domingo, 23 de maio de 2010

Israel fatura encima do genocidio em Gaza....

"Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina", diz economista israelense

Os impactos de anos de ocupação israelense sobre a economia palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e a nova onda de migração de trabalhadores da Ásia para substituir a mão-de-obra palestina, confinada nos territórios, são os principais temas abordados pelo economista israelense Shir Hever, membro do Alternative Information Center, nessa entrevista ao Opera Mundi.

Segundo o estudioso, mestre em História e Filosofia pelo Instituto Cohen, na Universidade de Tel Aviv, Israel tem controle inclusive sobre as doações internacionais. Independente da moeda que ingressa nos territórios (dólar, euro, libra etc), o montante precisa ser aplicado no Banco Central de Israel, e depois, convertido para o shekel, dando lucro para o Estado judeu.

Efe (11/05/2010)

Checkpoint em Ramallah: todas as manhãs, dezenas de palestinos buscam trabalho em
colônias judaicas na Cisjordânia

Shir, autor de uma série de estudos sobre os impactos da ocupação – todos disponíveis para download em www.alternativenews.org – vive na Jerusalém dividida não apenas pela ocupação militar e pela política, mas por ações sócio-econômicas que ampliam o abismo criado pelo desejo de fazer da cidade uma capital israelense. Jerusalém é hoje, sem dúvida, a capital da ocupação.

Ainda que estejam sob a autoridade palestina, na verdade vilas e cidades dependem de Israel. Como isso ocorre, a economia da ocupação alimentando Israel?
Na verdade, isso está  na raiz da ocupação, quando o governo israelense procurava pelas políticas corretas para lidar com esse novo território sob seu controle. Havia um debate de como tratá-lo. Basicamente havia aqueles que diziam que a ocupação seria temporária, que não poderíamos anexar o território com todas essas pessoas e perder uma maioria judaica. Assim, seria melhor não investir na economia palestina, pois iríamos perder tudo no momento em que devolvêssemos os territórios à Jordânia ou ao Egito. Esse era o grupo do sionismo pragmático. O grupo mais messiânico dizia que o sionismo é um movimento, em andamento, de redenção religiosa. Estávamos destinados a continuar crescendo. Então a ocupação era um momento de triunfo e, obviamente, jamais iríamos devolver a terra.

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Esse debate político refletiu-se no projeto econômico. Eles estabeleceram um Comitê Econômico, chamado Comitê Bruno, que aconselhou a manutenção da separação entre o Estado de Israel e os Territórios Ocupados Palestinos. As recomendações foram imediatamente rejeitadas e o governo instalou um Comitê Ministerial, que aconselhou uma maior liberdade nas ações para que ganhássemos mais tempo. Isso previa permissão a palestinos para que trabalhassem em Israel, que israelenses pudessem ir aos tPos, em número restrito, e deixar que produtos fossem importados e exportados. Na realidade, a política realmente adotada nem foi essa, foi muito mais livre, quase não havia restrições. Israelenses que quisessem ir a Belém ou Ramallah primeiro precisavam de permissão, mas com o tempo nem isso mais era exigido. Mas havia uma política, que não estava escrita em nenhum lugar, mas todos sabiam a seu respeito, e que foi imposta de uma forma muito coerente: não permitir a palestinos desenvolver qualquer negócio local que pudesse concorrer com um setor israelense. Isso é importante destacar porque não se acha em documentos oficiais.

Isso ocorre até hoje ou após Oslo as coisas mudaram?
Não, depois de Oslo a situação tomou uma direção um pouco diferente. [Os acordos de paz Oslo foram mantidos entre Israel e o presidente da OLP, Yasser Arafat e mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton]

Podemos dizer então que os palestinos estavam sob essa situação de não-desenvolvimento até Oslo?
Sim, pelo menos de uma forma direta. Hoje há muitas limitações em relação ao desenvolvimento, mas feitas de uma forma diferente. Até Oslo, a preocupação era limitar aos palestinos o uso de seus próprios fundos para criar desenvolvimento. O que acontecia era que se alguém quisesse investir numa empresa local, permissões para que trouxesse maquinários ou material bruto, ou ainda, para que tivesse acesso a instituições financeiras, eram negados.

Quais os termos, hoje, dessa ligação entre Israel e os territórios?
Se for a um mercado hoje nos territórios, quase todos os produtos estão em hebraico. Isso porque o caminhão com a placa israelense passa pelo posto de controle de forma fácil. É mais fácil enviar um caminhão de Haifa a Belém (uma viagem que dura cerca de 2h30) do que de Ramallah a Belém (viagem que poderia durar 30min). Há, por exemplo, uma fábrica de leite e derivados em Ramallah. Muitos palestinos veem na prateleira os produtos de Ramallah e os produtos da Novah, uma companhia israelense, e escolhem a Novah. É o mesmo preço, mas o produto israelense é mais fresco. Os palestinos sabem que os produtos de Ramallah ficaram no posto de controle por pelo menos um dia. Não esperam que seja de boa qualidade. Isso dá uma grande vantagem para as companhias israelenses. 
Efe (14/05/2010)

Ativistas de diretos humanos tentam evitar prisão de garoto palestino que havia jogado pedras contra
veículos militares de Israel, em Hebron


Outra questão importante é a grande quantidade de subsídios que os assentamentos ganham do governo israelense. Pagam menos taxas, conseguem grandes empréstimos de capital, terra barata e muitos serviços públicos que não podem ter dentro de Israel. Se um israelense quiser começar uma indústria dentro de uma área industrial de um assentamento, como Ma´ale Adumin ou Atarot, terá condições muito mais favoráveis do que se o fizesse em uma cidade industrial, como Ashdod.

Uma questão que parece de grande importância é o controle que Israel exerce pelo fato de os territórios usarem o shekel israelense, um controle de políticas monetárias...
Isso é muito importante. Se você é do Brasil, então entende que caso controle a moeda, isso te dá muito poder, sobre quando criar inflação ou quando combater a inflação. Mas o que é ainda mais importante é que todo o dinheiro de ajuda humanitária que chega aos palestinos vem em forma de moeda estrangeira, euros, dólares ou ienes. No entanto, para que possam ser usados na economia palestina, devem ser convertidos em shekels, que por sua vez são usados para pagar salários, produtos, impostos e taxas. Então o que acontece é que esses fundos de fora que vêm aos palestinos ficam no Banco Central israelense. Isso significa, em termos práticos, que Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina.

Como exportando a ocupação?
De acordo com a lei humanitária internacional, como poder ocupante, o poder soberano dentro dos territórios é Israel. Se uma criança não tem o que comer ou se há um doente que precisa de atenção médica, é responsabilidade israelense como poder soberano ocupante. Mas agora temos uma situação em que a comunidade internacional está disposta a tomar o papel de Israel. Em Gaza, de 70% a 80% da população recebe a maioria de suas calorias através de ajuda. E mesmo os 20% restantes suplementam a alimentação com a ajuda humanitária. Gaza é a região mais dependente do mundo hoje.

Jerusalém era o centro de cultura, política e economia, junto com Jaffa antes de 1948. Projetos recentes, como o Muro, desligaram esse centro do resto da Cisjordânia. Que impacto isso tem na economia e vida dos palestinos?
Jerusalém ainda é a cidade com a maior renda per capita e com a maior receita entre as cidades palestinas, inclusive Ramallah. Pessoas vivendo em Jerusalém que acham emprego em Israel, e muitas delas trabalham em Jerusalém Oeste e servem israelenses no seu trabalho, ganham a média de renda israelense, que é muito maior do que o valor na Cisjordânia. Eles têm, portanto, uma renda per capita alta, mas quando fazem suas compras, pagam preços israelenses. Ainda que Jerusalém tenha média de valores de salário maior do que qualquer lugar em Gaza ou na Cisjordânia, de acordo com os padrões israelenses, mais de 70% dos palestinos estão abaixo da linha de pobreza. Então é a cidade mais rica se você a olha como uma cidade palestina, mas é a cidade mais pobre se você a olha como uma cidade israelense.

A única forma que as pessoas de Jerusalém Leste têm de sobreviver é o fato de poderem usar a habilidade de estar na fronteira, de ter um cartão de identidade azul especial, que os trata como residentes, mas não cidadãos israelenses. Isso lhes dá a possibilidade de se moverem dentro de Israel. Podem andar também dentro da Cisjordânia. Por causa disso, podem ir a Ramallah ou a Belém, comprar por preços mais baratos e depois ir a Jerusalém Oeste para ganhar algum dinheiro. E se eles precisam de um hospital, vão ao Augusta Victoria, um hospital dentro de Jerusalém Leste que lhes dá um tratamento mais barato. Se precisam de serviços de bem-estar social, vão à Jerusalém Oeste, pois estão dentro do sistema israelense de assistência social. Que fique claro: esse não é um sistema oficial. E não quer dizer que são ricos ou que sua média de qualidade de vida seja melhor do que a da elite de Ramallah.

Como o Muro afeta a vida dos palestinos em Jerusalém?
O que o Muro está fazendo é tornar difícil aos palestinos de Jerusalém Leste fazer esse jogo de sobrevivência. Agora, se quiserem ir fazer compras em Ramallah, têm que esperar no posto de controle por horas. Mesmo que passem, esperam por horas. Se quiserem ir ao hospital, têm que esperar. Se quiserem mandar os filhos à escola, há um problema dependendo de que lado do Muro estão. Eles tentam superar as dificuldades que o Muro traz, mas é possível ver como ele está destruindo o padrão de vida. Por exemplo, muitos palestinos estão mudando-se para o lado oeste do Muro para que continuem a ter acesso a seus trabalhos, escolas, à assistência social. Eu fiz um estudo sobre os impactos econômicos do Muro na vida dos palestinos de Jerusalém Leste especificamente e estimei os custos, por danos, em 200 milhões de dólares por ano. 
Efe (14/05/2010)

Manifestação em Ramallah pelo aniversário de fundação de Israel, data denominada "Nakba" - o desastre - pelos palestinos

Uma outra questão  é a substituição da mão-de-obra palestina dentro de Israel. Como isso ocorreu e as consequências até  hoje?
Em 1991, tivemos o primeiro fechamento da Cisjordânia por causa da guerra do Iraque. Muitos palestinos apoiavam Saddam Hussein, então Israel os puniu por sua posição política. Oslo começa logo em seguida, em 1994, e (Shimon) Peres, na equipe de negociação, pensava que podia usar os palestinos como trabalho barato, usá-los em um modelo neocolonial de exploração. Mas no meio das negociações, (Ytzhak) Rabin, o primeiro-ministro, interveio e disse ‘não gosto nem um pouco dessa direção. Quero separação’. E ele substituiu o negociador do lado israelense, removeu o homem de negócios e trouxe generais para centrar em questões de segurança. Então falavam de fechamento o tempo todo, o que é uma violação dos Acordos de Paris (1973), assinados entre Israel e os palestinos. Isso provocou uma grande separação entre o mercado israelense e a mão-de-obra palestina.

É importante entender que o setor de construção israelense veio a ficar extremamente dependente da mão-de-obra barata palestina. Em Israel, pensavam ‘por que comprar máquinas quando gasto menos com mão-de-obra?’. Havia um sistema de trabalho barato na construção e na agricultura. Quando o fechamento veio, empresas começaram a fazer lobby no governo, dizendo ‘precisamos de mais trabalhadores baratos, o que vocês vão fazer?’. O governo então deu permissões para que importassem trabalhadores migrantes de países não-árabes e não-muçulmanos. Mas o problema é que nem o governo e nem os chefes das empresas queriam pagar o custo da vinda desses trabalhadores das Filipinas ou da Tailândia. O que eles fazem é deduzir do salário do trabalhador o valor gasto com a vinda. Isso acontece até hoje. Esses trabalhadores chegam a Israel e em um primeiro momento, que pode levar meses, trabalham para o dono e não ganham qualquer dinheiro.

Não há  qualquer direito para eles?
Não, muito poucos. O que aconteceu em certo momento é que a prefeitura de Tel Aviv organizou um sistema de assistência social de emergência. Fizeram isso porque de outra forma haveria uma crise. Na verdade, oficialmente, eles têm direitos. Mas ninguém os informa deles, muito menos seus empregadores. Pode até ser que depois de algum tempo ele tome contato com organizações de direitos humanos ou de trabalhadores, mas depois desse ponto, em que ele já pagou o que “devia” a seu empregador pelo custo de sua vinda, ele é despedido. O dono da empresa traz um outro trabalhador com a mesma permissão dada pelo governo de Israel. Aquele que foi demitido permanece em Israel ilegalmente, pois quer ganhar dinheiro, ajudar suas famílias. Então temos a seguinte situação: o máximo de trabalhadores palestinos permitidos dentro de Israel é de 120 mil. Agora, por esse sistema, temos cerca de 300 mil trabalhadores imigrantes de fora. Hoje, são menos, pois a polícia os deporta. Mas o auge foi em 2002.

Quando Sharon virou o primeiro-ministro e Netanyahu o ministro das Finanças, começaram a se livrar deles. O que a polícia está fazendo é ir a lojas durante o Natal. Se vê que há uma pessoa comprando enfeites, pede documentos ou se vê alguém negro ou pessoa com aparência asiática do leste, também. É triste ir ao sul de Tel Aviv e ver que durante no final do ano as pessoas ficam com medo de entrar nas lojas e celebrar o Natal, pois vão se expor.


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O Brasil e a crise na Grecia....

Governo Lula e banqueiros brasileiros contribuem para a espoliação do povo grego

por Renato Nucci Junior [*]
O 'Pacto de estabilidade grego'. Cartoon de Latuff. O povo grego tem protagonizado, nas últimas semanas, uma luta heróica contra as medidas aprovadas a toque de caixa por seu parlamento, dirigido pelos social-democratas do PASOK, para receber ajuda financeira internacional que retire o país da crise. As exigências impostas pela União Européia e o FMI para que a Grécia tenha acesso ao pacote de "ajuda" da ordem de 110 mil milhões de euros são duríssimas e quem pagará a conta é o povo grego. Elas incluem a redução dos salários, corte nas aposentadorias, ataque aos serviços públicos, aumento dos impostos e a retirada de direitos sociais e trabalhistas.

Esse imenso volume de recursos servirá para que o governo grego faça frente ao pagamento de sua dívida, de mais de 270 mil milhões de euros, cerca de 115% do seu PIB. O dinheiro que se pretende emprestar à Grécia servirá para a mesma cumprir suas obrigações com os especuladores e credores de títulos de sua dívida pública, que levaram o país à falência. Em suma, sacrifica-se o povo grego, com um corte de 30 mil milhões de euros em seus gastos públicos até 2012, para que meia dúzia de ricaços tenham os seus lucros garantidos. É contra essa tentativa de fazê-los pagar pela crise que os trabalhadores gregos, com destacado papel dos comunistas, tem se mobilizado. Só nesse ano foram sete greves gerais com ampla adesão de massa.

O temor de que a crise grega se alastre e torne ainda mais demorada a recuperação econômica mundial, tem mobilizado os esforços das principais potências capitalistas. A União Européia aprovou um pacote de ajuda de 750 mil milhões de euros, o equivalente à metade do PIB brasileiro. O próprio FMI disponibilizará cerca de 250 mil milhões. Tudo em nome da manutenção de um modelo econômico cuja fatura, em termos de ajuste das contas públicas, implicará em novos ataques aos direitos dos trabalhadores em todo o mundo.

O Brasil também participa desse esforço mundial para conter a crise grega. O governo Lula anunciou na última sexta-feira, 7 de maio, que fará um aporte de 286 milhões de dólares ao FMI para ajudar a debelar a crise. Esse volume de recursos não representa sequer 1% do total de recursos do Fundo destinados à Grécia, de 30 mil milhões de euros. Trata-se de um aporte pequeno se comparado ao volume total. Porém, o que mais importa não é o tamanho da contribuição, mas o gesto em si.

O aporte ao FMI mais uma vez sinaliza o compromisso do governo Lula com a manutenção de um modelo econômico, baseado na lógica financista e especulativa. Motivado por essa lógica, a intenção do governo nesse aporte de recursos serve tanto para manter o bom funcionamento do capitalismo, como também salvar os interesses dos bancos privados brasileiros. Questionado se o Brasil teria títulos da dívida grega, o ministro da Fazenda, Guido Mantega declarou "que alguns bancos privados brasileiros podem ter esses papéis, mas em um percentual baixo" ( Folha de São Paulo, 08/05/2010).

Independente do percentual que os bancos brasileiros possuem de títulos da dívida grega, reafirmamos que o mais importante é o gesto em si. E novamente, com tal gesto, o governo Lula, como faz desde o seu primeiro mandato, não confronta os interesses dos banqueiros brasileiros, cujos lucros em 2009, mesmo com a crise econômica, foram de R$ 23 mil milhões, 26% a mais do que no ano anterior. Um lucro obtido na base de juros extorsivos, de taxas de serviços abusivas e de uma exploração brutal sobre os bancários. Como a espoliação do povo brasileiro não é suficiente para ampliar a acumulação de capital, os banqueiros tupiniquins alçam vôos maiores e se lançam ao mundo, explorando oportunidades abertas em outros países. Contam nessa empreitada com o apoio do governo Lula, cujo aporte de recursos ao FMI no caso da crise grega, destina-se a salvar os seus preciosos lucros. E como sempre ocorre, o recurso para esse aporte virá dos cofres públicos, mais uma vez usados para atender grandes interesses privados nacionais. É assim que os banqueiros brasileiros e o governo Lula, não satisfeitos em explorar o povo brasileiro, agora contribuem na espoliação do povo grego.

[*] Do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .