Blog da Paula
Fui para casa trocar as sapatilhas por um bom par de tênis. Bloquinho e gravador em mãos, me mandei para o jornal encontrar o fotógrafo e o outro repórter que iam junto cobrir a Marcha dos Sem. Antes de sair, angariei um crachá, que mesmo virado ao contrário deveria servir como forma de evitar que os brigadianos me confundissem com os manifestantes. Manifestação em Porto Alegre, nunca se sabe.
Para a brigada militar gaúcha a palavra manifestação virou sinônimo de baderna. Qualquer agrupamento de pessoas reinvindicando algo já é considerado caso de polícia e tratado a base de tropa de choque para cima. Foi assim quando os professores protestaram por maiores salários no mês passado, foi assim hoje de manhã quando os bancários da agência central do Banrisul se negaram a trabalhar e não mudou muita coisa hoje à tarde, durante a tradicional Marcha dos Sem.
As cerca de 3 mil pessoas que caminhavam pacificamente do centro administrativo até o Palácio Piratini foram acompanhadas por nada menos que 500 PM´S, 120 policiais da guarda especial da Brigada e um helicóptero. A tensão era palpável.
Quando o carro de som ia se dirigir para a frente do palácio a Brigada interviu. Em segundos os soldados do batalhão de choque formaram uma barreira, supostamente por "questão de segurança". O inciso 4 do artigo 5º é claro. Todos tem o direito de se manifestar. Acho que faltou avisar o governo. Nessa hora dei um pé quente e peguei toda a discussão entre a direção da manifestação, o brigadiano que não deixava o carro passar e o deputado Raul Carrion.
– Quem autorizou isso?
– Foi ordem do comando superior.
– Mas vocês tem que respeitar a lei, não a governadora. Isso é inconstitucional!
Bate boca vai, bate boca vem o deputado gritava, "rasgaram a Constituição, rasgaram a Constituição!". Pouco depois, os manifestantes foram tentar furar o bloqueio. De novo, a Brigada usou da "força necessária". "Agora é hora da guerra", comentaram três brigadianos. E a orientação deveria ser essa mesmo, pois não pouparam nem o deputado, que levou uma cacetada no estômago.
Três bombas de efeito moral, algumas balas de borracha e doze manifestantes feridos encaminhados para o HPS depois, o circo estava armado. "Eu não fiz duas faculdades, pós graduação, para ganhar R$ 800,00 e ter que apanhar de Brigadiano!", comentava emocionada uma professora de Pelotas. "Isso é resultado da irresponsabilidade desse governo", protestava Enilson da Silva, um dos feridos.
Atrás do cordão de isolamento e cercado por três fileiras de brigadianos o Coronel Mendes sorria e evitava conversar com repórteres e com os deputados. "Isso é normal em uma manifestação desse porte. A coisa tem que ser pacífica e ordeira, se não a Brigada tem a obrigação e vai intervir."
No meio da história toda, eu olhava chocada os brigadianos com as armas engatilhas e apontadas para a população . Ninguém começou nada. Sem paus. Sem pedras. Quase sem provocações. E mesmo assim a polícia foi para cima. De novo, eu vi. Era quase uma cena de filme. A fumaça das bombas de "efeito moral" ao fundo, a raiva dos dois lados e o fotógrafo gritando para eu sair dali para não me machucar.
Depois de quase uma hora de negociação entre os deputados e a Brigada deixaram o carro de som passar. Mendes, a estrela do show, olhava tudo dos degrais da Catedral, cercado de brigadianos que o impediam até de conversar com a imprensa. Na praça da Matriz o povo gritava "fascista! fascista!".
Que tipo de defesa da ordem é essa que coloca a polícia contra os cidadãos que deveria defender? Não existem mais direitos constitucionais no Rio Grande do Sul?
Fui para casa trocar as sapatilhas por um bom par de tênis. Bloquinho e gravador em mãos, me mandei para o jornal encontrar o fotógrafo e o outro repórter que iam junto cobrir a Marcha dos Sem. Antes de sair, angariei um crachá, que mesmo virado ao contrário deveria servir como forma de evitar que os brigadianos me confundissem com os manifestantes. Manifestação em Porto Alegre, nunca se sabe.
Para a brigada militar gaúcha a palavra manifestação virou sinônimo de baderna. Qualquer agrupamento de pessoas reinvindicando algo já é considerado caso de polícia e tratado a base de tropa de choque para cima. Foi assim quando os professores protestaram por maiores salários no mês passado, foi assim hoje de manhã quando os bancários da agência central do Banrisul se negaram a trabalhar e não mudou muita coisa hoje à tarde, durante a tradicional Marcha dos Sem.
As cerca de 3 mil pessoas que caminhavam pacificamente do centro administrativo até o Palácio Piratini foram acompanhadas por nada menos que 500 PM´S, 120 policiais da guarda especial da Brigada e um helicóptero. A tensão era palpável.
Quando o carro de som ia se dirigir para a frente do palácio a Brigada interviu. Em segundos os soldados do batalhão de choque formaram uma barreira, supostamente por "questão de segurança". O inciso 4 do artigo 5º é claro. Todos tem o direito de se manifestar. Acho que faltou avisar o governo. Nessa hora dei um pé quente e peguei toda a discussão entre a direção da manifestação, o brigadiano que não deixava o carro passar e o deputado Raul Carrion.
– Quem autorizou isso?
– Foi ordem do comando superior.
– Mas vocês tem que respeitar a lei, não a governadora. Isso é inconstitucional!
Bate boca vai, bate boca vem o deputado gritava, "rasgaram a Constituição, rasgaram a Constituição!". Pouco depois, os manifestantes foram tentar furar o bloqueio. De novo, a Brigada usou da "força necessária". "Agora é hora da guerra", comentaram três brigadianos. E a orientação deveria ser essa mesmo, pois não pouparam nem o deputado, que levou uma cacetada no estômago.
Três bombas de efeito moral, algumas balas de borracha e doze manifestantes feridos encaminhados para o HPS depois, o circo estava armado. "Eu não fiz duas faculdades, pós graduação, para ganhar R$ 800,00 e ter que apanhar de Brigadiano!", comentava emocionada uma professora de Pelotas. "Isso é resultado da irresponsabilidade desse governo", protestava Enilson da Silva, um dos feridos.
Atrás do cordão de isolamento e cercado por três fileiras de brigadianos o Coronel Mendes sorria e evitava conversar com repórteres e com os deputados. "Isso é normal em uma manifestação desse porte. A coisa tem que ser pacífica e ordeira, se não a Brigada tem a obrigação e vai intervir."
No meio da história toda, eu olhava chocada os brigadianos com as armas engatilhas e apontadas para a população . Ninguém começou nada. Sem paus. Sem pedras. Quase sem provocações. E mesmo assim a polícia foi para cima. De novo, eu vi. Era quase uma cena de filme. A fumaça das bombas de "efeito moral" ao fundo, a raiva dos dois lados e o fotógrafo gritando para eu sair dali para não me machucar.
Depois de quase uma hora de negociação entre os deputados e a Brigada deixaram o carro de som passar. Mendes, a estrela do show, olhava tudo dos degrais da Catedral, cercado de brigadianos que o impediam até de conversar com a imprensa. Na praça da Matriz o povo gritava "fascista! fascista!".
Que tipo de defesa da ordem é essa que coloca a polícia contra os cidadãos que deveria defender? Não existem mais direitos constitucionais no Rio Grande do Sul?
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