segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Revolução Farroupilha, uma visão crítica...

Até quando vamos endeusar a revolução farroupilha? (Por Juremir Machado)

Até quando?
Todo os anos eu me pergunto: até quando?
Sim, até quando teremos de mentir ou omitir para não incomodar os poderosos individuais ou coletivos?
Até quando teremos que tapar o sol com a peneira para não ferir as suscetibilidades dos que homenageiam anualmente uma “revolução” que desconhecem? Até quando teremos de aliviar as críticas para não ofender os que, por não terem estudado História, acreditam que os farroupilhas foram idealistas, abolicionistas e republicanos desde sempre? Até quando teremos de fazer de conta que há dúvidas consistentes sobre a terrível traição aos negros em Porongos? Até quando teremos de justificar o horror com o argumento simplório de que eram os valores da época? Valores da traição, do escravismo, da infâmia?
Até quando fingiremos não saber que outros líderes – La Fayette, Bolívar, Rivera – outros países – Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia – e outras rebeliões brasileiras – A Balaiada, no Maranhão, por exemplo – foram mais progressistas e, contrariando “valores” da época, ousaram ir aonde os farroupilhas não foram por impossibilidade ideológica? Até quando a mídia terá de adular o conservadorismo e a ignorância para fidelizar sua “audiência”?
Até quando deixaremos de falar que milhões de homens sempre souberam da infâmia da escravidão? Os escravos. Até quando minimizaremos o fato de que a Farroupilha, com seu lema de “liberdade, igualdade e humanidade”, vendeu negros para se financiar? Até quando deixaremos de enfatizar que os farrapos prometiam liberdade aos negros dos adversários, mas não libertaram os seus? Até quando daremos pouca importância ao fato de que a Constituição farroupilha não previa a libertação dos escravos? Até quando deixaremos de contar em todas as escolas que Bento Gonçalves ao morrer, apenas dois anos depois do fim da guerra civil, deixou mais de 50 escravos aos seus herdeiros? Até quando?
Até quando?
Até quando adularemos os admiradores de um passado que não existiu somente porque as pessoas precisam de mitos e de razões para passar o tempo, reunir-se e vibrar em comum? Até quando os folcloristas sufocarão os historiadores? Até quando o mito falará mais alto do que a História? Até quando não se dirá nos jornais que os farroupilhas foram indenizados pelo Império com verbas secretas? Que brigaram pelo dinheiro? Que houve muita corrupção? Que Bento Gonçalves e Neto não eram republicanos quando começaram a rebelião? Que houve degola, sequestros, apropriação de bens alheios, execuções sumárias, saques, desvio de dinheiro, estupros, divisões internas por causa de tudo isso e processos judiciais?
Até quando, em nome de uma mitologia da identidade, teremos medo de desafiar os cultivadores da ilusão? Até quando historiadores como Décio Freitas, Mário Maestri, Sandra Pesavento, Tau Golin, Jorge Eusébio Assumpção, Spencer Leitman e tantos outros serão marginalizados? Até quando nossas crianças serão doutrinadas com cartilhas contando só meias verdades?
Até quando a rebelião dos proprietários será apresentada como uma revolução de todos? Até quando mentiremos para nós mesmos? Até quando precisaremos nos alimentar dessa ilusão?
Até quando viveremos assim?

Aprender com a intervenção pedagógica do mestre na escola no filme "Lev Vygotsky"

160913 vygostsky 2PGL - [José Paz Rodrigues] Junto com crianças e alunos, os mestres são o mais importante e fundamental que existe em aulas e escolas. Os seres humanos devem ter preferência sempre a edifícios, computadores, quadros digitais e todo o tipo de recursos didáticos. Todos os grandes pedagogos da história educativa mundial acreditavam que os bons mestres são impagáveis.


Nenhum país, por rico que seja, tem dinheiro suficiente para incentivar os bons docentes. E, que importante é ter bons mestres! Todos e todas podemos refletir no valiosos que foram para nós aqueles nossos mestres de primária, secundária e mesmo ensino superior. Para fazer-nos pessoas de proveito, para as nossas aprendizagens racionais, associativas, motóricas e apreciativas, para o nosso progresso social e para termos valores humanos. Cada um de nós pode refletir sobre aqueles docentes seus que foram importantes para a nossa educação. Porque, ademais de conhecimentos, souberam como ensiná-los e nos motivaram para o avanço no nosso ensino, e tinham verdadeiros valores como pessoas com senso ético, com sensibilidade, com alegria e com o seu apreço pela vida e pelos seus alunos.
Por tudo isto, temos que solicitar uma boa preparação psicodidática dos docentes, que nesta altura não há ou, se há, é muito deficiente. Em primeiro lugar, um plano de formação inicial dos professores adequado, motivador e fomentador da vocação docente. Porque a formação inicial é importantíssima e durante muitos anos no nosso país esteve, e continua a estar, abandonada, subvalorizada, mediatizada e desconsiderada. Bastaria, para melhorá-la, tomar como modelo o Plano Profissional de 1931, adaptando-o aos tempos atuais, que foi o melhor que tivemos, nunca superado. Também poderia valer, em certa maneira, o Plano de estudos de 1967, que, como o anterior, desgraçadamente pouco durou. Em segundo lugar, cumpre uma maior e melhor preocupação pela formação permanente ou em exercício dos docentes. Esta formação também é muito importante e hoje está muito esquecida, com falta de apoio e de regulação idónea. Pouco criativa e inovadora e excessivamente rotineira e aborrecida. Em âmbitos que necessitam com urgência de uma profunda renovação. Infelizmente, longe ficou a exemplar renovação pedagógica dos anos oitenta e noventa do passado século.
Numa conferência pronunciada em Bilbau, no ano 1905, por o para mim maior pedagogo da nossa história, Manuel Bartolomé Cossío, sob o título de “O mestre, a escola e o material de ensino”, ao final da mesma pronunciou umas formosas palavras, com atualidade profunda ainda hoje. Estas palavras foram: ”Concluo, pois, como ali terminava: formade mestres; aumentade os mestres; gastade, gastade nos mestres”. Por isto é muito grave a desconsideração que ultimamente existe sobre os docentes e o poupar dinheiro prescindindo nos estabelecimentos de ensino de mestres e professores. Os mestres são as verdadeiras “almas da escola”, em palavras precisamente dos grandes mestres institucionistas Giner e Cossío.
Para isso, nada como escutar Cossío, quando no mesmo livro antes citado, de forma maravilhosa e tão acertada diz: ”O primeiro material de ensino; o adequado em todo o caso, o que está sempre vivo, o que não se esgota jamais, é a realidade mesma, que generosamente se nos oferece” (…) Rompamos pois os muros da sala de aula. Levemos as crianças ao campo, ao obradoiro, ao museu, como tantas vezes se tem asseverado, ensinemos-lhes a realidade na realidade, antes que nos livros, e entrem na sala de aula só para refletir e para escrever, redigir e desenhar (…) O que é necessário para poder realizar esta escola, imagem da vida? Todos o compreendedes: fazem falta mestres. A eles há que atender antes que ao edifício escolar, como antes que ao material de ensino. Temos que formar bons mestres”.(...) Dade-me um bom mestre e ele improvisará o local da escola sem falta, ele inventará o material de ensino, ele fará que a assistência seja perfeita; mas dade-lhe à sua vez a consideração que merece...”
Ninguém pode duvidar da grande importância que tem para a nossa sociedade contar com bons docentes, com qualidades humanas positivas e bem preparados profissionalmente, nos campos da didática e da psicologia evolutiva e da educação. Quem tinha isto muito claro era o grande psicopedagogo russo Lev Vygotsky (1896-1934). O tema central das suas pesquisas e investigações psicoeducativas foi demonstrar a importância do labor do docente, se a sua intervenção pedagógica é acertada, para o avanço das aprendizagens dos escolares e para o seu desenvolvimento psicossocial. Com roteiro e apresentação da pedagoga Marta Kohl de Oliveira, a Atta Mídia e Educação do Brasil realizou em 2006 um interessante documentário sobre Vygotsky, que serve para centrar o presente artigo da série dedicada aos grandes educadores do mundo.
Ficha técnica do filme-documentário:
Título original: Lev Vygotsky.
Produtora: Atta Mídia e Educação (Brasil, 2006, 45 min., a cores e a preto e branco, documentário).
Editora: Paulus Editora. Coleção: Grandes Educadores.
Roteiro e Apresentação: Marta Kohl de Oliveira (Formada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da USP, fez mestrado e doutorado em Psicologia da Educação na School of Education da Stanford University (California, EUA). Autora de vários livros dedica-se à pesquisa e à docência no ensino superior. O pensamento de Lev S. Vygotsky tem sido importante suporte teórico para as suas pesquisas).
Argumento: Vygotsky preocupa-se em entender o funcionamento psicológico do ser humano, integrando aspetos biológicos e culturais. Com relação à educação, a teoria de Vygotsky enfatiza o papel da aprendizagem no desenvolvimento humano, valorizando a escola, o professor e a intervenção pedagógica. Talvez por isso, as suas ideias têm tido tanta repercussão entre os educadores do ocidente, apesar da sua distância no tempo e espaço (viveu na antiga União Soviética e faleceu há 79 anos). A produção de Vygotsky foi vasta: escreveu cerca de 200 trabalhos científicos que foram pontos de partida para inúmeros projetos de pesquisa posteriores, desenvolvidos pelos seus colaboradores e seguidores, e ainda centrais na agenda de psicologia da educação contemporânea.
Conteúdos do Documentário: Biografia de Vygotsky. Planos Genéticos. Mediação Simbólica. Pensamento e Linguagem. Pensamento Generalizante. Inteligências Prática e Abstrata. Fala Egocêntrica. Desenvolvimento e Aprendizagem. Jogo Simbólico. Visão Prospetiva. Zona de Desenvolvimento Proximal. Intervenção Pedagógica.


Vygotsky, psicopedagogo com ideias inovadoras:
A obra de Vygotsky ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea. Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896 em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielorrússia, região então dominada pela Rússia (e que só se tornou independente em 1991, com a desintegração da União Soviética, adotando o nome de Belarus). Os seus pais eram de uma família judaica culta e com boas condições económicas, o qual permitiu a Vygotsky uma formação sólida desde criança. Ele teve um tutor particular até entrar no curso secundário e dedicou-se desde cedo a muitas leituras. Aos 18 anos matriculou-se no curso de medicina em Moscova, mas acabou cursando direito. Formado, voltou a Gomel, na Bielorrússia, em 1917, ano da revolução bolchevique, que ele apoiou. Lecionou literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia, área em que rapidamente ganhou destaque, graças à sua cultura enciclopédica, o seu pensamento inovador e a sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200 trabalhos científicos. Em 1925, já sofrendo da tuberculose que o mataria em 1934, publicou A Psicologia da Arte, cuja origem é a sua tese de mestrado. Lev Vygotsky faleceu em 1934, mas a sua obra ainda está em pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil e a Europa.
Em menos de 38 anos de vida, Vygotsky conheceu momentos políticos drasticamente diferentes, que tiveram forte influência no seu trabalho. Nascido sob o regime dos czares russos, Vygotsky acompanhou de perto, como estudante e intelectual, os acontecimentos que levaram à revolução comunista de 1917. O período que se seguiu foi marcado, entre outras cousas, por um clima de efervescência intelectual, com a abertura de espaço para as vanguardas artísticas e o pensamento inovador nas ciências, além de uma preocupação em promover políticas educacionais eficazes e abrangentes. Logo após a revolução, Vygotsky intensificou os seus estudos sobre psicologia. Visitou comunidades rurais, onde pesquisou a relação entre nível de escolaridade e conhecimento e a influência das tradições no desenvolvimento cognitivo. Com a ascensão ao poder de Josef Stalin, em 1924, o ambiente cultural ficou cada vez mais limitado. Vygotsky usou a dialética marxista para a sua teoria de aprendizado, mas a sua análise da importância da esfera social no desenvolvimento intelectual era criticada por não se basear na luta de classes, como se tornara obrigatório na produção científica soviética. Em 1936, dous anos após a sua morte, toda a obra de Vygotsky foi censurada pela ditadura de Stalin e assim permaneceu por 20 anos. "Ele foi um pensador complexo e tocou em muitos pontos neurálgicos da pedagogia contemporânea", diz a professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Teresa Rego.
A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento intelectual. Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou do seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Por serem muito significativas as suas palavras, escolhi aquelas frases e treitos das mesmas para que os educadores e docentes possam refletir sobre elas: "O saber que não vem da experiência não é realmente saber". "O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa". “ Uma palavra que não representa uma ideia é uma cousa morta, da mesma forma que uma ideia não incorporada em palavras não passa de uma sombra”. “Ao brincar, a criança assume papéis e aceita as regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não está apta ou não sente como agradáveis na realidade”. “As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro se tornarão o seu nível básico de ação real e moralidade”. “O único “bom aprendizado” é o que é para o avanço do desenvolvimento”. “ A estrutura da língua que uma pessoa fala influencia a maneira com que esta pessoa percebe o universo”. “Através dos outros, nos tornamos nós mesmos”. “ O voluntariado, mais do que as atividades altamente intelectuais, diferenciam o homem dos animais mais próximos dele”.
Várias das suas obras foram publicadas na nossa língua nos últimos anos. Entre elas quero destacar aquelas que têm mais interesse para os professores:Construção do Pensamento e da Linguagem (2011); Desenvolvimento Psicológico na Infância (1999); Estudos sobre a História do Comportamento (1997); Formação Social da Mente (1999); Imaginação e Criação na Infância. (2009); Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem (1988); Pensamento e Linguagem (1987); Psicologia Pedagógica (2003) e Teoria e Método em Psicologia (2004).

A mediação pedagógica, básica para a aprendizagem:
Os estudos de Vygotsky sobre aprendizado decorrem da compreensão do homem como um ser que se forma em contacto com a sociedade. "Na ausência do outro, o homem não se constrói homem", escreveu o psicopedagogo. Ele rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer as caraterísticas que desenvolverá ao longo da vida, quanto as empiristas e comportamentais, que veem o ser humano como um produto dos estímulos externos. Para Vygotsky, a formação dá-se numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade ao seu redor, ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Essa relação não é passível de muita generalização; o que interessa para a teoria de Vygotsky é a interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada experiência pessoalmente significativa. Segundo ele, apenas as funções psicológicas elementares se caracterizam como reflexos. Os processos psicológicos mais complexos, ou funções psicológicas superiores, que diferenciam os humanos dos outros animais, só se formam e se desenvolvem pelo aprendizado. Entre as funções complexas se encontram a consciência e o discernimento. "Uma criança nasce com as condições biológicas de falar, mas só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos da comunidade", diz. Outro seu conceito-chave é a mediação. Segundo a teoria vygotskiana, toda relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos, como, por exemplo, as ferramentas agrícolas, que transformam a natureza, e da linguagem, que traz consigo conceitos consolidados da cultura à qual pertence o sujeito.
Todo aprendizado é necessariamente mediado, e isso torna o papel do ensino e do professor mais ativo e determinante do que o previsto por Piaget e outros pensadores da educação, para quem cabe à escola facilitar um processo que só pode ser conduzido pelo própria aluno. Segundo Vygotsky, ao contrário, o primeiro contacto da criança com novas atividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto. Ao internalizar um procedimento, a criança "se apropria" dele, tornando-o voluntário e independente.
Desse modo, o aprendizado não se subordina totalmente ao desenvolvimento das estruturas intelectuais da criança, mas um se alimenta do outro, provocando saltos de nível de conhecimento. O ensino, para Vygotsky, deve antecipar-se ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um dos seus principais conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender, potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto. Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um professor precisa ter, segundo Vygotsky.
Como Piaget, Vygotsky não formulou uma teoria pedagógica, embora o pensamento do psicólogo bielorusso, com a sua ênfase no aprendizado, ressalte a importância da instituição escolar na formação do conhecimento. Para ele, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. Ao formular o conceito de zona proximal, Vygotsky mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente, "puxando" dela um novo conhecimento."Ensinar o que a criança já sabe desmotiva o aluno e ir além de sua capacidade é inútil", comenta a professora Teresa Rego, interpretando a Vygotsky. O psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o universo mental do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico.

O seu conceito de zona de desenvolvimento proximal:
A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um conceito elaborado por Vygotsky, e define a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um adulto (normalmente o docente) ou em colaboração com outro companheiro. Quer dizer, é a série de informações que a pessoa tem a potencialidade de aprender mas ainda não completou o processo, conhecimentos fora do seu alcance atual, mas potencialmente atingíveis. Segundo isto, o indivíduo não pode construir conhecimento novo sem uma estrutura, um fundamento, de aprendizagem prévia. Lev Vygotsky diz que o indivíduo não pode transpor um expediente de aprendizagem sem algum conhecimento anterior cognitivamente relacionado, a fim de conectar e suportar a nova informação.
Vygotsky descreve dois níveis de desenvolvimento, denominados desenvolvimento real e desenvolvimento potencial. O desenvolvimento real é aquele que já foi consolidado pelo indivíduo, de forma a torná-lo capaz de resolver situações utilizando o seu conhecimento de forma autônoma. O nível de desenvolvimento real é dinâmico, aumenta dialeticamente com os movimentos do processo de aprendizagem. O desenvolvimento potencial é determinado pelas habilidades que o indivíduo já construiu, porém, encontram-se em processo. Isto significa que a dialética da aprendizagem que gerou o desenvolvimento real, gerou também habilidades que se encontram em um nível menos elaborado que o já consolidado. Desta forma, o desenvolvimento potencial é aquele que o sujeito poderá construir.
A ZDP muitas vezes é tomada como um dos níveis de desenvolvimento, porém, trata-se precisamente do campo intermediário do processo. Sendo o desenvolvimento potencial uma incógnita, já que não foi ainda atingido, Vygotsky postula sua identificação através do entendimento da ZDP. Tomando como premissa o desenvolvimento real como aquilo que o sujeito consolidou de forma autónoma, o potencial pode ser inferido com base no que o indivíduo consegue resolver com ajuda. Assim, a zona proximal fornece os indícios do potencial, permitindo que os processos educativos atuem de forma sistemática e individualizada.
Temas para refletir e realizar:
Depois de ver o documentário, organizar um debate-papo ou tertúlia, sobre os diferentes aspetos que sobre a figura de Lev Vygotsky aparecem no mesmo. Refletir sobre o seu pensamento psicoeducativo e comentar, dando alternativas concretas, sobre como se poderia pôr em prática hoje nas nossas escolas a sua didática prática, apresentada na famosa ideia de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Poderia pesquisar-se também na Internet sobre as experiências realizadas em diferentes escolas seguindo as suas ideias, entre elas o antigo método denominado “lancansteriano” e os sistemas didáticos de “ensino mútuo”, assim como sobre as suas interessantes e numerosas publicações, editadas postumamente.
Elaborar uma monografia, procurando informações em livros e na Internet, sobre as suas ideias mais importantes, e entre elas a da ZDP. Com fotos, textos, cartazes, retalhos de imprensa e materiais elaborados, poderia organizar-se nas escolas uma magna exposição sobre o modelo pedagógico proposto por ele.
Escolher uma, para lê-la entre todos, das obras básicas, e de maior aplicação à Didática nas aulas, escritas por Vygotsky, publicadas na nossa língua, escolhida entre as citadas antes, para comentá-la e debater sobre as palavras, ideias educativas e propostas práticas que o psicopedagogo bielorusso faz na mesma.

José Paz Rodrigues Académico da AGLP, Didata e Pedagogo Tagoreano.