Wladimir Pomar no Correio da Cidadania | |
A campanha machista da justiça eleitoral continua sendo veiculada, sem
que a própria e, ao que se saiba, nenhum dos partidos e candidatas,
tenha se dado conta. É verdade que o TSE decidiu cobrar dos partidos a
cota de 30% de mulheres inscritas como candidatas, o que torna ainda
mais contraditória sua campanha institucional.
Porém, foi na cobertura da grande mídia onde as coisas parecem haver
mudado um pouco. As recentes pesquisas de opinião, publicadas na última
semana, indicaram um crescimento da candidata Dilma e uma queda do
candidato Serra. O que impôs à grande imprensa algumas flexões táticas
interessantes.
Ao que tudo indica, ela passou a acreditar que não apenas a candidata
Marina, mas também o candidato Plínio, tiram votos de Dilma. Em virtude
dessa "descoberta", decidiu aumentar a cobertura da candidatura Marina e
dar visibilidade à candidatura Plínio. No entanto, é difícil saber até
que ponto tal desvio tático pode favorecer Serra.
A candidatura Plínio certamente está em confronto aberto com a
candidatura Dilma. Porém, não parece querer dar trégua às candidaturas
Serra e Marina, nem criar uma frente anti-Dilma. Isso foi o que se viu
durante os debates em que Plínio participou. Nessas condições, o tiro da
grande mídia pode sair pela culatra. Se quiser, Plínio pode colocar a
nu a natureza das candidaturas Serra e Marina. Se ele continuar nessa
batida, não será de estranhar que sua candidatura suma da cobertura da
grande imprensa nos próximos dias.
A candidatura Marina é uma contradição viva. Ela, ao mesmo tempo em que
pretende continuar todos os programas do governo Lula, deseja adotar
várias medidas que podem liquidar com tais programas. Em outras
palavras, da mesma forma que Serra, que tem dificuldades em atacar os
feitos do governo e promete "fazer mais", Marina se vê obrigada a
prometer continuar o que não pretende continuar.
Marina quer que parte do eleitorado de Dilma acredite que ela é melhor
do que a ex-ministra para dar continuidade à "parte boa" do governo
Lula, sem explicitar claramente que pretende mudar tudo. Por outro lado,
acena para o PSDB e DEM, assim como para o PMDB e outros partidos,
prometendo um "governo de união nacional", embora ataque as alianças de
Dilma como indesejáveis.
Esses pontos nevrálgicos da candidatura Marina começaram a ser trazidos à
luz justamente pela candidatura Plínio. Podem, além disso, ser atacados
a qualquer momento pela candidatura Dilma. Talvez nisso consista um dos
problemas da grande mídia ao tentar inflar a candidatura Marina. Esta
se vê cada vez mais obrigada a expor suas contradições publicamente,
embora tente superar essa dificuldade falando rápido e, às vezes, frases
que não têm muito sentido.
Por outro lado, como seu eleitorado parece ser constituído
principalmente por setores letrados da classe média, a constante
exposição midiática dessas contradições poderá terminar sendo mais
prejudicial do que favorável, em especial se seus pontos nevrálgicos
forem desnudados pelos adversários.
Finalmente, uma pequena observação sobre o candidato Serra, cujos
partidos de sustentação, PSDB e DEM, dizem ter horror a promessas
demagógicas e populistas. Os custos dos investimentos em hospitais,
clínicas, ambulatórios, escolas e outras obras, prometidos por Serra em
suas andanças eleitorais, provavelmente já são superiores ao PIB do
país. Aposto que, se Dilma estivesse fazendo promessas desse tipo,
vários repórteres e economistas da grande mídia já teriam recebido a
incumbência de fazer os cálculos, que seriam publicados com
estardalhaço.
Wladimir Pomar é analista político e escritor.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Ainda a grande mídia
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