Quem intervem nos assuntos internos de quem?
Emir Sader
O Senado chileno aprovou uma resolução pedindo que a OEA – cujo Secretário Geral é atualmente um chileno – interviesse nos assuntos internos da Venezuela, para impedir a não renovação da concessão para a continuidade do funcionamento da golpista RCTV. O povo venezuelano elegeu e reelegeu reitaradas vezes a Hugo Chávez como predidente da Venezuela, a última a poucos meses, com quase 2/3 dos votos – isto é quase 2 de cada 3 – dos venezuelanos.
Hugo Chávez respondeu – se supõe que a democracia comporta o direito à resposta – acusando o Senado chileno de pinochetista. Um Senado que comporta ainda senadore biônicos, conforme a constituição imposta por Pinochet durante o estado de sítio. O governo chileno e a imprensa privada chilena – toda ela monocordicamente de direita – acusaram a Hugo Chávez de se imiscuir nos assuntos internos do Chile.
Como se o pronunciamento do Senado chileno não representasse – ele sim – intervir nos assuntos internos da Venezuela, tema que compete ao povo venezuelano decidir. O desafio é o Chile introduzir na sua Constituição – essa, herdada de Pinochet e remendada, mas nunca superada por uma nova Assembléia Constituinte, o que constitui, por si só, um grave déficit democrático do Chile – a confirmação ou não dos governantes – incluídos o presidente e todos os parlamentares – por votação popular no meio dos mandatos. Ao mesmo tempo, introduzir o pluralismo na imprensa chilena. A partir desse momento terão construído os méritos mínimos para discutir que país é democrático e que país é pluralista na América Latina.
O Senado brasileiro se imiscuiu nos assuntos internos da Venezuela, ao aprovar uma moção apresentada pelo ex-presidente José Sarney, que contradiz a decisão do governo legal e democraticamente eleito e reeleito de Hugo Chávez, de substituir uma rede privada comprometida publicamente – com provas filmadas –com um golpe de Estado, por uma rede pública de televisão. O ex-presidente biônico José Sarney, eleito não pelo voto do povo, mas por um Colégio Eleitoral organizado pela ditadura militar e sua Constituição outorgada ao povo brasileiro, se erige em acusador do governo venezuelano. Ele mesmo, que teve durante os cinco anos do seu mandato a Antonio Carlos Magalhães, o homem do maior monopólio privado da mídia no Brasil, como seu Ministro das Comunicações. Um ministro que distribuiu por todo o país canais de rádio e televisão por todos os estados, para conseguir que Sarney tivesse um ano mais de mandato na presidência. Um ex-presidente que vê envolvidos, no seu estado, em denúncias graves de intermediação de obras, políticos ligados a ele.
Um Senado que trata de proteger seu presidente, Renan Calheiros, de um comportamento vergonhoso, diante da acusação clara da Polícia Federal de que utilizou os serviços da uma empresa de construção para pagar despesas pessoais, que pode perfeitamente encobrir outras trocas de favores em obras públicas. Seu Estado, berço de nascimento de Collor, projeto de que Calheiros foi um dos artífices, é um grande exemplo do monopólio oligárquico da imprensa.
A moção foi apresentada na Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro por um senador tucano – Eduardo Azeredo – inquestionavelmente comprometido com os escândalos chamados de “mensalão”. Todos eles têm, em comum, graves acusações de envolvimentos em atividades ilegais, que danificam o patrimônio público. Ao se somarem à campanha da oligarquia mercantil da imprensa – capitaneada pelas quatro famílias: Marinho, Frias, Mesquita e Civita -, pretendem granjear simpatia desses órgaos, para tentar obter benefícios na cobertura dos escândalos que os envolvem?
Que moral têm eles para falar de democracia, de pluralismo nos meios de comunicação? Que moral tem o Senado brasileiro, que não se pronunciou, não demonstrou preocupação ou indignação diante do golpe contra o governo legitimamente eleito de Hugo Chávez, para vir agora imiscuir-se nos assuntos internos da Venezuela? Por acaso o Senado brasileiro se pronunciou sobre o processo fraudulento com que George Bush se elegeu presidente dos EUA? Demonstrou preocupação com o comportamento vergonhoso da grande mídia mercantil dos EUA escondendo dos leitores daquele país a verdade sobre o que se passava no Iraque, reproduzindo as mentiras do governo dos EUA para tentar justificar a invasão e ocupação do Iraque?
Para que ir mais longe, se os brasileiros conhecem de sobra o que é esse Senado e conhecem de sobra o que é a imprensa mercantil brasileira. Foi esta que promoveu o golpe militar de 1964, que conclamou os militares a que tomassem o poder, alegando interferências externas no Brasil, supostamente realizadas pela URSS, por Cuba e pela China, enquanto quem articulava, em estreita aliança com essa imprensa e com os partidos de direita no Brasil, era o governo dos EUA, como ficou provado e comprovado pelos documentos do Senado deste país.
Conhecemos esse farisaismo, de acusar a uns, para distrair a atenção, quando o que se dá é uma intervenção no sentido oposto. Como no caso atual, em que a Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro se ponuncia sobre um tema interno da Venezuela, recebe a resposta do presidente desse país, que passa a ser acusado de se meter nos assuntos internos do Brasil.
Se Lula diz que Hugo Chávez deve se ocupar dos assuntos da Venezuela – e não temos que nos preocupar, nenhum presidente se ocupou tanto dos assuntos da Venezuela como ele, como reconhece o povo daquele país, que o elegeu, o reconfirmou e o reelegeu –, deveria dizer ao Senado que se ocupe dos assuntos do Brasil. Se está preocupado com a democratização dos meios de comunicação, tem no Brasil um excelente exemplo de ditadura mercantil (privada) dos oligopólios. Deveria constituir uma comissão que investigue esse tema entre nós, os vínculos desses meios de imprensa com organismos internacionais que lhes dão suas pautas, seus finciamentos, sua situação financeira em relação aos financiamentos estatais, ao pagamentos de impostos – incluídos os da previdência, de que costumam reclamar muito dos déficits, mas têm dívidas colossais com a previdência.
Em suma, o Senado e o governo brasileiros deveriam respeitar o direito dos venezuelanos de decidir livre e democraticamente sobre seu destino. E se preocupar com os mesmos golpistas que atuam lá e que têm seus sócios e defensores por aqui.
Fonte: Agencia Carta maior
O Senado chileno aprovou uma resolução pedindo que a OEA – cujo Secretário Geral é atualmente um chileno – interviesse nos assuntos internos da Venezuela, para impedir a não renovação da concessão para a continuidade do funcionamento da golpista RCTV. O povo venezuelano elegeu e reelegeu reitaradas vezes a Hugo Chávez como predidente da Venezuela, a última a poucos meses, com quase 2/3 dos votos – isto é quase 2 de cada 3 – dos venezuelanos.
Hugo Chávez respondeu – se supõe que a democracia comporta o direito à resposta – acusando o Senado chileno de pinochetista. Um Senado que comporta ainda senadore biônicos, conforme a constituição imposta por Pinochet durante o estado de sítio. O governo chileno e a imprensa privada chilena – toda ela monocordicamente de direita – acusaram a Hugo Chávez de se imiscuir nos assuntos internos do Chile.
Como se o pronunciamento do Senado chileno não representasse – ele sim – intervir nos assuntos internos da Venezuela, tema que compete ao povo venezuelano decidir. O desafio é o Chile introduzir na sua Constituição – essa, herdada de Pinochet e remendada, mas nunca superada por uma nova Assembléia Constituinte, o que constitui, por si só, um grave déficit democrático do Chile – a confirmação ou não dos governantes – incluídos o presidente e todos os parlamentares – por votação popular no meio dos mandatos. Ao mesmo tempo, introduzir o pluralismo na imprensa chilena. A partir desse momento terão construído os méritos mínimos para discutir que país é democrático e que país é pluralista na América Latina.
O Senado brasileiro se imiscuiu nos assuntos internos da Venezuela, ao aprovar uma moção apresentada pelo ex-presidente José Sarney, que contradiz a decisão do governo legal e democraticamente eleito e reeleito de Hugo Chávez, de substituir uma rede privada comprometida publicamente – com provas filmadas –com um golpe de Estado, por uma rede pública de televisão. O ex-presidente biônico José Sarney, eleito não pelo voto do povo, mas por um Colégio Eleitoral organizado pela ditadura militar e sua Constituição outorgada ao povo brasileiro, se erige em acusador do governo venezuelano. Ele mesmo, que teve durante os cinco anos do seu mandato a Antonio Carlos Magalhães, o homem do maior monopólio privado da mídia no Brasil, como seu Ministro das Comunicações. Um ministro que distribuiu por todo o país canais de rádio e televisão por todos os estados, para conseguir que Sarney tivesse um ano mais de mandato na presidência. Um ex-presidente que vê envolvidos, no seu estado, em denúncias graves de intermediação de obras, políticos ligados a ele.
Um Senado que trata de proteger seu presidente, Renan Calheiros, de um comportamento vergonhoso, diante da acusação clara da Polícia Federal de que utilizou os serviços da uma empresa de construção para pagar despesas pessoais, que pode perfeitamente encobrir outras trocas de favores em obras públicas. Seu Estado, berço de nascimento de Collor, projeto de que Calheiros foi um dos artífices, é um grande exemplo do monopólio oligárquico da imprensa.
A moção foi apresentada na Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro por um senador tucano – Eduardo Azeredo – inquestionavelmente comprometido com os escândalos chamados de “mensalão”. Todos eles têm, em comum, graves acusações de envolvimentos em atividades ilegais, que danificam o patrimônio público. Ao se somarem à campanha da oligarquia mercantil da imprensa – capitaneada pelas quatro famílias: Marinho, Frias, Mesquita e Civita -, pretendem granjear simpatia desses órgaos, para tentar obter benefícios na cobertura dos escândalos que os envolvem?
Que moral têm eles para falar de democracia, de pluralismo nos meios de comunicação? Que moral tem o Senado brasileiro, que não se pronunciou, não demonstrou preocupação ou indignação diante do golpe contra o governo legitimamente eleito de Hugo Chávez, para vir agora imiscuir-se nos assuntos internos da Venezuela? Por acaso o Senado brasileiro se pronunciou sobre o processo fraudulento com que George Bush se elegeu presidente dos EUA? Demonstrou preocupação com o comportamento vergonhoso da grande mídia mercantil dos EUA escondendo dos leitores daquele país a verdade sobre o que se passava no Iraque, reproduzindo as mentiras do governo dos EUA para tentar justificar a invasão e ocupação do Iraque?
Para que ir mais longe, se os brasileiros conhecem de sobra o que é esse Senado e conhecem de sobra o que é a imprensa mercantil brasileira. Foi esta que promoveu o golpe militar de 1964, que conclamou os militares a que tomassem o poder, alegando interferências externas no Brasil, supostamente realizadas pela URSS, por Cuba e pela China, enquanto quem articulava, em estreita aliança com essa imprensa e com os partidos de direita no Brasil, era o governo dos EUA, como ficou provado e comprovado pelos documentos do Senado deste país.
Conhecemos esse farisaismo, de acusar a uns, para distrair a atenção, quando o que se dá é uma intervenção no sentido oposto. Como no caso atual, em que a Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro se ponuncia sobre um tema interno da Venezuela, recebe a resposta do presidente desse país, que passa a ser acusado de se meter nos assuntos internos do Brasil.
Se Lula diz que Hugo Chávez deve se ocupar dos assuntos da Venezuela – e não temos que nos preocupar, nenhum presidente se ocupou tanto dos assuntos da Venezuela como ele, como reconhece o povo daquele país, que o elegeu, o reconfirmou e o reelegeu –, deveria dizer ao Senado que se ocupe dos assuntos do Brasil. Se está preocupado com a democratização dos meios de comunicação, tem no Brasil um excelente exemplo de ditadura mercantil (privada) dos oligopólios. Deveria constituir uma comissão que investigue esse tema entre nós, os vínculos desses meios de imprensa com organismos internacionais que lhes dão suas pautas, seus finciamentos, sua situação financeira em relação aos financiamentos estatais, ao pagamentos de impostos – incluídos os da previdência, de que costumam reclamar muito dos déficits, mas têm dívidas colossais com a previdência.
Em suma, o Senado e o governo brasileiros deveriam respeitar o direito dos venezuelanos de decidir livre e democraticamente sobre seu destino. E se preocupar com os mesmos golpistas que atuam lá e que têm seus sócios e defensores por aqui.
Fonte: Agencia Carta maior
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