terça-feira, 30 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE E AS ELITES



Laerte Braga

A revista VEJA, porta voz da FIESP e máfias especializadas em sonegação, lavagem de dinheiro, com atuação voltada ao me engana que eu gosto, publica na capa de sua última edição que o filme TROPA DE ELITE faz sucesso "por tratar bandido como bandido" e por deixar claro que o viciado em droga é um ser anti-social.

Essa história de "bandido como bandido" depende. O BOPE (Batalhão de Operações Especiais) que inspirou o filme é responsável por mortes de inocentes, balas perdidas, prisões arbitrárias, o poder de vida e morte conferido a um certo Nascimento, num país onde a pena de morte não existe.
O que VEJA faz é jogar com o medo (compreensível) das pessoas em relação ao crime organizado e, sobretudo, ao desorganizado. Que bandido é bandido ninguém tem dúvidas. O xis da questão é que não há diferença entre Beira-mar e o dono do banco Itaú, ou Paulo Maluf, ou Fernando Henrique Cardoso, ou José Serra, ou Aécio Neves, ou o Pastinha cá embaixo que exige silêncio sobre certas coisas para não complicar outras tantas e assim por diante.
Mas...
Paulo Maluf é deputado, Olavo Setúbal cobra taxas e juros escorchantes e anuncia na GLOBO, na VEJA, frauda, sonega e anuncia na FOLHA. Fernando Henrique tem mania de querer dizer o que o Brasil precisa depois de ter loteado e vendido o País. José Serra monta esquema com verbas públicas para ser presidente da República. Aécio Neves tentou um contrato com a miss Brasil, chegou a fazer (a moça declarou ontem que não quer ver a figura nem pintado) e Pastinha (tem o original e um monte deles em efeito cascata) joga com reputação de gente séria na mentira das tacadas encaçapadas da hipocrisia do "eu sou sério". Pra fora. Pra dentro é podre.
A maior parte das vítimas de balas perdidas, conclusão a partir de laudos periciais, morreu de disparos da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Na cabeça de um Nascimento da vida atirar a esmo num morro qualquer do Rio é combater o tráfico e livrar a cidade de bandidos.
A grande e imensa maioria das pessoas que mora em favelas o faz por absoluta ausência de políticas públicas de moradia, saúde, educação, falta de emprego, num Estado privatizado e que aceita que um empresário como Ermírio de Moraes fale em progresso na GLOBO, enquanto é condenado na Europa inteira por crimes contra o ambiente e populações indígenas e quilombolas.
Que o viciado em drogas, o que compra drogas para consumo, é um ser anti-social ninguém tem dúvidas. Mas quem compra drogas?
A GLOBO exibiu o documentário "FALCÃO, OS MENINOS DO TRÁFICO", e na segunda-feira seguinte as pessoas se mostravam compungidas, traumatizadas com a realidade de meninos de 9, 10 e 11 anos que puxavam carrinhos por barbantes nos morros do Rio, com metralhadoras às costas, ou pistolas 45 enfiadas na cintura, enquanto mães choravam e admitiam a impossibilidade de vida diferente nos morros.
Os meninos eram e são apenas meninos. Há cerca de cinco anos o ex-presidente Garcia Mesa, general boliviano, foi preso em São Paulo e levado para seu país. Acusação? Tráfico de drogas.
A mídia tenta associar as FARC (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), que controlam um terço do território daquele país (O ELN – Exército de Libertação Nacional controla um quarto a noroeste do país), ao tráfico de drogas.
Um relatório do FBI (Federal Bureau of Investigation) do governo do Texas (ex-Estados Unidos) aponta o atual presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, aliado de Bush, como um dos principais políticos da Colômbia ligados ao narco/tráfico. Sua campanha foi financiada pelo narco/tráfico.
O tráfico de drogas, tanto quanto o drogado, que, no caso do Rio, está em Ipanema, Lagoa ou, em São Paulo, nos Jardins, nos condomínios fechados que atiram ovos podres e assaltam empregadas domésticas, se valem dessa hipocrisia, à medida que causam, ao sistema, mal menor que a contestação política daqueles que lutam por terra contra a entrega do solo brasileiro às multinacionais dos transgênicos. Ou por políticas de habitação, saúde, educação.
Não se trata de generalizar em relação às elites. Claro que não. Elites aqui são uma categoria que se apropriou do Estado e faz do Brasil uma espécie de roça de cana onde a escravidão ainda permanece disfarçada sob outros rótulos.
Não é empresário dono da padaria, do restaurante da esquina, nada disso. É exatamente o que representam GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO, a hipócrita disputa de Edir Macedo com a família Marinho, ou qualquer bandido como Renan Calheiros e sua troupe de vacas mágicas ou senadores que buscam avidamente o leite das crianças nas propinas nossas e no voto secreto de cada dia.
O País está se desmanchando por aí. Acaba em pizza e na PLAYBOY, do mesmo grupo que edita VEJA.
Eu me recordo que à época da ditadura militar Luís Carlos Prestes chegou a Moscou e paralelamente à atividade política foi trabalhar na empresa estatal que construía barragens, ferrovias e rodovias. Prestes era engenheiro. E me recordo de um exilado, desses comunistas que à época se chamava de festivo, esquerda festiva, reclamando dos horários de trabalho.
Prestes lhe disse mais ou menos o seguinte: "camarada, você achou que a União Soviética fosse o que? Um país de vagabundos? Aqui se trabalha e muito. As diferenças são outras."
O cara voltou, renegou o socialismo e permaneceu freqüentando os bares da vida.
Nem pretendo com isso afirmar uma verdade absoluta. Tão somente mostrar a hipocrisia e a que interesses servem publicações como VEJA.
TROPA DE ELITE é um atestado da falência do Estado. Da conivência do Estado com a violência, a barbárie. O que VEJA está pretendendo fazer e vai continuar junto com GLOBO, FOLHA, ESTADÃO, etc, etc, é apenas vender a idéia que se não for assim as portas dos condomínios fechados serão arrombadas e os jovens que assaltaram e espancaram a moça na Barra da Tijuca não são criminosos. Roubaram dinheiro e celular para comprar drogas.
Ou alguém acha que Boninho, o diretor do BBB (Big Brother Brasil) e agora do programa Ana Maria Braga, quando decide quem é ou não vagabunda e "marca" com ovos podres está se divertindo ou reproduzindo o modelo global de vida?
Os caras estão é tirando alma, a consciência e o caráter das pessoas, tentando transformar a todos numa legião de zumbis que não pensa, não fala, não ouve e não vê.
E acha que tudo se resolve engolindo sapos e aceitando o mundo irreal que chamam de real.
TROPA DE ELITE, isso a GLOBO e nem VEJA mostram, nem FOLHA, está sendo exibido na Europa (onde a elite gosta de esfalfar-se) e comentado como a reprodução da violência diária do País, o Brasil, a partir dos governos. Do Estado. A GLOBO não vai mostrar nunca as muitas organizações internacionais e governos (governos sim) que se indignaram e se indignam com o poder do tal Nascimento.
Não difere muito do que matou o brasileiro Jean Charles em Londres. É que aqui nossas autoridades são como que macaquitas das autoridades de lá, ou de boa parte de lá. Bush, então, deita e rola nesse modelo.
O Afeganistão é um dos maiores produtores de ópio do mundo. O tráfico é controlado, entre outros, por generais paquistaneses sustentados pelo Texas com o pretexto de combater bin Laden. A produção dobrou depois da invasão texana.
A droga em proporções alarmantes de consumo chegou ao Iraque através de traficantes marines do Texas, na invasão daquele país. Uma das primeiras providências do governo de Bush foi, além da tortura mostrada ao mundo inteiro nas prisões de Bagdá, distribuir filmes pornôs no país para quebrar a resistência dos iraquianos e iraquianas ao american way life.
Ele exporta isso para cá todo dia. Sejam os filmes, ou os milhos transgênicos que a Justiça continua a proibir por colocar em risco a saúde pública.
TROPA DE ELITE é um escárnio ao mostrar que bandido é bandido na ótica de VEJA e ignorar que qualquer FHC da vida é bandido na ótica de qualquer ética que se queira examinar ou analisar o ex-presidente. Ele e muitos.
É o modelo moço, moça. Está falido. Podre. Não adianta calçar sapatos de marca, ou vestir-se segundo os cânones da moda. Ou achar que o irreal/anormal é real/normal.
Não é não, está tudo pelo avesso. Pena que você continue sem entender bulhufas desse assunto e achando que eleição vai resolver. Que trabalhar é viver em paz. E que essa gente acha que existe diferença entre qualquer você cá embaixo, no horário que for, e os vagabundos/vagabundas do Boninho.
Tem não. A "análise sociológica e psicológica" –rs- de VEJA. Os conselhos do FANTÁSTICO, a falta de ranhuras na pista de Congonhas que provocou orgasmos múltiplos em William Bonner contra o governo Lula (até que se descobrisse que o problema era o avião da TAM e aí culpar o piloto), tudo isso é a droga disseminada em forma de vida.
Abra o olho companheiro/a. Na União Soviética o regime de trabalho era de 48 horas semanais.
Nunca é demais lembrar que bin Laden é produto da CIA na luta contra os soviéticos, na década de 80, no Afeganistão. E que o terrorista (é terrorista sim, como Bush) é engenheiro e responsável pelo programa de construção de aeroportos, rodovias e ferrovias no Sudão, em parceria com empreiteiras norte-americanas (texanas), até que os negócios, os cifrões desandassem. Até então era aliado, como o resto da família continua sendo aliada.
Não existem seres humanos nessa história meus camaradas. Somos apenas números para os BOPES da vida que são apenas a face visível da barbárie dessa gente.
__________
> Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.
__._,_._

Nenhum comentário: