quarta-feira, 10 de setembro de 2008

INTERTEXTUALIDADE

No interior do instigante mundo das palavras



A compreensão da importância da linguagem verbal para o ser humano tornou-se ainda mais profunda com a descoberta de que, quando produzimos um texto, oral ou escrito, outras pessoas se manifestam através de nós, embora nem sempre tenhamos consciência disto. Isto acontece porque todo texto incorpora necessariamente outros textos já produzidos antes. É um fenômeno tão constante a presença de um texto em outro texto que ele, sozinho, sustenta uma área específica de pesquisas, o da intertextualidade. Nesta área, há um consenso na admissão de quando dizemos algo verbalmente “colocamos em cena”, algo já dito por outra pessoa, ainda que ela possa ser citada, com ou sem identificação, apenas para permitir a discordância dela.

O filósofo russo da linguagem Mikhail Bakhfin afirma: todo texto se constrói como um mosaico de citações. Ele acrescenta: “Todo texto é absorção e transformação de outro texto”.

Aquelas palavras que consideramos nossas, na verdade, estão entremeadas de palavras de outras pessoas.Com elas “fundimos a nossa própria voz”, diz Lucy Schimiti,numa monografia de mestrado em que ela estudou o tema “Memória e criação – a produção de intertextualidade” na obra do compositor e poeta Caetano Veloso.

No entanto, nunca há repetição pura, quando um texto é inserido em outro, lembra a própria Schimiti. O texto incorporado ganha nossas possibilidades de interpretação porque aparece num contexto dentro do qual se relaciona com outros textos. E este contexto novo, diferente do original, faz o texto incorporado dizer algo que antes não dizia. Os estudiosos de intertextualidade perceberam que na paráfrase – a re-escritura de um texto original com novas palavras sem modificação de seu sentido-, há um tipo de incorporação, no qual surge um efeito convergente do segundo texto, em relação do primeiro. Enquanto que na ironia – a imitação, na maioria das vezes, cômica, de um texto literário, na qual se emprega o recurso do deboche – se produz um texto parecido com o original, mas com sentido diferente. Nela, assim, surge um efeito divergente.


A grande questão colocada pela área da intertextualidade é a do momento em que, naquilo que dizemos verbalmente, ocorre com a incorporação de algo já dito por outra pessoa. A produção de um texto – sabemos – envolve aspectos fundamentais da nossa individualidade, pois, resulta de um processo complexo, composto de diversas fases, no qual o uso das palavras sobre determinado assunto só ocorre após uma etapa de experiências perceptivas ligadas àquele assunto e outra etapa, com algum tipo de reflexão sobre estas experiências.

Assim, diante das pesquisas realizadas pelos estudiosos da incorporação de um texto por outro, temos de nos perguntar: o que outras pessoas disseram afeta a percepção que temos de algo? Se afetar, esta influência em nosso modo de perceber se estende ao nosso modo de pensar sobre aquilo?É por isto que dizemos em nossos textos, o que outras pessoas já disseram antes?

E sobretudo, temos de nos perguntar: o quanto há das outras pessoas naquilo que somos:

Estas perguntas nos remetem diretamente para o interior do instigante Mundo das Palavras.



Texto de : Oswaldo Coimbra, jornalista, escritor, pesquisador, e professor de Expressão Verbal e Redação Jornalística. Autor de “O texto da Reportagem Impressa”(Editora Ática)

Pos-doutorado em Jornalismo na ECA/USP


Créditos: jimihendrixforever

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