O jornalista David Coimbra perguntou hoje ao governador Tarso Genro, em coluna publicada no jornal Zero Hora,
se ele não tinha vergonha da situação do Presídio Central. Para
externar sua indignação com a situação dos detentos do presídio gaúcho, o
colunista de ZH critica, entre outras coisas, os defensores dos animais
e as manifestações a favor das bicicletas. “E os homens martirizados do
Presídio Central? Ninguém se importa com eles? Onde está a
solidariedade da espécie?” – pergunta Coimbra, que propõe como solução
para o problema a privatização dos presídios.
O RS Urgente encaminhou ao governador Tarso Genro três perguntas
sobre o tema. Eis as perguntas e a respostas do chefe do Executivo
gaúcho:
Governador, qual a reação do senhor ao ver o estado atual do Presídio Central?
Acho que todos os gaúchos estão envergonhados com a situação do
Presídio Central. Mas eu, particularmente, sinto-me, além de
envergonhado, contente por estar orientando o governo, desde o início da
gestão, para incidir fortemente sobre aquela vergonha nacional.
Comecei este trabalho na época em que era ministro da Justiça, quando
passei vultosos recursos para a reforma do presídio Anibal Bruno, de
Pernambuco, que era tão vergonhoso como o Presídio Central. Não consegui
mandar recursos para o Rio Grande do Sul porque, naquela época, as
autoridades locais não preencheram os requisitos necessários para
receber o dinheiro, por razões técnicas ou políticas que desconheço.
Na edição de Zero Hora desta sexta-feira, o colunista
David Coimbra pergunta se o senhor “não tem vergonha” da situação. Qual a
sua resposta a essa indagação?
Convido o jornalista que escreveu o isento artigo a ter vergonha
comigo. Mais vergonha, talvez, porque, afinal, os dois governos que nos
precederam foram eleitos com o apoio ostensivo das editorias da rede de
comunicação onde ele trabalha. Os últimos oito anos de total descaso com
o Presídio Central é que resultaram esta situação dramática que,
paulatinamente, vamos corrigir. Ou alguém pensa que drama do presídio é
resultado dos últimos 15 meses? Portanto, em oito anos de governos que
foram eleitos com o ostensivo apoio dos “formadores de opinião” do
jornal ao qual o referido jornalista presta o seu serviço, pouco ou nada
foi feito em relação ao Presídio Central.
É bom a gente socializar a vergonha, se não parece que a imprensa é
uma estrutura de poder “neutra”, composta só por pessoas puras e dotadas
de incrível senso de responsabilidade pública, que não tem nenhuma
responsabilidade com o que ocorre na esfera da política e nas decisões
de Estado. Eu gostei do artigo. Achei muito bom o texto. Mas como
represento uma instituição -o Executivo Estadual- e um projeto político
-da Unidade Popular Pelo Rio Grande- convido-o a refletir sobre a
herança que recebemos, cuja construção não teve o nosso apoio nem a
nossa cumplicidade política, para que todos nos envergonhemos. E para
que passemos a trabalhar juntos para construir um novo Rio Grande.
Na sua avaliação, a privatização é uma solução para o problema dos presídios?
Não vamos diminuir ou abdicar das nossas funções, como ocorrido em
gestões anteriores. Esta é uma questão constitucional: a custódia dos
detentos é responsabilidade do Estado. Qualquer empresa que entra em um
negócio visa o lucro e o sistema prisional não serve para isso. Quero
deixar claro que não somos contrários às PPPs. Pelo contrário, estamos
encaminhando algumas. Mas elas não podem ser feitas no sistema
prisional.
Em um passado recente, era de bom tom neoliberal reduzir as funções
públicas do Estado, fazer promoções para demissões voluntárias, como
ocorreu no governo Britto (referência para alguns como “modelo de
gestão”), aplicar brutais arrochos salariais em todos os servidores,
principalmente da Susepe, policiais civis e militares, terceirizar
serviços e dar isenções fiscais concentradas exclusivamente em grandes
empresas, deixando a base produtiva histórica do estado a ver navios. E
mais, ainda restam 50 mil ações da Lei Britto para pagar, presente
herdado por todos os governos que sucederam o governador Britto, ponto
culminante da arrogância neoliberal no nosso estado.
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