segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Monocultura da soja dizima floresta paraguaia

A floresta paraguaia desaparece rapidamente. Em algumas regiões, o desmatamento chega a 90% para dar lugar à cultura de soja, exportada sobrtudo para alimentar animais na Europa e na China.

Cortar as matas significa também a perda da diversidade e de espécies raras. Para tentar frear a destruição, apoiamos uma iniciativa internacional na Ásia e na América Latina, afirma Bella Roscher, coordenadora do projeto na seção suíça do WWF - Fundo Mundial pela Natureza.

Roscher falou da iniciativa ao público que assistiu a projeção do documentário "Christine e a floresta", durante o Fórum Cinematográfico sobre Meio Ambiente, organizado em Berna pela Associação Latino-América-Suíça (ALAS).

Em certas regiões do planeta, a destruição é muito rápida. "Enquanto na América do Sul, desmata-se para plantar soja, na Ásia ocorre o mesmo fenômeno mas para planta palmeiras para a extração de óleo", explicou a swissinfo a sueca Roscher.

Com essa iniciativa, o WWF tenta envolver todos os atores do mercado, principalmente associações de lavradores e de mulheres, grandes e pequenos produtores, comerciantes, mas também consumidores da Europa, O intuito é elaborar, juntos, critérios para uma produção de soja mais responsável.
Bella Roscher, WWF.
Bella Roscher, WWF. (swissinfo)
Trabalho escravo
"Dizemos a todos que o problema tem graves conseqüências para o ser humano e o meio ambiente. Na Suíça, por exemplo, discutimos com a rede de supermercados Coop Naturaplan, que se comprometeu com uma produção de soja mais sustentável, sem desmatamento de florestas importantes para biodiversidade", afirmou Roscher.

Em abril de 2006, ocorreu um grande encontro em São Paulo entre os grupos de interesse para identificar as principais conseqüências da desflorestação. Todos reconheceram a existência de problemas ambientais mas também de problemas sociais.

"Organizações sociais denunciaram a existência de trabalho escravo na produção de soja, o que foi negado pelos grandes produtores, embora de maneira não muito convincente; então este é mais um problema a solucionar", destaca Roscher.

Recuperar a floresta perdida é uma utopia. "Nossa meta é mobilizar a todos para as conseqüências sejam menos graves; para isso elaboramos critérios globais para o desenvolvimento sustentável", precisou Roscher swissinfo.

"O grande objetivo é frear o desmatamento de alto valor, evitar a erosão e contaminação da água e, fator muito importante para o WWF, evitar a perda irreversível da biodiversidade, não somente no Paraguai mas também no Brasil, Argentina e Bolívia, os maiores produtores de soja da América do Sul".
Produzir soja mas de maneira responsável
Os critérios de responsabilidade incluem o meio ambiente mas também aspectos sociais, onde há graves problemas de pobreza e migração de pequenos agricultores para as cidades. Além disso, abrangem o aspecto econômico na produção de soja.

Tudo tem que ser responsável, afirma Roscher, reconhecendo que a produção biológica de soja no Paraguai é muito pequena. "O certo é que a produção convencional também seja responsável e, para isso, não precisa ser obrigatoriamente biológica. Por isso, um os objetivos é reduzir o uso de pesticidas e herbicidas".

Mas isso é possível em uma agricultura em que o uso de pesticidas é arraigado, especialmente nas monoculturas?. "Por enquanto não é realista tentar eliminar os pesticidas mas reduzi-los paulatinamente. Por isso produtores de pesticidas como Syngenta participam das discussões", responde Roscher.

É preciso uma mudança de mentalidade para conter o desflorestamento, afirma a representante do WWF suíço. No entanto, as opiniões divergem quando se discute onde deve ocorrer a mudança: no Paraguai produtor e pobre ou na Europa rica, que produz pesticidas e demanda grandes quantidades de soja.
'Christine e a floresta'
Este documentário de Beat Wieser mostra a luta do casal suíço Christine e Hans Hostettler, junto com o WWF, para evitar a destruição da floresta tropical do Paraguai.

Os Hostettler, originarios de Rüschegg, no cantão de Berna, emigraram em 1978 para o Paraguai. Como outros colonos de diferentes países, começaram a desmatar e plantaram 100 hectares de soja.

Em certo momento, ocorre no casal de suíça essa 'mudança de mentaliadade'. Da produção convencional de soja passaram para a produção biológica e os desmatadores converteram-se em protetores da floresta. Hoje recebem apoio logístico e financeiro dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Suíça.

O documentário concentra-se na luta de Christine e 'seu paraíso ameaçado', nas conseqüências ambientais da desflorestação.

So indiretamente aborda o problema social: famílias guaranis sem terra que migraram para as grandes cidades ou acusados de desmatar 'ilegalmente' as florestas em que viveram gerações de seus antepassados em harmonia com a natureza.

swissinfo, Rosa Amelia Fierro

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