quarta-feira, 21 de maio de 2008

Solidariedade à juventude Tcheca



por Luciano Rezende*


Proibida de existir por se negar a renunciar ao marxismo-leninismo, a Juventude Comunista Tcheca (KSM, das iniciais em tcheco) foi posta na ilegalidade. No último dia 24 (abril) o Tribunal Municipal de Praga rejeitou o recurso da KSM que pleiteava o seu direito de continuar atuando legalmente, apelando contra a decisão do Ministério do Interior da República Tcheca que dissolveu essa organização popular juvenil denunciando sua (pasmem!) “indeclinável posição a favor da substituição da propriedade privada dos meios de produção pela propriedade coletiva dos mesmos”. Tristes resquícios da “Revolução de Veludo”.


Tão absurda ainda é outra alegação utilizada contra a KSM. Segundo os porta-vozes do reacionarismo tcheco, essa combativa entidade, reconhecida em todo o mundo como filiada histórica da Federação Mundial de Juventudes Democráticas, a FMJD (assim como a UJS, aqui no Brasil), estaria interferindo nos rumos políticos do país e fazendo apologia ao comunismo. Mas qual é a razão de existir de qualquer organização política juvenil, de indistinto matiz ideológico, senão intervir na vida política de seu país e do mundo, a defender suas legítimas convicções e ideologias?


Para não ser desativada, a Juventude Comunista Tcheca teria de renunciar ao seu programa político, à sua identidade comunista, aos seus objetivos e à sua fundamentação teórica baseada no marxismo-leninismo.

Essa campanha anti-democrática atinge não apenas o movimento socialista juvenil e tampouco é restrita ao país de Kafka. Este ataque à KSM é emblemático e diz respeito a todas as organizações democráticas e progressistas do mundo. Uma forma inaceitável de manipulação política e ideológica alicerçada no plano de combate ao terrorismo lançado pelos EUA, e acobertado pela União Européia, que estimula a criminalização das organizações de caráter antiimperialista.


Qual seria o alarde da opinião pública mundial se acaso o Brasil proibisse de funcionar em território nacional uma ONG internacional qualquer, por exemplo, a “Repórteres sem Fronteiras”? Certamente a burguesia faria um estardalhaço em nome da liberdade de expressão e os mais elementares direitos e garantias dos cidadãos e outros slogans que como bem escreveu Lênin, são mais para iludir o povo quando vociferado pelas elites. Mas quando é uma organização nacional, histórica e arraigada ao povo de seu próprio país e formada pela juventude desse mesmo país, nenhuma vírgula é publicada na mídia convencional.


Mas essa decisão absurda do Ministério do Interior da República Tcheca tem a desaprovação da maioria dos tchecos que protestam por diferentes maneiras. Uma petição de apoio à KSM já conta com milhares de assinaturas de estudantes e personalidades de todo o mundo além de partidos políticos, organizações diversas de antigos lutadores contra o fascismo e membros da resistência guerrilheira. Também graças à iniciativa de deputados do Partido Comunista da Boêmia e Moravia as medidas do Ministério do Interior foram tratadas na Câmara de Deputados do Parlamento da República.

Todavia, a maior demonstração de solidariedade deve partir do internacionalismo das forças progressistas, principalmente as juvenis. Os brasileiros, com a União da Juventude Socialista à frente, já se pronunciou através de uma “petição dos jovens brasileiros” encaminhada à Embaixada da República Tcheca no Brasil no dia 10 de março de 2006, a qual conseguiu aglutinar assinaturas de diversos parlamentares, personalidades, entidades, partidos e representações. Outra, entre as diversas organizações juvenis que saíram em defesa da KSM, foi a Juventude Comunista Portuguesa. Em nota, a JCP afirma que a “União da Juventude Comunista da República Checa é uma organização juvenil revolucionária, de caráter antiimperialista e assume-se como marxista-leninista, aspectos intoleráveis para a Europa do grande capital. O poder de atração que os ideais do socialismo e do comunismo exercem sobre amplas massas juvenis preocupa os governos da União Européia, pela sua imensa capacidade transformadora e tomada de consciência dos crimes do capitalismo”.

Uma vez mais precisamos nos pronunciar. Iludem-se aqueles que pensam poder cercear a juventude revolucionária, seja ela de qualquer parte do mundo, a abandonar sua convicção de lutar por outra sociedade mais avançada, socialista.

A Embaixada da República Tcheca no Brasil precisa receber o recado da juventude brasileira. Uma mensagem de indignação frente a esse atentado à democracia e uma moção de solidariedade à juventude tcheca. É o mínimo que podemos fazer.

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*Luciano Rezende, Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da Direção Nacional da UJS.

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