domingo, 15 de março de 2009

Nouriel Roubini: ações que podem evitar o pior da crise

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Com a contração da atividade econômica mundial no mesmo ritmo dos últimos três meses de 2008, a recessão em forma de U poderá se tornar uma séria depressão em L ou estagdeflação. A escala e a velocidade da recessão global não têm precedentes, ao menos desde a Crise de 1929, com a queda livre do Produto Interno Bruto (PIB), da renda, do consumo, da produção industrial, do emprego, das exportações e importações e do investimento em imóveis residenciais. Muitos mercados emergentes estão à beira de uma inegável crise financeira, a começar pela Europa Central e Oriental.

Por Nouriel Roubini



Os estímulos fiscal e monetário têm sido mais agressivos nos Estados Unidos e na China. Ainda são insuficientes na Zona do Euro e no Japão, onde os formuladores de políticas públicas estão “atrás da curva”.

É improvável que estímulos débeis levem a uma recuperação econômica sustentável. Sem uma reação forte dos EUA, a China não terá como voltar a crescer às suas taxas históricas. A recuperação americana requer consumo em queda, aumento da poupança privada e déficits comerciais menores.

Isso significa que o crescimento da China e de outros países superavitários, como o Japão e a Alemanha, dependerá muito mais da demanda interna do que das exportações líquidas.

No entanto, a demanda está anêmica nesses países, tanto cíclica quanto estruturalmente. Tal anemia explica-se pela fragilidade da renda da população, porque os lucros e a poupança das corporações são entesourados, em vez de transferidos aos acionistas na forma de dividendos. A recuperação da economia mundial não pode ocorrer sem um rápido e ordenado ajuste dos desequilíbrios das contas correntes globais.

Prossegue o ajuste na poupança e no consumo dos EUA. Os gastos pessoais em janeiro subiram, em um soluço temporário determinado por fatores transitórios. Os recursos de poupança aumentaram 5%, mas continua o massacre nos mercados e das instituições financeiras.

O debate sobre a nacionalização dos bancos beira o surreal. Barack Obama comprometeu-se em apoiar o sistema financeiro com 9 trilhões de dólares, dos quais 2 trilhões já foram desembolsados, para contemplar as garantias, os investimentos, a recapitalização e as provisões para liquidez.

O sistema financeiro americano está de fato estatizado, uma vez que o Federal Reserve se tornou fonte de empréstimos de única e primeira instância e o Tesouro, o “gastador” de primeira e única instância.

A única questão é se os bancos deveriam também ser nacionalizados de direito e não apenas de fato. Mesmo neste caso, a distinção é apenas entre a nacionalização parcial e a total. Com os 36% de participação no Citi, porcentual que em breve deve aumentar, o governo é o maior acionista do conglomerado. Por que tanta controvérsia sobre a nacionalização? O Citi está parcialmente estatizado e a única questão é se deveria passar plenamente para as mãos do Estado.

A não ser que os formuladores de políticas públicas do mundo inteiro comecem a caminhar, em vez de dormirem ao volante, e iniciem um contra-ataque esmagador, ao estilo Colin Powell, poderemos nos defrontar com uma depressão de vários anos ou uma estagdeflação nunca vista desde a Grande Depressão. Uma política agressiva precisa contemplar:

- A massiva e não ortodoxa flexibilização da política monetária para descongelar os mercados de crédito, mesmo que isso implique os bancos centrais se tornarem mais generosos com as garantias e tomarem mais risco de crédito.

- Um agressivo e abrangente estímulo fiscal, mais do lado dos gastos do que dos tributos, com alívio fiscal para os agentes econômicos com maior propensão a gastar, como os pobres, os desempregados e os governos municipais e estaduais.

- Um rápido processo de aquisição dos bancos insolventes, com a completa estatização e limpeza dos ativos tóxicos, para posterior reprivatização.

- Um forte incentivo às instituições financeiras para ampliarem a oferta de crédito, o que sanaria a falta de coordenação dos empréstimos, negados até a empresas e famílias com histórico de bons pagadores.

- O uso apropriado e construtivo do crédito, com exigências adequadas de capital, marcação a mercado transparente, evitando-se os tardios e destrutivos rebaixamentos de ratings pelas agências de classificação de riscos.

- A redução automática do valor de face das dívidas hipotecárias e outros débitos de mutuários insolventes, porque o estudo caso a caso tende a ser ineficiente.

- A duplicação imediata dos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a provisão de liquidez e de linhas de crédito para os mercados emergentes sob estresse financeiro e de liquidez. Os condicionantes para os empréstimos devem ser rígidos para economias debilitadas e abrandados para as que exibem fundamentos mais sólidos.

*Nouriel Roubini é professor de Economia da Universidade de Nova York e sócio da consultoria RGE Monitor. Obteve o ph.D. na Universidade Harvard, sob orientação do economista Jeffrey Sachs.



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