sexta-feira, 13 de março de 2009

El Salvador - FMLN

Confirmará em El Salvador o FMLN a Via Eleitoral?

Por Pedro Echeverría V. México

1. No domingo 15, o Farabundo Martí de Liberação Nacional (FMLN) de El Salvador, frente guerrilheira que lutou contra os governos oligarcas e militares durante 12 anos (1980/92), poderá demonstrar ante o mundo que a via eleitoral é possível para assumir o governo desse país de arredor de 7.5 milhões de habitantes. O triunfo do FMLN sobre o partido Aliança Republicana Nacionalista (ARENA), integrado por políticos e empresários cristãos direitistas vinculados ao terrorismo paramilitar e que detenha o poder desde 1992, será uma mensagem para América Latina acerca das estratégias das esquerdas para obter o governo. As experiências da Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Brasil, Uruguai e, até o próprio Chile, devem ser analisadas.

2. “O FMLN foi fundado, segundo dados da internet, em 10 de outubro de 1980 pelas Forças Populares de Liberação “Farabundo Marti” (FPL), pelo Exército Revolucionário do Povo (ERP), a Resistência Nacional (RN) e o Partido Comunista Salvadorenho (PCS). Esse mesmo ano se somou o Partido Revolucionário dos Trabalhadores Centroamericanos (PRTC)”. Porém, já desde cinco anos antes se realizavam reuniões para integrar uma “guerra de guerrilhas” contra o governo militar de Arturo Molina, mas, ao que parece, foi o assassinato do arcebispo Oscar Arnulfo Romero pela burguesia em 1980, o fato que aguçou o descontentamento do povo que deu lugar ao levantamento do FMLN.

3. Que assumam as esquerdas ou centro-esquerdas o governo quer dizer que já com isso têm o poder? De jeito nenhum. É um passo importante quando governos como o do Chávez, Morales e Correa, usando a mobilização e a participação direta das massas trabalhadoras, podem mudar a Constituição e conseguem regulamentar aos poderosos empresários capitalistas; mas, se chegam ao poder como Bachelet, Lula, Tabaré, sem tocar a Constituição burguesa, sem extirpar as leis que garantem a exploração e a acumulação de capital permitindo o que os capitalistas querem, o governo se converte em só um instrumento a serviço do capital. Por isso, se o próximo domingo o FMLN ganhar as eleições só será um primeiro passo.

4. A história, sobretudo na Europa, tem demonstrado que o acesso ao governo pela via eleitoral da socialdemocracia ou dos chamados “partidos socialistas” (Espanha, França, Suécia, Alemanha) para nada tem beneficiado diretamente à população trabalhadora. Só se fizeram cargo da administração da maquinaria de exploração que a burguesia tem construído. Os partidos da direita no governo são os representantes do capital, mas, quando a centro-esquerda assume a administração dessa maquinaria sem realizar as mudanças profundas que se requerem, tudo termina em enganação. Como se poderá governar, em benefício da maioria da população, com leis feitas na medida das classes dominantes?

5. As primeiras tentativas eleitorais do FMLN foram em 1994. Nesses comícios obteve 21 deputados e 15 governos locais. Três anos depois ganhou o governo de São Salvador, a capital da República, mais de 53 prefeituras, incluindo a maioria das cidades de um total de 94; seu principal concorrente foi a ARENA. Em 1999 confiava o FMLN com ganhar a presidência, mas, surgiram muitas divisões internas que reduziram seu percentual de votos; porém nas eleições do ano seguinte se converteu o Farabundo no partido com maior quantidade de votos, deixando a ARENA em segundo lugar. A partir de então já não houve dúvida de que a estratégia eleitoral era correta.

6. Quando em 2000, oito anos depois de assinar os acordos de paz no México com a intervenção da ONU, o FMLN se converteu na segunda força eleitoral do El Salvador, as estatísticas no país assinalavam que o 80 por cento das famílias não alcançava a cobrir o custo da cesta ampliada do mercado, um 23 por cento vivia em condições de miséria e o 70 por cento da população economicamente ativa estava na informalidade. E esta situação se agrava ainda mais com o terremoto de janeiro e fevereiro de 2001 que afeta a um milhão 300 mil salvadorenhos. Segundo os números El Salvador é um dos países, territorialmente mais pequenos da Indoamérica e ao tempo é quem sofre a maior concentração de habitantes por quilômetro quadrado.

7. Ao que parece, segundo escreveu em 2002 a pesquisadora Martha Harnecker e seu grupo de estudo, “passados quase dez anos de assinados os Acordos de Paz e depois de três governos sucessivos da ARENA, não só estão pendentes as soluções aos graves problemas econômicos e sociais senão que a chamada transição democrática está em sério perigo de ruptura”. Ademais de não ter-se conseguido a vigência dos direitos humanos em El Salvador, trás a fachada democrática dos governos da ARENA se tem incrementado a corrupção e a impunidade. A realidade é que em muitos momentos o FMLN, que vinha da guerrilha, sofreu grandes pressões e repressões que o obrigaram a questionar sua estratégia política eleitoral. Mas, seguiram adiante.

8. A realidade é que o FMLN arriscou muitíssimo confiando em uma burguesia assassina encabeçada por militares. Embora tinha intervindo a ONU na assinatura dos acordos de “desmilitarização do Estado, de cesse à repressão, de proteção aos direitos humanos”, era muito difícil confiar. Trás as forças militares de El Salvador estava a CIA, o Pentágono ianque, que procuravam qualquer provocação para intervir. Ademais os setores mais radicalizados ou ortodoxos do FMLN se opunham abertamente a essas negociações. Por isso as experiências desses ex-guerrilheiros, que neste fim de semana podem ganhar a presidência desse país pela via eleitoral, serão base para análise e discussões entre a esquerda mundial.

9. O FMLN e seus candidatos à Presidência e Vice-presidência, Mario Funes e Salvador Sánchez, segundo seus chefes de campanha, constituem a única esperança de progresso e justiça social desse país centroamericano. Adiantando-se assinalam que o FMLN, com o trabalho realizado e o programa político que tem apresentado, tem ganhado a campanha eleitoral para ocupar a Presidência da República salvadorenha porque os cidadãos têm visto que o FMLN merece que o apóiem, voto a voto, para governar. Ao que parece, o partido empresarial ARENA deixará a presidência, embora não o poder, pois continuará contando com o apoio dos setores mais poderosos do capital.

10. Estou convencido que o FMLN ganhará a Presidência de El Salvador. Não aparece por aí a grande burguesia local associada ou ao serviço dos EUA que pudesse evitar o triunfo eleitoral do ex-guerrilheiros. Porém, depois de aplaudir essa vitória se requer começar a organizar o povo para defender esse novo governo contra todos os ataques e pressões dos seus inimigos. Ao que parece pode ser menos difícil para a esquerda tomar o governo que conservá-lo servindo aos setores majoritários. Nada pode ser mais condenável que a traição e na esquerda e centro-esquerda tem estado presente no mundo. No domingo 15 tem que ganhar o FMLN para derrotar à burguesia e seu governo que tem mantido ao povo salvadorenho na miséria e a fome.

pedroe@cablered.net.mx

Versão em português: Raul Fitipaldi, de América Latina Palavra Viva.

Créditos: Desacato

Nenhum comentário: