sábado, 16 de maio de 2009

O vaticano não mudou em nada....

O Papa é bem-vindo, mas…

Khalid Amayreh (de Jerusalém Leste)

A hospitalidade é traço característico da alma árabe-muçulmana. O Papa Bento 16 foi recebido com o respeito que merece como líder de centenas de milhões de católicos romanos, muitos dos quais lutam ao lado dos muçulmanos e rejeitam as políticas e práticas criminosas da entidade sionista.

O recente ataque genocida contra os palestinos reduzidos à miséria e cercados em Gaza foi apenas mais um exemplo da ação criminosa dos israelenses, crimes comparáveis às práticas mais violentas de todas quantas a história conheceu.

Entende-se que o Vaticano não se possa manifestar com clareza, por várias razões. O Vaticano é entidade político-religiosa, da qual se espera que manifeste as vozes de uma gama muito ampla de diferentes povos, cada um deles com seu regime e sua orientação política, muitas vezes discordantes uns dos outros.

Mesmo assim, deve-se esperar que, como líder espiritual dos católicos, o Papa denuncie, com equilíbrio, mas com firmeza, atos e comportamentos que Cristo teria denunciado. O sofrimento dos Palestinos e a reação que desperte em cada homem, em cada mulher do mundo inteiro, é como o teste crucial para a constituição moral de todos Estados, inclusive, é claro, do Vaticano.

Infelizmente, a atitude do Vaticano, no que tenha a ver com a Palestina, não foi consistente com os ideais cristãos – que ensinam solidariedade e amor aos mais fracos e oprimidos.

A visita do Papa aos territórios ocupados da Palestina é visita que não se pode comparar a nenhuma outra. Essa é a terra na qual, há 61 anos, a Europa implantou Israel, a ferro e fogo, como Estado ocupante em território habitado. Assim a Europa autorizou os filhos do holocausto a praticarem outro holocausto, a assassinar, a roubar, a expulsar os palestinos da própria terra. Assim se criou a diáspora palestina, por todos os cantos do planeta.

Os palestinos não esperamos que o mais alto sacerdote da igreja católica do mundo desfaça a Declaração de Balfour, ou faça o milagre de fazer a história voltar atrás. Mas, sim, esperamos que o Papa aja e fale de modo que respeite os ideais e princípios que proclama e que devem reger também sua vida, seja pública seja privada.

Hoje, não há homem ou mulher em todo o mundo que não tenha olhos para ver, ouvidos para ouvir e cérebro para entender e avaliar que Israel comete todos os tipos de crimes contra os palestinos – sejam muçulmanos sejam cristãos.

De fato, Israel comete crimes também contra o povo judeu, ao converter tantos judeus em assassinos viciosos, ladrões de terra, destruidores de casas e mentirosos compulsivos.

Em Gaza, Israel, em ação coordenada com muitos, em todo o mundo, impõe, já pelo terceiro ano consecutivo, um cerco-bloqueio de características nazistas, contra povo pobre e atormentado, cuja única 'culpa' é o desejo de resistir à violência e lutar pelo direito de viver em sua terra, povo que é obrigado a lutar para salvar a própria humanidade todos os dias, e que todos os dias é condenado novamente à morte, seja por falta de remédios ou de água ou de comida, seja sob as balas dos fuzis de Israel.
Há poucos meses, o mundo viu, chocado, as imagens de morte e terror e a destruição inimaginável em tempos civilizados do povo pobre de Gaza, atacado pela infernal máquina de guerra israelense.

Israel matou e matou e matou até que os brutais assassinos sionistas satisfizeram, por algum tempo, a sede satânica de sangue de inocentes. Feito o que vieram para fazer, os assassinos declararam que não tinham intenção de fazer... o que, se não quisessem fazer, não teriam feito.

Os assassinos diretos, os executores e carrascos são soldados e oficiais de Israel, infelizes envenenados pela doutrina sionista mortífera que ensina que não-judeus seriam não-humanos, vidas não santificadas, menos que algum animal sagrado.

Mas há co-assassinos, conspiradores aos milhares, muitos dos quais se dizem muçulmanos ou cristãos, e que também se afogam em sangue inocente e traem o dever moral humano de condoer-se dos mais desgraçados, dos mais esquecidos, dos que vivem a dor infinita de habitar os campos de concentração chamado Faixa de Gaza.

Pouco erra quem diga que todo o mundo é cúmplice nos crimes que se cometem contra Gaza. Essa vergonha monumental será longamente lembrada como um dos momentos em que a humanidade fracassou de modo mais gigantesco. Não são crimes 'contra muçulmanos'. Na Cisjordânia, Israel comete os crimes mais repugnantes tanto contra muçulmanos quanto, igualmente, contra cristãos.

Em Jerusalém, sucessivos governos israelenses reduziram uma cidade santa de cristãos e de muçulmanos, a ghetto de miséria e desgraça. Isso, enquanto Israel prepara-se para destruir toda a região em torno de Jerusalém, cidade ocupada, para tentar obrigar o maior número possível de não-judeus a emigrar para não morrer de fome.

Belém, onde nasceu Jesus, já foi convertida em campo de concentração de prisioneiros palestinos, graças ao muro do apartheid, muro nazista, estrutura mais feia que o mais feio monumento à incapacidade humana para praticar a bondade.

O massacre de Belém, pelos israelenses, o estrangulamento econômico e psicológico dos filhos de Belém, já obrigou muitos cristãos a emigrar para a Austrália, para a Europa, para a América do Norte.

Tudo isso é muito triste. Difícil imaginar o que pensam os cristãos de todo o mundo quando se olhem ao espelho e vejam que sua atitude em relação a Israel – o discurso da paz a qualquer preço, por exemplo – é instrumento que pressiona também os cristãos da Palestina a deixar sua casa, sua terra, para fugir da selvageria de Israel.

De lamentar muito, portanto, que enquanto o Papa visita Jerusalém e reza nos locais sagrados para os cristãos, como na Igreja do Santo Sepulcro, os palestinos cristãos que vivem ali, a apenas poucas centenas de metros, sejam proibidos de rezar onde seu Papa reza.

E o mesmo se pode dizer sobre os milhões de muçulmanos palestinos que não podem ir a Jerusalém, porque Israel impede que a cidade abra-se para católicos e muçulmanos, e quer fazer de Jerusalém monopólio dos judeus.

Não há, portanto, em Israel, a liberdade religiosa sobre a qual a entidade sionista mente sempre.

Por isso os palestinos – cristão e muçulmanos – esperavam que o Papa dissesse ao governo de Israel que o Vaticano como Estado, e o Papa como líder moral dos católicos, não mais tolerarão o sofrimento que a entidade sionista impõe a todos os palestinos não-judeus.

O Vaticano não é poder militar e não faz milagres. Não pode, portanto, curar todas as feridas do mundo. Mas o Vaticano pode usar sua influência contra o mal e o pecado e a favor do respeito à dignidade humana de todos os homens, mulheres, crianças do mundo; também, é claro, a favor do respeito à dignidade humana dos homens, mulheres e crianças que habitam a Palestina ocupada.

Para fazer isso, o Vaticano terá de não se deixar enganar pelas mentiras dos israelenses, que sempre mentem quando falam em paz.

Nenhum Estado que construa colônias em território ocupado é Estado que trabalha pela paz.

Estado que construa colônias em território ocupado, que viole abertamente a legislação internacional – que viole inclusive suas próprias leis! – não é interlocutor confiável para construir a paz. Israel é Estado criminoso. Tem de ser tratado – também pelo Vaticano – como o mundo civilizado aprendeu a tratar Estados criminosos

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