sábado, 20 de outubro de 2007



DEBORAH KERR

Sandro Villar*

Nos anos 50 e 60, a atriz Deborah Kerr foi uma das rainhas de Hollywood por seu talento e, principalmente, por seu enorme charme que parecia ter um quê de esnobismo. Mas, justiça seja feita, era apenas charme mesmo.

A não ser quando um diretor do porte de Clint Eastwood realiza um filme como “Cartas de Iwo Jima”, um libelo contra a guerra, hoje em dia Hollywood produz muitas bobagens cinematográficas.

E a principal atração desses filmes, verdadeiros lixos, é a violência gratuita, coisa que não se justifica. Um dos mestres desse tipo de violência é o cineasta Martin Scorsese, fascinado por tiros e assassinatos, e basta conferir o conjunto da obra do rapaz para confirmar isso.

Mas deixa isso pra lá e vamos em frente que atrás vêm os credores. O que interessa nessa narrativa é falar alguma coisa sobre Deborah Kerr, que, vítima do Mal de Parkinson, foi embora deste insensato mundo aos 86 anos.

Ela nasceu na Escócia, terra de uísque bom e do Sean Connery, o melhor James Bond do cinema. Aliás, apesar de ter ficado a serviço de Sua Majestade, com licença para matar e tudo o mais - interpretando 007 -, Sean Connery nunca engoliu essa história de a Escócia ser “controlada e dominada” pela Inglaterra. Ele é separatista de carteirinha, mas não contem isso para a Scotland Yard.

Mas do que é que eu falava mesmo? Confesso que estou mais perdido que os “infiéis” que trocaram de partido ou mais perdido que o time do Corinthians no Brasileirão. Ah, já me lembrei: o degas aqui falava da atriz Deborah Kerr e se perdeu por ter metido (epa!) a colher onde não devia. Ou onde não lhe diz respeito.

E, respeitosamente, lembro que Deborah protagonizou dezenas de filmes, entres eles três memoráveis: “O Rei e Eu”, em que contracena com Yul Brynner, “A Um Passo da Eternidade” e “Tarde Demais Para Esquecer”.

Dirigido por Fred Zinnemann, “A Um Passo da Eternidade”(1953) salvou a carreira de Frank Sinatra, que estava na Rua da Amargura, s/n. Ele está ótimo na pele do trágico soldado Maggio, protegido por Montgomery Clift, um dos dez melhores atores de todos os tempos.

Nesse filme, que mostra o ataque aéreo japonês contra a base de Pearl Harbor no Havaí, Deborah é a esposa adúltera de um oficial. Ela é amante do sargento interpretado por Burt Lancaster.

É antológica a cena em que o casal se beija na praia. Esse beijo é considerado um dos melhores do cinema, não faltaram imitações e uma paródia. No filme “O Professor Aloprado”, em que Eddie Murphy dá um show, há uma sátira desse beijo. É quando o professor obeso, mais gordo que a dívida pública brasileira, fica em cima da mocinha e, com tanto peso, ela afunda na areia na hora do pega-pra-capar. A cena é divertida.

E não é nada divertida a cena final de “Tarde Demais Para Esquecer” (1957), assinado por Leo MacCarey, o segundo melhor filme romântico (ou de amor), porque o melhor é “Suplício de Uma Saudade”. Os personagens de Deborah e Cary Grant marcam encontro no edifício Empire State Building, em Nova York.

Ela não vai porque foi atropelada. Ele só se dá conta da situação da amada ao vê-la em outra ocasião. Nessa hora, convém preparar o lenço. A música-tema desse filme inesquecível é a magnífica canção “An Affair To Remember”, sucesso do cantor Vic Damone, mas a versão com Nat King Cole também é ótima.

Deborah Kerr deixa um grande vazio. É inesquecível e, talvez, insubstituível.

DROPS (sabor anis)

O cinema é a mais importante das artes.
(camarada Lenin)

O cinema instrui e dá prazer.
(Ruy Barbosa)

No escurinho do cinema a mão é esperta e não boba.

Times da zona do rebaixamento, não se desesperem: há vagas para lanterninhas nos cinemas de São Paulo.

*Sandro Villar é jornalista e escritor, autor do livro “As 100 Melhores Crônicas de Humor de SV”, à venda na Livraria Cultura (Shopping Villa-Lobos-SP) e no site www.altabooks.com.br (21) 3278-8419/8069/8159.
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