O que faz correr o General McChrsytal
Tariq Ali
Na explosiva
entrevista à revista Rolling Stones o general McCrhystal dispara em
todas as direcções, não poupando sequer Barack Obama, a quem sempre
apoiou.
Será apenas o desespero pelo desenrolar da guerra no Afeganistão?
A entrevista
kamikaze do general Stanley McChrystal produziu o efeito desejado. O
general foi demitido e substituído pelo seu superior, general David
Petraeus. Mas por trás do drama em Washington há uma guerra que vai de
mal a pior e não há conversa fiada jornalística que oculte isso.
O empertigamento de Holbrooke (que é uma criação de Clinton) é
significativo, não por seus defeitos pessoais, que são muitíssimos, mas
porque a tentativa de Holbrooke de derrubar Karzai sem ter alguém
confiável para por em seu lugar enfureceu os generais. Convencidos de
que não há meio pelo qual vencer aquela guerra, os generais ficarão
absolutamente órfãos e perdidos, sem Karzai: sem um ponto de apoio
pashun no país, o colapso da OTAN-EUA pode alcançar proporções de
Saigão.
Todos os generais sabem que o beco sem saída é sem saída, mas todos
anseiam por construir reputações e carreiras e esperam fazê-lo testando
novas armas e novas estratégias (jogos de guerra sempre atraem os
generais, desde que não haja riscos reais para os generais, pessoalmente
considerados); por isso obedeceram ordens apesar de praticamente não
haver nenhum tipo de acordo nem entre os generais, nem entre eles e os
políticos.
Obama sempre foi apoiado por Stan [McChrystal] e Dave [Petraeus],
mas não pelo general Eikenberry, ex-patrão dos dois supracitados e atual
embaixador dos EUA em Cabul. Eikenberry já está bem vingado, pelo beco
sem saída e pelo quanto custou e ainda custará. Todos os «avanços» e
«conquistas» de que os jornais vivem cheios e que são aumentados até a
loucura são ilusórios. As baixas, de soldados dos EUA e da OTAN, só
fazem crescer, semana após semana; multidões de cidadãos europeus e
norte-americanos já fazem aberta oposição à guerra e pregam a retirada;
diferentes facções dos Talibãs preparam-se para assumir o poder do
Afeganistão; o Iran foi definitivamente afastado pelas sanções e não
colaborará; a Aliança do Norte está ativa, os líderes trabalham como
nunca, como os irmãos de Karzai, fazendo dinheiro. E, com reservas de
lítio e tudo, é cada dia mais difícil sustentar as forças da OTAN no
país.
Os militares paquistaneses mantêm contato permanente e estável com
as lideranças Talibã e um Karzai já desesperado pediu que os EUA
retirassem o nome de Mullah Omar e outros anciãos Talibã da lista de
«terroristas», de modo a que possam viajar e participar na vida política
do país. Resposta de Eikenberry: estamos preparados para considerar
cada nome da lista, caso a caso, mas não haverá anistia geral. Com o
tempo, ah, sim, também isso virá.
As eleições de meio de mandato nos EUA aproximam-se e Netanyahu é
esperado como convidado especial da Casa Branca para ajudar a empurrar
para cima a maré de apoio do lobby pró-Israel/AIPAC, a favor dos
depauperados Democratas.
O que se ouve pelos salões de Washington é que Obama será obrigado a
livrar-se de Gates no Pentágono e de Rahm na Casa Branca. O que ninguém
parece estar percebendo é que McChrystal anda exibindo cara de muita
fome.
Estará interessado em disputar a indicação pelo partido Republicano?
*Tariq Ali é editor da New Left Review, director da Editorial
Verso e membro do Conselho editorial de Sin Permiso
Este texto foi publicado em www.lrb.co.uk/
Tradução de Caia Fittipaldi
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