Mulher: 99% perfeita
Luis Fernando Veríssimo
Se uma memória restou das festinhas e reuniões de
familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre
os convivas: mulheres de um lado, homens do outro.
Não sei se isso, hoje, ainda ocorre. Sou anti-social a
ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de
4 pessoas, o que me descredencia a emitir juízo.
Mas era assim que a coisa rolava naqueles
tempos.
Tive uma infância feliz: sempre fui considerado
esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar
quieto, observando a paisagem.
Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia
muito além das diferenças anatômicas: a fronteira era
determinada pelos pontos de vista, atitude e
prioridades.
Explico: no córner masculino imperava o embate das
comparações e disputas.
Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna,
meu salário é maior, a vista do meu apartamento é
melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e
outras cascatas típicas da macheza latina.
Já no córner oposto, respirava-se outro ar. As
opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir.
Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques
com uma falta de cerimônia que me deliciava.
Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como
fofoca. Discordo.
Destas reminiscências infantis veio a minha total e
irrestrita paixão pelas mulheres.
Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao
mundo completamente cru, freqüentando e levando
bomba no bê-a-bá da vida, as mulheres já chegam na
metade do segundo grau. Qualquer menina de 2 ou 3
anos já tem preocupações de ordem prática. Ela
brinca de casinha e aprende a dar um pouco de
ordem nas coisas.
Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da
qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe
veterana.
Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito
clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já
chega sabendo. E o que não sabe, intui.
Já com os homens a história é outra.
Você já viu um menino dessa idade brincando de
executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo
ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando
de meninos fingindo estar preocupados com a
entrega da declaração do Imposto de Renda? Não,
nunca viram e nem verão. Porque o homem nasce,
vive e morre numa existência juvenil.
O que varia ao longo da vida é o preço dos
brinquedos!
E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é
treino para a vida, para os meninos é fantasia, é
competição, fuga.
Falo sem o menor pudor. Sou assim.
Todo homem é assim.
Em relação ao relacionamento homem/mulher,
sempre me considerei um privilegiado.
Sempre consegui enxergar a beleza física feminina
mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes,
ela inexistia.
Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo
menos em algum detalhe. É só saber olhar.
Todas têm sua graça. E embora contaminado pela
irreversível herança genética que me faz idolatrar os
ícones do cafajestismo, sempre me apaixonei
perdidamente por todas as incautas que se
aproximaram de mim. Incautas não por serem
ingênuas, mas por acreditarem.
Porque toda mulher acredita firmemente na
possibilidade do homem ideal.
E esse é o seu único defeito!
Luis Fernando Veríssimo
Se uma memória restou das festinhas e reuniões de
familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre
os convivas: mulheres de um lado, homens do outro.
Não sei se isso, hoje, ainda ocorre. Sou anti-social a
ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de
4 pessoas, o que me descredencia a emitir juízo.
Mas era assim que a coisa rolava naqueles
tempos.
Tive uma infância feliz: sempre fui considerado
esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar
quieto, observando a paisagem.
Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia
muito além das diferenças anatômicas: a fronteira era
determinada pelos pontos de vista, atitude e
prioridades.
Explico: no córner masculino imperava o embate das
comparações e disputas.
Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna,
meu salário é maior, a vista do meu apartamento é
melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e
outras cascatas típicas da macheza latina.
Já no córner oposto, respirava-se outro ar. As
opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir.
Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques
com uma falta de cerimônia que me deliciava.
Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como
fofoca. Discordo.
Destas reminiscências infantis veio a minha total e
irrestrita paixão pelas mulheres.
Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao
mundo completamente cru, freqüentando e levando
bomba no bê-a-bá da vida, as mulheres já chegam na
metade do segundo grau. Qualquer menina de 2 ou 3
anos já tem preocupações de ordem prática. Ela
brinca de casinha e aprende a dar um pouco de
ordem nas coisas.
Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da
qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe
veterana.
Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito
clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já
chega sabendo. E o que não sabe, intui.
Já com os homens a história é outra.
Você já viu um menino dessa idade brincando de
executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo
ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando
de meninos fingindo estar preocupados com a
entrega da declaração do Imposto de Renda? Não,
nunca viram e nem verão. Porque o homem nasce,
vive e morre numa existência juvenil.
O que varia ao longo da vida é o preço dos
brinquedos!
E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é
treino para a vida, para os meninos é fantasia, é
competição, fuga.
Falo sem o menor pudor. Sou assim.
Todo homem é assim.
Em relação ao relacionamento homem/mulher,
sempre me considerei um privilegiado.
Sempre consegui enxergar a beleza física feminina
mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes,
ela inexistia.
Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo
menos em algum detalhe. É só saber olhar.
Todas têm sua graça. E embora contaminado pela
irreversível herança genética que me faz idolatrar os
ícones do cafajestismo, sempre me apaixonei
perdidamente por todas as incautas que se
aproximaram de mim. Incautas não por serem
ingênuas, mas por acreditarem.
Porque toda mulher acredita firmemente na
possibilidade do homem ideal.
E esse é o seu único defeito!
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