sábado, 12 de janeiro de 2008

Prisioneiros políticos palestinos em Israel

Esta semana nossa intenção era escrever sobre o novo giro que o chefe do império americano, George Walker Bush, dará esta semana pelo Oriente Médio, de certa forma para beijar as mãos dos israelenses e abençoar a sua política anti-árabe e contra os palestinos. No entanto, resolvi tratar de um dos temas mais candentes e que de certa forma impedem os acordos de paz entre Israel e os palestinos: os seus prisioneiros políticos (1).


Como são tratados os presos políticos palestinos

Prisioneiros veteranos palestinos


Todos sabem que as prisões de Israel são as mais abarrotadas do mundo, proporcionalmente ao número de palestinos presos – mais de 11 mil, comparados com o total da população do país. E todos são presos políticos, invariavelmente. Quase não há presos por crime comum – assalto, roubo. Todos estão encarcerados por motivos exclusivamente políticos. E que os maus tratos e mesmo torturas, são muito comuns nos cárceres israelenses, que se diz um país democrático.


Há, porém, um conceito que só tem sentido lá na Palestina. É o conceito de “prisioneiros veteranos”. São considerados prisioneiros todos os palestinos detidos desde os acordos de paz firmados em Oslo, na Noruega em setembro de 1993, entre Israel e a OLP. De forma mais precisa, a Autoridade Nacional Palestina, uma espécie de governo palestino com autonomia relativa, editou no dia 4 de maio de 1994, um documento, onde eram pedidas as libertações de todos os prisioneiros políticos, inclusive esse ponto sempre fora um dos temas mais discutidos nos acordos de paz e Oslo sinalizava para essa perspectiva, ainda que não detalhasse quando, quantos seriam libertados e a sua forma.


A reportagem que pude ter acesso, cujo endereço publico abaixo, é estarrecedora. Israel hoje detém os prisioneiros políticos de maior tempo encarcerados do planeta. Os mais longevos presos, segundo o livro de recordes chamado “Guiness Book of Records”, eram Nelson Mandela, com 26 anos, da África do Sul e Lee Oswald, assassino de Kennedy, com 28 anos. Hoje, um palestino encabeça o triste recorde mundial de prisioneiro políticos mais antigo.


Trata-se de Said Wageeh Al-Atabah, revolucionário e membro da Frente Democrática de Libertação da Palestina – FDLP. Seu crime: luta pela libertação de sua terra, a Palestina, da ocupação por Israel com as guerras de 1948 e 1967. Said esta encarcerado desde 29 de julho de 1977, ou seja, quase 30 anos e meio. Bateu todos os recordes de encarceramento político na história da humanidade mais recente. Um verdadeiro absurdo e mais uma vez, o mundo fecha os seus olhos e mais essa fragrante injustiça cometida pelos sionistas que governam Israel.


Mas, há outros recordistas de prisão e que são considerados veteranos. Na Palestina, na ANP, há um ministério específico que só trata desses assuntos. Esse é o ministério de Prisioneiros e Libertados. O departamento de estatística desse ministério, dentro da definição de prisioneiros veteranos, considera a existência de 356 prisioneiros que possuem pelo menos mais de 14 anos encarcerados, na maioria deles sem processo, sem julgamento, sem direito de defesa, sem direito de visita de seus familiares. Há um caso mais fragrante de Fakhri Bargouthi, com 27 anos presos, que só pode ver seus filhos, quando estes foram encarcerados, pois eram também lutadores pela libertação da Palestina e acabaram ficando na mesma prisão que seu pai! Essa é a realidade da Palestina.


As estatísticas dizem que dos 356 detidos veteranos, com mais de 14 anos de prisão seguida e consecutiva, 141 são da região da Cisjordânia, outros 139 são da Faixa de Gaza, 49 prisioneiros são da cidade de Jerusalém, e outros 22 são prisioneiros de territórios palestinos ocupados em 1948. Há também cinco árabes de outros países presos há mais de 14 anos consecutivos. Estatisticamente, do total de 356 prisioneiros, 23 tinham mais de 15 anos de detenção e 73 deles tinham mais de 20 anos de cárcere. Dez deles, já ultrapassam os 25 anos de cadeia, ou seja, serão em pouco tempo dez palestinos no livro de recordes mundiais de maior tempo preso no mundo. Um triste recorde, mais um que Israel imprime em sua triste história e triste existência de 60 anos como nação.


Fizemos questão que iniciar nosso ano, depois de falarmos de nossa família, tratar desse assunto tão delicado, que são dos prisioneiros palestinos. Esperamos vê-los libertos o mais breve possível, mas tememos que a correlação de forças no mundo ainda não nos permita forças suficientes para arrancá-los de seus cárceres e colocá-los em liberdade sob o governo e o Estado nacional Palestino, livre, democrático e soberano, com Jerusalém como sua capital. Mas, chegaremos lá.


OS: publico abaixo carta que recebi de amigos e camaradas do combativo Instituto Jerusalém, tão bem presidido pelo camarada Ali El-Khatib, onde eles se despedem da embaixadora Mayada Bamie, palestina, que se despediu de nós no Brasil indo para outras tarefas e responsabilidades que lhe foram conferida, como militante revolucionária. Faço minhas as palavras dos camaradas.


Carta do Instituto Jerusalém à Embaixadora Mayada Bamie


Acompanhamos nestes dois anos a atuação da Embaixadora da Palestina no Brasil, Mayada Bamie. Desde 1981, tive a oportunidade e a honra de ter acompanhado e cooperado também, com os demais embaixadores: Farid Sawwan, Ahmed Sobeh e Mussa Amar Odeh.


A Embaixadora Mayada soube, com conhecimento e sabedoria, valorizar o trabalho de seus antecessores e, por esta razão, dignificar ainda mais a luta da OLP e do povo palestino no Brasil. Experiente como diplomata, e militante pelos direitos da mulher e do povo palestino, causava admiração, principalmente pela sua coragem, disposição e ânimo para enfrentar os desafios, que não foram poucos.


Desde que chegou ao Brasil foi recepcionada pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Dr. Antonio Sarkis, de quem, junto com toda a diretoria, sempre recebeu apoio e a solidariedade. Sua relação com o governo federal, desde o presidente Lula, chanceler Celso Amorin, e demais autoridades, foi sempre admirada e respeitada graças a sua competência e amabilidade.


Com o Congresso Nacional superou expectativas e reestruturou a Liga Parlamentar de Cooperação e Amizade Árabe-Brasileira. Nas comemorações do dia 29 de novembro, Dia Internacional de solidariedade ao Povo Palestino, conseguia reunir em torno de 90 parlamentares e no ano de 2007 inovou com a apresentação do Grupo de Teatro Palestino do Instituto Jerusalém do Brasil, que emocionou os parlamentares, embaixadores e demais autoridades presentes.


Manteve um excelente relacionamento com todos os partidos políticos. Com os religiosos, tinha uma relação grande com a CNBB, com Dom Damaskimos Mansur, Arcebispo da Igreja Metropolitana de São Paulo e do Brasil. Foi vice-presidente do Centro Islâmico de Brasília. Tinha o apoio e o apreço do Dr. Mohamed Hussein El-Zoghbi, Diretor da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil - FAMBRAS.


Um de seus papéis importantes junto a Comunidade Palestina foi o apoio na realização da 9º Congresso das Comunidades e Entidades Palestinas no Brasil, realizado em janeiro de 2007 em Porto Alegre, onde teve um postura elegante, ética e democrática, não interferindo nas decisões da comunidade. Atuou com muita humildade.


Para abrilhantar o Congresso e valorizar a juventude brasileira de origem árabe, convidou Marina Elali (filha de palestinos de Belém), que cantou, dançou e encantou a todos. Participou em setembro do 3º Congresso do PT, realizado em são Paulo com a Embaixadora da Palestina no Chile May Al-Kayla com mais de 100 delegados de 32 países que juntamente com Ali El-Khatib foram recebidos pelo Presidente Lula e pelo Secretário Nacional de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar.


No turismo, apoiou e fortaleceu as ações do Instituto Jerusalém do Brasil, que é o responsável pelos assuntos de turismo da Palestina no Brasil. No Congresso e Feira de Turismo das Américas, realizados em Outubro de 2007 no Rio de Janeiro, onde foi montado pelo Instituto Jerusalém do Brasil um stand de 24 m2 da Palestina a Terra Santa deu todo apoio.


A Embaixadora Mayada, a Ministra do Turismo da Palestina, Dra. Khouloud D`eibes e Ali El-Khatib foram recebidos em audiência pela Ministra do Turismo do Brasil, Marta Suplicy. Nesta audiência ficou acertada a troca de informações e o fortalecimento de relações e a inclusão das comemorações em 2010 dos 10 mil anos de Jericó, a cidade mais antiga do mundo habitada continuamente.


O Presidente da ABAV Dr. João Martins Neto, ao recebê-los em seu gabinete, reafirmou o apoio institucional da ABAV - Nacional ao Turismo da Palestina e declarou-se um árduo defensor dos direitos do povo palestino. Com carinho e gentileza de sempre, o Dr. Michel Tuma Ness, presidente da Federação Nacional do Turismo, esteve presente com o ministra e embaixadora.


Ainda no Rio de Janeiro esteve com a Ministra Nilcéia Freire da Secretaria Nacional de Política para Mulheres e com a Ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Nacional de Política da Promoção de Igualdade Racial. Foi homenageada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelos seus serviços prestados.


Esteve em Campinas para abrir oficialmente, com o Prefeito Municipal Dr. Hélio de Oliveira Santos, as Comemorações dos 26 Anos de Eventos Árabes. Foi recepcionada no gabinete do prefeito por 70 mulheres, líderes sindicais, dirigentes de entidades dos direitos das mulheres e professoras universitárias. Recebeu ainda a visita do Dr. Romeu Santini, Secretário Municipal de Cooperação Internacional, e do vereador Sérgio Benassi, líder do governo na Câmara Municipal.


Às 20 horas em seu pronunciamento no Teatro Municipal Otávio Burnier, destacou a importância da irmandade de Jericó com Campinas informando que a ONU-UNESCO fará uma série de comemorações em 2010 dos 10 mil anos da existência de Jerico.


Entendemos que a Embaixadora Mayada Bamie cumpriu sua missão com honra e dignificou a luta da OLP e do povo palestino na libertação de sua Pátria e na criação do Estado da Palestina, livre, soberano e democrático. O novo embaixador ou embaixadora encontraram um campo de trabalho fértil que poderá produzir excelentes benefícios a todos.


Desejamos à querida Embaixadora sucesso em seus novos desafios e felicidade em 2008. Esperamos encontrá-la em Jerusalém!


Assinam este documento: Ali El-Khatib, Abel Abdel Latif, Jamile Abdel Latif, Lâmia Mahruf, Patrícia Mahruf, Hasan Hassan, Walid Shukair, Sami Tum, Azizeh El-Emleh, Nádia Jaber, José Krica e demais companheiros do Instituto Jerusalém.


(1) Escrevo esta coluna com base em reportagem que recebo, regularmente de camaradas com quem me correspondo da Frente Democrática para a Libertação da palestina – FDLP, organização de caráter marxista-leninista palestina, cujo título é “68 mártires e mais de 450 presos palestinos resultado das violações sionistas durante o mês passado”, de 6 de janeiro de 2008, que pode ser lido no endereço http://www.fdlpalestina.org/




*Lejeune Mirhan, sociólogo da Fundação Unesp, arabista e professor. Presidente do Sindicato dos Sociólogos, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-árabe de Lisboa e da
International Sociological Association

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