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sábado, 15 de março de 2014

Programa dos EUA para a deserção de médicos cubanos

Um escândalo oculto: o programa dos EUA para a deserção de médicos cubanos

Um escândalo oculto: o programa dos EUA para a deserção de médicos cubanos

Charge: Latuff


Uma das iniciativas mais mesquinhas na guerra de desgaste, do governo dos EUA contra Cuba é o chamado Cuban Medical Professional Parole, programa do Departamento de Estado  que tem como objetivo conseguir a deserção, mediante suborno, de médicos que integram as brigadas de solidariedade de Cuba no mundo.
 Trata-se de um verdadeiro escândalo moral em torno do qual os meios de comunicação, que possuem todos os detalhes sobre o caso, preferem silenciar, pois falar sobre este episódio lamentável iria forçá-los a revelar a imensa solidariedade prestada por Cuba no campo da medicina como, por exemplo, o fato de que este país tem mais de 37.000 profissionais de saúde cooperando em 77 países pobres, o maior índice mundial, representando 45% dos programas de cooperação Sul-Sul na América Latina; ou ainda que, 40% dos cuidados contra cólera no Haiti, das cirurgias oftalmológicas, realizadas gratuitamente e, que atingiram um milhão e meio de pessoas sem recursos, foram executadas neste país por profissionais de saúde cubanos; ou que Cuba 
tem atualmente cerca de 4.000 estudantes de medicina com bolsa de estudos de 23 países, incluindo os EUA.
 Que tudo isso que seja realizado por um país pobre e bloqueado como Cuba é algo muito forte para que se permita que seja dado a conhecer ao público, ao qual os grandes meios de comunicação só apresentam as deficiências e déficits cubanos.
 O programa Professional Parole Cuban Medical é uma iniciativa coordenada desde 2006 pelo Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos.  Como se pode ler nos sítios destes organismos, as embaixadas dos Estados Unidos em qualquer país mundo oferecem um tratamento especial e rápido que permite aos médicos (as) e enfermeiras (os) e técnicos de laboratório cubanos emigrarem para os EUA.
Um telegrama da embaixada dos EUA em Caracas, revelado por Wikileaks, mostra outros detalhes como, por exemplo, que as embaixadas norte-americanas fornecem transporte para Miami em aviões especiais para aqueles que são cooptados por este programa.
O jornal The Wall Street Journal, em janeiro de 2011, a titulo de propaganda, informou que, desde a criação do Parole Cuban Medical, há quatro anos e meio, 1.574 participantes das ações de solidariedade cubanas, em 65 países foram cooptados. O dado parece significativo, mas façamos um cálculo simples para avaliar o impacto real da iniciativa. 
Se considerarmos que, como alegado pelo jornal acima referido, apenas em um ano (em 2010), havia mais de 37 mil colaboradores cubanos e, que o período de permanência no exterior, embora variado, dependendo da missão, geralmente é de cerca de dois anos, nesses 4,5 anos Cuba enviou ao exterior pelo menos 83 mil profissionais da área médica. Desta maneira, os 1574 médicos capturados pelo programa dos Estados Unidos representam apenas 1,89% do total. Estes resultados revelam um claro fracasso, se considerarmos que a iniciativa tem orçamento federal, centenas de funcionários a sua disposição, que é impulsionado por todas as embaixadas dos Estados Unidos 
no mundo e, que tem poderosos aliados políticos e na mídia em diversos países.
 Não é gratuito que o maior número de profissionais que aderiram ao programa Professional Parole Cuban Medical  tenha exercido seu trabalho na Venezuela. Este país possui o maior número de médicos cubanos que cooperam em comunidades carentes, vinculados ao programa de saúde Missão Bairro Adentro. É evidente que, neste caso, ademais de atacar Cuba há um propósito suplementar: minar o prestígio social da Missão Barrio Adentro, sem dúvida o mais bem-sucedido programa social do governo Chávez e, no qual a cooperação médica de Cuba desempenha um importante papel.
Esta iniciativa do governo dos EUA revela a utilização da questão da emigração cubana com vistas a desestabilização social e política. Nos recordemos que a Lei 1.966, Lei de Ajuste Cubano , concede a todo cubano que pise em território norte-americano autorização de residência bem como, benefícios sociais e incentivos para conseguir emprego, algo negado ao restante da emigração latino-americana  a qual, aliás, é vítima de uma política sistemática de expulsão. No entanto, com tudo isso os números da emigração cubana para os EUA são claramente inferiores aos dos outros países da região.
 O programa de cooptação de profissionais de saúde cubanos tem o apoio, direto ou indireto, de outros agentes. Em primeiro lugar, da grande mídia. A grande imprensa privada dos países em que a ajuda cubana tem maior significação como, por exemplo, Venezuela, Nicarágua e Bolívia, tem ocultado o grande impacto social desses programas médicos, dando cobertura extraordinária ao abandono de médicos cubanos.
 Desde Miami, supostas "ONGs" também apoiam o recrutamento de médicos cubanos. Tal é o caso de "Solidariedade sem Fronteiras" , que chamou de "Bairro Fora" sua colaboração especial com o governo dos EUA. Em seu sítio web disponibiliza formulários à serem preenchidos pelos médicos bem como, 
os endereços das embaixadas e consulados dos Estados Unidos para que eles devem buscar.
 Esta organização promoveu ação judicial, junto ao Tribunal Federal de Miami, na qual vários médicos cubanos que desertaram buscavam da PDVSA indenizações no valor 450 milhões de dólares a titulo de compensação por alegado "trabalho forçado" ou, trabalho de "escravos modernos", expressões utilizadas para definir o trabalho de assistência médica de apoio exercida em bairros desfavorecidos e comunidades rurais da Venezuela, lugares onde, por sinal, ninguém os obrigou a ir. 
 De recordar que a cooperação médica cubana na Venezuela tem características especiais, em comparação com outros programas de ajuda médica cubana: é parte de um acordo bilateral que Cuba dispõe de milhares de profissionais da saúde, educação, esporte, agricultura e outros setores, e para o qual a Venezuela fornece petróleo para Cuba em condições preferenciais.
 Apesar do silêncio da mídia, Cuba ganhou com os seus programas de solidariedade internacional, uma sólida reputação junto população e governos de inúmeros países do Terceiro Mundo. Para destruí-lo, o governo dos EUA usa de seu poderio econômico e diplomático. Enquanto isso, a grande mídia, esquecendo sua função social, oculta da opinião pública o exemplo de solidariedade internacional que Cuba oferece ao mundo bem como, a existência de uma das iniciativas de diplomacia suja mais imoral dos últimos tempos.
 Fonte: http://www.cubadebate.cu

Por José Manzaneda, no site Cubadebate
Tradução: Lúcio Costa

Uma das iniciativas mais mesquinhas na guerra de desgaste, do governo dos EUA contra Cuba é o chamado Cuban Medical Professional Parole, programa do Departamento de Estado (1) que tem como objetivo conseguir a deserção, mediante suborno, de médicos que integram as brigadas de solidariedade de Cuba no mundo.

Trata-se de um verdadeiro escândalo moral em torno do qual os meios de comunicação, que possuem todos os detalhes sobre o caso, preferem silenciar, pois falar sobre este episódio lamentável iria forçá-los a revelar a imensa solidariedade prestada por Cuba no campo da medicina como, por exemplo, o fato de que este país tem mais de 37.000 profissionais de saúde cooperando em 77 países pobres, o maior índice mundial, representando 45% dos programas de cooperação Sul-Sul na América Latina; ou ainda que, 40% dos cuidados contra cólera no Haiti, das cirurgias oftalmológicas, realizadas gratuitamente e, que atingiram um milhão e meio de pessoas sem recursos, foram executadas neste país por profissionais de saúde cubanos; ou que Cuba tem atualmente cerca de 4.000 estudantes de medicina com bolsa de estudos de 23 países, incluindo os EUA.

Que tudo isso que seja realizado por um país pobre e bloqueado como Cuba é algo muito forte para que se permita que seja dado a conhecer ao público, ao qual os grandes meios de comunicação só apresentam as deficiências e déficits cubanos.

O programa Professional Parole Cuban Medical é uma iniciativa coordenada desde 2006 pelo Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos.  Como se pode ler nos sítios destes organismos, as embaixadas dos Estados Unidos em qualquer país mundo oferecem um tratamento especial e rápido que permite aos médicos (as) e enfermeiras (os) e técnicos de laboratório cubanos emigrarem para os EUA.

Um telegrama da embaixada dos EUA em Caracas, revelado por Wikileaks, mostra outros detalhes como, por exemplo, que as embaixadas norte-americanas fornecem transporte para Miami em aviões especiais para aqueles que são cooptados por este programa.
O jornal The Wall Street Journal, em janeiro de 2011, a titulo de propaganda, informou que, desde a criação do Parole Cuban Medical, há quatro anos e meio, 1.574 participantes das ações de solidariedade cubanas, em 65 países foram cooptados. O dado parece significativo, mas façamos um cálculo simples para avaliar o impacto real da iniciativa. 
Se considerarmos que, como alegado pelo jornal acima referido, apenas em um ano (em 2010), havia mais de 37 mil colaboradores cubanos e, que o período de permanência no exterior, embora variado, dependendo da missão, geralmente é de cerca de dois anos, nesses 4,5 anos Cuba enviou ao exterior pelo menos 83 mil profissionais da área médica. Desta maneira, os 1574 médicos capturados pelo programa dos Estados Unidos representam apenas 1,89% do total. Estes resultados revelam um claro fracasso, se considerarmos que a iniciativa tem orçamento federal, centenas de funcionários a sua disposição, que é impulsionado por todas as embaixadas dos Estados Unidos no mundo e, que tem poderosos aliados políticos e na mídia em diversos países.

Não é gratuito que o maior número de profissionais que aderiram ao programa Professional Parole Cuban Medical  tenha exercido seu trabalho na Venezuela. Este país possui o maior número de médicos cubanos que cooperam em comunidades carentes, vinculados ao programa de saúde Missão Bairro Adentro. É evidente que, neste caso, ademais de atacar Cuba há um propósito suplementar: minar o prestígio social da Missão Barrio Adentro, sem dúvida o mais bem-sucedido programa social do governo Chávez e, no qual a cooperação médica de Cuba desempenha um importante papel.
Esta iniciativa do governo dos EUA revela a utilização da questão da emigração cubana com vistas a desestabilização social e política. Nos recordemos que a Lei 1.966, Lei de Ajuste Cubano (2) ,concede a todo cubano que pise em território norte-americano autorização de residência bem como, benefícios sociais e incentivos para conseguir emprego, algo negado ao restante da emigração latino-americana  a qual, aliás, é vítima de uma política sistemática de expulsão. No entanto, com tudo isso os números da emigração cubana para os EUA são claramente inferiores aos dos outros países da região.
O programa de cooptação de profissionais de saúde cubanos tem o apoio, direto ou indireto, de outros agentes. Em primeiro lugar, da grande mídia. A grande imprensa privada dos países em que a ajuda cubana tem maior significação como, por exemplo, Venezuela, Nicarágua e Bolívia, tem ocultado o grande impacto social desses programas médicos, dando cobertura extraordinária ao abandono de médicos cubanos.

Desde Miami, supostas "ONGs" também apoiam o recrutamento de médicos cubanos. Tal é o caso de "Solidariedade sem Fronteiras" (3), que chamou de "Bairro Fora" sua colaboração especial com o governo dos EUA. Em seu sítio web disponibiliza formulários à serem preenchidos pelos médicos bem como, os endereços das embaixadas e consulados dos Estados Unidos para que eles devem buscar.

Esta organização promoveu ação judicial, junto ao Tribunal Federal de Miami, na qual vários médicos cubanos que desertaram buscavam da PDVSA indenizações no valor 450 milhões de dólares a titulo de compensação por alegado "trabalho forçado" ou, trabalho de "escravos modernos", expressões utilizadas para definir o trabalho de assistência médica de apoio exercida em bairros desfavorecidos e comunidades rurais da Venezuela, lugares onde, por sinal, ninguém os obrigou a ir.

De recordar que a cooperação médica cubana na Venezuela tem características especiais, em comparação com outros programas de ajuda médica cubana: é parte de um acordo bilateral que Cuba dispõe de milhares de profissionais da saúde, educação, esporte, agricultura e outros setores, e para o qual a Venezuela fornece petróleo para Cuba em condições preferenciais.

Apesar do silêncio da mídia, Cuba ganhou com os seus programas de solidariedade internacional, uma sólida reputação junto população e governos de inúmeros países do Terceiro Mundo. Para destruí-lo, o governo dos EUA usa de seu poderio econômico e diplomático. Enquanto isso, a grande mídia, esquecendo sua função social, oculta da opinião pública o exemplo de solidariedade internacional que Cuba oferece ao mundo bem como, a existência de uma das iniciativas de diplomacia suja mais imoral dos últimos tempos.

1 - http://www.state.gov/p/wha/rls/fs/2009/115414.htm
2 - http://www.uscis.gov/green-card/other-ways-get-green-card/green-card-cuban-native-or-citizen
3  - http://www.ssfin.org/

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A internet e o pânico das TVs abertas




A Suprema Corte dos EUA julga em abril um processo aberto pelas 4 maiores tevês do país contra a Aereo, uma pequena empresa que criou uma nova maneira de ver tv.

Por Altamiro Borges*, em seu blog


O jornalista João da Paz, do sítio “Notícias da TV”, publicou nesta semana uma informação que deve causar pânico nos donos das emissoras de televisão no Brasil. Segundo revela, a Suprema Corte dos EUA julgará em abril um processo aberto pelas quatro maiores tevês do país (ABC, NBC, Fox e CBS) contra a Aereo, uma pequena empresa que criou uma nova maneira de assistir televisão. “O que a Aereo faz é pegar os sinais abertos dessas quatro emissoras com uma pequena antena moderna e retransmiti-los pela internet, dando ao telespectador a oportunidade de assistir a esses canais no computador, em tablets e em smartphones, com a opção de gravar e pausar programas. Tudo em alta definição”.

O novo serviço tende a promover uma hecatombe na forma de assistir tevê. O internauta faz a assinatura mensal no valor de US$ 8 (R$ 19,20) e tem a possibilidade de gravar um programa por vez, até o limite de 20 horas de armazenamento. Até o momento, os serviços da Aereo já estão disponíveis em 26 cidades do país, incluindo Nova York, Boston, Washington, Filadélfia e Dallas. Em outubro, o Wall Street Journal informou que somente em Nova Iorque já seriam de 90 mil a 135 mil assinantes. Diante do risco da acentuada queda de audiência e de recursos publicitários, as poderosas corporações alegam que a Aereo rouba o sinal e infringe direitos autorais.

Na titânica batalha jurídica em curso, a inovadora empresa até agora tem levado a melhor. Segundo informa João da Paz, “a Suprema Corte vai dar continuidade ao caso julgado na Segunda Corte de Apelação de Nova York, em abril de 2013, cujo resultado foi favorável à Aereo. Os juízes de Nova York entenderam que o serviço prestado pela empresa é legal. O criador e diretor-executivo da Aereo, Chet Kanojia, de 43 anos, disse em comunicado após essa decisão que ‘esperamos apresentar nosso argumento na Suprema Corte, certos de que o mérito do caso irá prevalecer’”.

A empresa conta com um trunfo nesta batalha. O magnata da comunicação Barry Diller, ex-diretor da Paramount e da Fox, decidiu apostar no negócio inovador. Ele hoje comanda a empresa de internet InterActive Corporation e tem uma fortuna calculada em US$ 2,8 bilhões. “Diller é um dos principais investidores da Aereo.

Neste mês, mesmo em meio a esse tumulto, ele conseguiu atrair US$ 34 milhões para financiar a expansão da empresa. ‘Passamos por três julgamentos em 2013 e em todos eles as Cortes Distritais decidiram que o nosso negócio é perfeitamente legal’... Ele calcula que o Aereo poderia ter entre 10 milhões e 20 milhões de assinantes se pudesse operar amplamente, sem restrições”.

A batalha, porém, será prolongada e sangrenta. “As quatro emissoras agem agressivamente contra Aereo. A CBS é bem enfática sobre o assunto e se posicionou de forma direta em comunicado. ‘Nós acreditamos que o modelo de negócios da Aereo é alicerçado em roubo de conteúdo’, diz a emissora de maior audiência dos EUA. A Fox se mostrou mais radical, ameaçando ir para a TV por assinatura se a Aereo vencer na Suprema Corte. Quem também comprou a briga das emissoras, e adotou um tom tão agressivo quanto, foram as ligas esportivas NFL (futebol americano) e MLB (beisebol). Ambas têm acordos bilionários com os canais abertos e divulgaram nota afirmando que vitória da Aereo vai prejudicar os negócios”.

As quatro redes inclusive já trabalham com um plano B para a hipótese da Aereo vencer a batalha jurídica. Elas planejam mudar a forma como emitem seus sinais, com o objetivo de impedir que as antenas da Aereo os captem. “Outro problema para os canais abertos, se derrotados na Suprema Corte, será lidar com as operadoras de TV por assinatura, que pagam preços altos para ter NBC, ABC, Fox e CBS em seus pacotes. A decisão judicial a favor da Aereo pode mudar esse tipo de negócio”. O clima é de guerra nas tevês abertas dos EUA.

A inovação da Aereo, mais um fruto da revolução informacional promovida pela internet, coloca em perigo o modelo de negócios das poderosas redes que exploram as concessões públicas de televisão. Caso vingue nos EUA, a experiência rapidamente deverá se espalhar pelo mundo – atingindo, também, o Brasil. Desta forma, mais uma vez a internet ameaçará o império da TV Globo e outras emissoras da tevê aberta!

*Altamiro Borges é blogueiro, presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

domingo, 26 de janeiro de 2014

FST - POA - 2014



No Fórum Social Temático, em Porto Alegre, o ministro Gilberto Carvalho informou dados de pesquisa realizada pela ONU apontou que a concentração de riquezas nas mãos dos mais ricos é cada vez maior, com exceção do Brasil e países da América Latina. Estes países conseguiram neste período melhorar a qualidade de vida para todos com melhor distribuição de renda. Em outro evento no FST- POA ficamos sabendo que na Grécia 60% dos jovens estão desempregados e a população moradora de rua aumentou em 30%. Na Espanha o índice de desemprego chegou a 26%. É o capital monopolista e a política neoliberal mostrando as suas verdadeiras garras.E por incrível que pareça entre alguns manifestantes de ruas no Brasil ainda tem jovens denominando de Bolsa esmola um programa que já retirou milhões de pessoas da linha da pobreza e que viabilizou a capacitação profissional e posteriormente a emancipação econômica dos programas de distribuição de renda, elevando desta forma, pela primeira vez em nosso país, o IDH- Ìndice de Desenvolvimento Humano aos níveis dos países chamados desenvolvidos.Enquanto isso o Fórum Econômico Mundial em Davos discute "alternativas" para enfrentar as consequências que o Neoliberalismo gerou: Concentração de Renda, Desemprego e Desigualdades cada vez maiores. A avaliação dos países ricos é que estes fatores poderão gerar instabilidade ao "mundo", leia ao capitalismo monopolista. Enquanto que no FST, Gilberto Carvalho defende que é necessário amadurecer quais os passos e elementos constitutivos de um novo projeto. E como combinar a presença forte na luta social com o poder institucional. Já Tarso Genro defendeu que o Estado ( gestor de nações) tem que pautar políticas públicas que gerem movimentos contra hegemônicos: "Um outro Modelo Econômico um outro modelo político, para isso avalia que devemos iniciar por reestruturar os pactos e uma restruturação constitucional de forma que se faça uma consertação política e que retire o Estado do controle do capital. A mesa foi democrática falas criticas desde a mesa as manifestações do público. Chico Whitaker fez referência a sua luta dos últimos 2 anos, contra as usinas nucleares que considera um enorme risco a humanidade, já as manifestações do público abordaram a temática da inclusão de jovens na política e mesclando com mais políticas públicas para as pessoas deficientes físicos, mais espaço para as mulheres, pela libertação da Palestina e combate ao racismo. Quem foi saiu renovado. E sabedor que um outro mundo é possível e está sendo construído no Brasil e na América Latina. Parabéns a diversidade e aos debatedores.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Blog do Miro: 50 verdades sobre Fidel Castro

50 verdades sobre Fidel Castro

Por Salim Lamrani, no sítio Opera Mundi:

1. Procedente de uma família de sete filhos, Fidel Castro nasceu no dia 13 de agosto de 1926 em Birán, na atual província de Holguín, da união entre Ángel Castro Argiz, rico proprietário de terras espanhol oriundo da Galícia, e Lina Ruz González, cubana.

2. Aos sete anos, ele se muda para a cidade de Santiago de Cuba e vive na casa de uma professora encarregada de educá-lo. Ela o abandona à própria sorte. “Conheci a fome”, lembraria Fidel Castro e “minha família tinha sido enganada”. Um ano depois, ele entra no colégio religioso dos Irmãos de la Salle, em janeiro de 1935, como interno. Deixa a instituição para ir para o colégio Dolores, aos 11 anos, em janeiro de 1938, depois de se rebelar contra o autoritarismo de um professor. Segue sua escolaridade com os jesuítas no Colégio de Belém em Havana, de 1942 a 1945. Depois de uma graduação brilhante, seu professor, o padre Armando Llorente, escreve no anuário da instituição: “Distinguiu-se em todas as matérias relacionadas às letras. Excepcional e congregante, foi um verdadeiro atleta, defendendo sempre com valor e orgulho a bandeira do colégio. Soube ganhar a admiração e o carinho de todos. Cursará a carreira de Direito e não duvidamos de que encherá de páginas brilhantes o livro de sua vida.”

3. Apesar de se exiliar em Miami, em 1961, por causa das tensões entre o governo revolucionário e a Igreja Católica cubana, o padre Llorente sempre guardou uma lembrança nostálgica de seu antigo aluno. “Me dizem: ‘o senhor sempre fala bem de Fidel’. Eu falo do Fidel que eu conheci. Inclusive, [ele] uma vez salvou a minha vida e essas coisas não podem ser esquecidas nunca”. Fidel Castro se jogou na água para salvar seu professor, levado pela correnteza.

4. Em 1945, Fidel Castro entra na Universidade de Havana, onde cursa a graduação de Direito. Eleito delegado da Faculdade de Direito, participa ativamente das manifestações contra a corrupção do governo do presidente Ramón Grau San Martín. Não vacila, tampouco, em denunciar publicamente gangues vinculadas às autoridades políticas. Max Lesnik, então secretário-geral da Juventude Ortodoxa e colega de Fidel Castro, lembra-se desse episódio: “O comitê 30 de setembro [criado para lutar contra as gangues] fez o acordo de apresentar a denúncia contra o governo e os gângsteres no plenário da Federação Estudantil [Universitária]. No salão, mais de 300 alunos de diversas faculdades se apresentaram para escutar Fidel quando alguém [...] gritou: ‘Aquele que falar o que não deve, falará pela última vez’. Estava claro que a ameaça era contra o orador da vez. Fidel se levantou de sua cadeira e, com passo lento e firme, se encaminhou ao centro do amplo salão, [...] e começou a ler uma lista oficial com os nomes e todos e de cada um dos membros das gangues e dos dirigentes da FEU que haviam sido premiados com suculentas ‘garrafas’ [cargos] nos distintos ministérios da administração pública.”

5. Em 1947, aos 22 anos, Fidel Castro participa, com Juan Bosch, futuro presidente da República Dominicana, de uma tentativa de desembarque da [expedição de] Cayo Confites para derrubar o ditador Rafael Trujilo, então apoiado pelos Estados Unidos.

6. Um anos depois, em 1948, participa do Bogotazo, revolta popular desatada pelo assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, líder político progressista, candidato às eleições presidenciais da Colômbia.

7. Graduado em Direito em 1950, Fidel Castro atua como advogado até 1952 e defende as pessoas humildes, antes de se lançar na política.

8. Fidel Castro nunca militou no Partido Socialista Popular (PSP), partido comunista da Cuba pré-revolucionária. Era membro do Partido do Povo Cubano, também chamado Partido Ortodoxo, fundado em 1947 por Eduardo Chibás. O programa do Partido Ortodoxo de Chibás é progressista e se baseia em vários pilares: soberania nacional, independência econômica pela diversificação da produção agrícola, supressão do latifúndio, desenvolvimento da indústria, nacionalização dos serviços públicos, luta contra a corrupção e justiça social por meio da defesa dos trabalhadores. Fidel Castro reivindica seu pertencimento ao pensamento “martiano” (de José Martí), chibasista (de Chibás) e anti-imperialista. Orador de grande talento, se apresenta às eleições parlamentárias como candidato do Partido do Povo Cubano em 1952.

9. No dia 10 de março de 1952, a três meses das eleições presidenciais, o general Fulgencio Batista rompe a ordem constitucional e derruba o governo de Carlos Prío Socarrás. Consegue o apoio imediato dos Estados Unidos, que reconhecem oficialmente a nova ditadura militar.

10. O advogado Fidel Castro apresenta uma denúncia contra Batista por romper a ordem constitucional: “Se existem tribunais, Batista deve ser castigado, e se Batista não é castigado [...], como poderá depois este tribunal julgar um cidadão qualquer por motim ou rebeldia contra esse regime ilegal, produto da traição impune?”. O Tribunal Supremo, sob as ordens do novo regime, recusa a demanda.

11. No dia 26 de julho de 1953, Fidel Castro se coloca à frente de uma expedição de 131 homens e ataca o quartel Moncada na cidade de Santiago, segunda maior fortaleza militar do país, assim como o quartel Carlos Manuel de Céspedes, na cidade de Bayamo. O objetivo era tomar o controle da cidade – berço histórico de todas as revoluções – e lançar um chamado pela rebelião em todo o país para derrubar o ditador Batista.

12. A operação é um fracasso e 55 combatentes são assassinados depois de brutalmente torturados pelos militares. De fato, apenas seis deles morreram em combate. Alguns conseguiram escapar graças ao apoio da população.

13. Fidel Castro, capturado alguns dias depois, deve a vida ao sargento Pedro Sarría, que se negou a seguir as ordens de seus superiores e executar o líder de Moncada. “Não disparem! Não disparem! Não se deve matar as ideias!”, exclamou para seus soldados.

14. Durante sua histórica alegação, intitulada “A História me Absolverá”, Fidel Castro, encarregado de sua própria defesa, denuncia os crimes de Batista e a miséria na qual se encontra o povo cubano, e apresenta seu programa para uma Cuba livre, baseado na soberania nacional, na independência econômica e na justiça social.

15. Condenado a 15 anos de prisão, Fidel Castro é liberado em 1955, depois da anistia que o regime de Batista lhe concedeu. Funda o Movimento 26 de Julho (M 26-7) e declara seu projeto de seguir lutando contra a ditadura antes de se exilar no México.

16. Fidel Castro organiza ali a expedição do Granma com um médico chamado Ernesto Guevara. Não foi muito trabalhoso para Fidel Castro convencer o jovem argentino, que recordava: “O conheci em uma dessas frias noites do México e lembro-me de que nossa primeira discussão foi sobre política internacional. Poucas horas depois, na mesma noite — de madrugada — eu era um de seus futuros expedicionários.”

17. Em agosto de 1955, Fidel Castro publica o Primeiro Manifesto do Movimento 26 de Julho, que retoma os pontos essenciais de “A História me Absolverá”. Trata de reforma agrária, da proibição do latifúndio, de reformas econômicas e sociais a favor dos deserdados, da industrialização da nação, da construção de habitações, da diminuição dos aluguéis, da nacionalização dos serviços públicos de telefone, gás e eletricidade, de educação e da cultura para todos, da reforma fiscal e da reorganização da administração pública para lutar contra a corrupção.

18. Em outubro de 1955, para reunir os fundos necessários para a expedição, Fidel Castro realiza uma turnê pelos Estados Unidos e se reúne com os exilados cubanos. O FBI vigia de perto os clubes patrióticos M 26-7 fundados em diferentes cidades.

19. No dia 2 de dezembro de 1956, Fidel Castro embarca no porto de Tuxpán, no México, a bordo do barco Granma, com capacidade para 25 pessoas. Os revolucionários são 82 no total e navegam rumo a Cuba com o objetivo de desatar um guerra de guerrilhas nas montanhas de Sierra Maestra.

20. A travessia se transforma em pesadelo por causa das condições climáticas. Um expedicionário cai ao mar. Juan Almeida, membro do grupo e futuro comandante da Revolução, lembra-se do episódio: “Fidel nos disse o seguinte: ‘Daqui não nos vamos até que o salvemos’. Isso comoveu as pessoas e animou a combatividade. Pensamos: ‘com esse homem não há abandonados’. O salvamos, correndo o risco de perder a expedição.”

21. Depois de uma travessia de sete dias, em vez dos cinco previstos, no dia 2 de dezembro de 1956 a tropa desembarca “no pior pântano jamais visto”, segundo Raúl Castro. Os tiros da aviação cubana a dispersam e 2 mil soldados de Batista, que esperavam os revolucionários, a perseguem.

22. Alguns dias depois, em Cinco Palmas, Fidel Castro volta a se encontrar com seu irmão Raúl e com outros 10 expedicionários. “Agora sim ganhamos a guerra”, declara o líder do M 26-7 a seus homens. Começa a guerra de guerrilhas que duraria 25 meses.

23. Em fevereiro de 1957, a entrevista com Fidel Castro realizada por Herbert Matthews, do New York Times, permite que a opinião pública estadunidense e mundial descubra a existência de uma guerrilha em Cuba. Batista confessaria mais tarde, em suas memórias, que graças a esse golpe jornalístico, “Castro começava a ser um personagem lendário”. Matthews suavizou, entretanto, a importância de sua entrevista. “Nenhuma publicidade, por mais sensacional que fosse, poderia ter tido efeito se Fidel Castro não fosse precisamente o homem que eu descrevi.”

24. Apesar das declarações oficiais de neutralidade no conflito cubano, os Estados Unidos concedem seu apoio político, econômico e militar a Batista e se opõem a Fidel Castro até os últimos instantes. No dia 23 de dezembro de 1958, a uma semana do triunfo da Revolução, enquanto o Exército de Fulgencio Batista se encontra em plena debandada, apesar de sua superioridade em armas e homens, acontece a 392ª reunião do Conselho de Segurança Nacional [dos Estados Unidos], com a presença do presidente [Dwight D.] Eisenhower. Allen Dulles, então diretor da CIA, expressa claramente a posição dos Estados Unidos. “Temos de impedir a vitória de Castro.”

25. Apesar do apoio dos Estados Unidos, de seus 20 mil soldados e da superioridade material, Batista não pôde vencer uma guerrilha composta de 300 homens armados durante a ofensiva final do verão de 1958, que mobilizou mais de 10 mil pessoas. Essa “vitória estratégica” revela, então, a genialidade militar de Fidel Castro, que havia antecipado e derrotado a operação Fim de Fidel lançada por Batista.

26. No dia 1 de janeiro de 1959, cinco anos, cinco meses e cinco dias depois do ataque ao quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, triunfou a Revolução Cubana.

27. Durante a formação do governo revolucionário, em janeiro de 1959, Fidel Castro é nomeado ministro das Forças Armadas. Não ocupa a Presidência, ocupada pelo juiz Manuel Urrutia, nem o posto de primeiro-ministro, entregue ao advogado José Miró Cardona.

28. Em fevereiro de 1959, o primeiro-ministro Cardona, que se opõe às reformas econômicas e sociais que considera demasiadamente radicais (projeto de reforma agrária), apresenta sua demissão. Manuel Urrutia chama Fidel Castro para ocupar o cargo.

29. Em julho de 1959, frente à oposição do presidente Urrutia, que recusa novas reformas, Fidel Castro renuncia a seu cargo de primeiro-ministro. Imensas manifestações populares têm início em Cuba, exigindo a saída de Urrutia e o retorno de Fidel Castro. O novo presidente da República, Osvaldo Dorticós, volta a nomeá-lo primeiro-ministro.

30. Os Estados Unidos se mostram imediatamente hostis à Fidel Castro ao acolher com braços abertos os dignitários do antigo regime, incluindo vários criminosos de guerra que tinham roubado as reservas do Tesouro cubano, levando 424 milhões de dólares.

31. Não obstante, desde o princípio, Fidel Castro declara sua vontade de manter boas relações com Washington. Entretanto, durante sua primeira visita aos Estados Unidos, em abril de 1959, o presidente Eisenhower se nega a recebê-lo e prefere ir jogar golfe. John F. Kennedy lamentaria o ocorrido: “Fidel Castro é parte do legado de Bolívar. Deveríamos ter dado ao fogoso e jovem rebelde uma mais calorosa acolhida em sua hora de triunfo”.

32. A partir de outubro de 1959, pilotos procedentes dos Estados Unidos bombardeiam Cuba e voltam para a Flórida sem serem perturbados pelas autoridades. No dia 21 de outubro de 1959, lançam uma bomba sobre Havana que provoca duas mortes e fere 45 pessoas. O responsável pelo crime, Pedro Luis Díaz Lanza, volta a Miami sem ser perturbado pela justiça e Washington se nega a extraditá-lo para Cuba.

33. Fidel Castro se aproxima de Moscou somente em fevereiro de 1960 e apenas adquire armas soviéticas depois de os Estados Unidos rejeitarem fornecer o arsenal necessário para a sua defesa. Washington também pressiona o Canadá e as nações europeias solicitadas por Cuba com a finalidade de obrigar o país a se dirigir ao bloco socialista e assim justificar sua política hostil em relação a Havana.

34. Em março de 1960, a administração Eisenhower toma a decisão formal de depor Fidel Castro. No total, o líder da Revolução Cubana sofreria nada menos que 637 tentativas de assassinato.

35. Em março de 1960, a sabotagem, comandada pela CIA, do barco francês La Coubre, carregado de armas no porto de Havana, provoca mais de cem mortes. Em seu discurso em homenagem às vítimas, Fidel Castro lança o lema: “Pátria ou morte”, inspirado no [lema] da Revolução Francesa, “Liberdade, igualdade, fraternidade ou morte.”

36. No dia 16 de abril de 1961, depois dos bombardeios dos principais aeroportos do país pela CIA, prelúdio da invasão da Baía dos Porcos, Fidel Castro declara o caráter “socialista” da Revolução.

37. Durante a invasão da Baía dos Porcos por 1400 exilados financiados pela CIA, Fidel Castro faz parte da primeira linha de combate. Infringe uma severa derrota aos Estados Unidos e esmaga os invasores em 66 horas. Sua popularidade chega ao topo em todo o mundo.

38. Durante a crise dos mísseis, em outubro de 1962, o general soviético Alexey Dementiexv estava ao lado de Fidel Castro. Conta suas lembranças: “Passei junto a Fidel Castro os momentos mais impressionantes de minha vida. Estive a maior parte do tempo a seu lado. Houve um instante em que considerávamos próximo o ataque militar dos Estados Unidos e Fidel tomou a decisão de colocar todos os meios em [estado] de alerta. Em poucas horas, o povo estava em posição de combate. Era impressionante a fé de Fidel em seu povo, e de seu povo, e de nós, os soviéticos, nele. Fidel é, sem discussão, um dos gênios políticos e militares deste século.”

39. Em outubro de 1965, cria-se o Partido Comunista de Cuba (PCC), substituindo o Partido Unido da Revolução Socialista (PURS), surgido em 1962 (que substituiu as Organizações Revolucionárias Integradas — ORI —, criadas em 1961). Fidel Castro é nomeado primeiro-secretário.

40. Em 1975, Fidel Castro é eleito pela primeira vez para a Presidência da República depois da adoção da nova Constituição. Seria reeleito até 2006.

41. Em 1988, a mais de 20 mil quilômetros de distância, Fidel Castro dirige de Havana a batalha de Cuito Cuanavale em Angola, na qual as tropas cubanas e angolanas infringem uma retumbante derrota às forças armadas sul-africanas que invadiram Angola e que ocupavam a Namíbia. O historiadora Piero Gleijeses, professor da Universidade John Hopkins, de Washington, escreve a respeito: “Apesar de todos os esforços de Washington [aliado ao regime do apartheid] para impedir-lhe, Cuba mudou o rumo da história da África Austral [...]. A proeza dos cubanos no campo de batalha e seu virtuosismo à mesa de negociações foram decisivos para obrigar a África do Sul a aceitar a independência da Namíbia. Sua exitosa defesa de Cuito foi o prelúdio de uma campanha que obrigou a SADF [Força de Defesa Sul-Africana, as então Forças Armadas oficiais da África do Sul, por sua sigla em inglês] a sair de Angola. Essa vitória repercutiu para além da Namíbia.”

42. Observador lúcido da Perestroika, Fidel Castro declara ao povo em um discurso premonitório do dia 26 de julho de 1989, que, no caso do desaparecimento da União Soviética, Cuba deveria resistir e prosseguir na via do socialismo. “Se amanhã ou qualquer outro dia despertássemos com a notícia de que se criou uma grande guerra civil na URSS, ou até se despertássemos com a notícia de que a URSS se desintegrou [...], Cuba e a Revolução Cubana seguiriam lutando e seguiriam resistindo.”

43. Em 1994, em pleno Período Especial, conhece Hugo Chávez, com quem estabelece uma forte amizade, que duraria até a morte dele, em 2013. Segundo Fidel Castro, o presidente venezuelano foi o “melhor amigo que o povo cubano teve”. Ambos estabelecem uma colaboração estratégica com a criação, em 2005, da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, que agrupa atualmente oito países da América Latina e do Caribe.

44. Em 1998, Fidel Castro recebe a visita do papa João Paulo II em Havana. Ele pede que “o mundo se abra para Cuba e que Cuba se abra para o mundo”.

45. Em 2002, o ex-presidente dos Estados Unidos James Carter realiza uma visita histórica a Cuba. Faz uma intervenção ao vivo pela televisão: “Não vim aqui interferir nos assuntos internos de Cuba, mas estender uma mão de amizade ao povo cubano e oferecer uma visão de futuro aos nossos países e às Américas. [...] Quero que cheguemos a ser amigos e nos respeitemos uns aos outros [...]. Devido ao fato de os Estados Unidos serem a nação mais poderosa, somos nós que devemos dar o primeiro passo.”

46. Em julho de 2006, depois de uma grave doença intestinal, Fidel Castro renuncia ao poder. Conforme a Constituição, é sucedido pelo vice-presidente, Raúl Castro.

47. Em fevereiro de 2008, Fidel Castro renuncia definitivamente a qualquer mandato executivo. Consagra-se, então, à redação de suas memórias e publica regularmente artigos sob o título “reflexões.”

48. Arthur Schlesinger Jr., historiador e assessor especial do presidente Kennedy, evocou a questão do culto à pessoa [de Fidel] depois de uma permanência em Cuba em 2001. “Fidel Castro não incentiva o culto à [sua] pessoa. É difícil encontrar um cartaz ou até um cartão postal de Castro em qualquer lugar de Havana. O ícone da Revolução de Fidel, visível em todos os lugares, é Che Guevara.”

49. Gabriel García Márquez, escritor colombiano e Prêmio Nobel de literatura, é amigo íntimo de Fidel Castro. Esboçou um retrato dele e ressalta “a confiança absoluta que desperta no contato direto. Seu poder é de sedução. Busca os problemas onde eles estão. Sua paciência é invencível. Sua disciplina é de ferro. A força de sua imaginação o empurra até os limites do imprevisto.”

50. O triunfo da Revolução Cubana no dia 1 de janeiro de 1959, dirigida por Fidel Castro, é o acontecimento mais relevante da História da América Latina do século XX. Fidel Castro continuará sendo uma das figuras mais controversas do século XX. Entretanto, até seus mais ferrenhos detratores reconhecem que fez de Cuba uma nação soberana e independente, respeitada no cenário internacional, com inegáveis conquistas sociais nos campos da educação, saúde, cultura, esporte e solidariedade internacional. Ficará para sempre como o símbolo da dignidade nacional que sempre se colocou do lado do oprimidos e que deu seu apoio a todos os povos que lutavam por sua emancipação.

domingo, 17 de março de 2013

Chávez, ao lado dos pobres nos Estados Unidos



"Os Estados Unidos perderam um amigo que nunca souberam que tinham e os pobres do mundo um defensor", lamentou o ator Sean Penn quando recebeu a notícia da morte do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Por Deisy Francis Mexidor *, na Prensa Latina


E de suas palavras podem dar fé hoje os quase dois milhões de estadunidenses de baixos rendimentos que receberam calefação gratuita para se proteger do rigoroso inverno graças à solidariedade do mandatário.

Tudo começou há cerca de oito anos e desde então até a atualidade o plano beneficiou a 1,7 milhão de pessoas. Em 2005 iniciou-se como doação do país sul-americano para ajudar os atingidos pelos furacões Katrina e Rita, e neste ano favorece ademais a muitas das vítimas de Sandy, o furacão que fez estragos na costa leste no final de outubro.

Só nesta temporada invernal o programa apoiará 100 mil famílias em 25 estados -incluindo mais de 240 comunidades indígenas-, segundo informaram em fevereiro a empresa petroleira estadunidense Citgo, subsidiária de Petróleos de Venezuela, e sua sócia Citizens Energy Corporation, cujo presidente é Joseph P. Kennedy II, filho do senador assassinado Robert F. Kennedy (1925-1968). Recordou o diretor da Citizens Energy que quando se contemplou esta ideia se reuniu com representantes das principais empresas petroleiras de seu país e de outros produtores de petróleo a nível internacional para solicitar sua ajuda. "Todos disseram que não, exceto Citgo, o presidente Chávez e o povo de Venezuela".

Numa declaração escrita de Kennedy, depois do falecimento do líder bolivariano, assegurou que ele se preocupou "profundamente pela falta das mais básicas necessidades dos pobres na Venezuela e em outros países em todo mundo".

Por isso "nossas rezas vão ao povo da Venezuela, a sua família e a todos os que receberam o calor de sua generosidade", afirmou.

Segundo dados oferecidos pela Citgo ao apresentar a oitava edição anual do projeto solidário de combustível de calefação, a percentagem de recursos que a empresa gastou em programas sociais dentro do território do norte foi até cinco vezes maior ao de outros das principais petroleiras norte-americanas.

O congressista democrata José Serrano qualificou Chávez como um verdadeiro revolucionário latino-americano e disse sentir-se orgulhoso de poder expressar que seu bairro, o Bronx em Nova York, se tenha beneficiado do programa venezuelano com "milhões investidos em nossa comunidade".

Tanto nos Estados Unidos como em todo o hemisfério -advertiu Serrano- seu rastro ficará entre a gente que lhe inspirou a lutar por uma vida melhor para os pobres e oprimidos.

Por sua vez, Fernando Garay, porta-voz da Citgo, indicou que Chávez deixa depois de si uma marca de ajuda "aos menos privilegiados e promoção da justiça social que ultrapassa as fronteiras dos países".

Em oito anos residentes estadunidenses receberam mais de 200 milhões de galões de combustível a um valor superior aos 400 milhões de dólares.

A religiosa Kathy Boylan, do centro Dorothy Day Catholic Worker House, em Washington, assinalou que será eterno seu agradecimento para o presidente Chávez. "É uma honra ter recebido sua ajuda, celebramos e damos graças a Deus por sua vida e pedimo-lhe desculpas em nome de nosso país".

Boylan considerou que ele foi o único que respondeu quando alguns se negaram, "por que não o fazem outras petroleiras se tão boa imagem dão?".

Milhões de pessoas no mundo continuam manifestando sua dor pela perda do governante sul-americano, que morreu a 5 de março depois de lutar durante dois anos contra o câncer.

Organizações de direitos civis dentro dos Estados Unidos interpuseram uma solicitação por meio da Ata de Liberdade de Informação (FOIA, por sua sigla em inglês) às agências federais para que revelem documentos que se relacionem, refiram ou discutam possíveis planos de envenenar ou de assassinar de qualquer outra forma ao presidente venezuelano.

As demandas realizaram-se à Agência Central de Inteligência, ao Departamento de Estado e à Agência de Inteligência de Defesa e foram apresentadas pelo Fundo da Associação pela Justiça Civil, a Coalizão Answer e o jornal Libertação.

O governo de Venezuela também anunciou que abriria uma investigação sobre as circunstâncias da doença de Chávez, especialmente para determinar se foi envenenado ou deliberadamente exposto a elementos cancerígenos, segundo difundiram a rede NBC e outros meios de imprensa.

Poucas coisas foram convencionais na trajetória de Hugo Chávez. A impressão que deixa nos Estados Unidos com programas de ajuda aos mais pobres o demonstra. Dispôs só de 58 anos de vida e mudou esta parte do mundo, sentenciou um jovem intérprete cubano. E como o Libertador Simón Bolívar, há muito ainda por fazer.

*Deisy Francis Mexidor é jornalista, correspondente da Prensa Latina na América do Norte

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Na Fase-RS, a juventude que a sociedade não vê também tem sua noite de Natal


Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Rachel Duarte no SUL21

Esperança, Solidariedade e Fé. Talvez em poucos lugares estas palavras, comuns em época de Natal, façam tanto sentido quanto no local onde adolescentes em conflito com a lei vivem privados de liberdade. No mundo à margem das festas com ceias fartas e troca de presentes, jovens entre 12 e 18 anos acabam confrontados de forma solitária com o reflexo do que fizeram na rua. Para alguns internos da Fundação de Atendimento Sócio Educativo (Fase-RS) o Natal é também a única oportunidade de uma reunião em família. Antes da internação, a data era mais uma oportunidade para farras, álcool, drogas e quem sabe mais um crime.
Os mais de 800 adolescentes da Fase-RS convivem diariamente com a possibilidade de uma renovação das esperanças de poder voltar para casa e com a ansiedade de retomar a vida que tinham antes da internação. É na época do Natal, como para muitas pessoas que vivem em liberdade, que as emoções ficam afloradas. “Eles ficam muito sensíveis. Alguns ficam mais quietos do que o habitual. Outros se agitam mais e ficam muito ansiosos. Na noite de Natal é comum ao apagar das luzes uma pedalada coletiva nas portas das celas”, conta Terezinha Pires, funcionária com 28 anos de Fase.
O colega Jovaldoir Lanza, que já passou dois natais trabalhando na Fase, conta que é impossível ficar indiferente ao assistir o desespero de alguns adolescentes. “Essas emoções podem levar a atos mais sérios. A gente também se imagina com a nossa família nesta hora. Não passamos o Natal com eles para estar ali (na Fase), muitas vezes com medo de um possível motim”, fala.

Funcionários preparam presente de Natal para os adolescentes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Mas o espírito natalino fortalece o sentimento de solidariedade e fé dos profissionais que se dedicam a fazer mais do que o trabalho de servidor público. Enquanto os adolescentes do Centro de Convivência da Fase participavam de uma festa de Natal (no dia em que esta matéria foi produzida), Terezinha, Jovaldoir e outros colegas que promovem oficinas profissionalizantes aos adolescentes confeccionavam com disposição 50 peças de gesso como lembrança de Natal para os internos. “Eles não sabem. Por isso estamos dando uma corrida para aprontar tudo hoje”, contou Terezinha enquanto passava um verniz na peça.
O presente é uma mensagem com a Bênção da Casa. “Nesta casa não virá tristeza, nesta moradia não virá sofrimento, nesta porta não virá temor. Neste lar não virá discórdia, neste lugar haverá somente bênção e paz”, Terezinha fez questão de ler para reportagem. Mas também salientou que tanto o presente quanto a decoração de pinheiro de Natal e presépio da unidade não foram impostos. “Aqui temos jovens com muitos credos. Respeitamos todos e sempre que alguma entidade vem realizar alguma atividade é bem-vinda”, conta.

A fábrica da ‘Mamãe Noel’ não produz brinquedos

Oficina de produtos de limpeza é resultado da insistência de uma socioeducadora que acredita na ressocialização dos jovens internos | Foto: Arquivo Pessoal

Ao lado do local onde ocorrem as oficinas, a unidade Padre Cacique reserva uma história de persistência e devoção que chega a evocar algum milagre natalino. Há nove anos, uma sócio-educadora se dedica a recuperar os adolescentes por acreditar na possibilidade de um mundo melhor para eles longe do crime. Rosane Maciel conseguiu começar uma oficina de fabricação de produtos de limpeza e higiene depois de sucessivas tentativas de convencimento das diferentes direções da Fase-RS. Hoje, é na produção dos produtos químicos caseiros que ela ensina valores diferentes dos que eles aprenderam até chegar à internação. “É algo que me gratifica. Para mim o sentido de estar aqui é esse. Fazer algo a mais”, diz.
Com a produção de mil litros de detergentes, amaciantes, desinfetantes e alvejantes por oficina, ela auxilia na garantia de uma fonte de renda aos internos contratados para seis meses de trabalho. Parte dos produtos é para a limpeza da própria Fase-RS; o restante é destinado para venda dentro do complexo. “Vendemos para funcionários. Os guris com possibilidade de atividade externa vão na Kombi comigo percorrer as unidades e vender os produtos”, explica Rosane. A renda média gira em torno de R$ 150 a R$ 200 reais por mês. Um funcionário da unidade é o encarregado de controlar o dinheiro dos adolescentes e fazer as compras do que eles desejam adquirir. Geralmente, a primeira coisa que eles querem fazer é comprar um tênis de marca. Algo que será um sonho realizado neste Natal para o jovem T.L, de 17 anos, que começou em dezembro a participar da oficina. “Eu vou dar de entrada no Nike que eu quero”, fala.
Adolescentes produzem produtos de limpeza e mandam para família. O dinheiro arrecadado na oficina também é enviado para casa ou serve para trazer a família para um dia de visita  Foto: Arquivo Pessoal
Antes de conseguir apoio para a realização da oficina de produtos químicos, Rosane Maciel tentou várias outras atividades por não conseguir aceitar a falta de opções para ocupação dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. “Quando eu entrei aqui achei que ia mudar o mundo e que iria conseguir retirar todo mundo do crime”, disse, causando risadas entre os adolescentes que estavam na sala da oficina.
Ao descrever a batalha para conseguir o apoio da direção, adquirir os primeiros materiais da empresa de bases químicas e aprender a preparar os produtos — algo que ela não sabia fazer antes de começar a oficina –, a sócio-educadora causou outras reações além do riso nos adolescentes. “Bah, dona”, impressionou-se o jovem T.L.
Todos os natais Rosane prefere passar junto aos adolescentes para a intranquilidade dos filhos e da família. Ela já testemunhou três motins na Fase nesta época do ano, onde em um deles foi refém de um grupo disposto a fugir. “Eu já vi nestes anos muita coisa. Temos que ter esperança”, diz.
O adolescente M.V, de 17 anos, reincidente na Fase e há mais tempo na oficina, conta que costuma enviar os produtos de limpeza que fabrica para a mãe, em Osório. Este será o segundo Natal que passa privado de liberdade e ele espera poder passar de outra maneira os próximos. “Quando eles (familiares) vêm é muito sofrimento. Mas isso tudo a gente não pensa na hora da loucura. É ruim estar longe da família, mas cada um é responsável pelas suas escolhas. Eu estou sofrendo as minhas consequências”, afirma
Adolescentes que trabalham na oficina usam dinheiro para atender anseios de consumo iguais aos dos jovens de classe média alta. Nesta Natal, um dos internos dará entrada em um tênis Nike | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

M.V está migrando da oficina de produtos químicos para um trabalho de carteira assinada no Banrisul, por meio da iniciativa oferecida pela Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos. Ele espera conseguir manter a esperança de não ‘cair’ pela terceira vez na internação. “Eu vou tentar. A esperança é a última que morre”, diz.
Socio-educadora que promove oficina com jovens internos prefere passar o Natal trabalhando. Já passou por três motins e foi refém em uma tentativa de fuga dos adolescentes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Internação é oportunidade para Natal em família 
“Natal em família a gente passa aqui. Lá fora a gente não pensa em nada”, diz jovem interno da Fase-RS | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Os adolescentes internados na unidade Padre Cacique são oriundos de fora de Porto Alegre, o que torna a oficina de trabalho remunerado uma oportunidade para as famílias estarem com os adolescentes. “Alguns enviam dinheiro para casa, outros já pagaram para trazer os pais no dia do Natal. É um dinheiro que ajuda nestas pequenas coisas, mas ensina a lutar e trabalhar para consegui-lo”, acredita.
O adolescente J.R, 17 anos, irá passar o primeiro Natal privado de liberdade e diz que será o primeiro que irá compartilhar com a família. “Natal lá fora a gente não passa com a família. A gente passava em casa só para dar um Feliz Natal. Depois saíamos para curtir. Lá fora, a gente não pensava em nada”, conta o jovem, que mudou a vida aos 13 anos quando se envolveu com o tráfico de drogas.
“Não gosto de comentários sobre os crimes que eles fizeram. Não gosto nem que conversem entre eles. Aqui são todos iguais para mim. A gente sempre orienta sobre outros valores. Claro que santo de casa não faz muito milagre. Porém, sempre temos a esperança de que eles assimilem alguma coisa”, diz a sócio-educadora Rosane Maciel.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mercado solidário na Suíça. Quando Natal rima com solidariedade


Sergio Ferrari
Colaborador de Adital na Suiça. Colaboração E-CHANGER
Tradução:ADITAL
- ONG de cooperação e migrantes juntos sob o mesmo teto
- "Que a população desfavorecida também possa festejar”



Esse ano, o Natal começou antes na Suíça. De 13 de dezembro até o sábado, 15, mais de 30 associações de cooperação e de solidariedade com o Sul animam o mercado solidário. Uma forma nova de antecipar as festas.

Produtos e comidas provenientes da América Latina, da África e da Ásia; um clima festivo e de encontro intercultural; cerca de 2 mil visitantes esperados durante os três dias; mais de 30 mil francos de benefício projetado. Em síntese, um exercício ativo de solidariedade.
Após a primeira jornada "já percebemos que esse sexto mercado será novamente coroado com um êxito total”, expressa Maxime Gindroz, responsável de comunicação da Federação de Cooperação do Cantão de Vaud (Fedevaco). Recordando o slogan que motivou a atividade: "para que o Natal seja também uma festa para a população desfavorecida do Sul”.
Com essa filosofia de referência, a Fedevaco, junto com o Centro de Animação Cultural Polo Sul, promovem uma vez mais, como há seis anos, esse espaço de encontro, festejo e vendas, assegurando a participação de ONGs e associações sustentadas por cooperantes ou projetos em diferentes países. Desde o Equador até a Índia, passado pelo Peru, Brasil, Tibet, Togo, Madagascar, Marrocos, Serra Leoa ou Palestina.
Um carrossel de culturas com um ponto de encontro comum e a perspectiva de promover uma relação de proximidade "entre migrantes que vivem na Suíça e os povos do Sul, aproximando essa dupla realidade à população do Cantão de vaud”, enfatiza Fabio Cattaneo, responsável animador de Polo Sul, o local anfitrião, localizado no bairro de Flon, em pleno centro de Lausanne.
Um posto da Bolsa de Trabalho, ativa associação de apoio aos migrantes, particularmente no setor da formação de mulheres, "agrega um valor especial a esta edição”, enfatiza o responsável por Polo Sul ao avaliar a contribuição intercultural dessa inovadora iniciativa.
Para Cattaneo, esse mercado solidário "constitui uma ponte adicional de encontro” do mundo da cooperação ao desenvolvimento e das comunidades migrantes. "Todo esse processo de preparação; o trabalho de instalar o mercado e os três dias partilhando espaços comuns permitem aproximar realidades, conhecer-se melhor e promover novas sinergias com vistas o futuro”. Na concepção do responsável pelo Centro Intercultural, a vivência dos imigrantes que chegam a Suíça e a Europa e a de suas comunidades de origem –muitas vezes beneficiárias da cooperação- constituem duas caras de um mesmo espelho social.
O mercado natalino solidário é uma importante iniciativa, "um espaço privilegiado que permite confluir ideias, utopias e atividades muito práticas, como oferecer uma comida típica de um país distante ou vender um produto autóctone do Sul, que se converterá em um presente muito especial para celebrar as festas”, insiste.

‘Vidraça’ do Sul

As organizações "estamos convencidas da contribuição que há em oferecer às pessoas da Suíça o típico de outras culturas, abrindo uma janela especial no Cantão de Vaud a realidades muito distantes”, enfatiza Maxime Gindroz, que reconhece também para a importância de valorizar a tarefa de cooperação ao desenvolvimento promovida pela Fedevaco e pelas organizações que a integram.
Apesar de que uma prioridade essencial de "nosso trabalho é chegar à classe política, sensibilizando-a sobre a cooperação, abrir esses espaços adicionais ao grande público é também transcendente”, reflete. Facilitar que se conheça o diferente reduz medos infundados e diminui as distâncias e incompreensões,
Gindroz ressalta dois aspectos significativos do evento: o contínuo fluxo em aumento do público a cada ano desde o começo do primeiro mercado, em 2006. E a forte presença, também em crescimento, de jovens, muitos dos quais têm entre 20 e 25 anos. "Eles manifestam um interesse particular em conhecer melhor a realidade de outros povos e culturas”, explica.
Ao avaliar saltos qualitativos em relação às edições anteriores, Gindroz não duvida em enumerar vários elementos. O vídeoclipde apresentação do mercado solidário 2012, que permitiu fazer uma publicidade ativa nas redes sociais. O apoio midiático do jornal Le Courrier, cuja linha editorial é particularmente sensível à temáticas do Sul. A mobilização de um público cada vez mais numeroso e interessado. Sem menosprezar o próprio resultado econômico do mercado solidário, que permite reforçar projetos latino-americanos, asiáticos e/ou africanos.
Dinâmica de participação cidadã, segundo Gindroz, que "fecha um 2012 muito positivo para as ONGs suíças, devido ao aumento do orçamento oficial destinado à cooperação ao desenvolvimento, resultado da mobilização da sociedade civil suíça que anos atrás impulsionou com êxito a petição ‘Unidos contra a Pobreza’, exigindo esse incremento.
[Sergio Ferrari, em colaboração com swissinfo.ch e E-CHANGER, membro da Fedevaco].

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Para conhecer Outro Israel – o que luta pela paz


ESCRITO POR SERGIO STORCH   


O Brasil teve o privilégio de abrigar, na semana passada, o Fórum Social Mundial pela Palestina Livre (FSMPL), na cidade-berço dessa invenção que está na raiz do pensamento de uma nova cultura política. Lá se vão quase 13 anos desde que criamos este campo de novas possibilidades: “um outro mundo é possível”, conforme o dístico criado em sua fundação. Para alcançar o sentido da importância deste Fórum pela Palestina é importante lembrar a origem do FSM, nascido em 2001 por iniciativa de um grupo de brasileiros, bem conhecidos na nossa sociedade civil, desde a resistência à ditadura militar.

A este Fórum pela Palestina reagiram, apreensivos com possíveis impactos de protestos e manifestações, setores hegemônicos da comunidade judaica brasileira, manifestando pela mídia críticas aos governos federal, estadual e municipal de Porto Alegre, por apoiarem esse evento que, numa visão cartesiana, aparenta desafinação em relação ao discurso de equidistância dos polos do conflito: Israel e Palestina.

É, pois, oportuno registrar a existência de uma outra visão judaica. É bem antiga, remontando aos valores já expressos no Pentateuco, que trouxe em sua legislação o reconhecimento do outro, dos seus direitos e da responsabilidade de cada indivíduo com todos os demais, de seu povo ou estrangeiros. “V’ahavta l’reacha kamocha” (amai ao próximo como a ti mesmo) está nos ensinamentos da Torá, conforme o Rabi Akiva, ícone da ética judaica. Não há nada a temer. Rancor contra Israel haverá, podendo por vezes resvalar para chamamentos à destruição do país e para o antissemitismo rasteiro, como derivação de ignorância que existe de forma recíproca também da parte dos que apoiam incondicionalmente Israel. Todos conhecemos muito pouco de nossas matrizes e histórias, tanto das nossas quanto as dos outros povos. Aos que criticam o FSMPL e os governos que o acolhem, é bom estudarem um pouco.

E aqui vão algumas informações úteis para os que a ele se opõem precipitadamente ao FSMPL. As comunidades judaicas em todo o mundo enfrentam fissuras na pretensa unidade que lideranças institucionais procuram aparentar, tentando cobrir o sol com a peneira. Em Israel, o debate livre pela imprensa é a maior evidência.

Há um abismo, separando ao menos metade da sociedade israelense (que, segundo as pesquisas, apoiam a solução de Dois Estados) dos seguidores da coalizão de direita que está no governo há três anos. É bom lembrar que, em mandato anterior (1996-1999), o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu já havia atentado contra os acordos celebrados em Oslo (1993), com o palestino Yasser Arafat, por seus adversários israelenses, Itzhak Rabin e Shimon Peres (atual presidente do país, de oposição). As seguidas procrastinações de Netanyahu, e as provocações feitas por ele, ao ampliarem os assentamentos de colonos judeus em territórios palestinos ocupados, fizeram vencer, à época, o prazo de cinco anos fixado em Oslo para um acordo de paz permanente.

Surgiu, em consequência, uma insatisfação crescente entre as massas palestinas, que explodiu, já de forma incontrolável, na segunda Intifada, no ano 2000. O primeiro-ministro é um personagem de convicções inabaláveis e perseverantes, que não hesita em abusar da memória de tragédias históricas sofridas pelos judeus para justificar uma estratégia míope, baseada tão somente na força militar.

A extensão do abismo que existe em Israel, e não é novo, pode ser apreciada por este trecho de uma carta de Leah Rabin (viúva de Itzhak Rabin, assassinado por um extremista judeu em 1995), na época do primeiro mandato do atual chefe de governo: “Netanyahu é um mentiroso corrupto que está destruindo tudo que nossa sociedade tem de bom”. (...) Netanyahu e seu governo não representam uma unidade dos judeus israelenses, nem tampouco dos judeus na maior comunidade da Diáspora, a estadunidense”.

Há um olhar judaico em Israel que busca – e encontra – o parceiro palestino. Ao contrário da propaganda desse governo manipulador do medo e da insegurança, que martela a ideia de que não existem parceiros para a paz, há inúmeros exemplos de parcerias. O escritor e jornalista israelense Amos Oz colabora com o filósofo palestino Sari Nusseibeh, reitor da universidade Al-Quds. O músico Daniel Barenboim teve como parceiro o maior intelectual palestino, Edward Said, para a formação da sua orquestra de jovens israelenses e árabes, hoje mantida pelo governo da Andaluzia, na Espanha. A cantora israelense Noa canta com sua amiga palestina Mira Awad. Há ex-soldados israelenses e ex-militantes palestinos da luta armada que se encontram no Combatants for Peace. O líder de direitos humanos Edward Kaufman (que levamos no dia 20/11 ao Itamaraty) leciona com um parceiro palestino sobre direitos humanos e resolução de conflitos (seu amigo Manuel Hassassian é embaixador da Autoridade Palestina na Inglaterra).

Nada mais falso do que a mistificação de que não há parceiros para a paz. Há 130 ONGs em que atuam ombro a ombro israelenses e palestinos na defesa dos direitos violentados pelas políticas dos governos israelenses, desde a detenção de prisioneiros sem culpa formada por tempo indeterminado, até a desobediência civil de mulheres israelenses que regularmente contrabandeiam mulheres palestinas para tomarem banho de mar em Tel Aviv ou Haifa.

Falemos da maior comunidade da Diáspora judaica, a estadunidense, cuja população (5 milhões) não é muito menor que a judaica israelense (6 milhões). A tradição liberal dessa comunidade, que teve líderes marchando ao lado de Martin Luther King nos anos 1960 e combatendo à guerra do Vietnã nos anos 70, se expressa hoje em organizações como o Jewish Voice for Peace(do qual rabinos participaram das flotilhas que chamaram a atenção do mundo para o bloqueio israelense a Gaza), o Tikkun (liderado pelo rabino Michael Lerner, que é ativista pela paz desde a resistência à guerra do Vietnã), e o JStreet, um lobby judaico no Congresso que se opõe ao mal-denominado “lobby sionista”, a AIPAC (The American Israel Public Affairs Committee).

Vale destacar que este último, embora financeiramente forte, é tão pouco representativo da maioria da comunidade judaica que sua campanha ostensiva por Mitt Romney nas últimas eleições (doação US$ 100 milhões só da parte do seu presidente, Sheldon Adelson, magnata dos cassinos de Las Vegas) foi respondida pela maioria, de 70%, do voto judaico em favor de Barack Obama. Esse lobby vem corroendo por dentro a democracia israelense, com o investimento em mídia impressa que hoje domina 90% dos leitores do país. E é abertamente aliado a outra força das mais retrógradas da sociedade estadunidense, o chamado “sionismo cristão”, dos fundamentalistas evangélicos, no qual atuam figuras do Tea Party que, como o ex-candidato Glenn Beck, vão a Israel para incitar à distância os seus seguidores nos Estados Unidos (vercomentário na imprensa israelense. A nata da extrema direita norte-americana tem a AIPAC como instrumento. Não pode ser denominada “lobby sionista” ou “lobby judaico”, pois nessa complexa sociedade há revistas progressistas de um século ou mais – The NationForward etc. –, povoadas por judeus destacados).

O anti-lobby JStreet (abreviação de Jewish Street, ou seja, a “rua judaica”) está no seu quarto ano de existência, e tem realizações constantes ao trazer para contato com congressistas e secretários de Obama pessoas eminentes de Israel, que incluem até mesmo generais e oficiais de alto escalão dos serviços de inteligência. Comparecem para demonstrar à opinião pública e aos políticos dos EUA a importância de pressionar o governo israelense no sentido de mudar de direção.

A arrogância dos próceres da diplomacia israelense, hoje chefiada por um ministro que lidera a extrema-direita no país, e visto por muitos embaixadores como destruidor de competências que Israel chegou a ter com figuras lendárias como Abba Eban, vai a ponto de pressionarem governos do Ocidente a não reconhecerem aos palestinos sequer o direito de fazerem parte de instituições como a Unesco. Atribuem ao terrorismo palestino uma natureza cultural dos muçulmanos, enquanto fecham aos palestinos os caminhos do combate não violento pelos seus direitos.

Vale ressaltar a linguagem eivada de ironia e intervencionismo, como a expressa nesta frase de um adido israelense ao Uruguai, por ocasião da celebração de acordo do Mercosul com a Autoridade Palestina: “o acordo do bloco do Cone Sul com a Palestina não é a melhor forma de estimular o processo de paz no Oriente Médio”. Qual seria a alternativa? Aprofundar oapartheid na zona C da Cisjordânia, com a construção de mais colônias de ocupação, enquanto não se dão licenças de construção para os moradores palestinos?

A realização bem-sucedida do Fórum Social Mundial pela Palestina Livre abre, no Brasil, uma oportunidade rara. Permite que brasileiros — de origem judaica, árabe ou qualquer outra — proponham um novo olhar: uma mirada de ação afirmativa que, em vez de recusar os direitos de um ou de outro lado, afirme e defenda esses direitos.

A primeira ação, que pode ter efeitos contínuos e duradouros, pode ser a proposta de um tratamento Fair Trade (Comércio Justo) para o azeite de oliva palestino. Chegaria às mesas de brasileiros dispostos a lutar pela paz. Permitiria, além de consumir um produto de qualidade e repleto de simbologia, estimular contatos com os que o produzem — desde o cultivo das oliveiras à industrialização artesanal. Lembraria que a oliveira, símbolo da paz, é plantada por gente comum que zela pela subsistência de suas famílias, e arrancada às vezes por vândalos, ou destruída por bulldozers que fazem a preparação do terreno para construção do muro de separação.

Importar e distribuir o azeite palestino será trazer ao conhecimento do consumidor-cidadão a existência de filmes como Budrus, que mostram a realidade na escala do humano de palestinos que resistem de forma não violenta, apoiados por israelenses com esse outro olhar.

Há inúmeras formas de intervirmos – nós, brasileiros – com uma pauta de ações afirmativas, no programa “Lado a lado: a construção da paz no Oriente Médio – um papel para as Diásporas”, lançado pelo Itamaraty e que certamente contará, mais cedo ou mais tarde, com apoio das lideranças judaicas mais esclarecidas.

Temos uma grande vantagem: é muito mais fácil arregimentarmos num movimento nesse sentido setores crescentes de uma comunidade pequena – e em certos aspectos provinciana, de 100 mil pessoas – do que seria possível na maior comunidade judaica, 50 vezes maior.

A oportunidade está à nossa frente. Em termos judaicos, poder-se-ia dizer que o Fórum Social Mundial está às vésperas de celebrar o seu Bar Mitzvá, o ritual que marca a passagem dos jovens para a responsabilidade moral pelos seus atos, aos 13 anos. Que possamos amadurecer ações afirmativas para celebrá-las no 13º FSM, na Tunísia, em abril de 2013.

Sérgio Storch é consultor em Planejamento, ativista de diversas causas ligadas à transformação social. Escreve em Outras Palavras a coluna Outro Israel