domingo, 13 de abril de 2008

Escândalo à moda gaúcha


Mauricio Dias - Carta Capital


Embora seja ignorado pela imprensa do Sudeste, o vento político provocado no Rio Grande do Sul pela CPI do Detran, instalada na Assembléia Legislativa de Porto Alegre a partir das ações da Polícia Federal, sopra tão forte quanto o minuano pelo Pampa gaúcho.

O “silêncio retumbante” no Sudeste talvez se explique pelo fato de o escândalo, um desvio de dinheiro público calculado em quase 45 milhões de reais, em um período de cinco anos, ter como causa mais provável a formação de caixa 2 de campanhas eleitorais, notadamente do PSDB. Eventualmente pode ter propiciado o enriquecimento ilícito de alguns dos atores. Em frase que junta práticas políticas do século XXI com ensinamentos do Padre Vieira (século XVII), o “dinheiro não contabilizado” nem sempre passa das mãos por onde passa.

O esquema foi iniciado em 2003 e desmontado pela Polícia Federal em novembro de 2007. Segundo o Inquérito da PF, o Departamento de Trânsito contratou, sem licitação, uma fundação, a Fatec, ligada à Universidade Federal de Santa Maria para aplicar as provas teóricas e práticas da carteira de habilitação.

Quem mais lucrou com o contrato foram as empresas ligadas à família de Lair Ferst, um dos coordenadores da campanha da atual governadora do estado, a tucana Yeda Crusius. Duas empresas da família Ferst receberam, juntas, mais de 23 milhões de reais. Lair Ferst integrou a direção da vitoriosa campanha do PSDB para o governo do estado, em 2006. Em dezembro de 2007 estava entre os 13 presos apanhados no arrastão da Polícia Federal.

Há mais gente envolvida da base aliada da governadora. Na época em que a roda da fortuna começou a girar, o deputado José Otávio Germano, do PP, era o secretário de Justiça ao qual está subordinado o Detran. Em 2007, com o novo governo, foi estabelecido outro contrato com a Fundae, da mesma cidade. Com a Fatec e a Fundae, o contrato que custava cerca de 900 mil reais por mês chegou perto da casa dos 2 milhões de reais mensais.

Em março, ao encaminhar o inquérito ao Ministério Público Federal, a PF pediu o indiciamento de 39 pessoas, incluindo deputados e secretários de estado que dispõem de foro privilegiado. Os crimes apontados são os de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e peculato, entre outros. Todas elas estão sendo chamadas a depor na CPI do Detran, presidida pelo deputado Fabiano Pereira, do PT.

O episódio mostra o vôo curto e desajeitado da ética tucana. No Sudeste o PSDB acusa. No Sul se defende das denúncias de corrupção. As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá.


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