Entre os dias 7 e 10 de junho, na insubmissa cidadela de São Sebastião do Rio de Janeiro, o Partido Socialismo e Liberdade realiza o seu primeiro Congresso Nacional. Vindos dos quatro cantos do território nacional, mais de 800 delegados, eleitos diretamente em núcleos ou plenárias de base, vão se juntar a um outro tanto de observadores e convidados, nacionais e internacionais, para debater e redefinir os rumos da esquerda socialista no Brasil.
Para os que lutam pela mudança social em nosso país, o lulo-petismo resultou em portentoso desastre. O presidente operário foi, ao mesmo tempo, vitória eleitoral e derrota política para o projeto de mudança. Prometeu alvoradas e se realiza como continuidade do ocaso. Mais do mesmo. Aderiu ao modelo neoliberal, desmobilizou movimentos, desencantou a militância cidadã e, com intensidade e rapidez espantosas, mergulhou de corpo e alma na geléia geral da velha política. Pegou o bonde andando e sentou na janelinha.
A guinada para a direita do governo eleito pela esquerda, ao não cumprir o compromisso de luta contra a ordem social injusta, embaralhou as cartas da política, desnorteou o movimento pela mudança e transformou a esquerda numa nebulosa de estilhaços. É neste quadro que a resistência militante busca recompor pólos de condensação, nos movimentos sociais e na disputa institucional: “mudar de enxada para continuar o plantio”.
Entre as crias deste esforço, o PSOL foi definido pelos seus fundadores como uma “necessidade histórica” e um “abrigo para a esquerda socialista no Brasil”. A injustiça social, a desigualdade e a violência que dilaceram a nossa vida precisam ser combatidas pela política. Fora dela é o caos, a guerra de todos contra todos e o dilaceramento do tecido social. Não uma política qualquer, mas a política vigorosa da participação coletiva, que mobiliza o cidadão e organiza os movimentos no caminho da mudança.
Os socialistas libertários apostam na grande política, que discute projetos e mobiliza o cidadão. Querem acertar o passo com a dinâmica que, na América Latina, tem feito avançar a mobilização popular na busca de saídas para a crise estrutural de nossas sociedades. Falam em “retomar o processo de organização autônoma dos trabalhadores e dos setores populares e democráticos”, bem como da “reanimação dos setores militantes, neste momento dispersos ou restritos às intervenções pontuais”.
Ao demarcar com nitidez, nas lutas sociais e no embate institucional, um efetivo divisor de águas com o continuísmo dominante, a esquerda socialista recoloca em cena a proposta do contraponto radical ao modelo neoliberal. Uma radicalidade que não é emanação direta da doutrina ou proclamação desencarnada da teoria. Ela brota dos conflitos que estão em curso e, portanto, tem a força potencial da realidade em movimento. Uma proposta que, a partir do mundo do trabalho e no diálogo com as amplas maiorias sociais, pode retirar a política da bitola estreita da manipulação das elites.
Há um partido novo no pedaço. O registro legal, mais de meio milhão de assinaturas recolhidas em todo o território nacional no quadro de desencanto geral com a política, foi uma façanha militante. A campanha presidencial de Heloisa Helena, que travou o bom combate nas condições da extrema desigualdade, foi um marco na recomposição da esquerda na política. Agora, o Congresso do Rio de Janeiro é um passo a mais no correr da luta. Pequeno, porém decente e combativo, o PSOL pede passagem.
Léo Lince é sociólogo.
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