sábado, 21 de março de 2009

A crise e os trabalhadores


Emir Sader


Os trabalhadores foram e continuam sendo as vítimas privilegiadas das políticas neoliberais. A instauração do neoliberalismo se fez montado numa imensa virada na correlação de forças entre as classes fundamentais, com um aumento exponencial na apropriação do excedente pelo grande capital às custas dos trabalhadores.


As formas foram múltiplas, pela combinação entre precarização das relações de trabalho, que levou a que a maioria dos trabalhadores não tenha contrato de trabalho; o desemprego aberto e velado; a extensão das jornadas de trabalho; a intensificação das condições de trabalho; a fragmentação da classe trabalhadora e as conseqüentes dificuldades de organização que produz, entre outras.


Como resultado, se enfraqueceu o sindicalismo, assim como a identidade com o mundo do trabalho, ao mesmo tempo que a mídia contribuía decisivamente invisibilizando os temas do mundo do trabalho. As teorias do “fim do emprego” na realidade se referem às tentativas de extinção do emprego formal, porque nunca tantos viveram do seu trabalho como no mundo atual, porém ao fazê-lo sob condições heterogêneas, trabalhando em varias atividades ao mesmo tempo ou mudando de atividades de um mês para outro, terminam dificultando a organização, enfraquecendo a cultura do trabalho e a assunção da identidade de trabalhador, assim como das profissões, que mudam de um tempo a outro.


As políticas neoliberais produziram também um grande processo de proletarização de amplos setores das classes médias, empobrecidas pela perda do emprego formal e pela concentração de renda das políticas implementadas pelos governos. O mundo do trabalho nunca congregou a tanta gente, embora as condições do trabalho concreto nunca foram tão diversificadas. O que não impede que todos sejam superexplorados e fonte fundamental da gigantesca acumulação de capital que produzem as grandes fortunas exibidas obscenamente pela mídia.


Políticas minimamente anti-neoliberais de alguns governos – concentrados na América Latina – permitiram a retomada de certo nível de empregos formais, mesmo se com baixa qualificação, voltando a dar certa força de negociação aos sindicatos e protagonismo às centrais sindicais. Políticas redistributivas mediante programas sociais, elevação real dos salários, promoveram a extensão e o fortalecimento do mercado interno de consumo popular, ao mesmo tempo que, em alguns casos, o movimento sindical voltou a obter certos espaços de protagonismo público, mesmo se quase sempre sabotado pela mídia.


A crise fez voltar a recair sobre os trabalhadores o peso da recessão provocada pela especulação financeira, de que se valem as empresas para, como primeira medida, dispensar trabalhadores. Nos anos de crescimento que antecederam a crise, se multiplicaram os lucros; no momento da recessão, as empresas nem sequer queimam uma parte dos lucros acumulados, dispensando imediatamente a milhares de trabalhadores, como se o direito ao emprego não fosse um direito essencial para a imensa maioria da população, que vive do seu trabalho.


Os governos e as forças políticas neste momento se diferenciam se jogam todos seus esforços para diminuir os efeitos da recessão e garantir ritmos de continuidade no crescimento econômico, ao lado da garantia do emprego, e as que apostam na catástrofe econômica, acreditando que, com isso, se enfraquecem governos que colocam ênfase nas políticas sociais. Os trabalhadores e suas organizações tem que se alinhar em torno dessa polarização, lutando para que as medidas dos governos para alimentar o nível de crescimento econômico sejam todas indissociavelmente ligadas à garantia do emprego – direito essencial, se queremos construir uma democracia social.



Município paraibano realiza campanha de valorização do trabalho doméstico







Adital


Imagine se as trabalhadoras domésticas decidissem fazer uma greve? Provavelmente, assim, muitas pessoas perceberiam a diferença que essas mulheres fazem em suas vidas. É justamente para mostrar a importância do trabalho doméstico que a Associação das Trabalhadoras Domésticas de Campina Grande e o Centro de Ação Cultural (Centrac), na Paraíba, estão promovendo a "Campanha pela Valorização do Trabalho Doméstico: na luta por direitos, igualdade e reconhecimento".

A Campanha, que tem caráter permanente, tem o objetivo de sensibilizar a sociedade civil e os agentes públicos para o reconhecimento dos direitos das trabalhadoras domésticas. De acordo com Maria Madalena de Medeiros, coordenadora da Campanha, o trabalho doméstico ainda não é valorizado no Brasil. "Ele é importante para a organização social do trabalho", ressalta.

A coordenadora comenta que, caso as trabalhadoras domésticas resolvessem fazer uma greve, várias pessoas enfrentariam problemas. Ela explica que, enquanto os patrões estão no trabalho, as domésticas ficam nas casas realizando tarefas essenciais, como lavar e "passar" roupas, e fazer almoço.

Além da falta de valorização, a coordenadora acrescenta que as trabalhadoras ainda sofrem preconceito por parte da sociedade, principalmente pelo fato de a maioria ser mulher, negra e de baixa escolaridade. Segundo a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), existem oito milhões de pessoas inseridas no trabalho doméstico, sendo que 93,2% são mulheres e, dessas, 61,8% são pardas ou negras.

De acordo com Madalena de Medeiros, a Campanha pretende não somente mostrar a sociedade o valor do trabalho doméstico, mas também informar as próprias trabalhadoras sobre os direitos que possuem através de seminários, cursos e distribuição de materiais de divulgação.

No próximo dia 28 começam as aulas de direito trabalhista e previdenciário. Segundo a Madalena, os cursos são gratuitos e ainda estão com inscrições abertas. "São voltados principalmente às mulheres de baixa renda e que não tenham acesso à informação", comenta.

Contato: (83) 3341.2800

As matérias do projeto "Ações pela Vida" são produzidas com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF 2008.

Olívia Byington - Música (1984)




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