sábado, 30 de junho de 2007

Uma farsa repugnante

O Conto dos “defensores da liberdade de imprensa”



Cláudio Testa - Socialismo ou Barbárie Internacional

Essas máquinas de mentir, enganar e falsificar conhecidas como “meios massivos de comunicação” (TVs, rádios, grandes diários e revistas) têm lançado nos últimos dias uma campanha mundial. De Nova Iorque a Buenos Aires, e daqui ao Japão, vomitam em distintos idiomas o mesmo livro: a “defesa da liberdade de imprensa” contra o terrível “tirano Chávez”. Temos que desmascarar esses mentirosos profissionais. Porém, ao mesmo tempo, o fato de Chávez não ter renovado a concessão da RCTV, nos dá a oportunidade de fixar uma posição ante o grave problema dos meios e como conseguir uma verdadeira liberdade de imprensa e de expressão cultural para os trabalhadores e explorados.

A tormenta foi desencadeada por uma medida tardia, porém absolutamente legal, nos marcos da Constituição e do direito burguês da Venezuela, tomada pelo governo de Chávez. Ao finalizar a concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV) o governo decidiu não renovar. Temos que aclarar que em todos os países do mundo as freqüências de TV são do Estado, que as dão ou não em concessão, por um prazo determinado.

Por que falamos de medida tardia? Porque, na verdade, a RCTV há pelo menos 5 anos deveria ter sido fechada e seus donos e diretores presos, por terem cumprido o papel organizador e dirigente no fracassado golpe de estado de abril de 2002, que tentou instaurar uma ditadura militar ao estilo Pinochet. Nas poucas horas que durou o golpe, alentado a partir da embaixada yanqui e encabeçado pelo presidente da Fedecámaras (espécie de FIESP venezuelana), dezenas de trabalhadores e de ativistas foram assassinados, o que deixava claro a que serviria o golpe, caso se consolidasse no poder.

Essa tentativa criminosa foi derrotada pela combinação de uma importante mobilização operária e popular somada à recusa de um grande setor das forças armadas a irem ao golpe.

A RCTV e seus cupinchas não foram simples “informadores e/ou comentaristas” desses acontecimentos, ao contrário, estiveram pública e organicamente na cabeça do golpe. Em qualquer estado burguês teriam pago caro essa aventura, porém, por vários motivos, Chávez fez vista curta.

Possivelmente, Chávez esperava que RCTV e demais canais mudassem de conduta, o que concretamente não ocorreu. Não foram poucas as vezes em que exortaram militares reformados a novos golpes.

Liberdade de imprensa..... para quem ??

A não renovação da concessão da RCTV e o circo montado internacionalmente nos levam a um problema muito importante e de dimensões mundiais: que entre os 6 bilhões de habitantes do planeta, os únicos que tem realmente “liberdade de imprensa” são um punhado cada vez menor e mais concentrado de corporações que detêm o controle das cadeias de rádio, tv, jornais e revistas.

Nos EUA e América Latina são apenas 10 grandes grupos que dirigem o fundamental da TV, da imprensa e da chamada “indústria de entretenimento”. Trata-se das holdings AOL/Times Warner, Gannett Company, Inc., General Electric, The McClatchy Company/Knight–Ridder, News Corporation, The New York Times, The Washington Post, Viacom, Vivendi Universal y Walt Disney Company. Esses são os donos do circo em escala mundial.

São os que detêm os “picadores de cérebro” não só nos noticiários, mas também nas séries, novelas e “documentários” onde os yanquis são sempre bons e os árabes sempre terroristas, os latinos narcotraficantes e os governantes contrários aos EUA ditadores.

Trata-se, então, da liberdade de imprensa para essas 10 holdings e suas sucursais e sócios menores da América Latina e de outros continentes, que em outras palavras significa o direito a mentir como desejarem ou impor uma mordaça ao resto da humanidade.
Essa pretensa liberdade de imprensa que informou ao mundo que se deveria invadir o Iraque por causa das terríveis “armas de destruição massivas” que Sadam escondia debaixo da cama, ou que se silencia diante das lutas dos trabalhadores.

No caso da Venezuela, tanto RCTV, como Venevisión e Globovisión, se encontram nas mãos de algumas das aproximadamente “30 famílias” que compõem a grande burguesia pré-chavista, esses, por sua vez, associados ao capital norte-americano.

Nós, socialistas revolucionários, sempre denunciamos que as liberdades da “democracia” dos patrões ficam em grande medida no papel, porque os trabalhadores e explorados não as podem exercer com plenitude. Como ensinava Lênin, mesmo na máxima “democracia” burguesa, se os capitalistas são os donos da grande imprensa, a “liberdade de imprensa” para os trabalhadores de fato se transforma em ficção.

Porém, hoje em dia, isto se tem agravado qualitativamente. Isto porque o desenvolvimento da TV e do rádio tem acompanhado um curso de concentração monopólica do capitalismo. Hoje, um punhado de capitalistas, através da TV e do Rádio pretende ditar o que centenas de milhões devam pensar ou acreditar.

Nas últimas décadas, quanto mais se tem vociferado sobre a “liberdade de imprensa” mais se tem aplicado um processo de cerceamento à informação. O processo de monopolização de dimensões internacionais está terminado, mesmo com a imprensa burguesa, que há décadas aparecia com “independente” ou “crítica”, como o Lê Monde ou The New York Times. Hoje, o Lê Monde está nas mãos de um dos padrinhos de Sarkozy. Do grande diário burguês “independente”, “pluralista” e “progressista” só resta o mausoléu.

Pluralismo operário e popular ou monopólio do governo?
RCTV deve passar para as mãos dos trabalhadores!!!

É evidente que não podemos falar seriamente de “liberdade de imprensa” com os principais meios de comunicação, em escala nacional e mundial, nas mãos de alguns monopólios.
Por isso, o primeiro passo deve ser arrancá-los das mãos dos capitalistas mediante a expropriação e nacionalização. Porém, isto deixa sem resposta a questão mais importante: o que fazer com eles? Esse é um problema que está colocado na Venezuela após a justa medida de não renovar a concessão à RCTV.

Pensamos que a justa resposta deva ser o estabelecimento de um autêntico pluralismo operário e popular, isto é, que todas as expressões políticas, sociais e culturais da classe trabalhadora e do povo venezuelano possam expressar-se livremente e não só as oficialistas.

A falsa “liberdade de imprensa” dos multimilionários Granier-Phelps e seus sócios yanquis não pode ser substituída pelo monólogo do governo chavista. Este é um perigo real, porque o regime de Chávez, mesmo que se proclame “socialista”, está implementando uma experiência de Capitalismo de Estado, cuja sombra engorda novos setores burgueses. Por isso, Chávez tem como um de seus pilares a construção de um “partido único”, o PSUV, ao mesmo tempo em que tenta sufocar toda expressão independente e crítica, tanto no movimento operário como na esquerda.

Esta tem sido sua atitude frente a UNT (União Nacional dos Trabalhadores). E agora isto se aprofunda com a organização do PSUV, como um partido organizado verticalmente a partir do aparato de estado, ao melhor estilo peronista das primeiras décadas; seu projeto de manejo dos meios de comunicação não é muito diferente.

Acreditamos que os ativistas operários e socialistas da Venezuela devam lutar por outra alternativa: o mais amplo pluralismo operário e popular e a maior liberdade de expressão nos meios de comunicação para todas as correntes socialistas e antiimperialistas. Para isso, a administração da RCTV deve passas às mãos dos trabalhadores e não do governo!!

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