradias em Betar Ilit, povoado habitado por judeus religiosos na Cisjordânia (território ocupado).

Os mortos não precisam de serviços básicos

Faz muito tempo já não se garante o fornecimento de água nem a evacuação das águas residuais, que dependem de sua conexão à rede elétrica.

90% da produção industrial cessaram e a produção agrícola caiu pela metade. O bloqueio de mais de 9.000 mercadorias, que Israel não deixa passar para a Faixa de Gaza, segundo a Campanha Fim ao Acosso, provocou o incremento do preço dos produtos básicos em mais de 30%. Com um índice de pobreza que se situa em 88% e um índice de desocupação de 75%, 1,5 de milhões de pessoas tentam sobreviver em uma prisão de 365 km2.

A ONU e seus chiliques de moral (apenas retóricos, nem chilique é verdadeiro na ONU)

As respostas de Tel Aviv foram descritas pela ONU como desproporcionadas, por ter impacto sobre centenas de milhares de palestinos.

A agência da ONU para os refugiados palestinos, UNWRA, anunciou a suspensão da distribuição das caixas de alimentos a 650.000 refugiados na Faixa de Gaza. A razão: a agência ficou sem o combustível para os caminhões que realizam a distribuição.

Hamás faz uma inflexão que o IV Reich não deseja

A notícia se produziu ao mesmo tempo que o grupo Hamás anunciava sua aceitação de uma possível trégua com Israel. Sua proposta é de uma trégua que começaria na Faixa de Gaza por seis meses "até que todas as organizações se aderirem a ela, e depois se estenderia à Margem Ocidental", segundo explicou o número dois de Hamás em Gaza, Mahmud A-Zahar.

Em Israel tomaram a notícia com desconfiança. "Não poderemos aceitar uma trégua que seja uma calma antes da tormenta", disse Mark Réguev, porta-voz do primeiro ministro Ehud Olmert. O temor em Israel é que o cesse dê ar à organização para se rearmar.

Que é ilegal para a quadrilha sionista de Olmert?

Em quanto à crise humanitária, Israel tinha recomeçado o fornecimento de combustível para manter em funcionamento a usina elétrica de Gaza. Mas o abastecimento de combustível para o transporte e o gás para uso doméstico continua detido.

Diversas ONG advertiram em um sombrio informe que a situação humanitária na Faixa é a pior desde 1967, quando Israel ocupou os territórios palestinos. O texto considera o bloqueio israelense como um "castigo coletivo ilegal" que não melhorou a situação da segurança. Só contribuiu para agravar o empobrecimento e para aumentar "de forma dramática" o desemprego.

Palestino não precisa de educação, só precisa de braços... amarrados

A situação da educação e da atenção médica também piorou. Mais de 1,1 milhões de pessoas na Faixa de Gaza, ou seja, 80% de sua população, dependem da ajuda alimentária. Dos 110.000 residentes que trabalhavam no setor privado, uns 75.000 perderam seu emprego.

Fontes:

http://www.noticiasdegipuzkoa.com

www.clarin.com

www.elmundo.es

www.voltairenet.org

www.rebelion.org

http://www.diplomatie.gouv.fr

http://www.libertaddigital.com

http://www.elpais.com

http://www.realinstitutoelcano.org/

http://www.un.org/

http://www.diagonalperiodico.net

http://www.silviacattori.net

Terra E Liberdade - (Land And Freedom)


Em meados dos anos 30, David Carr deixa a cidade de Liverpool para lutar por seus ideais na Guerra Civil Espanhola. A Guerra, marcada pela polarização ideológica, uma das características que marcaram o período entreguerras, foi um dos acontecimentos mais marcantes da história do século XX.
A crise desencadeada pela Primeira Guerra Mundial, aprofundada pela quebra da economia mundial após 1929, afetou praticamente todo o mundo, gerando grande desemprego e pobreza. Na Europa essa situação foi responsável pela "polarização ideológica", ou seja, pelo desenvolvimento das forças populares de esquerda e, ao mesmo tempo, das forças reacionárias fascistas.
Na Espanha, essa situação foi responsável pela Guerra Civil, de 1936 a 39, quando um golpe militar, apoiado pelas forças de direita, provocou a divisão do país. O golpe, pretendia eliminar o regime republicano, instituído em 1931, responsável por uma série de reformas que desagradaram os setores mais conservadores do país, uma vez que os interesses de latifundiários e da Igreja Católica foram duramente atingidos.
O conflito teve de um lado os republicanos apoiados pelos grupos de esquerda - comunista e anarquista -, em quanto de outro encontravam-se os grupos fascistas e os setores mais conservadores da cidade.
Enquanto a Alemanha e Itália ajudaram diretamente os fascistas espanhóis, Inglaterra e França adotaram uma política de neutralidade. A principal ajuda material foi dada pela União Soviética, que enviou armas e assessores;no entanto, o grande destaque do lado republicano, foi a das "Brigadas Internacionais", grupos de voluntários de vários países, que foram combater na Espanha. No inicio de 1937, as Brigadas tiveram papel importante na vitória sobre tropas italianas.
Gênero: Drama/Guerra
Diretor: Ken Loach
Duração: 109 minutos
Ano de Lançamento: 1994
País de Origem: Alemanha
Idioma do Áudio: Inglês
Créditos: makingoff - Baldolino51
Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: DivX
Vídeo Bitrate: 828 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 121
Resolução: 640x480
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 693 Mb
Legendas: Em anexo



Prêmio de Crítica no Festival de Cannes.

Um dos inúmeros méritos do filme de Ken Loach "Tierra y Libertat" é que ele nos convida à releitura de "Homenagem à Catalunha", o livro de George Orwell.
Grande parte desta produção é, de fato, uma recriação das cenas desta obra. Devido a seus contatos com a ILP (International Labor Party), Orwell uniu-se à luta espanhola em 1936 através das milícias do POUM (Partido Obrero de Unificación Marxista, marxistas heterodoxos que, na prática, aliaram-se à CNT e à FAI).
No filme, David, um comunista desempregado de Liverpool, se filia ao primeiro grupo que encontra, o POUM. Este personagem é baseado no amigo inglês de Orwell, Stafford Cottman, membro da Liga dos Jovens Comunistas.
O mesmo diretor de "Pão e rosas" (temos aqui no site) e "Meu nome é Joe"

Em um mundo tão mercantil, vendável e "lucrativo" como o nosso, esquecemos que outros sistemas econômicos e sociais já passaram por esse mundo. Por isso mesmo é que o filme nos traz um sentimento de "utopia", um sentimento de esperança de internacionalização e vontade. Na busca pelo fim do capitalismo os revolucionários escreveram as páginas mais lindas da hitória espanhola!

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O modelo Nollywood

Desponta na Nigéria novo modo de fazer cinema. Milhões de DVDs, pequenas salas, alternativas à propriedade intelectual. Qualidade precária, porém crescente — e bebendo na imensa diversidade cultural do país. O maior produtor de filmes do mundo. Um modelo para não copiar mas, sim, para refletir

Felipe Macedo - LeMonde-Brasil

Em texto anterior, descrevemos as características gerais do modelo de cinema que vigora no Brasil. Na verdade, é o mesmo que prevalece no mundo inteiro, já que as grandes empresas de Hollywood, através da sua associação, a Motion Pictures Association of America (MPAA), operam em escala planetária e organizam o mercado mundial em função de seu produto. Mais de 80% dos cinemas de todo o mundo estão ocupados com os filmes dessas empresas. Parece que, entre os mais de duzentos países do mundo, apenas em uma meia dúzia exibe-se mais filmes nacionais que os distribuídos por esse cartel.

Esta situação é indispensável para o cinema que confundimos como "americano". O custo médio de uma produção, nos EUA — não em Hollywood, mas no país todo — já é de mais de 60 milhões de dólares. Esse padrão precisa de um mercado mundial bem controlado para obter lucros significativos. Se é verdade que esse cinema é dominante há décadas, apenas recentemente o faturamento dos filmes no exterior do país passou a ser maior que internamente. Hoje, a receita proveniente de outros países está em torno de 65% do total. Nessa mesma direção, a produção dos EUA tem diminuído significativamente, em favor das superproduções que melhor se adequam à exploração do mercado mundial e de seus diferentes segmentos: salas de cinema, vídeo doméstico, tevê por assinatura e tevê aberta. Especializa-se em filmes mais caros, que não têm concorrência, e são como naves-mães que desovam mil subprodutos e licenças de exploração de mercados subsidiários. Por outro lado, aumenta cada vez mais a reprodução de fórmulas narrativas simplistas, padronizadas, o que dificulta a expressão de diferentes formas de criação — inclusive naquele país.

Já dissemos que esse modelo é velho. Ele luta para assimilar, domesticar e rentabilizar, em novos formatos comerciais, os avanços tecnológicos que ocorrem fora do seu controle. Enquanto isso, atravanca o desenvolvimento das próprias inovações e, principalmente, limita o acesso à comunicação e impede a expressão da diversidade das culturas do mundo.

Mas até que ponto o poder econômico é capaz de segurar ou controlar o desenvolvimento de inovações que apontam para uma acessibilidade fora de qualquer controle, como é o caso da rede mundial de computadores? Ou quando outras formas de exploração comercial se mostram lucrativas, criando novos “modelos de negócio”? Como combater eficazmente a “pirataria” (a exploração comercial sem pagamento de licenças), se o móvel, a ética, a ontologia mesma do comércio se concentram e se esgotam na obtenção de lucro?

Hollywood, riquíssima, depende da globalização. Mas é Nollywood, hoje, quem expande seu jeito de produzir cinema pelo mundo

Um dos objetivos desta coluna é mostrar como os cineclubes, em suas múltiplas formas, constituem a grande alternativa — ainda muito virtual, mas a mais conseqüente — para esse novo modelo. No entanto, outras experiências também merecem ser melhor conhecidas. Um exemplo muito revelador de que outros paradigmas podem ter relações muito mais legítimas com a cultura em que se estabelecem, assim como alcançar resultados econômicos extraordinários, é o de Nollywood, o modelo de indústria audiovisual da Nigéria, que se expande cada vez mais pelos países vizinhos.

A Nigéria, país com cerca de 110 milhões de habitantes, independente desde 1963, tornou-se o maior produtor mundial de títulos de filmes. Com uma produção que oscila entre 1.000 e 1.500 filmes por ano, ultrapassa largamente a Índia, segundo lugar, com cerca de metade dessa produção, e os EUA, com perto de 500 títulos anuais.

Mas não apenas isso: diversas fontes situam o faturamento dessa indústria audiovisual nigeriana em cerca de 250 milhões de dólares por ano, o que também a coloca entre as maiores do mundo. Além de predominar largamente no mercado interno, a produção audiovisual nigeriana cada vez mais se estende pelos países vizinhos, antigas colônias inglesas. Chega igualmente às etnias que se estendem além das fronteiras: Gana, Quênia, Uganda, Gâmbia, Níger, Camarões, Benin, Zâmbia, Togo e mesmo o Sudão. Canais a cabo da África do Sul especializam-se ou dedicam boa parte da programação a essa produção, cobrindo vários outros territórios (Botsuana, Zimbábue, Suazilândia, Namíbia). E uma grande diáspora (7 milhões só de nigerianos) na Europa, EUA e em várias outras partes do mundo – inclusive no Brasil – também serve como elemento de repercussão e multiplicação desse cinema.

Como dissemos, não se trata do modelo hollywoodiano: os filmes são produzidos e circulam em cópias digitais (DVD) e são exibidos em pequenas salas digitais. O custo de uma produção é, em média, de 20 mil dólares. Com isso, diariamente, dois ou três novos títulos são lançados no mercado. Cada filme circula com cerca de 20 mil cópias, vendidas pelo equivalente a poucos dólares ou em salas bem simples, onde se paga ingressos de umas tantas nairas, a moeda nigeriana. Os maiores sucessos freqüentemente ultrapassam 200 mil cópias.

Filmes toscos na forma. Mas capazes de expressar o imaginário e magia da África, e as realidades da vida nigeriana

O “modelo nigeriano” demonstra possibilidades concretas e potencialidades que têm muita importância para os países que não conseguem construir uma indústria e uma cultura cinematográfica independente. Vale a pena conhecer sua gênese.

Em 1972, um decreto de “indigenização” passou para o controle nacional uma rede de cerca de 300 salas de cinema que havia no país. Uma permanente fragilidade econômica e a recorrente instabilidade política levaram à desagregação desse circuito. A diminuição do número de cinemas, a própria insegurança nas grandes cidades e a distância cultural da narrativa “ocidental” em relação à vivência cultural nativa — tudo isso contribuiu para enfraquecer o hábito de ir ao cinema. No entanto, a “nacionalização” ajudou a estimular os talentos nigerianos, principalmente da área teatral. Mais ou menos nos anos, 80 começou a produção sempre crescente de filmes em VHS, copiados e distribuídos precariamente nas feiras e outros eventos públicos e exibidos em salinhas improvisadas. Como a maior parte dos empreendimentos comerciais pioneiros, o padrão dessa produção era pobre, visando garantir um mínimo de rentabilidade. O resultado era medíocre, em termos narrativos. Ainda é ambas as coisas.

Mas, além de se adequar ao bolso da grande maioria, essa produção canhestra trazia a expressão do rico imaginário e das premências da vida nacional e africana: de um lado a magia e o sobrenatural, de outro as dificuldades da vida, a corrupção, as doenças endêmicas, o choque das tradições tribais com a modernidade. O modelo pegou.

Hoje, ainda cheio de carências, esse sistema audiovisual não pára de evoluir e de se consolidar. Criou, como vimos, uma sólida base econômica. Isso tem permitido, cada vez mais, a adoção de melhores técnicas e equipamentos na produção. A própria expansão da indústria, o enfrentamento de concorrentes, a interação com a diáspora, obrigam a um contínuo aperfeiçoamento em termos de linguagem e acabamento. A permanência dessa indústria gera profissionais, talentos em todos os níveis, e inclusive já tem uma espécie de star system e uma rede de eventos promocionais, festivais que ajudam a aprimorar seus produtos.

Na África francesa, filmes que se contam nos dedos, premiados. Na Nigéria, uma prosa nacional expressa, em muitos idiomas, o imaginário popular

No entanto, talvez o mais importante desse processo ainda em desenvolvimento seja o significado cultural da adoção de um modelo diferente daquele implantado pelo ocupante colonial. Em meio à mediocridade ainda prevalecente de uma narrativa banal, que busca o êxito e o retorno econômico mais imediato, uma “prosa” nacional se impõe, ou melhor, encontra espaço para se expressar, trazendo a vivência, os problemas, o imaginário popular.

Nas antigas colônias francesas, por exemplo, de uma maneira geral mantém-se inalterado o modelo de produção e distribuição em película. Os países não têm condição de manter esse modelo e o resultado é a produção de pouquíssimos títulos, na casa das unidades, realizados com apoio de algumas instituições francesas. Esteticamente são filmes muito mais significativos, que têm revelado alguns grandes realizadores. São reconhecidos em alguns eventos internacionais, talvez a maior parte fora da África. Esses filmes são, claro, falados em francês. Já a produção nigeriana produziu um fenômeno inédito e absolutamente fundamental: um percentual significativo dos filmes é realizado nos idiomas das diversas etnias da região, principalmente em iorubá, igbo, hauçá e no pidgin nigeriano.

Sem esse espaço, essa(s) cultura(s) não teria(m) oportunidade de se manifestar, talvez nem de sobreviver. Esboçado um novo paradigma, há muito ainda que avançar. Mas a alternativa já se mostrou viável, abrindo a possibilidade concreta de superação do modelo mundialmente dominante. É uma lição importante, não exatamente a ser copiada, mas sobretudo compreendida. Por aqui, por exemplo, onde a produção só existe com subsídio público, praticamente não é exibida e a população não tem acesso ao cinema.

Chico Buarque - Almanaque (1981)




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