terça-feira, 19 de outubro de 2010

Serra tem raiva e nojo de povos latino-americanos

Do blog jornalisticamente falando

Peço o favor de fazer circular esta mensagem, que é fruto da indignação de uma cidadã boliviana que assistiu ao debate da Rede TV! de domingo passado, quando o candidato José Serra ofendeu acintosa e deliberadamente o povo boliviano, sem ter demonstrado qualquer gesto de respeito ou gratidão pelo país que o acolheu em julho de 1964 e graças ao governo democrático da época, que lhe concedeu um documento de viagem nacional (negado pela embaixada brasileira de La Paz a todos os exilados, por orientação da ditadura) lhe foi possível o seu asilo político na França.
Quero manifestar meu protesto veemente pela falta de postura de uma pessoa que, depois de ter se beneficiado da solidariedade de um país, o condena, ainda mais conhecendo (ou, pior, deveria conhecer) a verdadeira história da expansão da produção das drogas em escala industrial, durante a ditadura sanguinária de Hugo Banzer Suárez, com dinheiro do BID (mais de meio milhão de dólares) que deveria ter sido destinado à cultura de algodão, em 1976, para atender à demanda do mercado dos Estados Unidos (“La veta blanca”, de René Bascopé Aspiazu, 1983; “Com a pólvora na boca”, de Julio José Chiavenatto, 1984), mas acabou desviado para atender aos interesses dos comparsas do ditador, ávidos de virar milionários, da noite para o dia, com a conivência dos governos aliados (inclusive dos Estados Unidos).
Uma pessoa dessas, aliás, jamais reconhecerá qualquer tipo de débito pessoal ou político, portanto, não merece credibilidade alguma, seja qual for a sua formação ideológica ou sua posição política, já que serve aos interesses de quem lhe convier na ocasião.
Sou filha de um ex-exilado político boliviano, o sindicalista Juan Colombo Vargas, que peregrinou contra a sua vontade por diversos países latinoamericanos nas décadas de 1960 e 1970 enquanto sua família passava dificuldades e corria riscos de vida em La Paz. Quando o saudoso presidente Hernán Siles Zuazo (da Unidad Democrática Popular – UDP) assumiu democraticamente o mandato constitucional conquistado nas urnas (outubro de 1982), depois de uma sucessão de generais assassinos e vinculados ao narcotráfico, todos patrocinados pelo governo dos Estados Unidos e pelas ditaduras que na época executavam o Plan Cóndor (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Uruguai), graças a isso pude voltar a conviver, mesmo que por poucos anos, com meu saudoso pai, falecido em 1989, por problemas cardíacos.
Foi ele que me ensinou que, independentemente de gostarmos ou não do presidente eleito democraticamente do país que por ventura nos acolhesse, devêssemos guardar sempre gratidão a essa nação, ao seu povo e sobretudo à sua história. Nunca morei no Brasil, mas leio e escrevo o português por ser casada há duas décadas com um professor brasileiro que escolheu a Bolívia para formar sua família. E assim estamos educando nossos três filhos, com profundo amor pela Bolívia, pelo Brasil e pelo povo latinoamericano, que tem a mesma história de lutas e tragédias, e os mesmos sonhos de liberdade, justiça social e solidariedade.
Ivana Colombo

O voto de José Carlos Mariátegui



por Marcelo Salles no escrevinhador

José Carlos Mariátegui, um dos maiores pensadores latino-americanos – e por isso mesmo sonegado ao povo pelas corporações de mídia – foi um dos que melhor pensaram Nuestra América desde abajo, através do chamado socialismo indo-americano. Viveu três anos e meio na Europa e foi lá, segundo o próprio, que descobriu-se um revolucionário com um dever a cumprir em sua própria pátria, o Peru, e em todo o continente. Isso no início do século passado.
Mariátegui, jornalista e escritor, teve seu grande momento em “Os sete ensaios de interpretação da realidade peruana”, que na verdade é tão rico que pode ser aplicado a toda América Latina. Nesse livro, que reúne artigos publicados em sua revista, Amauta, ele trata do problema da terra, da educação pública, da cultura, do fator religioso, entre outros assuntos. Em todos eles fica evidente o protagonism o do povo e os males causados pelo imperialismo e pela burguesia entreguista.
Se Mariátegui fosse vivo, hoje ele estaria de cabelo em pé com o avanço de José Serra nas pesquisas de intenção de voto. O candidato da direita tem praticamente duas campanhas. Uma adotada alegremente pela superestrutura midiática e outra que funciona no subterrâneo (panfletos e e-mails apócrifos). Uma fica dentro da legalidade, a outra ataca abaixo da linha de cintura. Mas as duas apelam para o que há de mais retrógrado: o moralismo, o conservadorismo religioso, a família tradicional tipo papai-mamãe.
Brizola Neto, em seu blog, em abril, já havia mostrado que Serra contava com uma equipe para fazer o jogo sujo. A tal campanha de calúnia e difamação contra Dilma.
É fácil identificar os motivos que levariam Mariátegui a se posicionar ao lado de Dilma e contra Serra. Este representa a burguesia reacionária, os interesses do imperialismo, o neolib eralismo. Essas três correntes são a chave para o desemprego, para o empobrecimento do povo, para o saque das riquezas nacionais. Dilma representa o governo Lula, que pode não ter feito o governo dos sonhos da esquerda, mas é o que mais se aproximou disso. O emprego aumentou (15 milhões contra 5 milhões no governo FHC-Serra), há um esforço para proteger as riquezas (basta ver o debate sobre o pré-sal e identificar quem defende o sistema de partilha e quem se posiciona em favor da manutenção dos leilões) e cerca de 24 milhões de brasileiros saíram da miséria, enquanto outros 30 milhões entraram para a classe média. Para efeito comparativo, o Peru de Mariátegui tem, hoje, 28 milhões de habitantes.
O ayllu – terra indígena de produção coletiva – poderia ser comparado ao avanço nos investimentos do governo Lula-Dilma na agricultura familiar, que passaram de R$ 3 bilhões para R$ 16 bilhões anuais. Isso significa mais comida para nuestro povo, e sem os agrotóxicos utilizados nos latifúndios.
Serra não se importa em jogar baixo, nem que isso custe um retrocesso gigantesco ao país. Então joga o aborto no centro do debate e diz ser muito importante tratar de questões morais. Sua campanha investe pesado na imagem da esposa (a tal família tradicional), que reza na igreja, segura a imagem de uma santa, e assim diferencia-se de Dilma. Enquanto isso, no subterrâneo circulam notícias de que a petista é terrorista e quer montar uma república satanista.
De repente, todo o movimento à esquerda em Nuestra América se vê ameaçado pela direita brasileira. Sem um governo progressista no Brasil, podemos imaginar as dificuldades da revolução bolivariana, na Venezuela, que em dez anos criou a Telesur, reduziu a pobreza extrema de 80% para 30% da população, elevou para 93% do povo o acesso à água potável, reduziu a mortalidade infantil e erradicou o analfabetismo. Ou do presidente Evo Morales , na Bolívia; de Rafael Correa, no Equador; de Mujica, no Uruguai; de Cristina Kírchner, na Argentina. Todos esses tiveram, em comum, a implementação de políticas públicas que melhoraram a vida do povo, fortaleceram o Estado e intensificaram das relações com os países do continente, o que culminou na criação da Unasul e a resolução dos problemas regionais sem a interferência de potências estrangeiras.
O aumento do comércio regional também é um bom indicador dessa política. Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, as exportações do Brasil para a América Latina e Caribe aumentaram em 42,8%, só no primeiro semestre de 2010, colocando a região na primeira posição de mercado comprador de produtos brasileiros.
E para além do comércio, vale lembrar, foi no governo Lula-Dilma que o Brasil compreendeu ser necessário mais do que intensificação dos negócios para resolver os problemas comuns da Nuestra Améric a. Ganharam importância instrumentos como fundos para o desenvolvimento e o Banco do Sul. Entendeu-se, pela primeira vez, que a desigualdade entre os países da região provoca conflitos e, por isso, passou-se à implementação de políticas que permitam a todos os países agregar valor a seus produtos, de modo a garantir a segurança alimentar, o emprego e a renda, sem que as antigas instituições financeiras internacionais imponham seus mecanismos de arrocho. O desenvolvimento do bloco latino-americano ajuda a explicar, em boa medida, o novo posicionamento do Brasil no mundo.
E tem outra coisa. José Carlos Mariátegui jamais votaria num candidato a presidente que acusasse, como fez Serra, o presidente de um país vizinho de ser conivente com o tráfico de drogas. Um sujeito dessa estirpe não tem condições de governar uma nação como o Brasil. Em vez de diplomacia, é bem capaz de ele declarar uma espécie de guerra preventiva, nos moldes estadunidense, p ondo toda a região em perigo e facilitando a ação imperialista.
Por tudo isso, se Mariátegui fosse brasileiro votaria em Dilma. Não em razão de supostas opiniões inseridas no escopo moralista, mas porque ela representa um projeto político capaz de seguir melhorando a vida dos mais de 500 milhões de cidadãos latino-americanos.
Marcelo Salles, jornalista, é colaborador do jornal Fazendo Media e da revista Caros Amigos, da qual foi correspondente em La Paz entre 2008 e 2009. No twitter, é @MarceloSallesJ

Tucanos entram com ação contra Revista do Brasil



PSDB quer liberdade de imprensa só para sua turma

Por Paulo Salvador, da rede Brasil Atual

A Revista do Brasil sofreu mais uma investida do PSDB. Por solicitação dos tucanos, na madrugada desta segunda-feira (18), o ministro Joelson Dias, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pediu a suspensão de circulação da edição 52, de outubro.
A ação da coligação “O Brasil pode mais”, encabeçada pelo PSDB, de José Serra, foi atendida apenas em parte. Além da Revista do Brasil, suspende a circulação do Jornal da CUT, ano 3, nº 28. Mas três itens cruciais foram negados pelo ministro Dias. A demanda dos advogados tucanos queria silenciar o Blog do Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e pedia a busca e apreensão do material mencionado.
O terceiro item negado é emblemático: o PSDB queria que a questão tramitasse em segredo de Justiça. Nenhuma informação sobre o processo poderia ser divulgada, caso o pedido fosse atendido. Isso denota intenções claras do tucanato de ocultar da opinião pública a própria tentativa de restringir, ou censurar, a circulação de informações e opiniões.
A divulgação foi feita pelo site do TSE e repercutiu em sites noticiosos ao longo do dia. A Editora Gráfica Atitude, responsável pela Revista do Brasil, só poderá se pronunciar quando for comunicada oficialmente pelo órgão sobre a decisão do juiz e seus eventuais desdobramentos.
De antemão, agradece as centenas de mensagens de apoio e de solidariedade recebidas ao longo do dia, fruto da mobilização da blogosfera. Qualquer ato dessa natureza – indispor o Judiciário contra às liberdades de imprensa e de expressão – merece no mínimo a condenação de todos os cidadãos que prezam pela democracia e pelo direito à informação.
Diferentemente de panfletos apócrifos destinados a difundir terrorismo, desinformação e baixarias das mais diversas – sejam eles de papel, eletrônicos, digitais ou virtuais –, a Revista do Brasil tem endereço, CNPJ, núcleo editorial e profissionais responsáveis. A transparência do veículo, ao expor sua opinião de forma tão clara quanto rara na imprensa brasileira, e o jornalismo independente e plural que pratica – patrimônio dos trabalhadores aos quais se destina – não merecem ser alvo de qualquer forma de cerceamento.
Quatro anos depois
A edição 52 da Revista do Brasil trazia, à capa, uma foto da candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), com a chamada “A vez de Dilma: O país está bem perto de seguir mudando para melhor”. A publicação explicita em seu editorial a posição favorável à candidatura Dilma, e traz também reportagem analisando circunstâncias da disputa do segundo turno.
O pedido de restrição de circulação de seu conteúdo assemelha-se a uma investida datada de junho de 2006. À época, o mesmo PSDB encampou pedido de suspensão de distribuição da edição número 1 da revista. Havia ainda a demanda de que a edição deixasse de ser divulgada no site da CUT e do Sindicato dos Químicos.
Repetida a investida, fica latente o lado em que estão as forças aliadas a José Serra. O lado de quem quer liberdade apenas para o tipo de imprensa e de expressão que lhes convém.

Após baixarias tucanas, Dilma cresce e abre 12 pontos sobre Serra

A vantagem de Dilma Rousseff sobre José Serra no segundo turno da corrida presidencial cresceu quatro pontos percentuais em apenas seis dias – o que deixa a candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando mais próxima da vitória na eleição de 31 de outubro. É o que aponta pesquisa Vox Populi/iG divulgada na manhã desta terça-feira (19).


Por André Cintra no vermelho

Segundo o instituto, Dilma tem 51% das intenções de votos para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – seu principal apoiador. Já Serra, à frente de uma das campanhas mais sujas no Brasil desde as últimas décadas, caiu para 39%. Em relação ao Vox Populi de 13 de outubro, a petista cresceu três pontos percentuais, enquanto o tucano caiu um – ela tinha 48%, contra 40% de Serra.

Pretendem anular ou votar em branco 6% dos entrevistados – mesmo patamar da última pesquisa. O índice de eleitores indecisos, no entanto, caiu de 6% para 4%. A margem de erro estimada pelo instituto é baixíssima – apenas 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.

Nos chamados votos válidos (que excluem brancos, nulos e indecisos), a dianteira de Dilma fica mais evidente. A presidenciável – que tinha oito pontos à frente Serra (54% a 46%) na semana passada – agora lidera mais folgadamente: 57% a 43%.

Segundo o Vox Populi, é no Nordeste e no Sudeste que o desempenho de Dilma justifica a diferença cada vez mais sólida sobre Serra. Entre os nordestinos, a candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando é a preferida de impressionantes 65%, ao passo que Serra amarga 25%.

Esse trunfo exigiria que a candidatura demo-tucana compensasse a votação nos maiores colégios eleitorais do Brasil, concentrados no Sudeste. Nessa região, porém, Dilma também ampliou a vantagem e lidera a disputa – por 47% contra 40%. O consolo de Serra está no Sul, onde ele segue à frente de Dilma, com 50% – ela aparece com 41%.

Aborto e renda

A pesquisa Vox Populi mostra que boa parte do eleitorado reagiu negativamente à baixaria da campanha Serra. Com a imposição de temas como o aborto na pauta eleitoral, quem mais se beneficiou foi Dilma – que reduziu sua desvantagem no eleitorado evangélico (42% a 44%) e consolidou sua vantagem entre os católicos praticantes (54% a 37%) e não praticantes (55% a 37%). O eleitorado declaradamente ateu também prefere a petista – 49% a 36%.

Candidato das elites, Serra só lidera o pleito – e, ainda assim, na margem de erro (44% a 42%) – na faixa do eleitorado que ganha mais de cinco salários mínimos e nos entrevistados com nível superior (47% a 40%). Dilma, em contrapartida, massacra o tucano por 61% a 31% entre os eleitores que recebem não mais que um mínimo. Vence também (55% a 38%) no segmento do eleitorado com até a 4ª série do ensino fundamental.

Dilma tem voto mais convicto

O levantamento do Vox Populi ouviu 3 mil eleitores de 15 a 17 de outubro e foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o número 36.193/10. Devido ao período de sondagem, a pesquisa não capta os efeitos do debate monótono entre Dilma e Serra promovido no domingo pela Rede TV! e da excelente entrevista de Dilma na segunda-feira ao Jornal Nacional.

De qualquer maneira, há um dado na pesquisa que aponta a cristalização da preferência do eleitorado. É que, segundo o Vox Populi, 89% dos que eleitores que declararam voto em algum candidato já se definiram de maneira irreversível. Apenas 9% admitem mudar de preferência. A boa notícia é que os eleitores de Dilma são os mais convictos – 93% dos dilmistas declaram que seu voto está consolidado. Já no eleitorado de Serra, esse índice é de 89%.