Natal branco, Natal em branco: os desastres na Europa
Estrada em Hazel Grove, próximo a Manchester em Londres, sob a neve (Foto: Tom O'Donoghue/Flickr)
Enquanto a Europa congela, a falha dos modelos meteorológicos mostra mais uma vez os danos das mudanças climáticas.
Ninguém esperava o frio tenebroso que se abateu sobre a Europa nos
últimos dias. Todo mundo torcia por um Natal branco, isto é, com neve.
Mas não se esperava tanta neve, nem tanto frio. Muita gente vai passar
o Natal em branco, isto é, sem as viagens programadas, os encontros
desejados. Até Papai Noel vai ter dificuldades para voar com suas renas.
Em Varsóvia, capital da Polônia, país em que as benesses do
capitalismo triunfante depois da Guerra Fria produziram bastante
pobreza e muita miséria, só na noite de sábado para domingo 15 pessoas
morreram de frio, na maioria do grupo dos sem-teto. Em todo o país já
foram assinaladas 47 mortes por congelamento, segundo a rede de TV
TVN24.
Trens estão parados, aeroportos cancelam vôos às centenas, as
estradas estão perigosíssimas. Na Bulgária um apagão deixou 220 cidades
sem energia elétrica durante horas a fio, sob as temperaturas
baixíssimas da estação. Na Alemanha, além do aeroporto de Frankfurt ter
cancelado mais de 100 vôos, duas pessoas morreram de frio. Todos os
grandes aeroportos europeus foram afetados, suspendendo vôos e
operações pelo menos durante algumas horas, senão por um dia inteiro.
Trens quebraram no interior do Euro-túnel sob o canal da Mancha,
deixando 2 mil pessoas – muitas delas crianças – no escuro, sem água e
sem comida durante 16 horas, até que pudessem ser retiradas.
Enquanto isso, na costa leste dos Estados Unidos em um dia nevou, em
alguns lugares, o que neva durante o mês inteiro, como em Washington
D.C., a capital.
Atualmente, a maioria dos boletins meteorológicos segue modelos
computadorizados (inclusive no Brasil). Com base em alguns
pontos-chave, um mapa de temperaturas e outros dados de previsão do
tempo é elaborado, como se fosse um mapa-modelo que recobre as regiões
que lhe servem de referentes. Tudo isso é feito com base na coleta de
dados naquele momento e com base em séries históricas.
Pois bem, os modelos elaborados estão com dificuldades para se
encaixarem nas regiões de referência. Um indício cotidiano disso, e
aberto ao leigo no assunto, é a velocidade com que as “previsões para
os próximos dias” têm mudado. Na segunda-feira prevê-se que vai nevar
na quarta; já na terça a previsão muda para quinta, e aí começa a nevar
na terça mesma, e não neva nem na quarta nem na quinta, enquanto na
sexta-feira a temperatura despenca para níveis imprevistos e por aí
vai. É verdade que houvera advertências de que esse período que
antecedeu a abertura oficial do inverno no hemisfério norte (21 de
dezembro) seria rigoroso. Mas ninguém esperava tanto rigor.
Diante disso até as desculpas esfarrapadas ganham algum crédito. Por
exemplo, porta-vozes oficiais da Euro-Star, a companhia responsável
pela linha férrea operada no Euro-túnel, entre a Grã-Bretanha e o
continente, disseram que a inesperada quebra dos trens no interior da
passagem se devia às quantidades inesperadas de neve, à sua “fofura”,
que seria maior do que a habitual, e ao choque térmico com o ar mais
quente e mais úmido dentro dela. No momento, isso soou como uma
desculpa improvisada. Mas vá se saber. Na verdade ninguém sabe muito
bem o que está acontecendo com o clima na Europa e no mundo, só se sabe
que as condições estão piorando rapidamente, enquanto os governantes
dos países ricos se enrolavam nas próprias pernas na Conferência de
Copenhague. Bons tempos em que se dizia que quem regulava o tempo era
São Pedro.
Só falta uma coisa, de fato, para completar o cenário: algum
comentarista, no Brasil, atribuir a culpa por esse caos na Europa à
política externa do governo Lula e ao atraso nas obras do PAC. Sem
falar na redução dos impostos para os aparelhos da linha branca, que
faz certamente o povo pobre do Brasil comprar mais eletrodomésticos do
que as linhas de transmissão de energia elétrica na Bulgária podem
suportar.